Memórias Paroquiais


O concelho de Guimarães em 1758.
Em 1758, os párocos responderam a um inquérito que desenhou um retrato minucioso do reino. Nesta secção reúnem-se as Memórias Paroquiais das freguesias de Guimarães, com transcrições, notas e comentários. Um olhar de dentro sobre populações, rendimentos, devoções, terras e rios em meados do século XVIII.


Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Memórias das paróquias do termo
de Guimarães em 1758
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As paróquias assinaladas com asterisco constituem o grupo de freguesias vimaranenses cujas memórias não aparecem no Arquivo Nacional / Torre do Tombo. Para quase todas (a excepção é Mesão Frio) existe um apontamento resumido incluído em dois volumes de suplemento às Memórias Paroquiais, provavelmente elaborado pelo padre Luís Cardoso com os dados de que dispunha de levantamentos anteriores a 1758. Os textos referentes a estas freguesias freguesia são retirados desse suplemento e, sempre que existam, dos verbetes dos dois primeiros (e únicos) volumes do Dicionário Geográfico, que o padre Luís Cardoso publicou em 1747 e 1751 apenas cobrindo os topónimos entre Abambres (lugar do concelho de Mirandela) a Cuvaleiras (lugar da freguesia de S. João de Airão, no concelho de Guimarães Tanto num caso, como no outro, são, infelizmente, registos excessivamente lacónicos.


Respostas dos párocos das freguesias de Guimarães ao inquérito do padre Luís Cardoso para o Dicionário Geográfico do Reino de Portugal
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
ABAÇÃO,
S. Cristóvão de
Satisfazendo a ordem do Il. Rev.º Senhor Dr, Provisor de Braga e todo o seu Arcebispado Primaz Francisco Fernandes Coelho.
Esta província é de Entre-Douro-e-Minho, é Arcebispado de Braga e Comarca e termo da vila de Guimarães, é freguesia de S. Cristóvão de Abação.
Esta igreja é anexa abadia de Santa Maria de Gémeos, o Reverendo Abade dela é o que apresenta, está situada num alto e dela se avistam muitas freguesias, está perto do Monte de S. Bento e o seu orago é S. Cristóvão. Tem três altares, o maior do orago, o da parte direita de S. Sebastião, da parte esquerda de Nossa Senhora do Rosário. Tem uma Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, que dá contas ao Convento de S. Domingos da Vila de Guimarães, não tem capelas, nem romagem; não tem conventos nem coisas [??] de que dê relação.
Tem lugares ou vizinhos treze , a saber: o lugar do Assento, tem quatro moradores; Tarrio (?), tem quatro moradores; o Monte, um morador; Portela, um morador; Salgueirinhos, dois moradores; Cima de Vila, um morador; Vatelo [?], um morador; Sorribas, dois moradores; Outeiro, três moradores; Currais, dois moradores; Bouça (?), um morador; Carvalhal, um morador; Borroca (?), dois moradores; Paraíso, um morador; Vinha Velha, um morador; Turnalha, um morador, que são ao todo [?] dezasseis.
Tem pessoas oitenta e quatro excepto os menores.
O pároco desta freguesia é vigário ad nutum tem de côngrua dez mil réis, e dois almudes de vinho e dois alqueires de trigo e duas libras de cera, e não tem mais rendas sabidas, e quanto aos rendimentos dos dízimos o Reverendo Abade que come os dízimos dará conta o que vende, não tem beneficiados, está a igreja no meio dos moradores, os frutos desta terra com mais abundância milhão, centeio e feijão e vinho alguns anos, que fica alta é combatida dos ventos, dista da cidade de Braga quatro léguas, da de Lisboa sessenta léguas, de Guimarães, uma légua e desta vila de Guimarães é freguesia do termo.
O juiz desta terra é o juiz de Guimarães com alçada da dita vila de Guimarães e esta vila é cabeça de toda a comarca.
O correio desta terra é da vila de Guimarães, parte na sexta-feira e vem no domingo, o qual vai à cidade do Porto.
Esta freguesia não padeceu ruína no terramoto do ano de mil setecentos e cinquenta e cinco, não tem rios, não tem feiras, não tem moinhos de azeite, lagares, nem pilões.
Nos mais interrogatórios não falei por neles não ter que dizer, nem tenho mais que relatar.
Em S. Cristóvão de Abação, doze de maio de mil e setecentos e cinquenta e oito anos, e que tudo possa na verdade, e vai assinado pelos reverendos párocos meus vizinhos.
O Abade José Filipe da Costa
O Vigário Miguel Soares da Costa
O Vigário Francisco Leite Soares
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
ABAÇÃO,
S. Tomé de
1. Na Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga Primaz das Espanhas, visita de Monte Longo, termo e comarca da Vila de Guimarães, fica a freguesia de S. Tomé de Abação.
2. É de el-rei e preside nela um abade.
3. Vizinhos tem setenta e seis, pessoas de comunhão duzentas, e pessoas de menores trinta e duas.
4. Está situada nas costas da serra de Santa Catarina e, como fica num alto descobre, para a parte do poente oito léguas e, no espaço destas, muitos campos e vales, pondo termo a esta vista o mar, para a parte do Norte não tem vista, senão a última altura da serra de Santa Catarina, como também para o Nascente, para a parte do Sul descobre muitos vales e serras.
5. Pertence ao termo da Vila de Guimarães e sua comarca.
6. A paróquia não tem lugar vizinho, senão as casas da residência do Reverendo Abade que estão mistas à mesma igreja e são as melhores que há na freguesia ficando-lhes de fortes as hortas e pomar e vário prados, tudo pertencente às mesmas casas e entre isto e as casas passa uma estrada de continuada passagem, parte ao Norte com a dita serra, ao nascente com a freguesia de Santa Maria de Matamá, a Santa Marinha da Costa, ao Sul parte com S. Cristóvão de Abação e Santa Eulália de Pentieiros, ao Poente parte com o Salvador de Pinheiro. A igreja de sua arquitectura é das melhores que tem toda esta redondeza, está feita ao moderno, com dois campanários rematados com três pirâmides de pedra, e na do meio uma cruz de ferro com sua bandeira, que mostra as variedades de tempos, tem mais seis pirâmides rematando a obra toda com duas cruzes, tudo de pedra, no frontispício tem um nicho de nove palmos com uma imagem de Nossa Senhora com o título das Necessidades, com sua vidraça por diante. Dentro da igreja tem dois altares colaterais, um de Nossa Senhora do Rosário, da parte do Evangelho, o qual tem sua confraria, da parte da epístola tem outro de S. Sebastião com duas imagens milagrosas, uma de Nossa Senhora do Sol, outra da Senhora Santa Ana, tem mais o altar maior e nele o Santíssimo Sacramento em um precioso domicílio feito a todo o custo obra, que mandaram fazer do irmãos, tem a capela-mor duas janelas rasgadas e uma sacristia, o corpo da igreja tem seu coro, dois confessionários metidos nas paredes e quatro janelas rasgadas, tem toda a Via Sacra no adro e tudo muito bem lavrado.
Por trás das casas da Residência estão fixos muitos penedos, formando um triste penhasco, porém com a compostura com que estão ornados se fazem agradáveis à vista, circulando a estes brandas, murtas e alegretes, e em cima e debaixo de alguns estão formadas algumas capelas, na forma de uma Tebaida guarnecida com seus embrexados, em cima de um penedo está uma capela com S. Pedro no Deserto e dentro suas murtas e flores e o santo metido no meio, em cima de outro, outra de S. Jerónimo, ornada da mesma sorte, debaixo de um famoso penedo está outra com Santa Maria Madalena recostada a uma pedra, e dentro com suas murtas e flores, outra de S. Bento metida entre dois grandes penedos, cobrindo-a por cima uma grande laje, outra de S. João Baptista, encostada a um altíssimo penedo, fabricada de pedra e cal, guarnecida com variedades de conchas, cobrindo-a por cima quatro frondosos carvalhos que pela densa vastidão de folhas não deixa entrar no sítio raio de Sol, formando um triste retiro. Tem mais o mesmo sítio um pequeno lago de água metido entre quatro penedos, e deste corre a água para outro lago maior, circulado também de seis grandes penedos, os quais servem de prisão às mesmas águas, fazendo de fundo de água doze palmos, e por ser obra rústica, feita pela disposição da natureza, se faz admirável, entre a mesma penedice está um pequeno largo e neste dois quadros de murta, e ao redor seus alegretes com várias flores, que todo o ano servem de matizes ao sítio, tem uma janela que [dá] para uma estrada, coberta por cima de uma frondosa parreira, tem outro largo com uma mesa, com seus assentos, à roda, tudo de pedra, servindo-lhe de chapéu de sol um denso carvalho, que pelo modo como está tecido se faz vistoso. Chama o povo a este delicioso retiro Escorial, e fica ao livel [nível] das telhas das casas da Residência, porque saindo dos quartos interiores das casas se sobe para o dito Escorial dezoito degraus, esta obra foi feita pelo Abade Manuel Teixeira de Azevedo, natural da cidade de Braga.
7. O orago da freguesia é S. Tomé Apóstolo.
8. O pároco é Abade de apresentação real terá um ano por outro de renda duzentos e cinquenta mil réis, e paga da renda a quarta parte à Santa Patriarcal.
9. Não tem beneficiados.
10. Não tem conventos.
11. Não tem hospital.
12. Não tem casa de Misericórdia.
13. tem esta freguesia no seu distrito quarenta lugares digo quarenta e quatro, todos espalhados e são os seguintes: Telhado; Telhado de Além; Cima de Vila; Pena Brava; Pena Redonda; Carvalho; Revolta; Chãos; Outeiro; Muro; Ribeirinha; Lameira; Souto; Nogueira; Ventosa; Penedo Novo; S. Gemil; Codeçal; Corte Real; Bouça; Penedo Velho; Cortinhas de Cima; Cortinhas de Além; Cortinhas de Baixo; Boucinha; Encados; Alqueidão; Laje; Beldorreiro; Portezelo; Casal; Vinhas de Cima; Vinhas de Baixo; Lagar; Carreiro; Mortório; Moinho; Lameiras; Cabo de Vila; Herdade; Eira Velha; Revoreda; Cachada; Barroca; a Residência da igreja e no lugar da Revolta está uma capela de S. José, a qual venera um devoto que a mandou fazer e pertence à freguesia.
14. A esta concorrem algumas pessoas e com mais frequência aos dias santos. Não tem determinada romagem, o alter é privilegiado, está muito bem ornada e tem princípio de Confraria.
15. Os frutos destas terras são pão de milhão, milho branco, painço e centeio e algum trigo, castanhas e frutas de toda a casta, a maior abundância é de milhão, centeio, feijão e painço.
16. Não tem juiz ordinário, são seculares governados pela justiça de Guimarães, os eclesiásticos pela cidade de Braga.
17. Não tem couto, nem cabeça de concelho, honra ou beetria.
18. Não há memória que dela saíssem pessoas peritas em letras ou armas e ou que ocupassem lugares grandes.
19. Não tem feira.
20. Não tem correio mas sim se serve com o de Guimarães que dista pouco menos de uma légua o qual parte à sexta-feira e chega ao domingo.
21. Dista esta freguesia de Braga três léguas e meia, de Guimarães pouco menos de uma, da de Lisboa sessenta.
22. Privilégios tem dois das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira, os quais estão encabeçados em duas fazendas chamadas uma o Telhado e outra o Penedo Velho. Tem outro da Bula, outro da Santíssima Trindade e outro de Santo António e outro da Santa Casa de Jerusalém.
23. Tem dezassete fontes nativas, porém nenhum com especialidade para que se faça memorável. Não tem lagoa alguma.
24. Não tem porto de mar.
25. Não tem muros, nem praça, nem torre, nem castelo.
26. No ano do terramoto de cinquenta e cinco não houve ruína alguma, só sim duas bolas das pirâmides da igreja.
SERRA
1. Chama-se de Santa Catarina.
2. Principia do arco de Pombeiro e acaba no mosteiro de Santa Marinha da Costa de monges de S. Jerónimo, junto à vila de Guimarães.
3. Não tem braços, porque tanto tem de largo, como de comprido.
4. Não tem rio algum, só muitas fontes que dela nascem que servem de regar as terras vizinhas.
5. Fica junto a ela a vila de Guimarães.
6. Não tem fontes dignas de memória.
7. Não tem minas de metais, só sim muito abundante de pedra muito grosseira, com esta se fazem muitas cantarias por suas vizinhanças.
8. Tem muitas árvores de carvalhos e alguns sobreiros e muitos matos.
9. Tem esta serra o mosteiro de Santa marinha da Costa de monges de S. Jerónimo, tem mais em cima uma ermida de Santa Catarina, e neste sítio alguns vestígios de haver antigamente algum castelo, outra capela de Nossa Senhora da Penha a qual está fundada debaixo de um penhasco grande de que são senhores os religiosos de Nossa Senhora do Carmo Calçados, e reside nela um leigo da mesma religião.
10. O temperamento é fresco,
11. tem criação de coelhos, perdizes, lebres, raposas, porém em pouca quantidade.
12. Não tem lagoas, só sim barrocos grandes e várias lapas debaixo de penedos onde se recolhem os pastores do gado quando chove.
13. Não tem coisa alguma mais de memória.
RIO
Não há neste sítio. Há várias valas de água com que moem alguns moinhos de Inverno, as quais juntas formam um pequeno regato na freguesia do Salvador de Pinheiro.
Não tem mais esta freguesia que diga de rio,
Nesta forma tendo dado complemento à ordem do Sr. Dr. Provisor da cidade de Braga com os R. R. Párocos vizinhos na forma mandada e assinei com eles ditos abaixo hoje 22 de Março de 1738.
Manuel Teixeira Azevedo, Abade de S. Tomé de Abação
José Alves (??) de Gouveia, Abade do Salvador de Pinheiro
Domingos Lopes, Abade de Santa Eulália de Pentieiros.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
AIRÃO,
Santa Maria de
1. Na Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga Primaz das Espanhas, visita de Monte Longo, termo e comarca da Vila de Guimarães, fica a freguesia de S. Tomé de Abação.
2. É de el-rei e preside nela um abade.
3. Vizinhos tem setenta e seis, pessoas de comunhão duzentas, e pessoas de menores trinta e duas.
4. Está situada nas costas da serra de Santa Catarina e, como fica num alto descobre, para a parte do poente oito léguas e, no espaço destas, muitos campos e vales, pondo termo a esta vista o mar, para a parte do Norte não tem vista, senão a última altura da serra de Santa Catarina, como também para o Nascente, para a parte do Sul descobre muitos vales e serras.
5. Pertence ao termo da Vila de Guimarães e sua comarca.
6. A paróquia não tem lugar vizinho, senão as casas da residência do Reverendo Abade que estão mistas à mesma igreja e são as melhores que há na freguesia ficando-lhes de fortes as hortas e pomar e vário prados, tudo pertencente às mesmas casas e entre isto e as casas passa uma estrada de continuada passagem, parte ao Norte com a dita serra, ao nascente com a freguesia de Santa Maria de Matamá, a Santa Marinha da Costa, ao Sul parte com S. Cristóvão de Abação e Santa Eulália de Pentieiros, ao Poente parte com o Salvador de Pinheiro. A igreja de sua arquitectura é das melhores que tem toda esta redondeza, está feita ao moderno, com dois campanários rematados com três pirâmides de pedra, e na do meio uma cruz de ferro com sua bandeira, que mostra as variedades de tempos, tem mais seis pirâmides rematando a obra toda com duas cruzes, tudo de pedra, no frontispício tem um nicho de nove palmos com uma imagem de Nossa Senhora com o título das Necessidades, com sua vidraça por diante. Dentro da igreja tem dois altares colaterais, um de Nossa Senhora do Rosário, da parte do Evangelho, o qual tem sua confraria, da parte da epístola tem outro de S. Sebastião com duas imagens milagrosas, uma de Nossa Senhora do Sol, outra da Senhora Santa Ana, tem mais o altar maior e nele o Santíssimo Sacramento em um precioso domicílio feito a todo o custo obra, que mandaram fazer do irmãos, tem a capela-mor duas janelas rasgadas e uma sacristia, o corpo da igreja tem seu coro, dois confessionários metidos nas paredes e quatro janelas rasgadas, tem toda a Via Sacra no adro e tudo muito bem lavrado.
Por trás das casas da Residência estão fixos muitos penedos, formando um triste penhasco, porém com a compostura com que estão ornados se fazem agradáveis à vista, circulando a estes brandas, murtas e alegretes, e em cima e debaixo de alguns estão formadas algumas capelas, na forma de uma Tebaida guarnecida com seus embrexados, em cima de um penedo está uma capela com S. Pedro no Deserto e dentro suas murtas e flores e o santo metido no meio, em cima de outro, outra de S. Jerónimo, ornada da mesma sorte, debaixo de um famoso penedo está outra com Santa Maria Madalena recostada a uma pedra, e dentro com suas murtas e flores, outra de S. Bento metida entre dois grandes penedos, cobrindo-a por cima uma grande laje, outra de S. João Baptista, encostada a um altíssimo penedo, fabricada de pedra e cal, guarnecida com variedades de conchas, cobrindo-a por cima quatro frondosos carvalhos que pela densa vastidão de folhas não deixa entrar no sítio raio de Sol, formando um triste retiro. Tem mais o mesmo sítio um pequeno lago de água metido entre quatro penedos, e deste corre a água para outro lago maior, circulado também de seis grandes penedos, os quais servem de prisão às mesmas águas, fazendo de fundo de água doze palmos, e por ser obra rústica, feita pela disposição da natureza, se faz admirável, entre a mesma penedice está um pequeno largo e neste dois quadros de murta, e ao redor seus alegretes com várias flores, que todo o ano servem de matizes ao sítio, tem uma janela que [dá] para uma estrada, coberta por cima de uma frondosa parreira, tem outro largo com uma mesa, com seus assentos, à roda, tudo de pedra, servindo-lhe de chapéu de sol um denso carvalho, que pelo modo como está tecido se faz vistoso. Chama o povo a este delicioso retiro Escorial, e fica ao livel [nível] das telhas das casas da Residência, porque saindo dos quartos interiores das casas se sobe para o dito Escorial dezoito degraus, esta obra foi feita pelo Abade Manuel Teixeira de Azevedo, natural da cidade de Braga.
7. O orago da freguesia é S. Tomé Apóstolo.
8. O pároco é Abade de apresentação real terá um ano por outro de renda duzentos e cinquenta mil réis, e paga da renda a quarta parte à Santa Patriarcal.
9. Não tem beneficiados.
10. Não tem conventos.
11. Não tem hospital.
12. Não tem casa de Misericórdia.
13. tem esta freguesia no seu distrito quarenta lugares digo quarenta e quatro, todos espalhados e são os seguintes: Telhado; Telhado de Além; Cima de Vila; Pena Brava; Pena Redonda; Carvalho; Revolta; Chãos; Outeiro; Muro; Ribeirinha; Lameira; Souto; Nogueira; Ventosa; Penedo Novo; S. Gemil; Codeçal; Corte Real; Bouça; Penedo Velho; Cortinhas de Cima; Cortinhas de Além; Cortinhas de Baixo; Boucinha; Encados; Alqueidão; Laje; Beldorreiro; Portezelo; Casal; Vinhas de Cima; Vinhas de Baixo; Lagar; Carreiro; Mortório; Moinho; Lameiras; Cabo de Vila; Herdade; Eira Velha; Revoreda; Cachada; Barroca; a Residência da igreja e no lugar da Revolta está uma capela de S. José, a qual venera um devoto que a mandou fazer e pertence à freguesia.
14. A esta concorrem algumas pessoas e com mais frequência aos dias santos. Não tem determinada romagem, o alter é privilegiado, está muito bem ornada e tem princípio de Confraria.
15. Os frutos destas terras são pão de milhão, milho branco, painço e centeio e algum trigo, castanhas e frutas de toda a casta, a maior abundância é de milhão, centeio, feijão e painço.
16. Não tem juiz ordinário, são seculares governados pela justiça de Guimarães, os eclesiásticos pela cidade de Braga.
17. Não tem couto, nem cabeça de concelho, honra ou beetria.
18. Não há memória que dela saíssem pessoas peritas em letras ou armas e ou que ocupassem lugares grandes.
19. Não tem feira.
20. Não tem correio mas sim se serve com o de Guimarães que dista pouco menos de uma légua o qual parte à sexta-feira e chega ao domingo.
21. Dista esta freguesia de Braga três léguas e meia, de Guimarães pouco menos de uma, da de Lisboa sessenta.
22. Privilégios tem dois das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira, os quais estão encabeçados em duas fazendas chamadas uma o Telhado e outra o Penedo Velho. Tem outro da Bula, outro da Santíssima Trindade e outro de Santo António e outro da Santa Casa de Jerusalém.
23. Tem dezassete fontes nativas, porém nenhum com especialidade para que se faça memorável. Não tem lagoa alguma.
24. Não tem porto de mar.
25. Não tem muros, nem praça, nem torre, nem castelo.
26. No ano do terramoto de cinquenta e cinco não houve ruína alguma, só sim duas bolas das pirâmides da igreja.
SERRA
1. Chama-se de Santa Catarina.
2. Principia do arco de Pombeiro e acaba no mosteiro de Santa Marinha da Costa de monges de S. Jerónimo, junto à vila de Guimarães.
3. Não tem braços, porque tanto tem de largo, como de comprido.
4. Não tem rio algum, só muitas fontes que dela nascem que servem de regar as terras vizinhas.
5. Fica junto a ela a vila de Guimarães.
6. Não tem fontes dignas de memória.
7. Não tem minas de metais, só sim muito abundante de pedra muito grosseira, com esta se fazem muitas cantarias por suas vizinhanças.
8. Tem muitas árvores de carvalhos e alguns sobreiros e muitos matos.
9. Tem esta serra o mosteiro de Santa marinha da Costa de monges de S. Jerónimo, tem mais em cima uma ermida de Santa Catarina, e neste sítio alguns vestígios de haver antigamente algum castelo, outra capela de Nossa Senhora da Penha a qual está fundada debaixo de um penhasco grande de que são senhores os religiosos de Nossa Senhora do Carmo Calçados, e reside nela um leigo da mesma religião.
