Lugares Nicolinos
O Chafariz do Toural


O imponente chafariz do Toural foi mandado instalar em 1587, para satisfazer necessidades de abastecimento público de água. Tem por base um grande tanque circular, em cujo centro se ergue uma coluna ornamentada, que sustenta duas taças redondas. A primeira com seis bicas que brotam de carrancas; a segunda, mais pequena, com quatro bicas jorrando de cabeças de anjos. Acima da segunda taça, a coluna suporta uma esfera de pedra com quatro carrancas e outras tantas bicas. É encimada por duas águias de asas abertas, entre as quais se podem ver as armas reais de Portugal e as armas de Guimarães.
Este tanque-fontanário começou a ser desmontado no silêncio da noite de 26 de Outubro de 1865, guardando-se as suas pedras lavradas na Praça do Mercado. A demolição só seria concluída em meados de Junho de 1874, no âmbito da renovação da praça do Toural que faria surgir um jardim cercado de grades, um coreto para a música e um marco fontanário em mármore branco. Em 2011, regressou ao sítio para onde foi feito.
O chafariz do Toural está estreitamente ligado às festas que os estudantes de Guimarães dedicam a S. Nicolau. Era nas suas águas que eram punidos aqueles que, sem gozarem do foro escolástico (isto é, sem reunirem os requisitos necessários para poderem ser considerados estudantes) se tentavam intrometer nas festas. Os banhos forçados na água do chafariz do Toural eram a pena para todo o casquilho, taful, caixeirinho ou ginja que, com a identidade oculta atrás de máscara, ousasse meter-se no meio dos festejos dos filhos da ciência, os estudantes. A designação de futricas, utilizada para referir, com desprezo, os não estudantes, de proveniência coimbrã, é de importação relativamente tardia (aparece, pela primeira vez, em 1852).
No século XIX, eram recorrentes no texto do Pregão as referências ao chafariz do Toural como lugar de suplício da vil caixeirada. A partir da década de 1960, a eleição da Comissão das Festas Nicolinas passou a fazer-se junto ao chafariz, primeiro no Largo Martins Sarmento (Carmo), depois no Toural.
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A capela de S. Nicolau


A construção da capela de S. Nicolau foi objecto de um contrato assinado no dia 21 de Novembro de 1661 entre os mordomos da confraria de S. Nicolau da Vila de Guimarães e Domingos Lourenço, mestre de pedraria, da freguesia de Estorãos do concelho de Montelongo, hoje Fafe. O segundo comprometia-se a fazer uma capela dedicada a S. Nicolau, na igreja da Colegiada, “junto à porta travessa de contra a rua de Santa Maria no quintal do sacristão”. A obra deveria estar concluía em Agosto do ano seguinte. O prazo não seria cumprido, até porque, à data da assinatura do contrato, ainda não estaria resolvido o problema da cedência do terreno onde a capela seria erigida, o qual só foi cedido à confraria pelo Cabido, na forma que contratado tinham com o mestre que tomou conta da obra da dita capela”, em 20 de Maio de 1662. A obra, financiada pelas receitas e danças e comédias promovidas pelos “Estudantes desta Vila e outros devotos”, seria concluída em 1663, conforme consta de uma inscrição que lá foi colocada, onde se lia que “Esta Capela mandaram fazer os Estudantes desta vila no ano do Senhor de 1663”.
Para construir a capela, foi necessário abrir um arco na parede da igreja voltada para a rua de Santa Maria. O arco era de volta perfeita, com pilastras com base coríntia e capitéis dóricos. A capela estava coberta por uma abóbada de arco redondo, de três tramos e caixotões. O corpo da capela era um acrescento ao edifício da Colegiada, não tendo porta para o exterior. A entrada tinha que ser feita através dar da igreja. Pela descrição do Padre Torcato Peixoto de Azevedo, percebe-se que no final do século XVII estava revestida de azulejos. No altar da capela, foi colocada uma imagem de S. Nicolau, também do século XVII, em madeira estofada e pintada, de tamanho próximo do natural.
