Associações Nicolinas

A AAELG/Velhos Nicolinos

No início da década de 1950, o Liceu de Guimarães tinha poucos alunos, na sua maioria demasiado jovens para assegurarem plenamente todos os números do programa das Festas Nicolinas (apenas ministrava os dois ciclos iniciais, que se concluíam no 5.º ano). As Nicolinas precisavam da ajuda dos Velhos, que iam sedimentando o hábito de se juntarem na noite do Pinheiro. Em 1953, os estudantes aposentados assumiram a organização de alguns dos números das Festas Nicolinas que, apesar do tempo chuvoso, cumpriram o seu programa na íntegra, incluindo as danças, que seguiram o modelo antigo, exibindo-se em diversas casas particulares, no Grémio do Comércio e, à noite, no Teatro Jordão. Mas logo se percebeu que este não seria o caminho para a revitalização das Nicolinas, até porque as festas são dos novos e não dos velhos. Os velhos tinham consciência de que deveriam auxiliar os novos a organizarem as Festas, sem se apropriarem delas. No entanto, faltava uma estrutura orgânica que institucionalizasse esse apoio.

Em Maio de 1954, na esteira do sucesso da colaboração dos velhos na organização das festas do ano anterior, Júlio Damas (pseudónimo literário de Francisco Armindo Pereira da Costa Damas) enviava de Vizela para o Notícias de Guimarães uma “Carta aberta aos antigos alunos do Liceu de Guimarães”, em que apelava à criação de uma associação de ex-académicos de Guimarães. O apelo ficou sem resposta.

Em 1959, o Liceu abandonou o convento de Santa Clara e os antigos estudantes assinalaram a despedida com um conjunto de manifestações que incluíram um jantar no Restaurante Jordão, que foi muito concorrido. António Faria Martins, um dos entusiastas das antigas festas dos estudantes que mais se tinham destacado na defesa da causa nicolina nas últimas décadas, que integrava a Comissão de Honra daquele encontro de 1959, não pôde comparecer ao jantar, por ter adoecido. Justificou a sua ausência enviando uma carta, lida durante o repasto, em que sugeriu a criação de uma associação de antigos alunos do Liceu, ideia que, segundo a reportagem do Notícias de Guimarães, “foi por todos abraçada com vibrantes aplausos”.

O projecto de associação foi posto em marcha. Criou-se uma comissão promotora constituída por Aníbal Dias Pereira, Antonino Dias de Castro, António Alves Monteiro, António Faria Martins, Daniel de Sá, Fernando Lage Jordão, Francisco Martins Fernandes, Gaspar Gomes Alves, Hélder Lemos Rocha, Jaime Sampaio, José Abílio Gouveia, José Aristião Campos, Júlio Soares Leite, Luís Cardoso e Luís Teixeira de Freitas. Os estatutos foram confeccionados, segundo Hélder Rocha, em laboriosas reuniões, sempre consumadas “com as pernas debaixo da mesa”. As adesões não pararam de crescer, como mais tarde contaria António Faria Martins:

Conhecida a existência da nova colectividade, acorreram as adesões de toda a parte, de todas as classes, de todas as profissões: Purpurados da mais alta estirpe, Magistrados da mais elevada hierarquia, Ministros e Diplomatas, Professores e Jornalistas, Engenheiros, Médicos e Advogados, Comerciantes e Industriais, Lavradores, Funcionários, Empregados no comércio... uma multidão heterogénea que se amalgamou numa designação única: a de “Velho Nicolino”!

A Ceia dos Velhos de 1960 foi aproveitada para tratar de assuntos da AAELG, então ainda em organização. A Assembleia Geral fundadora realizou-se no dia 6 de Setembro de 1961, no Salão Nobre dos Bombeiros Voluntários de Guimarães. Aprovaram-se os estatutos e foram eleitos os primeiros corpos sociais da Associação, propostos por Francisco Ramos Martins Fernandes, presididos por António de Quadros Flores (Assembleia Geral), Manuel Bernardino de Araújo Abreu (Conselho Fiscal) e Júlio Soares Leite (Direcção). O seu mandato foi curto: no dia 29 de Novembro, foram eleitos novos órgãos sociais, com António Faria Martins a assumir a presidência da direcção.

Uma das primeiras iniciativas da Associação, proposta por Nuno Simões, foi a abertura de uma subscrição para a criação de um fundo permanente, cujo rendimento permitiria instituir prémios a estudantes que se destacassem pelos seus resultados escolares.

