Virgínia Moura

convicção e coragem

Engenheira, resistente, de S. Martinho do Conde

Virgínia Faria de Moura nasceu em S. Martinho do Conde, concelho de Guimarães, a 19 de julho de 1915, filha de mãe solteira, professora do ensino primário. Esse estigma social marcou-a desde cedo e ajudou a moldar o carácter combativo que a acompanharia toda a vida. Aos 15 anos participa, na Póvoa de Varzim, numa greve estudantil contra o assassínio de um jovem pela polícia; três anos depois, entra para o Socorro Vermelho, organização de apoio a presos políticos, aproximando-se do PCP.

Licenciou-se em Engenharia Civil na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, tornando-se uma das primeiras – e, em muitas fontes, a primeira – mulher portuguesa a obter este título. Cursou ainda Matemáticas e frequentou a Faculdade de Letras de Coimbra. A ficha policial de oposicionista valeu-lhe a recusa de acesso à Função Pública: durante anos vive de explicações de Matemática e de trabalhos técnicos que outros engenheiros assinam para poderem ser aprovados.

Ligada ao PCP desde 1933, foi uma das figuras mais visíveis da oposição ao Estado Novo no Porto. participou na campanha de Norton de Matos (1949), na candidatura de Humberto Delgado, nos Congressos da Oposição Democrática de Aveiro e em sucessivas lutas estudantis e cívicas. Foi presa dezasseis vezes pela PIDE, nove vezes processada e várias condenada, chegando a ser julgada por “traição à Pátria” pela sua posição sobre Goa, Damão e Diu. Em paralelo, desenvolveu intensa atividade cultural no Porto, colaborando como “Maria Selma” na imprensa, promovendo a revista Sol Nascente e organizando conferências com Teixeira de Pascoaes, Maria Isabel Aboim Inglês e Maria Lamas.

Depois do 25 de Abril, continuou a lutar pela consolidação da democracia e pelos direitos das mulheres. Foi membro do Comité Central do PCP e participou em múltiplas iniciativas unitárias. Recebeu a Ordem da Liberdade e a Medalha de Honra da Câmara Municipal do Porto, entre outras distinções. Faleceu no Porto, a 19 de abril de 1998. Em Guimarães, a sua memória vive no topónimo da Rua Engenheira Virgínia de Moura e no Agrupamento de Escolas Virgínia Moura, que a celebra como patrona de liberdade, solidariedade e democracia.

Virgínia Moura, nota biográfica
Percurso
  • 1915 (19 de julho) – Nasce em S. Martinho do Conde, Guimarães, filha de mãe solteira, professora primária.

  • c. 1930 (15 anos) – Participa numa greve estudantil na Póvoa de Varzim, em protesto contra o assassínio de um estudante pela polícia.

  • 1933 – Liga-se ao PCP e participa na organização da secção portuguesa do Socorro Vermelho.

  • Década de 1940 – Licencia-se em Engenharia Civil pela Universidade do Porto (uma das primeiras, frequentemente apontada como a primeira engenheira civil portuguesa); cursa Matemáticas e frequenta Letras em Coimbra.

  • Anos 1940–1950 – Desenvolve intensa atividade cultural no Porto; colabora como “Maria Selma” em vários jornais, promove a revista Sol Nascente e múltiplas conferências.

  • 1949 – Primeira prisão pela PIDE, ligada ao comício da campanha de Norton de Matos na Fonte da Moura (Porto).

  • Décadas de 1950–1960 – Envolvida na campanha de Humberto Delgado, nas lutas estudantis de 1962 e nos Congressos da Oposição Democrática de 1969 e 1973; ao todo será presa 16 vezes, nove vezes processada e três condenada.

  • Antes de 1974 – Integra o Comité Central do PCP e o Movimento Nacional Democrático, o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e outras estruturas unitárias antifascistas.

  • Após 25 de Abril de 1974 – Continua a intervenção política e cívica na defesa da democracia e dos direitos das mulheres; é progressivamente reconhecida como figura maior da resistência.

  • Décadas de 1980–1990 – Distinguida com a Ordem da Liberdade e a Medalha de Honra da Câmara do Porto; participa em homenagens, debates e iniciativas de memória.

  • 1998 (19 de abril) – Morre no Porto.

  • 2008 – O Agrupamento de Escolas de Moreira de Cónegos passa a denominar-se Agrupamento de Escolas Virgínia Moura, assumindo-a como patrona.

Virgínia Moura nas Memórias de Araduca