10. O temperamento é fresco,
11. tem criação de coelhos, perdizes, lebres, raposas, porém em pouca quantidade.
12. Não tem lagoas, só sim barrocos grandes e várias lapas debaixo de penedos onde se recolhem os pastores do gado quando chove.
13. Não tem coisa alguma mais de memória.
RIO
Não há neste sítio. Há várias valas de água com que moem alguns moinhos de Inverno, as quais juntas formam um pequeno regato na freguesia do Salvador de Pinheiro.
Não tem mais esta freguesia que diga de rio,
Nesta forma tendo dado complemento à ordem do Sr. Dr. Provisor da cidade de Braga com os R. R. Párocos vizinhos na forma mandada e assinei com eles ditos abaixo hoje 22 de Março de 1738.
Manuel Teixeira Azevedo, Abade de S. Tomé de Abação
José Alves (??) de Gouveia, Abade do Salvador de Pinheiro
Domingos Lopes, Abade de Santa Eulália de Pentieiros.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
AIRÃO,
S. João de
Ilustríssimo Reverendo Senhor Doutor Provisor.
Na forma das ordens que recebi de Vossa Mercê, envio a informação que posso dar sobre os interrogatórios que Sua Majestade Fidelíssima mandou remeter a Vossa Mercê, a qual vai segundo a ordem dos mesmos.
1.º Esta freguesia de S. João de Airão fica na província de Entre-Douro-e-Minho, na comarca e termo da vila de Guimarães, do Arcebispado de Braga.
2.º É terra de el-rei Nosso Senhor e não de donatário.
3.º Tem cinquenta e sete vizinhos, ou fogos, e cento e sessenta e uma pessoas, maiores e menores.
4.º Está situada na costa de um monte chamado a Curviã, de cujos altos se descobrem, para a parte do Nascente, a vila de Guimarães e muitas terras até à serra do Marão, que é já na Província de Trás-os-Montes. E, para o Sul, se não descobre povoação alguma notável, posto que muitas terras deste Arcebispado e da comarca da Maia do Bispado do Porto. E, para o Poente e Norte, lhe impede a vista o dito monte de Curviã em cuja costa está.
5.º Não tem termo próprio, porque é do da vila de Guimarães.
6.º A paróquia está conjunta às casas dos moradores dela, que não vivem arruados em lugares, mas em quintas dispersas, uns dos outros com pouca distância, de sorte que toda ela, se pode dizer, é um lugar, posto que se denominam como lugares distintos os chamados do Assento, Foz, Pomarinho, Roupeire, Pereira, Carvalhal, Prado, Airão, Cabo, Corvaceiras, Frei, Paço, Barreiros, Penelas e Curviã, sem embargo de, na maior parte destes, não haver mais que um ou dois moradores, vulgarmente chamados fogos.
7.º É o orago desta freguesia S. João Baptista. Tem a igreja três altares. O maior, em que está colocado em sacrário o Santíssimo Sacramento per modum viatici, a imagem de S. João Baptista e, nos lados dele, as de Santa Ana e Santa Quitéria. E mais tem dois altares colaterais, um deles é de Nossa Senhora da Purificação e o outro do Santo Nome de Deus, em que se venera a imagem de Cristo e Senhor Nosso Crucificado. Não tem naves, nem irmandade alguma.
8.º O pároco é nas Bulas Pontifícias chamado abade. É benefício da colação ordinária, que se provê por concurso, vagando. Rende trezentos mil réis e pouco mais.
9.º Não há nesta igreja beneficiados alguns.
10.º Não tem convento, nem religião alguma de homens ou mulheres.
11.º Não tem hospital.
12.º Não tem casa da Misericórdia.
13.º Há uma capela particular com porta para o caminho público, da invocação de Nossa Senhora do Presépio, na Quinta do Paço, que é do vínculo e morgado muito antigo de que hoje é administrador o Conde Avintes, por óbito da Condessa de Alcudia e Marquesa de Fonte em Sol, do reino de Castela, cujo morgado possui com título de coutada, que conserva demarcada com marcos autênticos toda esta freguesia, na qual aforam seus procuradores os montes dela. E a mesma coutada em seu âmbito ocupa parte da freguesia do Salvador de Joane, da de Santa Maria de Airão, da de S. Vicente de Oleiros e da de S. Martinho de Leitões. Hoje são nela livres as caças e ainda não há muitos anos havia nela couteiro.
14.º Não acode à dita capela romagem alguma, posto que a ela vêm em clamor ou preces algumas freguesias, por voto antigo, em certos dias do ano, com cruz levantada.
15.º Os frutos que em maior abundância colhem nela os moradores são centeio, milhão ou milho maís, milho alvo, feijão, vinho muito verde e, em alguns anos, muito pouco.
16.º Não tem juiz ordinário, nem câmara, mas é sujeita às justiças da vila de Guimarães.
17.º Não é couto, honra, nem beetria.
18.º Não há memória de que nela florescesse homem algum assinalado em virtude, letras ou armas.
19.º Não há nela feira alguma.
20.º Não há aqui correio, servem-se os moradores dela comummente do de Guimarães ou Braga que, qual destes, dista duas léguas desta freguesia, o de Braga ao Norte e o de Guimarães ao Nascente.
21.º Dista esta freguesia da cidade de Braga, capital do Arcebispado, duas léguas e de Lisboa, capital do Reino, cinquenta e oito, segundo a vulgar computação, pois vulgarmente se contam, daqui à cidade do Porto, seis léguas.
22.º Não tem privilégios alguns, antiguidades, nem coisa memorável.
23.º Não tem lagoa, nem fonte alguma célebre, só é bastantemente provida de fontes de águas saudáveis para o hausto quotidiano, sem outra alguma qualidade especial.
24.º Não há que informar sobre este, por não ser porto de mar esta terra.
25.º Não é praça de armas.
26.º Não padeceu a mais leve ruína no terramoto de 1755.
27.º Não há, enfim, coisa alguma mais digna de memória e que mereça particular expressão.
Quanto à serra.
1.º A serra em cuja costa, para a parte de entre Nascente e Sul, faz frente esta freguesia chama-se a Curviã.
2.º Dizem que esta serra é braço da do Gerês donde vem continuando até à do Carvalho de Este, uma légua distante da cidade de Braga, ao Nascente desta dita cidade, e daí à do Bom Jesus, Sameiro e Santa Marta e, fazendo volta mais para o Sul, se vem comunicar à de Outinho e daí por esta freguesia vai fazendo outra volta inclinada mais para o Sul e vai ter ao Castelo de Vermoim e, finalmente, fenece este braço da serra na freguesia de S. Martinho do Vale. E só com o nome de Curviã é denominada na parte que decorre por esta minha freguesia até ao dito castelo de Vermoim. Não é serra desde o dito Gerês continuada, porque em várias partes é cortada de ribeiras e desde a do Gerês, donde dizem é nascida ou derivada, até onde fenece, de comprimento são seis ou sete léguas. No distrito desta minha freguesia, para as partes de Braga e Norte, terá, de largura, meia légua.
3.º Não se derivam dela braços alguns no distrito desta freguesia.
4.º Não nasce rio algum nela neste mesmo meu distrito.
5.º Não há vilas, nem lugares ao longo dela, enquanto discorre por este mesmo meu distrito.
6.º Também não tem fonte alguma de propriedades raras no mesmo distrito, somente no alto dela e, nos limites desta freguesia, no sítio da Lagoa, nasce um olho de água de que se forma um pequeno regato que, formando corrente para o Poente e Sul pela freguesia do Salvador de Joane, rega e fertiliza as terras dos moradores que se servem das suas águas as quais, se sobejam, se metem num pequeno riozinho que é chamado o rio de Pele, que discorre por entre a dita freguesia do Salvador de Joane e Santa Marinha de Mogege, em cujo sítio se metem as águas sobejas do dito regato, e em alguma parte na freguesia de Joane, no sítio de Cortinhas, tem moinhos que só moem com as águas dele de Inverno.
7.º Não há na dita serra minas de metais ou canteiras de pedras ou de outros materiais de estimação, somente em muitas partes desta minha freguesia e de outras vizinhas há abundância de pedra vulgar para os edifícios e igrejas que dela, nestas partes, se costumam fazer, porem é de grão mais fino e cor mais alva que a de outros sítios e, por isso, aqui a mandam buscar, ainda da cidade de Braga, para edifícios e templos.
8.º A dita serra neste meu distrito, a usual e comum planta que há nela são devesas de carvalhos, de que se colhe lenha para o fogo, e não consta haja nela ervas medicinais de especial nota. E, no alto dela, se semeiam algumas chãs de milho alvo, milhão e feijão galego, que produz em mediana abundância, pois são nela bastantemente frios os ares, pelo que não produz vinho. E da mesma qualidade são as terras dela e muito secas, no mesmo alto dela.
9.º Não há na dita serra neste meu distrito mosteiros, igrejas de romagem, nem imagens milagrosas.
10.º A qualidade da dita serra, no alto dela, como já disse, é seca por falta de águas, pois se não rega, e fria, principalmente dos ares. Nas costas, porém, que fazem frente para as ribeiras dela, de um e outro lado se acham águas, que se tiram e fazem mais férteis as terras que com as ditas águas são regadas, mas sempre a qualidade das terras da mesma serra é fria.
11.º Na dita serra não há criações de gados neste distrito e, para os que são criados nesta ribeira, apenas chegam pastos para o sustento deles, que não são comummente mais dos necessários para as lavouras dos moradores desta freguesia.
12.º Não tem a dita serra neste distrito lagoa alguma ou fojos notáveis. 13.º Não há, enfim, coisa alguma mais a respeito desta serra de que deva fazer-se individual expressão.
Quanto é ao rio.
Por esta freguesia não decorre rio algum, nem no distrito dela nasce, e por isso não há que informar coisa alguma a este respeito sobre os interrogatórios pertencentes a esta classe.
É esta a informação que nesta matéria posso dar na verdade, a qual, na forma das ordens de Vossa Mercê, vai assinada pelos dois párocos vizinhos desta freguesia e sempre fico pronto para todas as mais que Vossa Mercê me der como
De Vossa Mercê, mais reverente súbdito.
Por impedimento do reverendo abade de S. Vicente de Oleiros fazendo suas vezes, o padre João de Faria dos Guimarães.
O abade João Correia de Oliveira.
Gonçalo de Almeida Pontes.
“Airão, São João”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 5, n.º 90, p. 1113 a 1118.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Aldão,
S. Mamede de
São Mamede de Aldão, termo de Guimarães, Arcebispado de Braga, Primaz das Espanhas, etc.
Terá, de comprido, dois tiros de mosquete e, de largo, em partes dois, em partes menos. Não há serra neste país.
Respondendo ao que pergunta nos primeiros vinte e sete interrogatórios compreendidos na lista que nos foi entregue com uma ordem do muito Reverendíssimo Senhor Provisor da Corte e Relação de Braga primazial.
Esta igreja de São Mamede de Aldão, subúrbios de Guimarães, termo da mesma vila e comarca, Arcebispado de Braga e comarca pelo Eclesiástica, Província de Entre-Douro-e-Minho, é de el-rei Nosso Senhor, o donatário a quem pertence.
Tem esta igreja de São Mamede de Aldão trinta vizinhos e pessoas de sacramento cento e catorze.
Está situada num altinho, perto do regato chamado Selho, e da igreja se descobre perto de meia légua, como são o monte de Rendufe e o de Santa Marinha e o de São Domingos, de São Miguel de Gonça e o de Santa Cruz e Castelo e São Tiago do Monte, até ao de Santa Eulália de Fermentões. E tudo é ribeira, que se compõe de nove igrejas paroquiais.
Esta igreja é subúrbios da vila de Guimarães. Tem três aldeias, a saber, Granja e Outeirinho, Penouços e Bouça, Assento da Igreja e Casa de Aldão e Valé.
O orago é São Mamede de Aldão. Tem dois altares, um do Santo e outro de Nossa Senhora do Rosário. É uma pequena capela que não tem arco.
É curato anual da mesa Capitular da Insigne Real Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães. Renderão os dízimos cento e cinquenta mil réis. Dão ao pároco oito mil réis de côngrua.
Toda esta ribeira e freguesia é abundante de milho grosso e legumes, centeio e trigo e dá de tudo o que se semeia e planta.
É termo de Guimarães. É juiz de fora e comarca do corregedor da mesma vila.
Da Quinta de Aldão consta que Manuel Barbosa, que veio da vila de Aveiro, da família dos Cardosos e ele e dois filhos, Simão Barbosa, cónego que foi na Colegiada de Guimarães, e o insigne Agostinho Barbosa, bispo que foi nas Itálias, que compuseram setenta e seis tomos de Direito, bem conhecidos pelo seu nome Barbosa.
É correio de Guimarães para a cidade do Porto. Lança-se as cartas à quinta-feira e tornam a vir ao Domingo.
Desta igreja à cidade de Braga são três léguas e à de Lisboa são sessenta.
Não tenho mais de que responder aos primeiros artigos.
Aos segundos, nesta freguesia tem um pequeno monte que chamam a Aldão, de que tem saído quantidade de cantaria de pedra grossa, que tem ido para Guimarães.
Os montes desta igreja são devesas de carvalhos alvarinhos que dão landres e a silva serve de estrume. E há muita pouca criação, assim de gados como de rês, porque não há pastos que o monte dá só sarganhos.
Rio.
Respondendo à terceira pergunta e seus interrogatórios. Esta igreja está situada às margens do regato de Selho. Este tem três princípios, um de São Romão de Mesão Frio, e outro de São Romão de Rendufe e outro de São Miguel de Gonça, distantes desta igreja meia légua. Começam a ter seu princípio em pequenas fontes, os dois primeiros se juntam a ……. [ilegível] e o terceiro a ……. [ilegível], e no Verão secam, que muitas vezes não mói um moinho, porque dele se tiram levadas para regar as searas às margens. São arrebatados nas enchentes. Correm do Nascente para o Poente. Criam pequenos peixes, que chamam bogas, e nessa parte comum.
As suas margens se cultivam. São férteis de milho grosso, trigo, centeio e erva com que engordam os bois e mais animais e é a virtude da água. E o dito rio de Selho conserva o dito nome até ao arquinho do Soeiro, onde entra no rio Ave.
Esta freguesia está acima da ponte de Selho. Tem uma ponte que chamam a ponte de Cima de Selho. É de cantaria, sem grades e tem um pontido de pedra grossa desde a dita ponte até à Calçada de Segil, de altura de oito palmos. Terá de comprido sessenta varas. Serve de passagem das águas que vem da Quinta de Aldão. Outra passagem de padieiras aos moinhos de Penouços de Cima, que vai para Monte Negro da vila. Acima desta pinguela está uma levada com dois moinhos e um lagar de azeite. É prazo do Senhor Dom Prior da Real Colegiada de Guimarães.
Item outra levada da Bouça de Soutelo de Penouços de cima, dois moinhos que pagam duas galinhas ao Figueiredo da Quintã.
Item a levada de João Atão, que tem cinco moinhos e um engenho de azeite do Aldão. São prazos do Reverendo Cabido.
Estão quatro privilégios de Nossa Senhora da Oliveira encabeçados nos ditos moinhos. Terá o supradito rio duas léguas desde o seu nascimento até onde entra no rio Ave.
Tudo é ribeira, assim campos como casas, porque neste nosso país não há lugar, nem aldeia, porque têm o nome as casas conforme o sítio ou campo. Onde se fazem, assim têm o nome.
Certifico eu, o Padre João Lopes, cura actual desta igreja de São Mamede de Aldão, termo desta vila de Guimarães, Arcebispado de Braga Primaz das Espanhas, em como li todos os interrogatórios que me foram entregues e achei digno de memória nesta igreja e freguesia tudo aqui vai relatado, as memórias que achei. E vai na verdade que sendo necessário o afirmo in verbo sacerdotis em presença do reverendo vigário de São Lourenço de Cima de Selho e do reverendo padre cura de São Romão de Mesão Frio, que todos assinam conforme a ordem que nos veio do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor.
O primeiro de Maio de 1758.
O vigário António Mendes Teixeira.
O cura Francisco de Araújo.
O pároco de São Mamede de Aldão, o padre João Lopes.
“Aldão”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 2, n.º 14, p. 135 a 139.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Arosa,
Santa Marinha de
Informação da igreja de Santa Marinha de Arosa, mandada passar pelo Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor.
Fica esta igreja de Santa Marinha de Arosa na Província do Minho, termo e comarca de Guimarães. É terra de el-rei. Tem cinquenta e oito vizinhos e pessoas duzentas e oito.
E está situada em campina. Descobrem-se dela as freguesias de São Miguel de Taíde, São Cosme Damião de Garfe, São Julião de Serafão, Santa Cristina de Agrela e São João de Castelões, das quais dista menos de quarto de légua. Está a paróquia acima do lugar, com alguns vizinhos ao pé. Tem três lugares, chamados Arosa, Boucinha e Fradelos.
É o seu orago Santa Marinha. Tem três altares: o de Santa Marinha, na capela-mor e frontispício, da parte direita, de São Sebastião e, da esquerda, da Senhora do Rosário.
O pároco é vigário ad nutum. Apresenta-o o excelentíssimo Colégio da Santa Basílica Patriarcal da cidade de Lisboa. Renderá, entre certos e incertos, quarenta mil réis.
Tem uma ermida, logo abaixo da paróquia, de Santo Amaro, que tem três altares: o da capela-mor de Santo Amaro, que é imagem milagrosa para os aleijados, e os dois, um do Senhor Crucificado e outro, da parte esquerda, de outra imagem de Santo Amaro. Recorrem a esta ermida muitos romeiros, principalmente a quinze de Janeiro, dia em que se festeja. E também nela há duas irmandades, uma de clérigos, com o título de São João, cuja imagem há nela, e outra das Almas, com privilégio perpétuo e quotidiano em todos os altares dela. E também à matriz concorrem muitos clamores, em dezoito de Julho, cantam, e também, pelo ano, muitos devotos, por ser a imagem de Santa Marinha, advogada contra as maleitas. E assim a matriz é de fabricar do Excelentíssimo Colégio e a capela de Santo Amaro dos fregueses.
Os frutos que se dão na freguesia em mais abundância são milhão, centeio, milho miúdo, painço, feijão, castanha, vinho, azeite e alguma fruta.
E está sujeita à justiça do juiz de fora, órfãos e provisor e corregedor da vila de Guimarães.
Serve-se de correio de Guimarães, que dista desta paróquia duas léguas, e à cidade de Lisboa, sessenta e duas, e à cidade de Braga, três léguas.
Não padeceu ruína alguma no terramoto de mil e setecentos e cinquenta e cinco.
Não há senão, acima da freguesia, um monte limitado que é comum aos moradores.
Corre por entre esta paróquia e Nossa Senhora do Porto de Ave, que é uma milagrosa capela que está situada na freguesia de São Miguel de Taíde, ficando esta para a parte do Sul, e a dita capela para a do Norte, a saber, corre o rio chamado Ave, que nasce na serra da Cabreira, numa fonte chamada Ave, e, metendo-se nele vários regatos, já nesta freguesia é de mediana grandeza e corre caudaloso e todo o ano, de Nascente a Poente, inclinado para o Sul.
Criam-se nele peixes, barbos, trutas, bogas e escalos, porém em mais abundância barbos e bogas, e é livre, excepto nos meses defesos, e, no mais, cultivam-se suas margens e tem árvores de uveiras. E sempre conserva o mesmo nome, nem há memória tivesse outro, e morre no mar, entrando nele ao pé da Vila de Conde.
E tem nesta freguesia uma levada, que se tira para regar um campo. Há nele duas rodas de moinhos e, noutra parte, uma roda de azenha, que também serve de lagar de azeite. E os povos usam livremente das suas águas. E terá, desde seu nascimento até fenecer no mar, catorze léguas.
Também corre pelo meio desta freguesia um regato chamado o Rio Pequeno, que nasce acima da freguesia de São Bartolomeu de Vila Cova e corre caudaloso todo o ano, juntando-se-lhe outros ribeiros. E corre de Sul a Norte e criam-se nele, ainda que em pouca quantidade, peixes, trutas, bogas e escalos, e é livre, excepto nos meses defesos, e se cultivam suas margens. E tem árvores de uveiras. E não me consta tenha ou tivesse outro nome e junta-se com o outro rio, logo abaixo desta freguesia. Tem duas pontes, uma de pau, somente de pé, acima e junto donde se ajunta com o rio. A outra, de pontilhões, que é serventia de estrada. Tem doze moinhos, dez no dito regato e dois numa regueira que dele se tira, e mais outro lagar de azeite, e há no dito regato que se tiram dele seis fozes para regar os campos, cinco livres e uma, que é melhor, com que se rega a melhor parte da freguesia, foreira ao reguengo de Guimarães, que é da Sereníssima Senhora Rainha. Tem de corrente, desde que nasce, até se juntar no rio, uma légua, vindo sempre por entre campos, de que se tiram grandiosas levadas.
E é tão somente o que posso informar e dos mais itens não sei coisa alguma. E por verdade passei esta em presença dos reverendos Custódio da Silva e Fonseca, vigário de Santa Cristina de Agrela e Caetano Fernandes, vigário de São João de Castelões, que todos aqui assinámos, hoje, de Maio, vinte e dois de mil e setecentos e cinquenta e oito anos.
O vigário Caetano Francisco.
O vigário Custódio da Silva e Fonseca.
O vigário Caetano Fernandes.
“Arosa”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 5, n.º 5, p. 589 a 591.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Atães,
Santa Maria de
Freguesia de Santa Maria de Atães, termo da vila de Guimarães, Arcebispado de Braga Primaz, Província de Entre-Douro-e-Minho.
Aos cinco dias do mês de Abril do ano de mil e setecentos e cinquenta e oito anos, nas casas da residência desta freguesia de Santa Maria de Atães, termo da dita vila, onde é a morada de mim, o padre Manuel de Oliveira, pároco desta freguesia, aí me foi entregue uma ordem assinada pelo Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor deste dito Arcebispado Primaz, Francisco Fernandes Coelho, com muitos transuntos impressos, a qual recebi com todos os ditos transuntos e deixei um para mim e os mais os remeti à igreja de São Romão de Mesão Frio, que é a freguesia que se segue, o que tudo satisfiz na forma que o dito Senhor me determinava na dita ordem. E, aos doze dias do mês de Maio do dito ano, principiei a dar resposta aos interrogatórios da dita ordem, em presença do reverendo Manuel Lopes de Abreu, abade da dita freguesia de São Romão e do reverendo José da Costa de Miranda, vigário de São Cosme de Lobeira, vizinhos desta freguesia, a qual dou na forma seguinte.
