O Baile

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O baile, que actualmente estende as Festas Nicolinas por mais um dia e é apresentado como o número de encerramento das festas, é uma incrustação recente no programa das festas, uma inovação que tardou a tornar-se consensual (“O baile nunca fez parte das Nicolinas”, afirmou Hélder Rocha em finais de Novembro de 1993, numa entrevista ao jornal O Povo de Guimarães). Para lá de toda a retórica romântica que tem sido utilizada para lhe dar significado, o baile das Nicolinas tem, na sua origem, uma intenção bem terrena, a necessidade de angariação de receitas para custear as despesas das festas.

A primeira vez que se realizou um baile académico ligado às Festas Nicolinas foi no dia 30 de Novembro de 1945, como uma iniciativa paralela ao programa com que os estudantes veteranos assinalaram o cinquentenário do ressurgimento das festas. Chamaram-lhe soiré dançante e realizou-se no Salão Nobre do Grémio do Comércio de Guimarães: Dizem os relatos que contou com a assistência de numerosas famílias desta cidade e de fora, que foi animado por uma excelente orquestra e que se dançou animadamente, até muito tarde. Esta iniciativa repetiu-se em 1946, no mesmo salão, tendo estado muito animado e concorrido. Era apresentado como um evento à parte do programa das festas Nicolinas.

Em 1947, as festas não tiveram as Danças que estavam previstas no programa. Em sua substituição, foi arremedada restaurante do Teatro Jordão, que abrira as portas naquele ano, uma Ceia Dançante, descrita, numa nota do Notícias de Guimarães, como um número novo que nem fazia parte do programa nem está previsto no velho estatuto nicolino. Não se repetiria nos anos que se seguiram.

Será preciso chegarmos ao ano de 1960 para termos notícia de um baile integrado nas Festas Nicolinas, embora ainda sem constar do programa oficial impresso. Foi marcado para o dia 3 de Dezembro, no restaurante Jordão, e contou com a actuação dos conjuntos de Pedro Osório e de Walter Behrend.

Em 1961, o programa das Festas Nicolinas inscreveu, no final, uma secção de “complementos”, que incluía “um baile de “galo" para arrancar ‘‘fundos”. Será a partir do ano seguinte que o baile passará a integra o programa das festas, aparecendo como o número com que as festas se encerravam:

Dia 7 —BAILE

E as Festas terminarão ao som lânguido e doce (ai... que calor) duma orquestra (pelo menos). É o BAILE.

Nele serão entregues as lanças que no dia anterior levaram até ELAS as maçãs. Haverá roer de unhas, “terrincar” de dentes e, quem sabe... até desmaios. Haverá lágrimas (umas de crocodilo, outras de inveja), mas no fim o ambiente será de mais contagiante alegria.

PEDIDO: Senhoras, recordem aos seus maridos como dantes dançavam e eram leves como uma pena (uma pena darem tantas pisadelas).

1962 foi, assim, o ano em que o baile se fixou no programa das festas, com dia certo, 7 de Dezembro (a excepção aconteceu em 1969, ano em que se baralhou o programa tradicional e o baile no Jordão se realizou no dia 6 de Dezembro). A consolidação do baile nas Nicolinas foi rápida. Em 1973 já se anunciava que os festejos fechariam “no dia 7 com o seu já tradicional baile”.

O mesmo já não se dirá do seu título. Se o baile já era considerado uma tradição das festas Nicolinas no início da década de 1970, muito tardou a acertar-lhe com o nome: Baile Académico (1966), Baile Nicolino (1968), Baile das Nicolinas (1969), Baile de Encerramento (1974), Baile da Saudade…