O Magusto
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O magusto é o momento das festas em que os estudantes procedem à distribuição das dádivas recolhidas na noite do dia 4 de Dezembro, durante a romagem das posses pelas ruas de Guimarães. Acontece tarde, muitas vezes já no início da madrugada do dia 5. Por definição, segundo Rafael Bluteau (1736), magusto é “o chão em que assam muitas castanhas, ou as mesmas castanhas, assadas debaixo de brasas”. Assim era o magusto das Nicolinas. Com o mato que lhes ofereciam os oleiros da Cruz de Pedra, os estudantes acendiam uma fogueira junto ao pinheiro, onde assavam castanhas que depois distribuíam pelos que aparecessem, acompanhadas de vinho e aguardente. A distribuição, a que não faltaria acompanhamento musical, tinha lugar dentro das grades do portal da basílica de S. Pedro, no Toural. Acesa a fogueira, assadas e distribuídas as castanhas, os estudantes iriam correr as posses que ainda faltavam, com a banda de música a abrir caminho.
Não sabemos ao certo quando é que o magusto Nicolino tomou a forma que lhe conhecemos na segunda metade do século XIX, altura em que este número já aparece classificado como um clássico das festas dos estudantes de Guimarães.
Em boa verdade, mais correcto seria falarmos nos magustos nicolinos, já que eram dois. O magusto que se seguia às posses da noite do dia 4 de Dezembro não era destinado aos estudantes, que nele estavam impedidos de participar. As castanhas e o vinho recolhidos pela Comissão eram distribuídos pelos oleiros que ofereceram o mato, pelos homens que o carregaram em forcados, pelos músicos da banda que os acompanhava e por quem mais aparecesse, desde que não fosse estudante. O magusto dos estudantes aconteceria em Santo Estêvão de Urgezes, na manhã do dia 6 de Dezembro. Depois de receberam a renda, os estudantes concentravam-se numa eira previamente varrida pelo mais novo de entre eles, onde recebiam castanhas (que o rendeiro tinha a obrigação de lhes entregar já assadas), maçãs e vinho. No final, formavam o cortejo que descia ao velho burgo de Guimarães, para procederem à distribuição das maçãs e das castanhas pelos cónegos da Colegiada, pelas freiras de Santa Clara e pelas damas e donzelas que os aguardavam nas janelas.
Excluídos do magusto da véspera de S. Nicolau, os estudantes não ficariam a seco, já que temos notícia de que, em meados do século XX, ao magusto se seguia uma ceia dos novos, para os estudantes reconfortarem o estômago antes de se dedicarem às “demais proezas nicolinas” da longa noite e madrugada de 4 para 5 de Dezembro.
Apesar da sua natureza de dádiva e de partilha, o magusto era um dos números que mais antipatias suscitavam entre os habitantes de Guimarães, por atentar contra o sossego de quem queria dormir, nomeadamente quando os ânimos se alteravam, activados por excessos etílicos ou pela falta de maneiras de alguns, que metiam “as garras no cesto das castanhas”, e perturbavam, ou até impediam, o bom curso da sua distribuição.
Em tempos recentes, o magusto deixou de ser um verdadeiro magusto. Desapareceu a fogueira que antigamente ardia junto do pinheiro, onde as castanhas eram assadas. Permanece a partilha das oferendas das posses, que agora acontece na Praça de Santiago. As castanhas que são distribuídas no final das Posses são encomendadas pela Comissão a profissionais que as assam nos carrinhos que nos habituámos a ver nas ruas da cidade, nos dias frios de Inverno.