1. Esta freguesia se chama de Santa Maria de Atães e antigamente eram duas freguesias, uma com o título e nome de Santa Cristina de Caíde e esta com o mesmo nome que agora tem. E se desfizeram estas duas igrejas do lugar em que antigamente estavam, e delas se fez esta, no lugar em que hoje está, que é no meio das ditas duas freguesias. E, no lugar em que elas estavam antigamente, se vêem ainda hoje vestígios delas e se chamam o lugar da Igreja Velha da parte de Atães e o lugar da Igreja Velha da parte de Caíde.
2. Esta igreja e freguesia é unida ao mosteiro de Santa Marinha da Costa, extramuros da dita vila de Guimarães, da ordem de São Jerónimo, e há incerteza do rei que a deu ao dito Mosteiro da Costa e do tempo em que foi unida. Do cartório do dito mosteiro consta que, na era de César de mil e duzentos e oitenta, se fizera uma justificação em que se mostrou que metade do padroado desta freguesia era seu e que a outra metade, na era de César de mil e duzentos e três, lhe fizera doação Lourenço Mendes, abade da outra igreja que se chamava de Santa Cristina de Caíde e do dito cartório não consta mais clareza alguma.
3. Esta freguesia é da Província de Entre-Douro-e-Minho, termo da vila de Guimarães, Arcebispado de Braga.
4. Tem esta freguesia, ao presente, trezentos e trinta vizinhos e, menores, trinta e sete.
5. Esta freguesia está situada numa ribeira baixa e dela se descobre a freguesia, acima dita, de São Romão de Mesão Frio e a de São Mamede de Aldão e a de São Torcato, vizinhas desta, como também a de São Lourenço de Cima de Selho e a de São Pedro Fins de Gominhães, que distam desta freguesia meio quarto de légua, pouco mais ou menos.
6. Esta paróquia está no meio desta freguesia, pegada a um monte que serve de pasto dos gados e fatos dos moradores desta dita freguesia e é situado de carvalhos e castanheiros e pedras e penedos grossos.
Tem desta freguesia, da parte de Caíde, os lugares seguintes: Casais, Sendim, Fonte, Veiga, Talhados, Rebentão, Pinheiro, Fundelos, Rio, Negrinho, Várzea, Chão, Soutinho, Voga, Igreja Velha, Caminho, Fenda, Naja, Mestre, Cabo, Figueiredo, Gondizalves, Mortório, São Martinho, Penedo, Taipa, Bouça. Da parte de Atães, tem os lugares seguintes: Varziela, Lombrezido, Longarela, Eido, Baje, Outeiro, Eido, Devesa, Passos, Corda, Quintãs, Valinho, Rossa, Gondarem, Campelo, Rego, Morteira, Gavinho, Adro, Igreja Velha, Sá, Lerdeiras, Cruz, Moinho, Contrasto, Maranhas, Quintã, Verdial, Bairro de Cima, Cancela, Roupeiro, Urjal, Herdade, Bairro da Naja, Pombal, Barroca.
7. Tem esta freguesia por seu orago a Nossa Senhora de Assunção, com o título e nome de Santa Maria de Atães.
8. Tem esta igreja três altares, um com a imagem da dita Senhora, no meio do retábulo sobre o altar e, da parte da Epístola, está Santo António, e, da parte do Evangelho, está São Francisco. No corpo desta igreja está um altar, da parte da Epístola, com o Santíssimo Sacramento, e, no meio do retábulo, está uma imagem de Cristo Crucificado e, dos lados, estão São Gonçalo e São Sebastião e, da parte do Evangelho, está outro altar com a imagem de Nossa Senhora do Rosário e outra de São Frutuoso. Esta igreja é de uma só nave, tem uma irmandade da dita Nossa Senhora do Rosário e a confraria do dito Santíssimo Sacramento.
9. Esta igreja é de curato anual e é de apresentação do Dom Abade do dito Mosteiro da Costa. Rende para o pároco quarenta mil réis, pouco mais ou menos, e, para o dito mosteiro, em dízimos e por meias, quatrocentos e trinta mil réis, pouco mais ou menos.
10. Os frutos que recolhem e recebem os moradores desta freguesia das suas terras são milhão e vinho, a que chamam verde, e também algum trigo e centeio e milho alvo e painço e feijões e algum azeite. E a mais abundância é do dito milhão e vinho. Frutas, poucas, como também castanhas e landres.
Esta freguesia está sujeita às justiças da dita vila de Guimarães, de quem el-rei Nosso Senhor é senhor.
11. Desta freguesia eram naturais as primeiras religiosas e fundadoras da Madre de Deus da dita vila de Guimarães, por nome Maria de São Francisco, Serafina de Santo António e Ana de Jesus, filhas de Pedro Francisco, do lugar da Rebentão, desta freguesia, moças donzelas e de vida exemplar.
12. O correio desta freguesia é o da dita vila de Guimarães, que parte para a cidade do Porto à sexta-feira e vem ao domingo, e daqui à dita vila é meio quarto de légua pequeno.
Desta freguesia à cidade de Braga são três léguas e à cidade de Lisboa sessenta.
13. Tem esta freguesia, da parte de Caíde, cinco privilégios das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira, da dita vila, e, da parte de Atães, tem seis, que todas fazem onze.
14. Não padeceu esta igreja, nem a freguesia, coisa alguma no Terremoto do ano de mil setecentos e cinquenta e cinco.
Dos mais interrogatórios não tenho que dizer.
Nesta forma, demos por bem feitas as perguntas e respostas da dita ordem, de tudo o que pudemos descobrir nesta freguesia de memória e antiguidade, sem deixarmos coisa alguma de fora que soubéssemos. E nos assinámos aqui, hoje dia e mês e ano ut supra.
O pároco Manuel de Oliveira.
O pároco José da Costa e Miranda.
O abade Manuel Lopes de Abreu.
“Atães”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 5, n.º 29, p. 723 a 727.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Azurém,
S. Pedro de
Extracto da freguesia de São Pedro de Azurém, extramuros da vila de Guimarães, da comarca e Arcebispado de Braga Primaz.
Em virtude de uma ordem ambulatória do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor deste Arcebispado de Braga Primaz, que me foi entregue com uns interrogatórios de letra impressa, em que me manda responder a eles.
Francisco Dias de Miranda, pároco da paroquial igreja de São Pedro de Azurém, extramuros da vila de Guimarães, da comarca e arcebispado de Braga Primaz, faço certo que o que nesta freguesia achei acerca dos ditos interrogatórios é o seguinte.
Fica esta freguesia na Província do Minho, chamada a freguesia de São Pedro de Azurém, termo da dita vila de Guimarães, da comarca e Arcebispado de Braga Primaz. É de el-rei Nosso Senhor. Tem esta freguesia duzentos e dez vizinhos e, pessoas, seiscentas e uma.
Está esta freguesia situada num vale e dela se descobrem as povoações seguintes, como são a dita vila de Guimarães, a freguesia de Santo Estêvão de Urgezes, a freguesia de São Miguel de Creixomil, a freguesia de Santa Eulália de Fermentões, a freguesia de São João de Pencelo, a freguesia de São Lourenço de Cima do Selho, a freguesia de São Mamede de Aldão, a freguesia de São Romão de Mesão Frio e a freguesia de Santa Marinha da Costa, e todas circunvizinhas com pouca distância a esta freguesia.
A igreja paroquial desta freguesia está situada no meio dela, e só dois lugares que tem junto a ela, como também o da residência e os lugares desta freguesia, que por outro nome se chamam eidos, são quarenta, como são o lugar do Capitão, o lugar de Rio, o lugar da Ponta da Pipa, o lugar do Verdelho, o lugar da Porteladinha, o lugar da Eira, o lugar de Arcela, o lugar da Boa Vista, o lugar da Fonte da Dourada, o lugar de Entre as Vinhas, o lugar do Outeirinho, o lugar da Madre de Deus, o lugar da Calçada, o lugar de Sezil, o lugar de Barregão, o lugar do Pedroso, o lugar da Veiga de Cima, o lugar da Veiga de Baixo, o lugar de Azurém de Cima, o lugar de Azurém de Baixo, o lugar do Assento, o lugar da Barreira, o lugar da Aceição, o lugar de Pousada, o lugar da Cruz, o lugar do Rato, o lugar da Pegada, o lugar da Casa Nova, o lugar do Bom Retiro, o lugar das Bornarias, o lugar do Pombal, o lugar da Espinhosa, o lugar de Sesulfe, o lugar da Amorosa, o lugar da Conceição, o lugar da Ponte Nova, o lugar da Agra, o lugar de Bargas, o lugar da Feijoeira e o lugar de Benlhevai. Tem mais a Rua do Cano de Cima e a Rua do Cano de Baixo, a Rua de Santa Luzia da parte de cima e a Rua da parte de baixo, esta é alternativa, um ano desta freguesia e o outro ano da freguesia de São Paio da dita vila de Guimarães. Tem mais o lugar da residência, que este está junto à dita igreja paroquial.
O orago desta freguesia é o Príncipe dos Apóstolos, o Senhor São Pedro. Tem cinco altares a dita igreja paroquial, o altar-mor é do dito Apóstolo São Pedro, os outros quatro se acham situados no corpo da dita igreja, que são o de São Roque, o de Nossa Senhora das Candeias e o de Nossa Senhora do Rosário com sua dita irmandade do mesmo Rosário, onde está o Sacrário com o Senhor Sacramentado, e o outro das Almas, com sua irmandade da invocação das mesmas Almas. O pároco desta freguesia é cura anual por apresentação do Reverendo Cabido da Real Colegiada da dita vila de Guimarães. E tem de côngrua oito mil reais em dinheiro, dois alqueires de trigo, dois almudes de vinho e duas libras de cera branca, com todo o pé de altar, o que tudo poderá render, um ano por outro, para o dito pároco cura, cinquenta mil reais.
Os frutos dos limites desta freguesia da dizimária pertencem à Mesa Capitular do dito Reverendo Cabido da Real Colegiada de Guimarães e rendem, um ano por outro, quatrocentos mil reais.
Está situado nos limites desta freguesia um convento de Santo António dos Capuchos Reformados.
Não tem padroeiro particular.
Tem esta freguesia duas ermidas, uma da invocação de Nossa Senhora da Madre de Deus, que se festeja aos oito de Setembro e nesse mesmo dia costuma muita gente, por devoção, concorrer à dita ermida e é padroeiro dela Caetano Baltasar de Sousa de Carvalho, da dita vila de Guimarães, como também tem a obrigação de a fabricar de tudo o necessário. A outra ermida é da invocação de Nossa Senhora da Conceição, que tem sua irmandade da mesma invocação, assim de eclesiásticos como de seculares, que se festeja aos oito de Dezembro e nesse mesmo dia costuma muito povo, por devoção, concorrer à dita capela ou ermida. É senhor e padroeiro da dita capela ou ermida o dito Reverendo Cabido da Real Colegiada de Guimarães e nela se acha ermitão, por apresentação do dito Reverendo Cabido, e ambas as ditas duas ermidas estão pegadas a lugares desta freguesia.
Os frutos que os moradores desta freguesia recolhem em maior abundância são milhão grosso, milho alvo, trigo, centeio, vinho de uveiras verde, feijão, landres, castanha, pouca, e também painço, e também se colhe nesta freguesia toda a casta de hortaliça e também melões e melancias e toda a casta de fruta.
Está esta freguesia sujeita às justiças da dita vila de Guimarães, de cujo correio se serve, por esta freguesia ficar extramuros da dita vila.
Dista esta freguesia da cidade de Braga, capital do Arcebispado, três léguas e da cidade de Lisboa, capital do Reino, sessenta léguas.
Pela misericordiosa de Deus, não padeceu esta freguesia ruína alguma no terramoto do ano de mil setecentos cinquenta e cinco.
Tem esta freguesia oito privilégios das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira, da dita vila de Guimarães.
Tem esta freguesia uma ponte chamada a ponte Nova de Santa Luzia, feita de pedra de cantaria e de um arco só. Por ela se dá entrada para a dita vila de Guimarães a todo o povo, carros e bestialidades que vêm da cidade de Braga e mais partes para a dita vila de Guimarães. Não tem rio esta ponte, só sim as águas que no tempo do Inverno expelem os campos desta freguesia passam por baixo do arco dela, por ficar no mais baixo desta freguesia e aí acudirem as águas dela, porém é em pouca quantidade e no tempo do Inverno, que no de Verão quase sempre secam estas águas. Tem esta freguesia um único moinho, que está na baixa de um campo, que só mói no tempo de grande Inverno, com as águas que regam o dito campo, que no tempo do Verão não tem com que moer, por não haver águas.
E declaro que os limites da dita ponte Nova de Santa Luzia, acima já mencionada, são alternativos um ano desta freguesia e outro ano da freguesia de São Paio, da dita vila de Guimarães.
E não sei, nem me consta, que nesta freguesia haja alguma coisa mais digna de memória conforme me obrigam os ditos interrogatórios, o que tudo passa na verdade, e em fé dela me assino, juntamente com o reverendo Francisco Xavier, pároco de Santa Eulália de Fermentões, e com o reverendo António Mendes Teixeira, pároco de São Lourenço de Cima do Selho, ambos párocos mais vizinhos desta freguesia.
São Pedro de Azurém, vinte e nove de Abril de mil setecentos e cinquenta e oito anos.
O pároco Francisco Dias de Miranda.
Francisco Xavier, pároco de Santa Eulália de Fermentões.
António Mendes Teixeira, pároco da freguesia de S. Lourenço de Cima de Selho.
“Azurém”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 5, n.º 86, p. 1083 a 1088.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Balazar,
O Salvador de
Declaração do que se pergunta nos interrogatórios juntos desta freguesia do Salvador de Balazar, termo da vila de Guimarães
1. Fica na Província do Minho, pertence ao Arcebispado de Braga Primaz, termo da vila de Guimarães.
2. É de el-rei.
3. Tem esta freguesia, casados, quarenta e cinco, viúvos, vinte e cinco, solteiros, vinte e cinco, menores, vinte e sete, pessoas de sacramento, duzentas e trinta e seis, fogos, oitenta e seis.
4. Está situada num vale e, por essa razão, pouco se descobre dela.
5. Não tem termo.
6. Está a paróquia situada em meio da freguesia e tem vinte lugares que são os seguintes: Portelinha, Covinho, Belos, Casa Nova, Assento, Passo, Granja, Lagarteira, Soutelo, Outeirinho, Carreira, Lidima, Batova, Eirado, Saídas, Quintã, Lavandeira, Geia, Rio de Paus, Vendas.
7. É o seu orago o Salvador de Balazar. Tem três altares, o maior e dois colaterais. No maior, está a imagem do Salvador, no colateral, da parte da mão direita, está a imagem de Nossa Senhora, com o título da Purificação e, no da parte da mão esquerda, está a imagem de São Brás e São Sebastião. Não tem naves, nem irmandades.
8. O pároco é vigário colado, pertence à apresentação da Madre Abadessa do Convento da Senhora da Piedade Madre de Deus dos Remédios, da cidade de Braga. Terá de renda o vigário oitenta mil réis, pouco mais ou menos.
9. Não tem beneficiados.
10. Não tem conventos.
11. Não tem hospital.
12. Não tem casa de misericórdia.
13. Tem esta freguesia uma ermida, na qual está colocada a imagem de Nossa Senhora, com o título das Neves. Está dentro do lugar, pertence aos moradores da dita freguesia e nela tem confraria da mesma Senhora.
14. No primeiro Domingo de Agosto de cada ano, acode multidão de povo à dita ermida, que é quando se festeja a mesma Senhora.
15. Os frutos que os moradores colhem em maior abundância são milhão, centeio, milho alvo, pouco, e trigo, nenhum, muito vinho de enforcado.
16. Não tem juiz ordinário, estão sujeitos às justiças da vila de Guimarães, que são corregedor, provedor, juiz de fora, câmara, juiz dos órfãos e rendeiro de penas que é assolador do povo, perseguindo aos pobres moradores com coimas.
17. Não é couto, nem cabeça de concelho.
18. Não há memória de que florescessem homens alguns insignes por armas ou letras.
19. Não tem feira.
20. Não tem correio. Servem-se do correio de Braga, que dista desta uma légua, e do da vila de Guimarães, que dista duas léguas.
21. Dista, da cidade capital do Arcebispado, uma légua, e, da de Lisboa, capital do Reino, sessenta léguas.
22. Não tem privilégios, só um privilégio das Tábuas Vermelhas.
23. Não há lagoa, nem fonte de que se possa fazer menção.
24. Não é, nem tem, porto de mar.
25. Não é murada a terra, nem praça de armas, nem tem castelo antigo, nem moderno.
26. Não padeceu ruína alguma no terramoto do ano de 1755.
27. Não há coisa mais alguma de que se possa fazer menção digna de memória.
Declaração da serra.
1. 2. 3. Está esta freguesia entre duas serras, uma da parte do Norte, chamada a Falperra, terá de comprido três quartos de légua e de largo outro tanto e, da parte do Sul, outra chamada de Outinho, que terá de comprido três quartos de légua e de largura meia légua.
4. Não nasce nelas rio algum.
5. Não tem vilas, nem lugares.
6. Não tem fontes de propriedade.
7. Não tem minas, nem cantarias de pedra.
8. É povoada de plantas de carvalhos, castanheiros, e não se cultivam, mas, sim, são muito úteis para os moradores que lhes roçam o mato de que as ditas serras são abundantes e com este adubam os campos e por isso são copiosos os frutos.
9. Há na dita serra da Falperra uma ermida de Santa Marta, situada no meio dela, onde acode multidão de povo no dia da mesma Santa. E, logo distância de um tiro de mosquete, está uma igreja de Santa Maria Madalena feita à romana, que está com toda a perfeição e todo o ano acode a ela gente de romagem. E, por estarem num alto, delas se descobre toda a cidade de Braga, que dista delas meia légua, e também parte da vila de Guimarães, que dista duas léguas. E, para a parte do Poente, se descobre até ao mar, que dista seis léguas, e, para a parte do Sul, se descobre muita terra.
10. A qualidade do seu temperamento é quente.
11. Nela há criações de gados, bois, vacas, éguas, jumentos, ovelhas, carneiros, cabritos, perdizes, lebres, coelhos e também, em anos de muita neve, descem a ela lobos. Cria também muita raposa e gatos bravos.
12. Não tem lagoa, nem fojos.
13. Não tem mais de que se faça menção, só, sim, onde está situada a ermida de Santa Marta, de que acima faço menção, haver uns valos grandes de terra, redondos, a modo de fortalezas, e neles ainda aparecem algumas pedras, pequenas mas bem lavradas. Terão estes valos de comprido seiscentos passos e de largo outro tanto. Há tradição que algum dia fora habitação de mouros, e deles se descobre para todas as partes do Poente, Nascente, Norte, Sul, mais de dez léguas.
Não tem rios e por isso se não faz menção de seus interrogatórios.
Eu, o padre Francisco José Soares, vigário da dita igreja do Salvador de Balazar, escrevi os interrogatórios acima, que vão na verdade, que por mim vão assinados e pelos dois reverendos párocos meus vizinhos, o reverendo Pedro Lopes Garcia, vigário de Santa Cristina de Longos, e o reverendo Miguel de Abreu Pereira, vigário de S. Lourenço de Sande, que aqui assinaram comigo. O que tudo afirmo in verbo sacerdotis, hoje, de Abril 10 de 1758.
O vigário Francisco José Soares.
O vigário de S. Lourenço de Sande, Miguel de Abreu Pereira.
O vigário de Santa Cristina de Longos, Pedro Lopes Garcia.
“Balazar”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 6, n.º 11, p. 65 a 70.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Barco,
São Cláudio do Barco
Freguesia de S. Cláudio do Barco.
S. Cláudio do Barco fica na Província de Entre-Douro-e-Minho, pertence ao Arcebispado de Braga Primaz. É termo e comarca de Guimarães.
Não conhece outro senhor mais que Sua Majestade Fidelíssima e suas justiças.
Tem oitenta e seis moradores, entre pobres e ricos. Tem duzentas e vinte e uma pessoas entre maiores, menores e ausentes.
Está esta freguesia situada num plano levantado, na beira e margem do rio Ave, que a divisa pela parte do Sul, ficando esta para a parte do Norte do mesmo rio Ave. Desta se descobrem, em circuito, muitas freguesias, como são Santa Eufémia de Prazins, Santo Estêvão de Briteiros, O Salvador de Briteiros, São Tomé de Caldelas. Tem em si esta freguesia cinco lugares, a saber, São Martinho, Torre, Monte, Pinheiro e Souto, nos quais estão todos os seus moradores, vivendo separados e não em forma de rua.
Bem no meio da freguesia está situada a igreja paroquial e, pegadas a ela pela parte do Nascente, as casas da residência, situadas num limitado campo, que lhe serve de passal. A igreja é muito pequena e é ao antigo. É o seu orago o glorioso São Cláudio Mártir e se festeja em todos os trinta de Outubro, como patrono dela. Fica a igreja versa ao Poente e tem três altares, o primeiro, da capela maior, em que está a gloriosa imagem de São Cláudio seu patrono e o Menino Deus. O segundo altar está no costão do Sul e tem o glorioso São Sebastião. O terceiro altar se acha no costão do Norte e tem em si a gloriosa imagem da Senhora dos Remédios, que tem sua irmandade. Não há capelas nesta freguesia.
O seu pároco é vigário ad nutum. É a apresentação do Reverendo Arcediago de Santa Cristina de Longos, hoje monsenhor na Santa Igreja patriarcal de Lisboa e se intitula Ferreira Abreu e, como arcediago, a ele pertence toda a dizimária dos frutos que se colhem nesta [freguesia]. Tem o pároco só uma limitada porção de dez mil réis em dinheiro e, para o reverendo Arcediago, renderá cento e quarenta mil réis.