Na década de 1960 a capela encontrava-se em estado de abandono, por causa de obras de restauro da igreja da Colegiada, que estavam paradas. Em 1968, quando os Velhos Nicolinos se instalaram na Torre dos Almadas, terá havido quem aventasse a ideia de remover a imagem de S. Nicolau para a sede da AAELG, o que motivaria um texto de Jerónimo de Almeida no Notícias de Guimarães, publicado em 14 de Dezembro daquele ano, em que considerava a consumação de tal propósito “uma profanação, por não só impróprio tal lugar para o devido culto, como também por não poder tomar-se lícito este propósito, sendo essa veneração unicamente permitida onde foi criada”. O velho poeta nicolino propunha que a capela fosse restaurada no local onde sempre estivera ou, não sendo possível, que fosse reerguida noutro sítio.
O restauro da Colegiada promovido pela DGEMN foi concluído em 1970-1971, tendo suprimido capela, que foi desmontada. Em 1993, a Irmandade de S. Nicolau foi reactivada e assumiu a missão de a reconstruir. Por altura das Festas Nicolinas daquele ano, a Irmandade anunciou que tinha encarregado o arquitecto Eduardo António Ribeiro de proceder aos estudos necessários para que o projecto avançasse. O processo avançou e, por altura das Nicolinas de 1995, foi apresentado o esboceto do projecto de reconstrução, da autoria dos arquitectos Eduardo António Ribeiro e Manuel Augusto Antunes. Com um local de implantação muito próximo do original, o edifício a reconstruir utilizaria as pedras da antiga capela, que estavam espalhadas pelos terrenos do Priorado da Oliveira. Os custos da obra seriam relativamente modestos (uma campanha de recolha de fundos e um subsídio da Câmara reuniu a verba necessária) e o tempo de execução seria curto. No entanto, ainda havia que remover os entraves burocráticos, cuja resolução se arrastou pelos anos seguintes.
Vencidos todos os obstáculos, a obra fez-se. A capela reconstruída de S. Nicolau foi inaugurada solenemente no dia de S. Nicolau de 1998.
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A Torre dos Almadas


O edifício que foi baptizado como Torre dos Almadas, foi entregue, na véspera do cortejo do Pinheiro de 1967, à Associação dos Antigos Estudantes do Liceu de Guimarães, para nele instalar a sua sede. Na década de 1930, aquele imóvel, de cuja história pouco se sabe, foi tema de acesa polémica nas páginas dos jornais de Guimarães.
Chamavam-lhe o Castelo dos Almadas. Em Outubro de 1933, a Câmara decidiu demolir umas casas na rua da República (actual rua da Rainha) que lhe pertenciam, para o pôr a descoberto um edifício quinhentista que se julgava que ocultavam. Guimarães iria ficar com mais um monumento, dizia-se. Feita a demolição, o que se encontrou não foi o que era esperado. No local, ficaram os escombros das demolições, vários anos, como memorial involuntário de um acto falhado. O desejado monumento tornou-se em assunto de comentários jocosos.
Jerónimo de Almeida trouxe o assunto para o Pregão que escreveu para as Festas Nicolinas de 1934:
Já vejo ressurgir, ao dobrar uma esquina,
Uma torre ameada entre velhas fachadas,
Que dizem pertenceu a gente muito fina
Que, outrora, lá morou — o Solar dos Almadas
A cair em ruína!
Foi com a mesma intenção satírica que o Professor José Luís de Pina concebeu um carro para o cortejo das Maçãzinhas, com uma representação do Castelo dos Almadas, onde aparecia um figurante mascarado de fantasma que saía do seu interior para declamar versos humorísticos.