Faltava a sede, que tardaria a ser. No dia 18 de Outubro de 1967, foi presente à reunião da vereação municipal, para deliberação, uma carta da direcção da AAELG, “pedindo a cedência das duas velhas salas do Liceu de Santa Clara que se situam de cada um dos lados do seu portão principal, as quais se destinariam à sede daquela Associação”. A Câmara, que estava em vias de transferir os seus serviços para Santa Clara, indeferiu o pedido, alegando impossibilidade de acomodação. Em alternativa, decidiu permitir “que a Associação se instale, embora a título precário, no rés-do-chão e primeiro andar da antiga Torre dos Almadas, logo que esta esteja desocupada e em condições a combinar com a entidade peticionária”. Assim seria. A chave da Torre dos Almadas foi entregue à AAELG no dia 28 de Novembro de 1967. Tratou-se do mobiliário e a sede da AAELG foi oficialmente inaugurada no dia do Pinheiro de 1969. A partir de então, é naquele dia que, todos os anos, ali se reúne a assembleia geral da Associação, que continua a cumprir com o seu objectivo primordial de “manter a tradição escolar vimaranense, subsidiando, colaborando e incitando os estudantes que frequentam o Ensino Secundário de Guimarães a realizar, em cada ano e na época própria, as chamadas Festas Nicolinas”.

Os estatutos foram reformados em 19 de Fevereiro de 1999, passando a associação a adoptar a designação de AAELG/Velhos Nicolinos.

Associações Nicolinas

Das tertúlias nicolinas à ACFN

As Festas Nicolinas têm duas dimensões paralelas. Uma é povoada por jovens estudantes, que aprendem o sentido das festas e se envolvem nelas, por dever e diversão, porque aquela é a hora dos novos; a outra é a dos antigos estudantes, aqueles cuja hora já foi, ficando a nostalgia do tempo em que rompiam as calças no banco de escolas, que se acumula quando Novembro chega ao fim, os dias em que bate mais forte nos velhos uma saudade com a banda sonora de baquetas e maçanetas a retumbar. Chamam-lhe espírito nicolino, que para os antigos estudantes de Guimarães é sinónimo de saudade. Uma saudade que se mata com reencontros anuais de grupos informais de amigos que, a cada ano, se juntam à volta da mesa, por altura das Festas Nicolinas, desfiando memórias. São as tertúlias nicolinas, entidades que se começaram a multiplicar nas últimas décadas do século XX, especialmente quando a Ceia dos Velhos organizada pela AAELG/Velhos Nicolinos deixou de poder comportar todos os velhos que desaguam em Guimarães na noite do cortejo do Pinheiro.

A mais antiga, com mais de sete décadas, é a tertúlia 4 de Dezembro, que nasceu num jantar de perdizes na pensão da Joaninha, na rua de Alcobaça, desaparecida para abrir espaço para o largo da Condessa do Juncal, e que, depois de ter passado pela Marisqueira, da rua de Camões e pela Adega do Quim, em Santa Luzia, se junta no Vira Bar, na Alameda, onde a Comissão das Festas vai, todos os anos, reclamar umas das Posses mais emblemáticas.

Duas destas tertúlias formalizaram-se como associações, com o propósito de promoverem o espírito nicolino, apoiando os novos na organização das festas: a Tertúlia Nicolina e a Tertúlia das Comissões de Festas Nicolinas.

A Associação Tertúlia Nicolina, com sede no antigo convento das domínicas, costumava promover uma das moinas que antecedem as Festas Nicolinas, em que oferecia uma lança das maçãzinhas ao presidente da Comissão das Festas. Na noite de 4 de Dezembro, concedia uma posse sempre muito animada. Desempenhou um papel de relevo na promoção das festas entre as novas gerações. Em 2008, esteve na origem de acesa polémica, ao registar em seu nome a marca Nicolinas. Este registo seria anulado por decisão judicial, que reconheceu a designação Nicolinas como propriedade colectiva da comunidade vimaranense, não sendo passível de registo por entidades particulares. A Associação Tertúlia Nicolina está inactiva há vários anos.

A Associação de Comissões de Festas Nicolinas, também nascida de uma tertúlia, junta velhos que integraram Comissões das Festas, assumindo um papel de apoio e enquadramento aos jovens que, em cada ano, assumem as tarefas de organização das Festas. Tem desenvolvido uma acção importante no estudo e na salvaguarda do fenómeno nicolino, tendo assumido, com a AAELG/Velhos Nicolinos, a organização da II Convenção Nicolina, realizada em 2015. No ano 2000, a Comissão das Festas Nicolinas esteve instalada na sua sede, então na rua Egas Moniz. Actualmente, tem sede no restaurante a Marisqueira, na rua de Camões, onde dá uma das posses mais aguardadas em cada 4 de Dezembro. Além da posse, oferece uma das moinas do mês de Novembro.