Os frutos que colhem os seus moradores em maior quantia são milhão, também centeio, milho miúdo, feijão, linho, fruta, castanha e algum pouco azeite e vinho de enforcado e verde, por ser à beira do rio.
Três de seus moradores são privilegiados da Senhora da Oliveira da vila de Guimarães. E todos vivem debaixo do governo do juiz de fora e corregedor da mesma vila, perante quem pleiteiam todos seus negócios e demandas, e se servem do correio da mesma vila, que da cidade do Porto nela entra ao domingo à noite e sai à sexta-feira de manhã.
Dista esta freguesia da vila de Guimarães uma légua grande, da cidade de Braga, cabeça do Arcebispado, duas, e sessenta da cidade de Lisboa, capital do Reino.
Os montes desta freguesia são limitados e neles não há caça estimável.
Notícias do rio.
Do Nascente para o Poente corre, por entre esta freguesia e a de Santa Eufémia de Prazins, o rio Ave, nome que sempre consta conservou e conserva desde a antiguidade. Tem o seu nascimento daqui cinco para seis léguas, numa serra junto a Vieira, e se recolhe no mar daqui sete léguas para o Poente, em Vila de Conde. Neste sítio é caudaloso, suposto que em seu nascimento é diminuto. Nele se metem muitos regatos, nascidos das ribeiras a ele vizinhas, e daqui três léguas e meia, junto à vila de Santo Tirso, pela parte do Sul, nele entra o rio Pombeiro. Tem a sua corrente branda e as suas margens se cultivam, quase em todo o seu curso, de pão e árvores de vinho. Dele se não tiram águas para regar, por correrem fundas. Não é navegável, por ter muitas levadas de moinhos e azenhas e penedos, que o podem impedir. Tem seis pontes de cantaria, quatro para o seu ocaso e duas para o nascimento. E, por serem poucas as suas águas no Verão, tem muitas passadeiras e, no sítio desta [freguesia], tem um barco para o Inverno, que nela sai da parte do Norte e, do Sul, sai na de Santa Eufémia de Prazins, e também passadeiras de pedra para o Verão. E nesta freguesia tem duas levadas, em que tem uma azenha e quatro moinhos, que moem só de Verão. Não há neste sítio pesqueiras e com redes se caça no rio em qualquer tempo do ano, por ser livre a toda a pessoa. A maior quantidade de peixes que cria são barbos, também bogas e algumas trutas e também, nos tempos antigos, se caçavam muitas lampreias e sáveis, o que agora raras vezes aparece neste sítio.
Também pelo meio desta freguesia corre, do Nordeste, um regato que chamam Febras, e tem o seu nascimento daqui uma légua, na freguesia de Santa Maria de Sobreposta, e se mete no rio Ave pela parte do Norte, nos limites desta. Tem em si três pisões, em que se fabricam uns fracos panos da terra a que chamam serguilha e burel, e só andam de Inverno. E tem também oito moinhos e uma azenha, que só mói de Inverno, por de Verão lhe faltarem as águas. Também nele se criam trutas de bom gosto, e muitos escalos, e é a qualidade de seus peixes. Não há serras neste sítio.
Francisco Gomes Luís, pároco de S. Cláudio do Barco, termo da vila de Guimarães, faço certo que, com uma ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor deste Arcebispado Primaz, me foram entregues uns interrogatórios em letra redonda, para por eles dar toda a notícia que tivesse, tudo na forma que neles se declarava, aos quais respondo tudo acima. E, por ser verdade, me assino e comigo o reverendo Domingos de Novais, abade de Santa Eufémia de Prazins e o reverendo Domingos Fernandes, vigário de S. Tomé de Caldelas, ambos mais vizinhos a esta. Hoje, de Maio, 10 de 1758 anos.
O vigário Francisco Gomes Luís.
O abade Domingos de Novais.
O vigário Domingos Fernandes.
Com esta vai o instrumento da visita do Chantrado.
“Barco, São Cláudio do”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 6, n.º 35, p. 289 a 293.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Barrosas,
Santa Eulália de
Padre Manuel Machado da Silva, pároco de Santa Eulália de Barrosas, termo da vila de Guimarães, do Arcebispado de Braga, em satisfação de uma ordem deambulatória do muito reverendo Senhor Doutor Provisor da cidade de Braga, em que mandava responder aos interrogatórios do mapa incluso, ao qual respondo na forma e maneira seguinte.
Ao primeiro, fica esta igreja na província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga, comarca secular e termo de Guimarães.
Ao segundo, é terra de el-rei meu senhor.
Ao terceiro, tem duzentos fogos ou vizinhos, e tem seiscentas pessoas de sacramento.
Ao quarto, está situada num baixo encostado ao monte Pena Besteira, da parte do Poente. Nada se descobre dela. Tem de distância, ao todo, uma légua.
Ao quinto, não tem termo seu, tem oitenta e quatro lugares ou aldeias.
Ao sexto, está a igreja no meio da freguesia. Tem os lugares acima, que são: Igreja, Assento, Casais, Cruz, Devesinha, Senra, Boavista, Bouça, Cobelo, Cabo, Pomaresm Campo da Eira, Sá, Ribeiro, Acelho, Março, Souto, Venda, Pereiras, Portelas, Bouças, Barreira, Lamela, Barreiro, Herdade, Vinha, Portelo, Entre-as-Vinhas, Latada, Eiras, Gotinha, Eira Vedra, Sernugueira, Fundo, Quintã, Quinteiro, Passo, Lavandeira, Costa, Carreira Chã, Água Coada, Campo, Devesinha, Telhado, Quintela, Ramada, Outeiro, Taipa, Torre, Casa Nova, Penedos, Rio, Cabreiro, Bouça, Pomarelho, Outeiros, Pulo, Formigosa, Vilas Poucas, Pousada, Bouça, Mó, Ramilho, Prados, Caselho, Monte, Bouço, Carreira, Bairro, Fontes, Quintais, Souto, Porta, Mandamentos, Nogueira, Carreiro, Souto Longo, Mondinho, Romprelhas, Forno, Rabordelos, Pias, Riqueixos, Ermida.
Ao sétimo, é o orago Santa Eulália de Barrosas. Tem cinco altares, o do Sacramento, o da Padroeira e Santo António, o da Senhora do Rosário e São Brás, o das Almas e o de São Sebastião e Nome de Deus e o da Senhora da Purificação, São Gonçalo e Santa Tecla. Tem cinco portas, uma principal e três travessas e a da sacristia. É curado dos padres da Costa de São Jerónimo. Renderá para os ditos padre, de dizimária e sabidos, três mil cruzados.
Ao nono, décimo, undécimo e duodécimo, nada.
Ao décimo terceiro, tem três capelas. Uma de Santa Ana, em Sá, outra da Senhora das Necessidades, no Bairro, outra na Ermida, de Santo Aleixo.
Ao décimo terceiro, todas estas capelas estão reedificadas de novo e ficam nos limites da freguesia e não tem romagem nenhuma delas, excepto a do Bairro, em dia de Santa Luzia, que tem na dita capela. E não há irmandades, excepto, na igreja, a irmandade das benditas Almas, e fica respondido ao décimo quarto.
Ao décimo quinto, os frutos desta terra são pão e vinho em abundância. E também dá de todos os mais legumes e criações de gados, porque, como são a maior parte deste povo lavradores, são ardilosos em tudo o que podem fazer algum lucro. Não tem juiz ordinário, mas sim juiz secular da vila de Guimarães e sua Câmara. E, no eclesiástico, a cidade de Braga. E fica respondido ao décimo sexto.
Ao décimo sétimo, e oitavo, e nono, nada. Terra de V. A. Real Majestade.
Ao vigésimo, serve-se esta terra do correio de Guimarães, que fica distante desta freguesia légua e meia, vem nas segundas e parte nas quintas.
Ao vigésimo primeiro, dista da cidade de Braga, cabeça do arcebispado, quatro léguas e meia e de Lisboa, cabeça do reino, sessenta léguas.
Ao vigésimo segundo, tem três privilégios de Nossa Senhora da Oliveira, Um em Sá, outro no bairro, outro na Taipa, todos incorporados em suas fazendas ou terras,
Ao vigésimo terceiro e quarto e quinto e sexto, nada.
Ao vigésimo sétimo, o terramoto fez grande abalo, porém, pela misericórdia de Deus, nada de maior sucedeu.
Serra
Ao primeiro, tem a serra de Chuqueiro, que tem légua e meia, pouco mais ou menos, em redondo. Fica da parte do Nascente. É natural de bom mato de foice. Principia no Bom Jesus, que fica distante meia légua desta parte do Sul. Ao terceiro, nada.
Regato chamado Sá.
Ao terceiro, tem esta freguesia um regato de natural de trutas, e escalos, e enguias. De Inverno muito soberbo e despenhado, no Verão pouca água. Principia na fonte chamada Cruz do Arieiro de Santa Águeda, da parte do Sul, na freguesia de Santiago de Lustosa, que confronta com esta distante três quartos de légua, e depois se aumenta com outros ribeiros e fontes que vêm da freguesia de Santo Estêvão de Barrosas, que também confronta com esta freguesia, carregando a parte do Nascente e vem este regato pelo meio da freguesia e lhe serve de águas a maior parte das terras e vai acabar ao rio Vizela, que passa pelos limites e confins de nossas terras, e nele se mete e terá, de onde principia até onde acaba, perto de uma légua. Corre para a parte do Norte.
Ao quarto, fica esta freguesia entre montes, da parte do Nascente Chuqueiro, do Poente Pena Besteiro, monte de Saganho, mais que de longe, da parte do Sul, monte Riqueixos de Leirosa, da parte do Norte, o monte São Bento, de mato.
Ao nono, nada.
Ao décimo, é de bom temperamento e há nesta terra gados de bois e bestas e ovelhas, e abelhas, e cabras, e coelhos, e lebres, e perdizes, e pessoas de todas as castas, suposto não há reais, nem estrangeiros.
Rios
Ao primeiro, já tenho dito que não há mais que este regato. Saem muitos regos para regar as terras. Chama-se o regato de Sá. Hoje está um brasileiro que é provido de bons bens e homem perfilhado de V. A. Real Majestade, com hábito de Cristo e não há nesta freguesia pessoas de maior distinção, só sim a maior parte lavradores e gente cristã velha, e está respondido ao primeiro, e segundo, e terceiro artigo.
Ao quarto, e quinto, e sexto, e sétimo, e oitavo, e nono, nada mais do que aqui está dito.
Ao décimo, cultivam-se muitos campos com árvores de vinho e outras que não têm nada.
Ao undécimo, nada.
Ao duodécimo, nada.
Ao décimo terceiro, nada.
Ao décimo quarto, tem este regato muitos moinhos e levadas para eles, e tomam as suas águas para os campos.
Ao décimo quinto, tem uma ponte de pedra no ribeiro de Sá, e outras pinguelas de pau, em três ou quatro partes, tudo no termo desta freguesia.
E nada do décimo sétimo, e décimo oitavo.
E aos mais itens só mesmo nada, só sim tem este regato um moinho de pão no lugar de Sá e acaba o regato no lugar chamado Vadinhão da Venda. Tem esta freguesia bastantes fontes e, se pode dizer, cada lugar tem uma. As mais principais são a fonte do Bairro, e a fonte do Monte, e a fonte de Quintela.
E nada mais sei do sobredito, que por verdade conferi com os reverendos se Santa Comba de Regilde e de Santo Adrião de Vizela, abaixo assinados.
Santa Eulália de Barrosas, doze de Abril de mil setecentos e cinquenta e oito.
O vigário Manuel Machado da Silva.
O abade Rodrigo de Sousa Lobo.
O abade José Monteiro Vaz.
“Barrosas, Santa Eulália de”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 6, nº 57, p. 399 a 402.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Briteiros,
Santa Leocádia de
Relação do que se procura saber desta freguesia de Santa Leocádia de Briteiros.
Na Província de Entre-Douro-e-Minho, do termo da vila de Guimarães, Arcebispado de Braga Primaz, está situada a freguesia de Santa Leocádia de Briteiros, vigairaria ad nutum, apresentada pelos reverendos reitores do Convento de Nossa Senhora do Pópulo da cidade de Braga Primaz.
Tem esta cento e quarenta e seis vizinhos e quatrocentas e sete pessoas de sacramento.
Está situada esta freguesia na fralda do monte chamado a Fraga e Sameiro, fora de distrito, este monte, pertencente à freguesia uma légua.
Os lugares que esta freguesia tem são trinta e cinco. Porém, alguns não se compõem mais do que de uma casa. São os seus nomes os seguintes: o lugar da Igreja, o do Reto, o de Santa Ana, o da Casqueira, o de Borralhas, o da Chamusca, o de Cacabelos, o das Travessas, o de Montezelo, o do Paraíso, o da Cancela, o da Portela, o de Sá, o da Mata de Milo, o de Eira Velha, o de Outeiro, o de Eira de Cima, o do Ribeiro, o da Rola, o do Valelho, o da Telhada, o da Rua, o do Souto, o do Cobelho, o da Vessadinha, o da Boa Vista, o de São Pedro, o do Sirigal, o da Ruela, o de Outinho, o do Paço, o de Covas, o de Paços, o das Fontes, o da Cachada, o de Souto Mendinho, o da Devesa.
O orago desta igreja é Santa Leocádia. Esta tem quatro altares, a saber, o do Santíssimo Sacramento, Santo António, São Bento e da Conceição. Tem mais a confraria do Senhor e de Santo António e a do Subsino.
O rendimento desta Igreja são cento e vinte mil réis, pouco mais ou menos.
Na freguesia há três capelas, uma da Senhora do Rosário que é de pessoa particular. As duas que são da freguesia, uma está no meio do lugar de Santa Ana, com a mesma imagem da Senhora Santa Ana, outra é da Senhora da Luz, situada num monte, onde concorrem várias freguesias no dia de sua festa, que se faz na segunda oitava da Páscoa, a satisfazer uns votos que antigamente estas freguesias tinham prometido.
A maior abundância de frutos que os moradores desta freguesia recolhem são milhão e vinho.
É sujeita esta terra às justiças da vila de Guimarães e desta são providos de correio, com distância de légua e meia, e também se servem do correio da cidade capital do Arcebispado, que dista uma légua, e de Lisboa, capital do Reino, sessenta e duas.
Não há rio que se possa descrever mais que um pequeno regato incapaz de navegação. Das suas águas se aproveitam os moradores desta terra para, no tempo do Verão, regarem os seus campos, por cujo motivo ficam quase extintas as suas correntes. Todas as suas margens se cultivam e guarnecem os seus lados várias árvores silvestres que, com o verde de suas folhas, faz bem vistoso todo este país.
Não há nesta freguesia coisas dignas de memória mais que as milagrosas ervas da Senhora Santa Leocádia e o túmulo que dizem ser do Santo Bamba. É este túmulo de pedra, raso com o chão contíguo à porta travessa desta igreja, para a parte do Sul, cercado com uma grade de pau e coberto com seu telhado, do qual se tira uma pequena porção de terra que, junta com várias ervas do passal desta igreja, depois de tocadas na imagem de Santa Leocádia, lavando-se qualquer doente com a água destas ervas e terra, no espaço de nove dias, ou recuperam a saúde perdida, ou acabam esta vida mortal. É de notar que, tirando-se há tantos anos desta sepultura a terra de que se trata, não tem faltado, por mais concurso que seja de gente. De quem seja este túmulo há nisto opiniões. E se pode ver na Corografia Portuguesa, tomo 1, capítulo 21, pág. 116; na Beneditina, tomo 1, tratado 2, cap. 14, ….[trecho ilegível] Manuel de Faria e Sousa e outros.
Não respondo aos mais interrogatórios, por não haver a eles que dizer. Abaixo vão assinados os párocos vizinhos. E eu o padre Santos Teixeira da Silva, pároco desta igreja que o escrevi. Santa Leocádia, 20 de Abril de 1758.
O vigário de São Lourenço, Miguel de Abreu Pereira.
O vigário de Santa Cristina de Longos, Pedro Lopes Garcia.
O padre Santos Teixeira da Silva, pároco de Santa Leocádia.
“Briteiros, Santa Leocádia de”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 7, n.º 71, p. 1233 a 1235.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Briteiros,
O Salvador de Briteiros
Briteiros, freguesia na Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga, termo e comarca da vila de Guimarães, distando de uma e outra povoação légua e meia, por ficar no meio delas a sua situação. Seus moradores se servem do correio de qualquer destas duas povoações, sendo governada pelas justiças da mesma vila de que é termo. Fica distante da Corte de Lisboa sessenta e uma légua.
Está num vale na raiz do célebre monte Citânia, ou Cinânia, que compreende a melhor parte dele o distrito da freguesia. Confina, pelo Nascente, com a freguesia do Salvador de Donim; pelo Poente, com as freguesias de Santo Estêvão da Silva Escura, a que chamam vulgarmente de Briteiros, São Cláudio do Barco, São Tomé de Caldelas e São Lourenço de Sande; pelo Norte, com as freguesias do Salvador de Pedralva, Santa Maria de Sobreposta, São Martinho de Espinho e Santa Leocádia de Briteiros.
A igreja paroquial está dentro do povoado. É de uma só nave. Tem seis altares. No altar-mor está o Santíssimo Sacramento, com sua confraria. Cobre a tribuna um painel de boa pintura romana, em que se vê o passo de Cristo transfigurado no Tabor, que é o orago desta freguesia, ficando, em dois nichos do retábulo, de uma parte, a imagem de Santo António, e, de outra, a do Menino Deus. Da parte da Epístola, está o altar da Senhora das Necessidades, com as imagens de São Sebastião e de São Romão. É imagem milagrosa e procurada de muitos enfermos. A capela de Nossa Senhora do Desterro, com o Menino Deus e São José. A Quinta do Paço, desta freguesia, está vinculada a ela e é, de presente, administrador deste vínculo António de Vasconcelos Távora. Tem sua irmandade. E o altar das Almas, com confraria, e tem um legado de missas para os domingos e dias santos, pela manhã. Da parte do Evangelho, está o altar da Senhora do Rosário e, metida num túmulo, a Senhora da Boa Morte, e, no retábulo, as imagens de São João Baptista com o Menino Deus e o Arcanjo São Miguel, e o altar da Senhora das Neves.
O pároco é abade apresentado pelos Arcebispos de Braga. Tem de renda, um ano por outro, com frutos certos e incertos, quatrocentos mil réis.
Há nesta freguesia a ermida de Santa Margarida, colocada dentro da Quinta do Paço, num terreiro público, a qual pertence ao mesmo Senhor da quinta. Algumas vezes no ano vêm a freguesia do Salvador de Donim fazer clamor a esta ermida. Porém, não é em dias determinados, mas a freguesia de Santa Leocádia de Briteiros vai no seu próprio dia em clamor à Santa.
Há nesta freguesia os lugares seguintes: Agrela, Ventuzela, Mata, Carvalho, Casas Novas, Requeixo, Torre, Devesas, Agro, Ruibal e Igreja.
Tem oitenta e oito vizinhos ou fogos e, pessoas de sacramento, trezentas.
Não padeceu alguma ruína no terramoto de 1755.
Os frutos que aqui se colhem são milho grosso, miúdo, painço, feijão, castanha, vinho verde, frutas, assim de espinho como das outras, e azeite.
Dentro desta freguesia, em pouca distância da igreja, entre o lugar da Mata e o de Carvalho, dá princípio uma calçada para o monte Citânia, na coroa do qual se conservam vestígios evidentes de que foi povoação grande, pois, rompendo esta calçada pelo monte acima, no fim dela se encontra um muro, o qual cercava esta antiga povoação para o Poente e Sul. E para o Nascente não necessitava de muro, por ser o monte desta parte despenhado. Pela parte do Norte, ainda se vê o muro unido com a terra e em muitas partes estão pedras levantadas. Para baixo, corre uma calçada, que vai cair junto à levada do Paço. Terá, em todo este circuito, setecentas braças. Encontra-se outra calçada que, rodeando o monte, se mete na freguesia de Pedralva. Para a parte desta freguesia se vêem ruínas de fortalezas, das quais se descobrem os primeiros fiados de pedra, em partes de três palmos e em outras de mais. Encontra-se outra muralha, que mostra ser muito mais forte que as mais que se descobrem, por ser de pedras grandes. No alto do monte, mostra terceira muralha, que ainda em partes tem nove palmos de alto. Cercam o monte, pela parte do Norte e Poente. E, por entre os muros da parte do Norte e Nascente, se vêem muitos alicerces de casas que, ao parecer, eram redondas e pequenas. E, de grandes montes de pedras que se acham divididos neste sítio, se infere seriam também casas maiores. O que tudo faz grande corroboração a tradição de que aqui foi a povoação da Citânia, da qual dizem foi natural São Dâmaso, Papa. Jorge Cardoso trata, aos quatro de Janeiro, de sua irmã a Santa Iria Virgem, como se vê no primeiro tomo do seu Agiológio Lusitano, pág. 30. Onófrio Panvínio, tratando de São Dâmaso, afirma ser Egitaniense, que alguns querem que seja Citânia e não a cidade da Guarda, como outros. João de Barros, nas Antiguidades de Entre-Douro-e-Minho, afirma ser São Dâmaso natural de Pedralva e que ainda no seu tempo mostravam os velhos umas casas antigas, onde foi nascido este Pontífice Santo. E, como Pedralva parte com a mesma Citânia e freguesia do Salvador de Briteiros, fica a opinião deste grande investigador de antiguidades, concedendo a dos antigos moradores desta freguesia. Também há autores que afirmam ser São Torcato, bispo e mártir, natural da Citânia, cujo corpo se venera incorrupto no antigo mosteiro de seu nome, distante desta freguesia uma légua, a quem veneram os moradores destas vizinhanças, com romagens e clamores, no dia de sua festa e pelo decurso do ano.