Entretanto, em Julho de 1934, a comissão administrativa da Câmara Municipal tinha encarregado o mesmo José Luís de Pina de encontrar uma solução para o problema. Com o que restava do edifício a desmoronar-se aos poucos, foi decidido refazê-lo, com uma intervenção classificada como artística. O projecto da obra é do escultor António de Azevedo, director da Escola Industrial. Foi aprovado pela Câmara no dia 22 de Novembro daquele ano, e a sua execução foi adjudicada ao mestre canteiro Joaquim da Silva. A obra fez-se e os seus críticos, a crer na opinião jornal O Comércio de Guimarães, que a descreve como “uma completa e artística modificação”, até nem desgostaram: o Castelo lá está. Não é aquilo que devia e podia ser, mas não ficou tão mal como parecia.
Nos anos que se seguiram, o imóvel serviu de local de reunião à Comissão de Estética, foi residência temporária do director do Paço dos Duques e atelier do pintor Jorge Maltieira.
É neste edifício, a que chamaram castelo, palácio ou torre, supostamente com raízes quinhentistas, mas que, na verdade, resulta de uma (re)invenção artística da década de 1930, que está instalada a sede dos Velhos Nicolinos, por cedência da Câmara Municipal de Guimarães aprovada em 18 de Outubro de 1967.
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A Torre dos Almadas


O edifício que foi baptizado como Torre dos Almadas, foi entregue, na véspera do cortejo do Pinheiro de 1967, à Associação dos Antigos Estudantes do Liceu de Guimarães, para nele instalar a sua sede. Na década de 1930, aquele imóvel, de cuja história pouco se sabe, foi tema de acesa polémica nas páginas dos jornais de Guimarães.
Chamavam-lhe o Castelo dos Almadas. Em Outubro de 1933, a Câmara decidiu demolir umas casas na rua da República (actual rua da Rainha) que lhe pertenciam, para o pôr a descoberto um edifício quinhentista que se julgava que ocultavam. Guimarães iria ficar com mais um monumento, dizia-se. Feita a demolição, o que se encontrou não foi o que era esperado. No local, ficaram os escombros das demolições, vários anos, como memorial involuntário de um acto falhado. O desejado monumento tornou-se em assunto de comentários jocosos.
Jerónimo de Almeida trouxe o assunto para o Pregão que escreveu para as Festas Nicolinas de 1934:
Já vejo ressurgir, ao dobrar uma esquina,
Uma torre ameada entre velhas fachadas,
Que dizem pertenceu a gente muito fina
Que, outrora, lá morou — o Solar dos Almadas
A cair em ruína!
Foi com a mesma intenção satírica que o Professor José Luís de Pina concebeu um carro para o cortejo das Maçãzinhas, com uma representação do Castelo dos Almadas, onde aparecia um figurante mascarado de fantasma que saía do seu interior para declamar versos humorísticos.
Entretanto, em Julho de 1934, a comissão administrativa da Câmara Municipal tinha encarregado o mesmo José Luís de Pina de encontrar uma solução para o problema. Com o que restava do edifício a desmoronar-se aos poucos, foi decidido refazê-lo, com uma intervenção classificada como artística. O projecto da obra é do escultor António de Azevedo, director da Escola Industrial. Foi aprovado pela Câmara no dia 22 de Novembro daquele ano, e a sua execução foi adjudicada ao mestre canteiro Joaquim da Silva. A obra fez-se e os seus críticos, a crer na opinião jornal O Comércio de Guimarães, que a descreve como “uma completa e artística modificação”, até nem desgostaram: o Castelo lá está. Não é aquilo que devia e podia ser, mas não ficou tão mal como parecia.
Nos anos que se seguiram, o imóvel serviu de local de reunião à Comissão de Estética, foi residência temporária do director do Paço dos Duques e atelier do pintor Jorge Maltieira.
É neste edifício, a que chamaram castelo, palácio ou torre, supostamente com raízes quinhentistas, mas que, na verdade, resulta de uma (re)invenção artística da década de 1930, que está instalada a sede dos Velhos Nicolinos, por cedência da Câmara Municipal de Guimarães aprovada em 18 de Outubro de 1967.