Por esta freguesia passa um rio chamado de Briteiros, que corre do Norte a Sul. Atravessam-no duas pontes nesta freguesia, uma chamada da Pedra, que tem um arco junto a um grande bocal quadrado, tudo de cantaria, e, a outra, tem dois bocais de pedra, mais toscos. E em três partes mais se atravessa por padieiras, postas em balaústres de pedra. Nasce na freguesia do Salvador de Pedralva, não junto, mas de várias fontes e regos, como aqui lhes chamam, e nem por isso é muito abundante logo na sua fonte. Mas, com várias levadas que encontra em toda a sua corrente e em si recolhe, corre mais carregado de águas e acaba no rio Ave, a pouca distância, que não é mais de meia légua. Grande espaço de caminho é por entre penedos e penhascos, e por esta causa corre muito inquieto e bravo. As levadas que incorpora consigo são a levada da Quintã ou do Paço, a do Casal, a do Carvalho, a da Ponte, a da Agrela ou Ventuzela, a do Outeiro, a do Araújo, a do Escalheiral, a do Lousal, a do Requeixo e a Levada da Mó. Todas estas águas unidas enriquecem este rio e fazem os campos por onde passam férteis, frescos e abundantes de toda a casta de frutos, sendo toda a sua corrente, desde que desce do monte e entra nesta freguesia até chegar ao rio Ave, por entre campos cultivados e uveiras enlaçadas em carvalhos e castanheiros. Não é navegável, nem necessita de embarcação, porque, além de ser estreito, que não chega a ter duas braças e meia de largo, pelo tempo de Verão, ainda que sempre leva água, é esta tão pouca, que em muitas partes se atravessa a pé enxuto, saltando-se os seus regos sem ofensa. Faz trabalhar grande quantidade de moinhos, principalmente no Inverno. Nesta freguesia, quase todos os moradores têm moinho próprio, e alguns têm dois e três, para o que o cortam em açudes. E também por esta causa não pode admitir nenhum género de embarcação. Tem mais um lagar de azeite, que trabalha com a água da levada do Paço. Cria este rio trutas, escalos e bogas de singular sabor e, por isso, muitos o buscam e aqui os vêm pescar, o que fazem livremente.
Há nesta freguesia dez fontes de que se servem os seus moradores para o seu uso e, ainda que são todas de boas águas, nenhuma delas tem virtude particular.
E, ao mais que continha o papel, não tenho que dizer.
Salvador de Briteiros, 7 de Março de 1758.
O abade João da Costa Ribeiro.
José de Araújo, abade do Salvador de Donim.
“Briteiros, S. Salvador de”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 17, n.º 70, p. 1227 a 1231.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Briteiros,
Santo Estêvão de
Santo Estêvão de Briteiros, freguesia da Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado e comarca de Braga, termo de Guimarães, distando de uma e outra povoação légua e meia, por ficar situada no meio delas, e seus moradores se servem do correio de qualquer destas povoações, sendo sujeita e governada pelas justiças da mesma vila.
Está num vale plano, de cujo sítio se descobre uma légua em circunferência, ficando-lhe fronteiro um monte chamado da Citânia, célebre pelas tradições e vestígios que se descobrem na formatura de ruas e alicerces de muros. Para o adro desta igreja se transportou uma grande pedra, ornada de vários lavores, trazida da Citânia com muito trabalho, e se acha suspensa em colunas não muito compridas com grossura suficiente para a sustentar.
Está a paróquia no meio da freguesia e é de uma só nave. É o orago dela Santo Estêvão, cuja imagem se acha colocada no altar-mor, fazendo correspondência a Santo Inácio de Loyola. No meio se venera o Santíssimo Sacramento, num sacrário de que é administrador o Chantre de Braga, por obrigação nascida da sua devoção.
Tem mais dois altares, dedicado um a Santa Luzia, no qual se acham as imagens de Santo António e São Sebastião, outro de Nossa Senhora da Graça, com sua irmandade. E também as Benditas Almas têm irmandade.
Descobre esta freguesia as freguesias que a cercam, como o Salvador do Souto, Santa Marta do Souto, São Cláudio do Barco, Santa Leocádia de Briteiros, o Salvador de Donim e o Salvador de Briteiros.
Tem duzentas e sessenta e cinco pessoas de sacramento e os lugares que compreende são: Bouça da Laje, Codesso, Linhares, Fafião, Ribeira, Real, Vila Chã, Danso, Ribas, Forno e Assento.
Pertencem os frutos desta freguesia ao Chantre de Braga, por ser esta igreja unida à sua dignidade, e apresenta todos os anos, pelo São João, um cura, que terá de rendimento trinta e cinco mil réis, e, para o Chantre, trezentos mil réis, sendo os frutos que ordinariamente colhem milho grosso, vinho verde, painço, centeio, milho alvo, feijão e bastante fruta. É muito falta de águas, porém, sempre pelo Inverno, tem cinco fontes de que se aproveitam os moradores, não só para o uso de suas casas, mas para limarem algum campo vizinho. Fica distante da cidade de Lisboa sessenta e uma léguas.
Rio.
Pela parte do Nascente, cerca esta freguesia o rio Ave, oriundo nas partes de Vieira, o qual conserva sempre o mesmo nome até Vila do Conde, onde entra no mar. As suas águas são copiosas pelo Inverno e, sendo este muito continuado, não se pode passar senão em barco, na freguesia de São Cláudio. Porém, sendo moderado, sempre se atravessa, ou por um pontilhão de padieira, que está no lugar da Ribeira desta freguesia, ou, mais abaixo, na sobredita freguesia de São Cláudio, por umas pedras que atravessam o rio, que, pelo Verão, como são neste sítio limitadas as águas, passa-se a pé enxuto por cima de alguns açudes e levadas que tem este rio. O qual tem o seu curso de Nascente a Poente, caminhando ordinariamente brando e suave, por entre terras lavradias, de que se colhe pão, cujas margens se vêem tecidas de árvores frutíferas enlaçadas com vides. Cria com abundância barbos, bogas, bordalos ou escalos, enguias e trutas de especial bondade. Tem, neste limite, sete moinhos negreiros no lugar da Ribeira e, por ter levadas e cachoeiras, por isso não é navegável. Porém, é livre a sua pesca a todos os que querem pescar com rede ou anzol.
Ao mais, não tenho que dizer.
Santo Estêvão de Briteiros, vinte e seis de Abril de 1758.
O pároco, Domingos Marques Ribeiro.
João da Costa Ribeiro, abade do Salvador de Briteiros.
Briteiros, Santo Estêvão de”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 7, n.º 72, p. 1237 1238.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Brito,
S. João de
Freguesia de São João de Brito termo de Guimarães, Arcebispado de Braga Primaz, Comenda de Cristo.
1. Fica esta freguesia no termo de Guimarães, para a parte do Poente, distante da dita vila de Guimarães uma légua e, da capital do Arcebispado, duas e, da do Reino, sessenta. Província de Entre-Douro-e-Minho.
2. É senhor desta comenda o senhor Almotacé-Mor do Reino.
3. Tem cento e quarenta e nove vizinhos e pessoas quinhentas.
4. Está a paróquia situada num altinho pequeno, no meio da freguesia, e dela se descobrem a de S. Miguel de Paraíso, a de Santa Maria de Silvares, a de S. João de Ponte e a de S. Paio de Figueiredo, todas distantes desta meia légua. A freguesia se acha situada em terra chã, em que medeiam alguns montes pequenos.
6. Esta paróquia se acha no meio da freguesia, tem trinta e nove lugares, os quais são os seguintes: Laje, Couto (este é um ano desta igreja, outro da de Santiago de Ronfe), Picoto, Fojo, Loureiro, Granja, Caserme, Carreira, Vila Meã, Montinho, Pedra Furada, Ribeirinho, Carvalho, Relique, Trás Carreira, Cabanelas, Quintãs, Assento, Chouras, Penedinho, Ribeira, Pardelhas, Castelo, Bouças, Passo, Riba da Ave, Ribeiro, Outeiro, Séquito, Agro, Penas, Brito, Ponte, Patos, Verdial, Lameira, Carvalheira e Bouça. Os lugares da Laje e Couto pertencem ao Couto de Ronfe, com que vizinham.
7. O orago desta freguesia é S. João Baptista, cuja imagem se acha colocada no altar-mor, como também nele existe o Santíssimo Sacramento. Tem mais dois altares colaterais, num se venera a imagem sacratíssima de Nossa Senhora, com o título do Rosário, cujo altar é privilegiado, e a este está anexa uma irmandade da mesma Senhora. No outro, se adora a imagem de Nossa Senhora da Purificação.
8. O pároco desta freguesia é reitor de colação ordinária. Tem de renda cento e trinta mil réis, pouco mais ou menos. Tem uma anexa, São Mamede de Vermil.
13. Tem esta freguesia uma ermida com o título da Invenção da Cruz. Está próxima à igreja e a fábrica dela pertence aos moradores desta freguesia.
15. Os frutos que os moradores colhem com mais abundância são milhão, centeio e milho branco, menos deste. O vinho, quando muito quando pouco, verde.
16. Os povos desta freguesia estão sujeitos às justiças da vila de Guimarães.
18. Há memória de que nesta freguesia floresceu D. Soeiro de Brito, homem opulento, fundador do Mosteiro desta freguesia no tempo de el-rei D. Afonso, o quinto. Aqui é o Solar dos Britos, de que descendem muitos fidalgos e nobres do Reino. A sua casa está situada nesta freguesia, onde chamam o Paço de Carvalheira. A varonia destes Britos particularmente tem os Viscondes de Vila Nova de Cerveira, de quem se desanexou o morgado de S. Estêvão de Beja da mesma família, por casamento de Dona Madalena, Condessa dos Arcos, com o Conde D. Tomás de Noronha, por ser filha mais velha de D. Luís de Lima Brito Nogueira, primeiro Conde dos Arcos, filho primogénito do Visconde D. Lourenço de Lima Brito Nogueira, e os Alcaides-Mores de Beja que por casamento entrou na Casa dos Condes de Prado, Marqueses das Minas, os de Aldeia Galega, os da Porta da Cruz, os do rio de Ebro, e outros mais. Declaro que hoje não é convento de religiosos, mas sim uma paróquia como as mais.
20. Não tem correio, servem-se pelo correio de Guimarães, distância de uma légua. Parte à sexta-feira e chega ao domingo.
22. Tem esta freguesia 5 privilégios de Nossa Senhora da Oliveira.
Rios.
1. Corre no fim desta freguesia, pela parte do Nascente, um rio grande a que chamam o Ave. Este, segundo dizem, nasce nas partes de Barroso, onde chamam Salto. Consta que nasce logo caudaloso e corre sempre com abundância de águas.
É, em partes, de curso arrebatado.
6. Vem da parte do Norte, para o Sul corre.
7. Cria vários peixes como são barbos, trutas, muito poucas nestes nestes países, por serem as águas já muito quentes, bogas em abundância, especialmente no mês de Maio, escalos, o mesmo que as trutas, enguias, panchorcas e lampreias.
7. e 8. Não há, nestas partes, tempo determinado para pescar e são as pescarias livres.
10. Cultivam-se as suas margens neste território e tem algum arvoredo ao redor, especialmente amieiros.
12. Sempre conservou o seu nome desde sua origem até à sua sepultura, nem há memória que tivesse outro nome.
13. Entra este rio no mar onde chamam Vila do Conde.
14. Tem levadas e cachoeiras, que impedem o ser navegável.
15. Tem um barco, que serve de passagem.
16. Tem vinte moinhos e duas azenhas de moer, isto se entende nos limites desta freguesia.
19. Consta que são 5 léguas desta freguesia ao sítio aonde nasce e, à sepultura,
Declara-se que, suposto se não dá resposta aos mais interrogatórios, é pela razão de não haver que dizer sobre eles. E este mandei fazer, que vai na verdade, que assino com o reverendo reitor de Ronfe e o reverendo vigário de São Mamede de Vermil. Em São João de Brito, 22 de Maio de 1758 anos.
O reitor, Domingos Marques de Silva.
João Couto Ribeiro.
O vigário, António José Marques de Araújo.
“Brito”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 7, n.º 140, p. 805 a 810 76, p. 1257 a 1261.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Caldelas,
S. Tomé de
Declaração das notícias que contêm os interrogatórios juntos desta freguesia de São Tomé de Caldelas, termo de Guimarães, Arcebispado de Braga.
1. Está sita esta freguesia na Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga, comarca e termo da vila de Guimarães.
2. É terra de el-rei Nosso Senhor, não tem outro donatário.
3. Tem vizinhos, ou fogos, cento e quarenta e três; pessoas, entre menores e de sacramento, tem seiscentas.
4. Está situada numa campina e vale, tudo plano. E dela se descobrem várias povoações e freguesias. Para a parte do Norte, até à freguesia de Santa Cristina de Longos, que distará um quarto de légua; para a parte do Nascente, se descobrem as freguesias de São Cláudio do Barco, Santo Estêvão de Briteiros e o Salvador de Briteiros, distância de outro quarto de légua; para a parte do Poente, as freguesias de São Martinho de Sande e São Clemente de Sande, que distarão meio quarto de légua; e, para a parte do Sul, as freguesias de São João de Ponte e Santa Maria de Corvite, que distarão também um quarto de légua. E todas estas são circunvizinhas.
5. Não tem termo seu, é do termo de Guimarães, como já se disse no primeiro artigo. Tem lugares os seguintes: lugar do Souto, lugar da Baiona, lugar de Pedraído, lugar da Faisca, lugar da Quintã, lugar de Melre, lugar da Bemposta, lugar da Rabata, lugar da Bouça, lugar dos Campos, lugar do Azemel, lugar de Surrego, lugar de Carapitas, lugar do Penedo, lugar da Lama, lugar de Bouçós, lugar do Largatal, lugar do Pinhel, lugar da Charneca, lugar da Lameira, lugar do Rabelo, lugar das Caldas, lugar da Canhota, lugar do Canto, lugar do Ferreiro, lugar do Piário, lugar da Taipa de cima, lugar da Venda, lugar da Bouça do Rio, lugar da Taipa de Baixo, lugar de Além, lugar do Carregal, lugar do Alvite, lugar da Seara, lugar do Bacelo, lugar do Assento.
6. A igreja paroquial está situada no meio da freguesia e consta ter esta freguesia trinta e cinco lugares, que ficam declarados por seus nomes no quinto artigo.
7. O orago desta freguesia é São Tomé. Tem a igreja três altares. O altar-mor, tem imagens de São Tomé, São Gonçalo e uma imagem do Senhor da Agonia e a imagem do Menino Deus. Os dois altares colaterais, um tem a imagem de Nossa Senhora da Purificação e o outro tem a imagem de São Sebastião e São Brás.
Há nesta igreja uma irmandade do Coração de Jesus e não tem nesta igreja mais irmandades.
8. Esta igreja é vigairaria e é apresentada pelo Reverendo Cabido de Guimarães. Poderá render sessenta mil réis.
9. Não há nesta freguesia beneficiado algum.
10. Não há nesta freguesia convento algum, nem de religiosos, nem de religiosas.
11. Não há nesta freguesia hospital algum.
12. Não há também nesta freguesia casa de misericórdia.
13. Tem esta freguesia uma capela de Santo António. Esta tem três altares, num tem a imagem de Santo António e Nossa Senhora da Abadia, os outros dois têm as estampas das Almas. Há nesta capela duas irmandades, uma de sacerdotes e outra de leigos, que têm, em dinheiro a juro, duzentos mil réis. E tem fábrica a dita capela de um cruzado, que paga Jerónimo Marques, do lugar da Taipa de Cima e está sita a dita capela nesta freguesia.
14. Tem romagem no dia treze de Junho, onde vem algum povo de fora, nesse tal dia, por virem à festa que se costuma fazer todos os anos.
15. Os frutos que colhem os moradores, em maior abundância, são milhão e algum milho branco e centeio; porém, destas duas castas de pão, milho branco e centeio, é pouco.
16. Nesta freguesia não há juiz ordinário, nem câmara, mas sim está sujeita às justiças de Guimarães, como são corregedor, provedor, juiz de fora, almotacés, vereadores.
17. Não é couto, nem cabeça de concelho.
18. Nesta freguesia não consta houvesse homens de distinção, nem em letras, nem em armas.
19. Nesta freguesia não há feira de qualidade alguma.
20. Também não há correio. Servem-se do correio de Guimarães e de Braga, que entram no domingo e saem na sexta-feira. E dista desta freguesia a Braga duas léguas e a Guimarães légua e meia.
21. Esta freguesia é do Arcebispado de Braga, e é distância de duas léguas e, da de Lisboa Ocidental, sessenta léguas.
22. Não há nesta freguesia privilégios, só sim das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora de Oliveira, da vila de Guimarães, concedidas por el-rei Nosso Senhor, e são três: João Marques, do lugar do Pinhel, é senhor de um, Manuel Fernandes Branco, de Bouçós, outro e José Gomes Branco, do lugar do Souto, senhor de outro. E não há outra coisa digna de memória.
23. Há nesta freguesia, no lugar da Canhota, em terra de José Gonçalves e de João de Sousa, do lugar do Canto, nascem dois cachões de água que dizem vem de mineral de enxofre, que tem alguma virtude, a dita água, para nela tomar banhos frescos e muitas pessoas se têm achado bem com os ditos banhos. É a dita água, em todo o tempo, tépida.
24. Não há nesta freguesia embarcação alguma, nem sítio para ela, por não haver nesta terra porto de mar.
25. Não há nesta terra muralhas, nem praça de armas, nem menos torre, nem castelo.
26. Não houve nesta freguesia ruína alguma no terramoto de mil e setecentos e cinquenta e cinco.
27. Não sei que houvesse nesta terra ruína alguma no dito terramoto que fosse coisa digna de memória.
*****
1. Não há nesta freguesia serra alguma, só um monte muito plano que, por nome, se chama o Monte Baixo.
2. Terá de comprido meia légua e, de largo, um quarto de légua. Principia no lugar da Canhota, desta mesma freguesia, e acaba no lugar de São Martinho, freguesia de São Cláudio do Barco.
3. Não tem o dito monte outro nome, senão o Monte de Baixo, como acima fica dito no primeiro artigo.
4. Nesta freguesia nasce o ribeiro das Caldas, por ser próprio nome, e corre para a parte do Sul e fenece no rio chamado Ave. Não tem propriedades algumas.
5. Nesta freguesia não há serra, nem vilas.
6. Nesta freguesia não há fontes de propriedades.
7. Não há nesta freguesia minas que constem de metais, nem de cantarias, nem de qualidade alguma.
8. Não tem o monte desta freguesia ervas algumas medicinais, nem se cultiva. Só cria uma fraca carqueja.
9. Não há no dito monte mosteiros, igrejas, nem imagens.
10. A qualidade do dito nem é muito frio, nem muito quente.
11. A criação de gados, são ovelhas. Caça, cria alguns coelhos e poucas lebres.
12. Não tem lagoa alguma, nem fojos.
13. Não há mais coisa digna de memória.
****
1. Ao pé desta freguesia corre um rio chamado o rio Ave. O seu nascimento é ao pé das Caldas do Gerês.
2. O nascimento do rio não é caudaloso. Todo o ano corre. Porém, no tempo do Verão, leva muito pouca água.
3. Neste rio não consta entre nele rio algum, só sim alguns regatos de pouca água, isto de Inverno que, de Verão, não levam água.
4. Não tem o tal navegação alguma, por ser de pouca água.
5. É de curso moderado e quieto em toda a sua distância.
6. Corre do Nascente para o Poente.
7. Cria peixes, como são barbos, bogas, trutas, poucas, escalos e panchorcas da asa vermelha.
8. Todo o ano se caça nela com chumbeiras, mingachos e anzóis e também, de Verão, com varredouras e alvitanas.
9. As pescarias não têm particular, caça nele quem quer.
10. Cria ao pé de si árvores, como são castanheiros, carvalhos, e também conserva algumas laranjeiras.
11. As águas dele são frescas e algumas pessoas, de Verão, tomam nele banhos frescos.
12. Não perdeu, em tempo, algum o seu nome de rio Ave e sempre assim se chamou.
13. Vai morrer ao Douro, junto com outros rios, como são o rio de Pombeiro e o rio de Prado.
14. Não tem cachoeira, nem levadas, nem açudes que lhe impeçam o ser navegável.
15. Tem este rio, que se saiba aqui, três pontes de cantaria como é a ponte de Domingos Terres, cita no concelho de Basto, a ponte de Donim e a ponte de São João, ambas sitas no termo de Guimarães.
16. Tem em si moinhos, azenhas e lagares de azeite, pisões e algumas noras, para dele tirar água para as terras.
17. Não consta que em tempo algum dele se tirasse ouro de suas areias.
18. Usa o povo de sua água livremente para os seus campos, sem foro nem pensão.
19. Tem o tal rio, de onde nasce até ao Douro, onde vai morrer, quinze léguas de comprido. Não passa por povoação alguma.
20. Não sei de outra coisa alguma que seja digna de memória.
E desta sorte houve todos os artigos por declarados de tudo o que sabia e me constou. E me assino com os dois reverendos párocos vizinhos, o reverendo vigário de São Lourenço, Miguel de Abreu Pereira, e o reverendo coadjutor de São Martinho de Sande, o reverendo Manuel de Freitas Vieira. Hoje, dois de Maio de mil e setecentos e cinquenta e oito anos.
O vigário desta igreja de São Tomé de Caldelas, Domingos Fernandes.
O coadjutor Manuel de Freitas Vieira.
O vigário de São Lourenço, Miguel de Abreu Pereira.
“Caldelas”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 43, n.º p. 259 a 266.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Calvos,
S. Lourenço de
Por comissão do Muito Reverendo Senhor Doutor Francisco Fernandes Coelho, Digníssimo Provisor deste Arcebispado de Braga Primaz etc., eu Miguel Soares da Costa, vigário desta paroquial igreja de São Lourenço de Calvos, do termo da vila de Guimarães, do dito Arcebispado, dou conta do que se me ordena nos interrogatórios inclusos.
Primeiramente, chama-se a esta província a Província de Entre-Douro-e-Minho e nesta se acha situada esta ribeira de Vizela, a qual há-de ter uma légua de comprido e meia de largo. E esta é do termo e comarca de Guimarães, e dela é senhor donatário, até ao presente, el-rei Nosso Senhor.
E nesta, no princípio da dita ribeira, se acha esta freguesia de São Lourenço de Calvos, a qual consta de sessenta e três vizinhos que todos estes constam de cento e oitenta e cinco pessoas. E esta se acha situada ao pé de um monte e não se descobre dela mais do que algumas igrejas vizinhas, como também algumas casas. E esta se acha situada no meio da freguesia e é do termo de Guimarães e dela dista uma légua.
E tem o lugar de Cima do Eiris, que tem três vizinhos, e tem o lugar da Ufe, que consta de oito vizinhos, e tem o lugar das Lapas, que consta de dois vizinhos, e tem o lugar dos Moinhos, que consta de três vizinhos, e tem o lugar de Temonde e Outeiro, que consta de dois vizinhos, e tem o lugar da Pia, que contém três vizinhos, e tem o lugar de Balteiro e Casa Nova, que consta de dois vizinhos, e tem o lugar da Devesa, que consta de um vizinho, e tem o lugar da Cancela, que consta de quatro vizinhos, e tem o lugar de Sizalde, que consta de um vizinho, e tem o lugar do Pinheiro e Tomada, que consta de quatro vizinhos, e tem o lugar da Venda da Serra, que consta de nove vizinhos, e tem o lugar da Bouça, que consta de quatro vizinhos, e tem o lugar de Matos, que consta de sete vizinhos, e tem o lugar de Agra Fonte, que consta somente de um, e tem o lugar do Assento, que consta de dois vizinhos.
O orago desta freguesia é São Lourenço de Calvos. E consta a igreja somente de uma nave, feita ao antigo e já muito velha e arruinada, por os moradores serem poucos e muito pobres. E consta de quatro altares, o maior de São Lourenço orago, o da parte da Epístola, do Mártir São Sebastião, o da parte do Evangelho, de Nossa Senhora. O das Almas se acha metido no costão da parede, da parte do Evangelho. E nesta igreja se acha instituída a confraria de Nossa Senhora do Rosário, no mesmo altar da Senhora.
O pároco desta igreja é vigário ad nutum e é apresentação das religiosas de São Francisco de Nossa Senhora dos Remédios e Piedade, da cidade de Braga. Os dízimos são para as religiosas e andam arrendados em cento e vinte e cinco mil réis. Para o pároco é tão somente o pé de altar, que renderá, para ele, quarenta mil réis.
Não há conventos de religiosas, nem de religiosos, nem hospital, nem casa de misericórdia, nem também beneficiados.
Há nesta freguesia a ermida de Nossa Senhora da Lapinha, sita no monte da Lapinha, a qual consta de uma nave somente e tem três altares. O maior é de Nossa Senhora da Lapinha, o da parte da Epístola de Santo António, o da parte do Evangelho de Nosso Senhor na Cruz. Está fora do lugar no monte. Esta pertence a esta igreja e nela se acha instituída uma populosa irmandade das Almas, que consta de dezasseis freguesias, e são as que veneram a dita capela de tudo o necessário. E, em todos os domingos e dias Santos do ano, vai lá gente de romagem e também muitos clamores, a que chamam votos. Mas os dias em que vai mais concurso de gente são em dia de Santo António, dia em que levam a mesma Senhora de procissão a Nossa Senhora da Oliveira, à vila de Guimarães, distância de uma légua, dia da Ascensão de Nosso Senhor, dia de Janeiro, a primeira oitava do Espírito Santo, dia do Corpo de Deus e dia de Reis.
Os frutos da terra são milhão, centeio, trigo, milho branco, painço e feijão e vinho verde, azeite e castanhas e landres e fruta de toda a espécie. A maior abundância é de milhão e vinho.
Tem esta terra juiz ordinário e câmara, que é de Guimarães, por ser do termo e a ela está sujeita.
Não há notícia que daqui florescesse pessoa alguma insigne em letras ou armas.
Há neste termo, na vila de Guimarães, todos os sábados do ano, feira, e dura só o dia. Esta é franca, para os do termo, e, para os de fora, cativa. Há correio, o qual vem no domingo e se dá na segunda-feira, e parte na sexta-feira. A dita freguesia à vila de Guimarães dista uma légua e de Guimarães a Braga dista quatro léguas e de Braga a Lisboa distam sessenta léguas.
Há nesta freguesia, e também nas mais desta ribeira, muitos privilégios antigos de Nossa Senhora da Oliveira.
Não há nesta terra fonte, nem lagoa de água especial, nem porto de mar, por ficar distante. Não há castelos, nem praça de armas, nem torres, nem coisa alguma de nota. Não consta que no terramoto do ano de 1755 nesta ribeira se arruinasse coisa alguma.
Isto é o que sei deste primeiro interrogatório.
Segundo interrogatório.
A esta terra se chama a ribeira de Vizela. Principia nesta freguesia de São Lourenço e acaba nas Caldas, a qual terá de largo meia légua e de comprido uma légua. Os nomes mais principais dela são São Paio, Tagilde e Caldas. Nela não nasce rio algum, somente passa por ela o rio chamado de Pombeiro, o qual corre para o Poente. E aqui não se sabe onde fenece, mas não pode deixar de, não sendo no mar, ser em outro. Aqui ao pé, não há vilas. Há lugares são pé da serra, a que chamam o lugar da Tomada e Vendas da Serra, que constam de nove vizinhos.
Não há nesta freguesia fontes de propriedades, nem coisa especial, nem também minas de metais, nem de pedras especiais.
A serra é de montes bravos, cheia de penedos de galhos muito bravos, dá saganhos, fetos e alguns tojos e carvalhos e castanheiros, e dão os seus frutos. E em algumas partes da serra há coutadas tapadas que dão pão, onde se pode cultivar, mas a maior abundância é de penedos e daí de saganhos e fetos.
Não há nesta serra mosteiros, há somente a capela da Senhora da Lapinha, como já no primeiro interrogatório declarei.
A qualidade do temperamento da terra é muito fria do centro. Os ares são temperados. As criações dela são perdizes, coelhos e lebres, tudo pouco. E serve para os animais pastarem. Não há nela lagoas, nem fojos notáveis. Há somente algumas presas de água.
Isto é o de que consta este segundo interrogatório, que eu saiba.
Terceiro interrogatório.
O rio desta terra chama-se o rio de Pombeiro, o qual é pequeno e ouço dizer que nasce no monte da Senhora das Neves, distância desta freguesia duas léguas e meia. Sei que vem, em muitas partes, metido por baixo de penedos e é bastantemente despenhado. No Verão, alguns anos não corre de dia, por se lhe tirar a água por levadas, para se regarem os milhos. Sei que neste entra um grande ribeiro, que é na freguesia de São Pedro de Jugueiros, distância desta meia légua. Não é rio navegável, nem é capaz de embarcação alguma, e é de curso arrebatado quase em toda a parte deste distrito. E corre do Nascente para o Poente. Cria peixes a que chamam barbos, trutas, bogas e escalos, mas de todos muito poucos. Pesca-se nele todo o ano, mas a maior frequência é no tempo do Verão. Tem alguns passos particulares, que estão nos distritos de algumas quintas particulares e seus donos não deixam caçar neles livremente. As suas margens cultivam-se. Dão milhão, painço e centeio e, pelas beiras, tem árvores que dão vinho. Não têm virtude especial as suas águas. Sempre conserva o mesmo nome e não há memória que em algum tempo tivesse outro ou perdesse o que ao presente tem. Aqui não se sabe onde acaba se no mar, se noutro rio. Tem açudes em várias partes, para se tirar a água para os campos e para as azenhas e moinhos moerem, e estes lhe impedem a sua corrente. Tem pontes de pau e de pedra. Neste distrito, tem a ponte de Pombeiro, a qual é de pedra, e a de Vila Fria, a qual é de pau. Tem moinhos e azenhas de moer pão. Não sei que em tempo algum se tirasse ouro de suas areias. Das águas deste rio usa o povo livremente, onde se pode tirar, sem pensão alguma. As léguas deste rio, aqui não se sabem certamente mas, se ele for acabar ao mar, desde o princípio até lá, hão-de ser dezasseis, pouco mais ou menos. Não sei que tenha mais do que algumas casas por perto dele.
Isto é o que sei deste e dos mais interrogatórios e da notícia que tenho deles. E, para constar, fiz este, o qual assino, e vai também assinado pelo reverendo Manuel da Costa de Oliveira Lobo, abade de São Miguel de Serzedo, e o reverendo José Filipe da Costa, abade de Santa Maria dos Gémeos, próximos a esta freguesia de São Lourenço de Calvos do termo da vila de Guimarães, deste Arcebispado de Braga Primaz, etc. Hoje, 8 de Maio de mil e setecentos e cinquenta e oito anos.
O abade Manuel da Costa de Oliveira Lobo.
O abade José Filipe da Costa.
O vigário Miguel Soares da Costa.
“Calvos”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 8, n.º 51. p. 309 a 312.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Candoso,
S. Martinho de
São Martinho de Candoso, que é do termo de Guimarães, de cuja vila fica distante meia légua, com pouca diferença, e da cidade de Braga, três, e da de Lisboa, sessenta.
É o orago desta freguesia o Senhor São Martinho Bispo de Turões [actual Tours , na França], que se celebra aos onze de Novembro. Cuja igreja é bastantemente grande, e mostra ser muito antiga pelos feitios que tem, mas é sem naves. Tem três altares. No maior está o Santíssimo Sacramento, que se colocou nele por modo de viático, aos dezasseis dias do mês de Agosto do ano de mil e setecentos e quarenta e quatro. E tem, da parte do Evangelho, o padroeiro, o Senhor São Martinho, e, da Epístola, o Senhor Santo António. Os altares colaterais: o da parte da Epístola é de Nossa Senhora do Rosário, onde está fundada uma confraria e irmandade da mesma Senhora do Rosário, há mais de oitenta anos, cuja imagem está e se venera no mesmo altar, e tem alguns milagres de cera, que lhe têm posto alguns devotos a quem a mesma Senhora patrocinou, quando se valeram dela nas suas necessidades; o altar da parte do Evangelho é do Senhor dos Aflitos, sob cuja invocação está colocada no mesmo altar uma irmandade das Benditas Almas, há vinte e quatro anos. É a sobredita imagem do Senhor Crucificado de mediana estatura. Tem, de um lado, a imagem do Senhor São Sebastião e, do outro, a da Senhora Santa Rosa de Viterbo e, no pé da cruz, a da Senhora Santa Apolónia. Dos subpedânios destes altares, que estão na mesma igualdade da capela-mor, se desce por três degraus para o pavimento do corpo da igreja, onde se entra por duas portas, uma principal e outra travessa para a parte do Norte.
É esta igreja unida a mais duas anexas que tem, que são São Cristóvão de Cima de Selho, que está imediata a ela para a parte do Poente, e São Lourenço de Cima de Selho, que fica acima da vila de Guimarães um quarto de légua, pouco mais ou menos, a um canonicato da Colegiada de Valença do Minho, que hoje ocupa e possui o excelentíssimo Bispo de Constantina, natural e morador na cidade de Lisboa e, como tal, padroeiro delas, as apresenta todas três, intitulando-se abade de São Martinho de Candoso e suas anexas, as quais são vigairarias ad nutum, e esta é colada e renderá, para o pároco, oitenta mil réis, pouco mais ou menos e, para o padroeiro, anda arrendada, com as duas anexas, em seiscentos mil réis, livres de todos os encargos.
Está a igreja no meio da freguesia e está situada no vale ou ribeira que desce da vila de Guimarães para a parte do Poente, que é da terra mais fértil e melhor desta província do Minho. Costuma produzir milhão, milho alvo ou miúdo, centeio e trigo, mas deste pouco, bastante fruta de peras, maçãs e mais qualidades, castanha e landres, e muito vinho verde e algum azeite. A maior parte desta freguesia está situada para a banda do meio-dia do sobredito vale ou ribeira que vem de Guimarães, e em mais altura, e por isso dela se descobrem a mesma vila de Guimarães e muitas freguesias em roda, excepto para a parte do meio-dia, e, para a parte do Norte, descobre-se à distância de duas léguas, pouco mais ou menos, até ao monte da serra da Falperra, onde se vê o templo da Madalena Santa.
Tem esta freguesia cento e onze vizinhos ou fogos e trezentas e cinquenta pessoas de sacramento e menores, que existem nos lugares da mesma freguesia, chamados o lugar da Várzea, Ribeira, Batocas, Queimado, Cancela de Moure, Bacelo, Devesinha, Outeiro, Reboto, Gamilo, Samas, Cernande, Candoso, Pipe, Teixeira, Fontainhas, Saganhal, Lourido, Vinha, Carvalhal, Soeira, Carramão, Campinho, Rizo, Souto dos Moinhos, Veiga e Assento.
Há nesta freguesia uma ermida do Senhor São Bartolomeu, onde se não diz missa, mas costuma concorrer a ela gente das freguesias vizinhas de romaria ao mesmo santo, no seu dia.
Serve-se a gente desta freguesia do correio da vila de Guimarães.
Há nesta freguesia algumas fazendas privilegiadas com o privilegio chamado das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira, da Colegiada de Guimarães.
Fica encostada a maior parte desta freguesia como acima digo às faldas do monte da Senhora do Monte, que está em outros limites.
Passa por parte desta freguesia um regato que chamam rio de Selho, que tem o seu nascimento nas freguesias de Gonça e São Torcato, distantes desta, para a parte do Nascente duas léguas, e perde o nome na distância, para a parte do Poente, de uma légua, no rio de Ave, onde se mete chamado o lugar da Várzea, da freguesia de Serzedelo. Passa-se no lugar do Reboto, desta mesma freguesia, por uma ponte de padieiras de pedra e, no lugar de Queimado, por uma de pau e também tem outra chamada da Ribeira e outra chamada dos Moinhos. Cria o dito rio peixes a que chamam escalos, bogas, panchorcas e enguias. Não corre com muita aceleração e se costumam caçar os peixes do dito rio com redes e cana com anzol. Só nos anos da maior seca secou este rio em alguns sítios e, quando há muito Inverno, redunda por fora da mãe, que algumas ocasiões se não passa pelas referidas pontes.
É o que posso informar conforme os interrogatórios que me foram remetidos e vai esta informação assinada pelo reverendo pároco de São Cristóvão de Cima de Selho e pelo de Santa Maria de Silvares, chamado este o reverendo Domingos da Silva e aquele o reverendo Bento Fernandes, vizinhos desta freguesia, e vizinha mais com a de São Tiago de Candoso, com Santa Eulália de Nespereira e com São Jorge de Cima de Selho. São Martinho de Candoso, 20 de Maio de 1758.
Há no sobredito rio duas casas de moinhos com quatro rodas que moem de Inverno.
O vigário António da Costa Rodrigues.
O vigário de São Cristóvão de Cima de Selho, Bento Fernandes.
O vigário Domingos da Silva, de Santa Maria de Silvares.
“Candoso, São Martinho”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 8, n.º 97, p. 669 a 672.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Candoso,
S. Tiago de
Em cumprimento da Ordem do Muito Reverendo e Senhor Doutor Provisor da cidade de Braga Primaz, etc.
É o orago desta freguesia São Tiago de Candoso, cuja igreja está situada, e a residência dela, num lugar umbroso da dita freguesia, entre dois montes chamados, um da parte do Nascente, o Picoto de Santo Amaro e, da parte do Poente, outro chamado o monte da Feixeira. E estes servem de impedimento à vista, que apenas da residência desta igreja se descobre um pequeno lugar chamado o Reboto, da freguesia de São Martinho de Candoso, onde passa o regato chamado de Selho, que só permanece com a sua fúria no tempo do Inverno. Tem a igreja desta freguesia três altares, um na capela-mor, do dito orago, e na nave da parte do Sul, outro, de São Sebastião, e na nave do Norte, outro, de Nossa Senhora do Rosário. E também tem duas irmandades, uma da dita Senhora e outra das Almas.
É esta igreja da apresentação do Reverendo Cabido da vila de Guimarães e é termo e comarca da dita vila e deste Arcebispado de Braga, e fica distante, da dita cidade, três léguas, e, da vila de Guimarães, meia légua, pouco mais ou menos. O qual é cura anual.
Confronta esta igreja, para a parte do Norte, com a igreja de Santa Maria de Silvares, em distância de um quarto de légua, e, para o Poente, com a de São Martinho de Candoso e, para o Sul, com Santa Eulália de Nespereira e, para o Nascente, com São Vicente de Mascotelos, em distância, de umas para as outra,s de um quarto de légua. Tem esta freguesia pessoas de sacramento, cento e sessenta, e lugares, vinte que se chamam: Pinho, Cabeças, Mascotelos, Devesinha, Vilar, Bacelo Velho, Venda Velha, Pedral, Santo Amaro, onde se faz feira de bois, não franca, todos os meses no dia quinze, Lugar, Creixomil, Mondas, Souto, Veiga, Gamilo, Castelo Mosoilo, Passinhos, Préstimo, Bouça, Monte. E não tem esta freguesia capelas, oratório, nem coisa especiosa de que se possa fazer memória.
Os moradores desta freguesia, os frutos que colhem em maior abundância, são milhão e centeio e feijão preto e vinho bastante. E, de todos os mais frutos da terra e das árvores e hortas e jardins, é esta freguesia esterilíssima.
Não tem esta freguesia beneficiados, nem Misericórdia, nem conventos, nem fojos, nem águas de que os homens possam fazer memória especial, nem pessoa de memória ou engenho agudo.
Não tem esta freguesia pontes, nem moinhos, e não padeceu ruína alguma no terramoto do ano de mil e setecentos cinquenta e cinco.
Finalmente, não me consta houvesse nesta freguesia homem que florescesse por armas ou letras, etc.
Nesta freguesia atravessa, pelo lugar de Santo Amaro uma estrada, por onde concorre muita gente para a cidade do Porto e mais que se seguem até Lisboa e nesta estrada passa todas as quintas-feiras o correio para a cidade do Porto e se recolhe no domingo seguinte à vila de Guimarães.
É o que me é possível informar a Vossa Mercê. São Tiago de Candoso, vinte e um de Maio de mil e setecentos e cinquenta e oito.
De Vossa Mercê, menor súbdito o pároco Bento Cardoso. O vigário de Nespereira, Domingos Antunes.
O pároco de São Vicente de Mascotelos, Jerónimo Ribeiro Salgado.
“Candoso, São Tiagoo”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 8, n.º 96, p. 665 a 667.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Castelo,
S. Miguel do
Extracto e verdadeira notícia da sempre régia e antiga freguesia de São Miguel do Castelo, vulgo de Santa Margarida, intramuros da vila de Guimarães, Arcebispado Primaz de Braga.
1.º Fica esta freguesia na amena e aprazível Província de Entre-Douro-e-Minho, no Arcebispado de Braga e, por se achar dentro dos muros da nobre e sempre leal vila de Guimarães, pertence ao termo e comarca dela.
2.º O domínio desta freguesia, ainda que em algum tempo foi da Casa de Bragança, hoje o tem a Casa Real, a quem toda a vila pertence.
3.º Tem esta freguesia muito poucos vizinhos, que, por todos, fazem o número de dezassete fogos, e pessoas de sacramento, entre homens e mulheres, cinquenta e duas, menores quatro, que, por todas, fazem o número de cinquenta e seis.
4.º Está situada num vale ao pé do muro da dita vila, no meio de um olival pertencente ao abade dela.
5.º Não tem lugares, nem compreende aldeias, pois a diminuta quantidade de seus moradores bem indica a sua pequena extensão e circunferência.
6.º Está esta freguesia situada dentro dos muros da dita vila. É suposto fosse ela a verdadeira vila de Guimarães pois, antes de experimentar a sua última ruína, tinha jurisdição dividida da que hoje existe, governando-se uma e outra por diversos ministros. Hoje só conserva o nome de Vila Velha, na qual não há mais do que uma rua, chamada do Castelo ou de Santa Bárbara, cujo nome ainda conserva uma porta da muralha, a qual fica para a parte do Nascente, e, todas as mais que havia, se acham demolidas e repartidas em quintais particulares.
7.º É o titular, ou orago, desta freguesia o Arcanjo São Miguel e se denomina com o título de abadia primaz, como descreve o padre António Carvalho na sua Corografia Portuguesa, tomo primeiro, livro primeiro, página terceira e sequente, na qual se acha a sua descrição, com verdade e clareza.
Na arquitectura desta igreja se vê a sua grande antiguidade e, na capela-mor dela, no meio do altar, está colocada a imagem de um Santo Cristo e junta ao pé da Cruz a imagem da Senhora Santa Ana, a qual deixou Jerónimo Vieira de Lima, professo na Ordem de Cristo, com vinte e uma medidas de pão meado, para os abades dela lhe cantarem uma missa com música e sermão, no dia da sua festa. E, como destas lhe não pagam ao presente mais do que oito, também se lhe não satisfaz o legado, senão com uma missa cantada, por ele assim o determinar em seu testamento.
Divide esta capela-mor do corpo da igreja um arco de pedra, sobre o qual encostam dois altares, um de cada parte. O do Evangelho é de Nossa Senhora da Graça, ao qual se acha anexo o morgado que instituiu Dom Martinho Pais, chantre de Coimbra, que jaz sepultado ao pé do mesmo altar. E, por falta de descendência, se acha hoje na Coroa e são seus administradores obrigados a mandarem dizer nesta igreja, anualmente, duas missas cantadas e quatro rezadas, conforme a intenção do instituidor.
O da parte da Epístola é de Santa Margarida, por quem esta igreja é hoje mais nomeada e conhecida, do que pelo seu orago São Miguel, que existe colocado na capela-mor, da parte do Evangelho, a qual Santa festejam com grandeza todos os anos as fidalgas e mais mulheres casadas da terra, por a haverem tomada por advogada em seus partos. E no dia vinte de Julho se lhe faz a sua festa, onde concorre muito povo até às dez horas da noite e, nos mais dias do ano, a buscam com seus novenários todas as mulheres pejadas, por ser esta uma santa que em todos os partos obra especialíssimos milagres. Neste mesmo dia da sua festa, vai o ilustríssimo e reverendíssimo Cabido da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira a esta igreja, onde, por legado, cantam um nocturno com sua missa rezada, pelas almas de Afonso Enes do Castelo e sua mulher.
Tem bastante grandeza o corpo da igreja, a qual foi sagrada pelo Excelentíssimo e Reverendíssimo Arcebispo de Braga Dom Silvestre, no ano de mil duzentos e trinta e seis e, no de mil cento e oito, foi baptizado por São Geraldo, Arcebispo de Braga, o nosso primeiro Rei o venerável Dom Afonso Henriques. E a pia em que se lhe administrou este sacramento se acha hoje depositada e metida na parede da igreja da Real Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira desta vila, da parte da Epístola, junto à capela de Nossa Senhora da Conceição.
Os pórticos são de arquitectura lisa e antiquíssima. No pavimento se acham muitas sepulturas com diversas armas e algumas figuras. Na parede, pela parte de fora, tem antigos monumentos e, no exterior da porta travessa, se conserva, ainda hoje, uma pia de pedra grossa, que era a medida por onde se aferiam todas as desta província e de presente o é desta vila, termo e comarca.
8.º O pároco dela é abade, cuja apresentação e colação, depois de feito o exame sinodal em Braga, pertence ao ilustríssimo e reverendíssimo Dom prior e cabido desta vila, simultaneamente. E terá de renda, entre certo e incerto, cem mil réis – diminuta renda para uma igreja tão régia.
11.º Tem um hospital antiquíssimo e de pobre arquitectura, com a invocação de São Miguel Arcanjo, para nele se recolherem cinco pobres e necessitadas mulheres, com cinco quartos ou cubículos em que se acha repartido. São administradores dele os abades da dita igreja, aos quais se paga anualmente, por diversos caseiros, dez mil trezentos e dez réis, para satisfação de cinco missas cantadas e reedificação do dito hospital, sendo necessário, e, não o sendo, se satisfaz o produto da dita quantia em missas rezadas pelas almas dos que deixaram os ditos foros.
Cobrava estes foros uma confraria do Arcanjo São Miguel, a qual se acha hoje extinta e fazem as suas vezes os abades administradores dela. Na véspera de Natal, se lhe paga de renda um carro de lenha para os pobres dele repartirem entre si.
13.º Tem uma capela dentro de um castelo (cuja descrição se fará em seu lugar), com a invocação de São João Baptista, para ouvirem missa os presos que nele se acham encarcerados e dela se lhes administram os sacramentos. Tem obrigação, por legado a comunidade da coraria que existe na Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, a mandar-lhe dizer missa todos os Domingos e dias Santos do ano. E pertence a dita capela ao alcaide-mor desta vila.
15.º Os frutos que dos quintais em que se acha dividida esta freguesia se colhem são algum milho grosso, pouco vinho e algum azeite do olival pertencente ao abade dela.
21.º Dista esta freguesia da cidade de Braga, capital deste arcebispado, três léguas, e de Lisboa, capital do reino, sessenta.
22.º Os privilégios ou antiguidade que ainda hoje conserva esta paróquia e freguesia são os seguintes:
Todos os anos, na terceira dominga de Julho, em que neste Reino se soleniza o Anjo Custódio dele, costuma a câmara desta vila fazer-lhe uma procissão, saindo da colegiada com o ilustríssimo e reverendíssimo cabido, na qual vão os vereadores em corpo de câmara, acompanhados do juiz de fora, procurador, escrivão e misteres. E assim entram na dita freguesia ou Vila Velha e sua paróquia, na qual o ilustríssimo e reverendíssimo Cabido reza certas orações com a circunstância, porém, que, quando sai a procissão, leva o juiz de fora um pendão de damasco encarnado, em que se divisa a imagem do Arcanjo São Miguel, e, quando volta, o traz o vereador mais velho, para mostrar que, como diz o padre António Carvalho na sua Corografia Portuguesa, não podia entrar um ministro com vara em lugar onde não tinha jurisdição, pois, como fica dito, era a desta Vila Velha distinta da que hoje existe, antes de se unirem.
Por concessão do Ilustríssimo e Reverendíssimo Dom Lobo da Silveira, Dom Prior da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira desta vila, e do abade Francisco de Sousa, habitaram nesta igreja os reverendos padres capuchos da Província da Piedade e dela usaram enquanto se lhes não acabou o seu convento, que em muito pouca distância dos muros desta freguesia está fundado e erecto. Entraram nela em doze de Novembro do ano de mil e seiscentos e sessenta e quatro e saíram, com uma procissão solene, acompanhados do Ilustríssimo e Reverendíssimo Cabido, comunidades, Câmara e mais povo da terra, aos vinte e nove de Julho do ano de mil e seiscentos e sessenta e oito.
25.º É esta Vila Velha cercada de uma muralha bruta, pouco alta e sem ameias, a qual se comunicou e uniu aos muros da nova vila, vindo a fazer ambas uma só. Tem, entre o Norte e Nascente, sobre uma fortíssima penha, um castelo, o qual mandou fazer a Condessa Mumadona, para defesa do convento que mandou edificar no burgo junto a esta vila, de religiosos e religiosas de São Bento, que hoje é a Insigne e Real Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira. Está servindo de contra-muralha a este castelo, pela parte do Norte, a muralha velha, ficando entre uma e outra um terreno com bastante largura. E, pela parte do Sul, não tem contra-muralha, por lhe ficar servindo de defesa e guarda a mesma vila.
No meio deste castelo lhe está servindo de penhasco a torre da Vila Velha que, pela sua grande altura e fortaleza, se faz inconquistável, vindo a ficar este castelo com três torres e só com duas portas, uma para o Norte e outra para o Sul, cada uma delas guardadas com dois baluartes fortíssimos. E, suposto fosse este castelo edificado para defesa daquele convento, hoje serve de cadeia para os presos que forem da vila e termo.
Tem, da parte do Poente, um palácio. Porém, dele não existem ao presente mais que as paredes, o qual foi morada do conde Dom Henrique, quando em Guimarães assentou sua corte e berço do nosso primeiro rei de Portugal, o venerável Dom Afonso Henriques.
Em pouca distância deste castelo e casa onde nasceu o primeiro Rei deste Reino, mandou fabricar um sumptuoso palácio Dom Afonso, filho natural de el-rei Dom João o primeiro, o qual casou com Dona Brites Pereira, filha única e herdeira do grande Conde Dom Nuno Álvares Pereira e sua mulher Dona Leonor de Alvim, Conde de Arraiolos, Ourém, Barcelos e outras muitas terras.
A arquitectura desta obra é regular, dividida em quatro quartos de sumptuosa grandeza, tendo no meio deles um claustro de quatro naves feito de arcarias, com varandas por cima, que fazem entrada para a capela, da qual, como de todo o mais palácio, não existem hoje mais que as paredes. No pórtico desta capela se admiram seis colunas de excelente jaspe, divisando-se em cada quarto uma multiplicidade de casas, que muitas delas sobem a demasiada altura. A fachada que fica ao Sul tem bastante comprimento, com onze janelas de excessiva grandeza, partidas cada uma com cruzes de pedra.
Aos lados desta fachada se levanta o edifício noutro andar, a modo de torreões, tendo cada um três janelas da mesma sorte, e, subindo-se por escadas entre as paredes, tem por cima vistosas varandas, de onde se descobre uma dilatada e aprazível vista. Não se chegou acabar esta máquina, por faltar a vida ao seu fundador.
Para a parte do Norte, porém, se cobriram algumas casas onde assistiu até à morte a venerável Dona Constância de Noronha, filha de Dom Afonso de Gijón e de Noronha, filho natural de el-rei Dom Henrique, o segundo de Castela, casado com Dona Isabel, filha natural de el-rei Dom Fernando.
Foi esta venerável senhora segunda mulher de Dom Afonso, fundador deste palácio, e jaz sepultada na capela-mor do convento de São Francisco desta vila. E algumas destas casas que ainda hoje existem cobertas, servem para recolher as rendas que as sereníssimas rainhas de Portugal têm no almoxarifado desta vila.
26. Nenhum destes sumptuosos palácios padeceu ruína no terramoto que houve no ano de mil e setecentos e cinquenta e cinco, somente o corpo da igreja paroquial que se acha da parte do Evangelho, junto à porta travessa, fendido por duas partes até ao meio, ameaçando bastante ruína. Porém, como a renda é diminuta e os fregueses limitados e muito pobres, não há com que se possa reparar.
Enquanto aos mais interrogatórios, não há, nem tenho de que dar satisfação, pois o referido é o que pude averiguar, por não haver nesta freguesia monte, serra, nem rio, como na ordem se procura saber. Guimarães, de Abril 10 de 1758.
O abade António Machado de Oliveira
O pároco José Luís Ferreira.
O pároco Francisco Dantas Coelho.
“São Miguel do Castelo, Guimarães”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 18, nº 134b, p. 763 a 774.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Castelões,
São João Baptista de
Fica esta freguesia na Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga, comarca e termo de Guimarães. É terra do Sereníssimo Senhor Rei e foreira à Sereníssima Senhora Rainha, o mais dela que paga foro o reguengo de Guimarães.
Tem sessenta e quatro vizinhos e trezentas e vinte pessoas.
Está situada num vale. Descobre-se dela as freguesias de São Martinho de Travassos, Santa Marinha de Arosa, São Cosme e Damião de Garfe, Santa Cristina de Agrela e todas distam menos de quarto de légua.
Está a paróquia dentro do lugar chamado Castelões. Além deste tem esta freguesia mais quatro lugares chamados Varzielas, Espinha, Torio e Passo.
É o seu orago São João Baptista.
Tem três altares. O do altar-mor de São João, os dois do corpo da igreja, o da parte do Evangelho, de São Sebastião, o da parte da Epístola, do Santíssimo Sacramento, que está colocado no dito altar.
O pároco é vigário colado à anexa de São Pedro de Queimadela, onde reside o reitor desta igreja, que é comenda de el-rei, com duas anexas, São Pedro de Queimadela e Santa Cristina de Agrela. E o reitor é de apresentar do ordinário e, os párocos das duas anexas, do dito reitor. Renderá quarenta e cinco mil réis, com certos e incertos. Tem uma capela no lugar de Torio, de São Francisco, que é de padroeiro particular e não tem romagem.
Os frutos que se recolhem com mais abundância são milhão, centeio, milho alvo e feijão, vinho verde, azeite, castanha e alguma fruta.
Está sujeito a juízo do juiz de fora de Guimarães.
Serve-se do correio de Guimarães, de onde dista a freguesia duas léguas. E, da cidade de Braga, capital do Arcebispado, dista esta três léguas e da de Lisboa, capital do Reino, sessenta e duas léguas.
Há somente nesta um lavrador que tem um privilégio da Senhora da Oliveira.
Não padeceu esta freguesia ruína alguma no terramoto de mil e setecentos e cinquenta e cinco.
Não há nesta freguesia senão um monte de onde se servem os lavradores.
Vai por perto desta freguesia dividindo-a da de São Martinho de Travassos, um rio chamado Ave que nasce na serra chamada Cabreira, numa fonte chamada Ave, que corre caudaloso com bastante água e todo ano corre. E nele entram outros regatos, acima e abaixo desta freguesia. Corre do Nascente a Poente, inclinado para o Sul. Cria peixes, barbos, trutas, bogas e escalos. É livre no pescar, excepto os meses defesos. Somente no lugar de Varzielas se cultivam as margens deste rio. As terras, na maior parte desta freguesia, têm arvoredo silvestre. E conserva sempre, desde seu nascimento até que fenece, o mesmo nome de rio Ave, nem há memória tivesse em outro tempo diverso nome. E morre no mar entrando nele ao pé da vila de Vila do Conde, entre a cidade do Porto e a vila de Viana, e tem de curso, desde que nasce até entrar no mar, catorze léguas. Não é navegável. Tem este rio, no distrito desta freguesia, treze rodas de moinhos, uma azenha, que serve também de lagar de azeite.
Há também um regato, chamado o Rio Pequeno, que corre de Sul a Norte e se junta com o rio Ave abaixo desta freguesia, na de Santa Marinha de Arosa, tendo de curso desde que principia, que é entre a freguesia de São Tomé de Travassos e São Bartolomeu de Vila Cova, uma légua, e tem em si dois moinhos e o outro numa regueira que dele se tira para regar alguns campos. E há uma ponte de cantaria, numa estrada real que vai para Guimarães. E cria alguns peixes, trutas, bogas e escalos, e corre todo ano e os povos usam livremente das águas destes rios.
E não sei mais que possa informar. Esta vai assinada pelos párocos de Santa Marinha de Arosa e Santa Cristina de Agrela, meus imediatos vizinhos, com quem passei esta, que vai na verdade, em que me assino. Em São João Baptista de Castelões, de Abril dezassete de mil e setecentos e cinquenta e oito.
O vigário Caetano Fernandes.
O vigário Caetano Francisco.
O vigário Custódio da Silva Fonseca.
“Castelões”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 9, n.º 202, p. 1311 a 1312.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Conde,
Martinho do Conde
Na Província de Entre-Douro-e-Minho se acha esta freguesia, e está entre dois montes, um da parte do Nascente, chamado a Cerca, outro da parte do Norte, chamado da Senhora do Monte, por estar no cume dele uma capela de Nossa Senhora pertencente a outra freguesia, chamada Santa Cristina de Serzedelo.
É esta freguesia do termo da vila de Guimarães e Arcebispado de Braga Primaz, tem trinta e quatro fogos e nestes se compreendem os lugares seguintes: o lugar de Tresmonde, o de Vila Meã, o do Avenal, este consta de dois vizinhos, da Carreira de Baixo, este também tem dois vizinhos, o das Casolas, também de dois vizinhos, o da Carreira de Cima, o da Costa, o de Torneiros, o da Presa, o da Boavista, o do Outeirinho, o de Bertelo, o das Bouças, de dois vizinhos, o do Bairro, o do Arco, o do Outeiro, o de Filipe, o da Torre, o de Donegas, o da Venda, de cinco vizinhos, o de Bafo de Boi, dos Moinhos, o do Assento, de dois vizinhos, o da Residência. Pessoas de sacramento, cento e onze, menores, dezoito.
Está a igreja no fim da freguesia. É o seu orago São Martinho, que se venera no altar-mor. Tem mais dois altares colaterais. No da parte do Norte se venera Nossa Senhora, no do Sul São Sebastião. Não tem irmandade alguma.
É esta igreja curato anual, cuja apresentação pertence ao Cabido da vila de Guimarães. Renderá, um ano por outro, duzentos mil réis.
Nos limites desta freguesia há três capelas, duas são de António Manuel Vaz Vieira, uma sita na Quinta de Tresmonde, de Nossa Senhora, e, junto dela, um palácio, cujo morgado instituiu o Doutor Jerónimo Vaz Vieira, desembargador do Paço que foi, outra na estrada que vai de Guimarães para o Porto, de Santa Luzia, onde concorre muito povo no seu dia e faz milagre, outra na Quinta de Filipe de São Francisco, que é do padre Manuel Ferreira de Sousa.
Esta freguesia é abundante de vinho, milhão, centeio e feijão.
É esta freguesia sujeita às justiças da vila de Guimarães onde há provedor, corregedor e juiz de fora, almotacés. Serve-se do correio da dita vila, distante desta freguesia uma légua, o qual parte na sexta-feira da mesma vila para a cidade do Porto, distante desta oito léguas, e se recolhe no domingo.
Esta freguesia está distante da cidade de Braga, cidade capital, quatro léguas, e, da de Lisboa, sessenta, capital do Reino.
Não padeceu ruína esta freguesia no terramoto do ano de 1755.
Não tenho mais de que avise desta ténue freguesia, nesta por mim assinada e por dois párocos vizinhos.
São Martinho do Conde, 22 de Maio de 1758 anos.
Domingos de Sá Cunha,
vigário de São Paio de Moreira dos Cónegos, Manuel Marques de Andrade.
Domingos Antunes, vigário de Santa Eulália de Nespereira.
“Conde”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 11, n.º 368, p. 2521 a 2522.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Corvite,
Santa Maria de
Informação de uma ordem que me foi entregue do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor da Relação de Braga Primaz.
Na Província de Entre-Douro-e-Minho, termo de Guimarães, Arcebispado de Braga Primaz, se acha a freguesia de Santa Maria de Corvite. Está a igreja situada num vale de monte. Para a parte do Norte, não se descobre deste sítio povoação alguma, só, sim, algumas terras de aldeia, para a parte do Poente e Norte, pouco mais ou menos duas léguas de terra.
Tem esta freguesia cento e cinquenta pessoas de sacramento e os lugares que tem próximos à igreja é a casa de residência, o Assento, e os que há nesta freguesia mais remotos são Tarrios, Passinhos, Cartas, Tulha, Ribeiras, Cancela, Fragosos, Bouça, Fundo, Frijão, Carreira, Sobreira e Souto de Ribas.
Tem esta igreja três altares. No altar maior está colocada Nossa Senhora da Expectação, padroeira desta igreja, a qual tem sua irmandade, e, no altar da parte do Nascente, está São Sebastião e, no outro, São Caetano. O pároco desta igreja é vigário ad nutum, apresentação do Arcediago de Santa Cristina de Longos. Renderá, para o dito arcediago, cento e setenta mil réis e, para o vigário, doze mil réis, que lhe paga o rendeiro.
Não há nesta freguesia beneficiados, conventos, hospital, casa de misericórdia, nem ermidas.
Os frutos que mais comummente colhem os lavradores desta terra são milhão, milho branco, centeio, painço e algum trigo, feijões de várias castas, e também fabricam vinho verde, em quantidade.
É sujeita esta terra ou seus moradores à Câmara e justiças de Guimarães e não tem couto, nem concelho, nem goza de alguns privilégios ou honras. Não há memória de homem algum que florescesse por Armas ou Letras que desta freguesia fosse nascido. Também não há feira alguma, nem correio e servem-se os moradores desta pelo de Guimarães, que chega no domingo e parte na sexta.
Desta freguesia a Guimarães será distante meia légua, e a Braga, duas léguas e a Lisboa, sessenta, pouco mais ou menos.
Nesta freguesia há várias fontes, mas sua água não é de especial qualidade, só, sim, com ela regam os moradores seus frutos e não passa rio algum por esta freguesia, pelo que não tem moinhos e fica esta terra distante do mar.
Não padeceu ruína alguma esta terra no terramoto, Deus louvado.
Não há serra célebre de que se possa dar notícia, nem que se achem metais, nem pedra de estimação, nem há ervas que sirvam de medicina especial.
É esta terra salutífera e de bom temperamento. Nela se criam alguns gados e se caçam alguns coelhos e perdizes. Não há fojos, nem lagoas e, finalmente, não há coisa notável de que mais dê notícia, o que passa na verdade.
Santa Maria de Corvite, cinco de Maio de mil setecentos e cinquenta e oito anos, e vai esta assinada pelos dois reverendos párocos vizinhos e por mim, o vigário que de presente sirvo nesta igreja.
O vigário Domingos de Macedo.
O pároco de S. Cláudio do Barco, Francisco Gomes Luís.
O abade António José de Araújo.
“Corvite”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 42, n.º 400, p. 2739 a 2740.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Costa,
Santa Marinha da
Costa é aldeia e paróquia do termo da vila de Guimarães na comarca do mesmo nome. O seu povo consta de 52 fogos pertencentes à igreja matriz, dedicada a S. Marinha. O pároco é cura anual apresentado pelo Prior do Convento de S. Jerónimo aqui existente e tem de côngrua 30.000 réis. São frutos principais pão, vinho e azeite.
Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 42, n.º 66, p. 41.
COSTA. Freguesia na província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga, comarca e termo de Guimarães, primeira parte da visita de Sousa, e Faria: tem cinquenta e dois vizinhos. A Igreja Paroquial, dedicada a Santa Marinha, tem cinco altares, o maior com o sacrário, o de Santa Ana, o de Santo António, o de Cristo crucificado e o de Santa Marinha. O pároco é cura anual, apresentado pelo Prior do Mosteiro da Costa, da Ordem de S. Jerónimo. No distrito desta freguesia há estas ermidas, de Santa Catarina, Virgem e Mártir, de N. S. da Penha, e a de S. Roque. Produz pão, vinho e azeite.
Luís Cardoso, Padre, Dicionário Geográfico ou Notícia Histórica de todas as cidades, vilas, lugares e aldeias, rios, ribeiras e serras dos reinos de Portugal e Algarve, vol II, 1751. Verbete: COSTA.
NOTA: A freguesia de Santa Marinha da Costa faz parte do grupo de paróquias vimaranenses cujas memórias não aparecem no Arquivo Nacional / Torre do Tombo. Para quase todas (a excepção é Mesão Frio) existe um apontamento resumido incluído em dois volumes de suplemento às Memórias Paroquiais, provavelmente elaborado pelo padre Luís Cardoso com os dados de que dispunha de levantamentos anteriores a 1758. O que aí aparece referente à freguesia de Santa Marinha da Costa, resume o verbete correspondente que aparece no segundo (e, infelizmente, último publicado) volume do Dicionário Geográfico que o padre Luís Cardoso publicou em 1747 e 1751. Aqui se reproduzem ambos os documentos, infelizmente excessivamente lacónicos.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Creixomil,
São Miguel de
O padre Francisco Fernandes Cruz, vigário da freguesia de São Miguel de Creixomil, subúrbios da vila de Guimarães, Arcebispado de Braga Primaz, satisfazendo a uma ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor do mesmo Arcebispado que, com o papel incluso, me foi entregue, a qual respondendo e dando razão informo o seguinte.
É esta freguesia da Província de Entre-Douro-e-Minho, do Arcebispado de Braga, comarca e termo da vila de Guimarães. Não é terra de donatário.
Tem vizinhos ou fogos trezentos e vinte e cinco, tem oitocentas e vinte pessoas de sacramento.
Está situada num vale dos melhores dos subúrbios da vila, os seus campos e terras chamados as Lameiras do Miradouro são fertilíssimos, no tempo que estão desafrutadas têm sempre água de lima e nunca se lhes deita esterco para darem milho, pois, estercando-se, põe mais na palha que no fruto, e o estercá-las é mais prejudicial que útil.
Não se descobrem dela mais povoações, por ficar em vale, como digo.
Não tem termo seu, pertence ao da vila de Guimarães.
A igreja está fora de lugar, tem só dois vizinhos.
Os nomes de seus lugares são Rua da Madroa, Sabacho, Castanheiros, Rua da Cruz de Pedra, Santo André, Salgueiral, Robalo, Laços, Eiras, Honras, Dardos, Costeado, Trasgaia, Fornos, São Lázaro, Pombais, Ribeiras, Porcariça, Casa Nova, Souto dos Mortos, Miradouro, Torres, Rabiços, Tapado, Pontes, Moucos, Selho, Rei de Vides, Lajes, Boavista, Bouça, Pinheiro, Carrazedas, Codeceiras, Assento da Igreja.
O seu orago é São Miguel. Tem a igreja cinco altares. O maior é de São Miguel, o do Menino Deus, o da Senhora do Rosário, o de Santo António e o das Almas. Não é de naves, a igreja. Tem quatro irmandades, a do Menino Deus, da Senhora do Rosário, a de Santo António e a das Almas. É o pároco desta freguesia vigário ad nutum, é apresentação do reverendo chantre da Colegiada da vila de Guimarães, o Doutor Francisco José Pereira. Come o mesmo padroeiro a dizimária, que há-de importar em perto de seiscentos mil réis. Para o pároco que a cura, renderá sessenta mil réis, fora as suas ordens. Não tem beneficiados.
Não tem conventos, nem também hospital, nem misericórdia.
Tem cinco capelas, o distrito desta freguesia. A de São Lázaro, que tem romagem em domingo de Lázaros, e na mesma capela se festeja a Senhora da Ajuda, em dia da Anunciação, que também tem romagem, e na mesma capela se festeja Santa Marta, em vinte e nove de Julho, com sua romagem. Tem a de Santo André, em que se festeja o Santo no seu dia, com concurso de muito povo da vila de Guimarães e das aldeias. São estas duas capelas da administração da Santa Casa da Misericórdia. Tem mais a da Senhora da Luz, que se festeja no dia da Purificação, por António Manuel Vaz Vieira de Melo e Alvim Pinto, por obrigação do seu morgado, o qual instituiu seu tio Jerónimo Vaz Vieira de Melo, Desembargador do Paço. Há, no mesmo dia, romagem grande e, no fim da missa da festa, se canta seu responso de música pela alma do mesmo Desembargador. Há outra capela, dos Reis Magos, que é de José Bezerra de Abreu e Lima, e outra de São Caetano, que é de Dona Rosa Maria Peixoto dos Guimarães, da Quinta de Laços, cabeça do seu morgado. Não têm estas duas romagens e as duas capelas de São Lázaro e dos Reis Magos ficam na mesma rua de São Lázaro e a de Santo André fica entre vizinhos, a da Senhora da Luz fora do lugar, a de São Caetano dentro da Quinta de Laços.
Os frutos desta freguesia são trigo, centeio, milho branco e milhão. O que se colhe em mais abundância é milhão, há vinho bastante, mas bastantemente verde, há pouco azeite e fruta.
Não tem juiz ordinário, está sujeita às justiças de Guimarães.
Não é couto, nem cabeça de concelho, nem comarca.
Não há notícia que dela saíssem homens insignes em virtudes, letras ou armas.
Não tem feira.
Não tem correio, aproveita-se do da vila de Guimarães, que parte na sexta-feira para o Porto, distante desta oito léguas, e chega no domingo à noite.
Dista esta freguesia da cidade de Braga, capital do Arcebispado, três léguas, e de Lisboa, capital do Reino, sessenta léguas.
Não há nesta freguesia antiguidades, privilégios ou coisas dignas de memória.
Não tem fonte ou lagoa que sejam célebres as suas águas.
Não é porto de mar.
Não é esta freguesia murada, nem praça de armas, nem tem torres ou castelo algum.
Não padeceu esta freguesia ruína alguma no terramoto de mil e setecentos e cinquenta e cinco.
Não tem esta freguesia serra ou montados e, por isso, os moradores dela não têm estrumes e, se os querem, os compram nas freguesias vizinhas.
Passa por esta freguesia um pequeno rio, a que chamam o rio de Selho. Compõe-se de quatro regatos, um que nasce na freguesia de São Romão de Mesão Frio e, passando pela ribeira de Santa Maria de Atães, aí se junta com outro, que nasce no mesmo monte de Atães, e, unidos aí na dita freguesia, os dois regatos vêm correndo pelo distrito da mesma freguesia, até ao lugar que chamam Vila Franca ou Rua Franca, e, no mesmo lugar, se lhe juntam outros dois regatos, um que vem de São Cosme da Lobeira e outro de São Torcato, o Velho, e, juntos ali todos os quatro regatos, aí recebe o nome de Rio de Selho, por passar por entre a freguesia de São Mamede de Aldão e São Lourenço de Cima de Selho, onde tem uma ponte de cantaria, e, assim vindo correndo pelos distritos das freguesias de São Pedro de Azurém e Santa Eulália de Fermentões, entra por terras desta freguesia, no Inverno com curso arrebatado e de Verão com pouca água e quieto em toda a sua distância. Corre de Norte a Sul.
Cria peixes, que são escalos e bogas, desde o seu nascimento até à freguesia de São Jorge, que é uma das vizinhas a esta, metendo-se só em meio a de Santa Maria de Silvares e já aí na de São Jorge de Cima de Selho cria bons barbos e trutas, principalmente onde chamam os Sumes do rio de Selho e aí, nesse lugar ou sítio dos Sumes, corre o mesmo rio por baixo da terra e penedos, sem se divisarem suas águas, por irem subterrâneas.
Os peixes que cria são os mais gostosos de todos quantos criam os rios vizinhos. Não há no seu distrito pescarias particulares. Em todo o ano se pesca neles.
Cultivam-se as suas margens. Tem muitas árvores de vinho ao pé e muitos choupos.
Não se sabe que tenham virtude suas águas, conserva sempre o nome até se meter no rio Ave e todo o seu curso terá de distância légua e meia, isto é, do sítio de onde toma o nome de rio de Selho até se meter no rio Ave, abaixo da ponte de Serves, e aí, onde entra no Ave, perde o nome, juntando-se com o mesmo rio, que é grande.
Não é este navegável, tem muitas levadas e represas. Tem nesta freguesia uma ponte de cantaria e outra de padieiras, uma do lugar de Selho, e por isso chamada a ponte de Selho, e outra de padieiras no lugar de Trepecido e por isso chamada a ponte de Trepecido.
Tem, no distrito desta freguesia, vinte e cinco moinhos e, destes, seis alveiros. Não tem pisões, lagares de azeite ou outro algum engenho no distrito desta freguesia, só na de São Mamede de Aldão tem dois engenhos de azeite e, na de São João de Pencelo, tem outro engenho de azeite.
Nunca de suas áreas se tirou ouro.
Usam os povos do seu distrito livremente de suas águas e as freguesias por onde passa são as seguintes, isto é, desde que tem o nome de rio de Selho: São Romão de Mesão Frio, São Mamede de Aldão, São Lourenço de Cima de Selho, São Pedro de Azurém, São João de Pencelo, Santa Eulália de Fermentões, São Miguel de Creixomil, Santa Maria de Silvares, São Jorge de Cima de Selho, São Cristóvão de Cima de Selho e freguesia de Serzedelo onde tem, aí perto, uma ponte de cantaria chamada o Arquinho do Soeiro. Tem outra de cantaria na freguesia de Santa Eulália de Fermentões, que parte com esta de São Miguel de Creixomil, chamada a ponte de Caneiros. Tem mais uns pontidos nas freguesias vizinhas, de que os reverendos párocos de seus distritos darão melhor razão.
Já disse que, desde o distrito de onde toma o nome de rio de Selho até o perder na entrada do rio Ave, ocupará légua e meia.
É isto o que posso dizer e informar e, vai conferido com os dois reverendos párocos mais vizinhos, que são o de São Sebastião da vila de Guimarães, José Luís Ferreira, e o de Santo Estêvão de Urgezes, Custódio António de Sousa.
Hoje, São Miguel de Creixomil, 30 de Abril de 1758 anos.
O pároco Francisco Fernandes Cruz.
O padre Custódio António de Sousa.
O pároco José Luís Ferreira.
“Creixomil”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 12, n.º 460, p. 3229 a 3233.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Cunha,
São Miguel de
Relação noticiosa da freguesia de Cunha que, por ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Desembargador e Provisor da cidade de Braga, reverendo Manuel António Coelho, abade da dita igreja.
Chama-se esta freguesia Cunha. Ignoro a etimologia ou causa que tiveram para assim lhe chamarem, porque acho homens que me dizem tomara o nome de uns fidalgos chamados fulanos da Cunha, naturais de França, que residiram nesta, mas não sei com que causa, isto é, não sei se por desterro, se por outra qualquer causa. Parece-me ser isto de pouca ou nenhuma consideração. Outros me afirmam (e parece que com alguma razão, por isso a eles me inclino) que tomaram o nome dos fidalgos de Canaveses, os quais, entre os apelidos que têm, contam também este de Cunha; por lhe pagarem pensões todos os moradores dela, e na mesma haver ainda pessoas que se lembram de terem os ditos fidalgos umas casas nesta freguesia, no lugar das Quintães, e nelas costumavam recolher as suas pensões. Hoje, nem os alicerces permanecem.
Fica na província de Entre-Douro-e-Minho, retirada da cidade de Braga légua e meia, para a parte do Sul. Arcebispado e Comarca de Braga, termo de Guimarães., não obstante ficar esta e a freguesia de São Paio de Ruílhe ambas dentro do termo de Barcelos. A causa direi com poucas palavras. No célebre conflito de Ceuta, ocuparam os de Guimarães o lugar que os de Barcelos, por inertes, desampararam. Por esta acção foram os vereadores de Barcelos multados na pena de irem varrer as ruas de Guimarães, o que com efeito exercitaram alguns anos, termos em que ninguém queria ser vereadores em Barcelos. Cuidaram eles em expelir de si este insuportável jugo, e deram estas duas freguesias para Guimarães, com o encargo de irem exercer esta vil servidão. E para os moradores aceitaram este ónus (dizem) lhes deram, ou alcançaram, uns grandes privilégios, de que hoje só remanesce a memória.
Exercitaram por este por espaço de trezentos e tantos anos. Varriam com um capuz, ou morrião, na cabeça, feito de panos de várias cores, tão comprido que chegava, estendido, pelas costas abaixo, ao meio do corpo. Um pé ficava descalço, e outro calçado, com um boldrié ou talabarte de palha, e nele uma espada, da parte direita. Varriam sete vezes no ano, dois de Cunha e um de Ruílhe, cada vez. E se algum faltava, era condenado na exorbitante pena de oito mil réis. Agravados assim com tão insuportável jugo, recorreram ao rela patrocínio do senhor D. João quinto, que santa glória haja, o qual se dignou expedir um decreto em que os absolvia da escravidão e mandou pôr silêncio perpétuo em semelhantes matérias, e não fossem ouvidos os de Guimarães, que fortemente se opunham com o fundamento de estarem na posse de irem varrer as suas ruas, com o qual obtiveram sentença a seu favor. Esta a notícia que nesta matéria pude alcançar.
É esta freguesia de el-rei meu senhor. Tem noventa fogos, ou vizinhos. Pessoas de sacramento, menores e ausentes trezentas e quinze. Está situada num vale entre dois montes pequenos, um da parte do poente, e ao Nascente outro, ambos cercam a freguesia da parte do Norte, e depois correm direitos ao Sul. No fundo e fralda do da parte do Nascente, está a igreja junto à freguesia de Arentim, tanto que nas costas da dita igreja, a coisa de doze passos, fica o marco que divide esta daquela.
O orago é São Miguel. Tem três altares. Na capela-mor, um, onde está o Santíssimo Sacramento. Na parte do Evangelho e na tribuna está São Miguel, numa peanha, e, da outra parte, na mesma tribuna, e noutra peanha, está o Menino Jesus. Na igreja, os outros dois. O da parte do Evangelho tem duas imagens de Nossa Senhora do Rosário, uma grande, e pequena outra. O da outra parte tem uma boa imagem do Senhor Crucificado, da parte direita tem S. Sebastião e, da esquerda, Santo António, que faz muitos milagres. Toda está suficientemente ornada, e tanto o corpo da igreja, como a capela, estão pintadas.
Tem duas confrarias, uma do Santíssimo Sacramento, já muito antiga. Tem missa cantada a cantochão e, alguns anos, a música, todos os segundos domingos de cada mês. E, no segundo de Julho, se costuma festejar com aquela grandeza que permitem estas terras, e por esta causa concorre nesse dia muita gente a esta igreja. Outra é da Senhora do Rosário. Também tem missa cantada a cantochão todos os quartos domingos de cada mês. E, no quarto de Maio, se festeja com mais aplauso, e por essa causa nesse dia concorre muito povo a esta igreja, como também por se tirar nesse dia para os irmãos, por sorte, duas dúzias de rosários, e nos mais quartos domingos uma dúzia, pagos todos à custa da confraria e oficiais.
Algum dia teve a confraria de São Sebastião e outra das Almas, já ambas hoje estão acabadas.
Tem um sino, que pesará seis, até sete, arrobas, com cujo toque se afugentam as trevas. Não sei se é virtude que São Miguel lhe tenha dado, se o atribua à actividade das suas vozes, pois nelas excede aos da sua esfera. Tudo consta da experiência.
É abadia, apresentação do Real Padroado. Rende para o abade duzentos mil réis, e para a Santa Igreja Patriarcal de Lisboa a quarta nona parte de todos os rendimentos.
Logo junto à igreja ficam as casas da residência com os passais, que constam de devesas de carvalhos e terras que se costumam lavrar e nelas semear milho grosso e dos mais legumes que nesta há, de que abaixo falarei.
Tem a freguesia dezassete lugares, chamados Eiras, Longra, Vessada, Horta Nova, Paço, Cal, Portelo, Quintãs, Campo, Regueira, Figueiredo, Costa, Souto, Gondomar, Igreja, Lama e Lebeguada. E tem vizinhos. Eiras tem dez, Longra, cinco, Vessada, três, Horta Nova, cinco, Paço, cinco, Cal, quatro, Portelo, seis, Quintãs, sete, Campo, cinco, Regueira, quatro, Figueiredo, dez, Costa, sete, Souto, dois, Gondomar, dois, Igreja, seis, Lama, três e Lebeguada, seis.
Desta se avista, em distância de duas léguas, o Bom Jesus de Braga, e, mais perto, para a parte do Nascente, a serra da Falperra, e nela a capela de Santa Marta. Em distância de uma légua, a freguesia de Santa Ana de Vimieiro. Em distância de meia, a freguesia de Priscos e, depois, as de Ruílhe e Arentim, que lhe ficam contíguas, e não se avista mais por lhe servir de impedimento o monte chamado da Pedra Bela. Para o Poente se avista parte da freguesia de São João de Bastuço, e as sumidades do monte Airó. Para a parte do Sul se avista alguma parte da corrente do rio Ave e avista-se, em distância de légua e meia, o couto de Farelães, com as casas do fidalgo e capela. Em distância de uma légua, Minhotães e Jabolinha. Na de meia, as freguesias de Viatodos, Nine e, mais perto, o couto de Cambeses.
Os moradores recolhem em mais abundância vinho e milho grosso, centeio e milho branco, suficientemente, e algum a que chamam painço. É povoada de muitas devesas de carvalhos, que os lavradores costumam cortar, e feitos em molhos, levam à cidade de Braga a vender, com eles remedeiam muito bem as suas casas.
Serve-se do correio da cidade de Braga, que dista légua e meia, que é capital do Arcebispado, e dista de Lisboa, capital do reino, sessenta léguas.
Todos os moradores pagam pensões de trigo, milho alvo, centeio, galinhas, e palha painça ao fidalgo de Canaveses, mas não pagam todos de todas as espécies, uns de umas, outros de outras. Só seis lhe não pagam pensão alguma. Pagam mais votos a igrejas, e umas pequenas pensões, a que chamam ramires.
Os montes que as cercam são pequenos. Criam gados de cabras, ovelhas, coelhos e algumas perdizes. Por cada um deles vai uma estrada, e ambas vão para Vila do Conde. Não têm especialidade alguma que se possa notar, por não terem em si mais que pedra e um mato de pequenos tojos.
Não há coisa que se possa notar sucedesse no terramoto de 1755.
Tem um pequeno rio, que corre pelo meio dela, de Norte a Sul. Nela principia e, depois de se estender por meia légua, acaba no fim da freguesia, no sítio o rio Este principia a dividir os dois coutos de Arentim e Cambeses. De Inverno toma água bastante. De Verão, o mais dos anos, seca. Tem cinco moinhos e, quando estes moem, ninguém tem a liberdade de usar das suas águas para os seus campos. E, fora destas ocasiões, todos se utilizam das suas águas sem pensão alguma. Só os campos da igreja há anos estão privados dela, por o impedir um freguês de tal ou qual génio, que com bem pouca razão a impede, sobre o que corre litígio, e espera obter cedo sentença a seu favor a igreja. Toda a terra que fica nas margens deste pequeno rio é lavradia, e não tem mato silvestre, tem só carvalhos com vides, que dão vinho, e alguns amieiros e salgueiros.
Não acho nesta coisa alguma mais de que possa fazer caso. Só quando vim para esta, que ainda não há dois anos, achei, e se acha ainda nela, uma medida velha, que diz o livro dos usos levar três quartos. Hoje já não leva. Esta é tão velha, que não há pessoa alguma que lhe lembre de se fazer, nem de ouvir dizer quando se fez. Já tem alguns remendos de couro pregados no pau, com uma incapacidade muito grande. Não querem os moradores consentir em que se reforme, com o errado juízo de que, em se acabando, não hão-de pagar mais votos à igreja, o que atribuo a serem alguns bastantemente incultos.
Também na parte superior dos passais, junto ao caminho que vai da igreja para a freguesia, daquela distante pouco mais de trinta passos. se acha uma pedra que parece ser sepultura antiga, de que a gente desta faz especialidade, e lhe chama corrupto vocábulo “o moimento”. Tem palmo e meio de largo e sete de comprido. Na parte superior, tem esta figura levantada na mesma pedra:
Nas pontas desta tem duas pedras levantadas acima desta um palmo, mas metidas na terra, e cada uma delas tem, na parte em que tem a face, e uma delas na parte superior, esta que, por todas, fazem três.
Perto desta igreja coisa de dois tiros de espingarda fica, na freguesia de Arentim, a capela da Senhora das Neves, de que não falo, e falará o pároco da dita freguesia.
Nos mais interrogatórios não falo, por não ter neles que dizer. Vai tudo na verdade e, de como assim é, pedi a dois párocos meus vizinhos que este vissem, antepusessem o seu parecer e assinassem, S. Miguel de Cunha e Maio 2 de 1758
O abade Manuel António Coelho.
O cura Manuel Gomes Monteiro.
O abade António Machado da Silveira.
“Cunha”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 12, nº 478, p. 3333 a 3340.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Donim,
O Salvador de
Freguesia do Salvador de Donim, visita do Chantrado da Sé Primacial de Braga Primaz das Espanhas.
Fica esta freguesia na Província do Minho, Arcebispado de Braga, comarca e termo da vila de Guimarães, da Majestade Fidelíssima de Portugal. Tem sessenta e seis vizinhos, a que vulgarmente chamam fogos, e duzentas pessoas. Está situada em vale, nas margens do rio Ave. Não se descobrem dela povoações, suposto dista da vila de Guimarães só légua e meia e pouco mais da cidade de Braga e, da vila da Póvoa de Lanhoso, só uma légua. Compreende os lugares do Forno, Outeiros, Cima de Vila, Quintãs, Lamas, Freixieiro, Eirado, Ponte, Feitel, Carreira, Ruela, Paço, Requeixo e Pedreira, que todos constam de poucos vizinhos, só os dois últimos [são excepções], e ficam todos distando pouco da paróquia, ficando mais próximos a ela a casa do Agrelo e o caseiro da igreja, cujo orago é o Salvador, colocado no altar maior, e, a seu lado direito, Nossa Senhora do Pilar e Santa Bárbara, e, ao esquerdo Jesus Menino e Santo Amaro, que se festeja no seu dia, no qual concorrem várias pessoas das freguesias circunvizinhas, com suas esmolinhas e sinais de milagres, como braços e pernas de cera, o que acontece também algumas vezes pelo discurso do ano.
No corpo da igreja, que consta de uma nave, estão dois altares próximos ao arco e, no da parte direita, as imagens de Nossa Senhora do Rosário, da Conceição e das Neves e, no da esquerda, o de São Sebastião. Contígua à capela maior, da parte do Evangelho, está a capela de Santo António, com altar e imagem do mesmo Santo, comunicando-se para a maior por um arco muito bem formado. Passa de duzentos anos que mandou fazer esta capela o Licenciado António Pires do Canto, abade que foi desta igreja, e deixou réditos para nela dizerem duas missas cada semana, e um carro de pão cada ano, que dele são cinco alqueires, para fábrica da capela, e, os mais, para se repartirem dia de Santo António pelos pobres da freguesia, conforme a necessidade, o que até ao presente se executa, sendo administradores os oficiais da freguesia, presidindo o pároco, e assim consta da instituição.
É esta paróquia abadia, apresentada a oposição pela Mitra de Braga e renderá, de frutos certos e incertos, trezentos mil réis.
Colhe-se algum vinho, azeite e frutas, milhão, abundante, e milho branco, centeio e feijão ordinário.
É regida pelas justiças de Guimarães, de cujo correio se serve, ou de Braga, que partem na sexta e chegam no domingo. E dista de Braga, capital do Arcebispado, pouco mais de légua e meia, e, de Lisboa, capital do reino, sessenta.
Tem fontes de boas águas, não só para o uso mas também para regar.
Tem esta freguesia, do Nascente para o Poente, um pequeno quarto de légua, e, do Sul para o Norte, um grande. Confina do Poente com a freguesia de Santo Estêvão de Briteiros, que antigamente se denominava da Silva Escura, e com a do Salvador de Briteiros, na qual divisão está o pequeno, mas elevado, monte da antiga cidade Citânia, onde se vêem vestígios de ser bem povoada, pelos sinais de casas e muros arruinados, agora tudo monte frio, onde pastam gados e se caçam alguns coelhos e perdizes e não produz senão torga miúda. É estreito e, de comprido, terá meio quarto de légua. Do Norte, parte com as freguesias de Sobreposta e de Pedralva, pelo monte Filgueiras e Monte Alto, tudo sem cultivação nem outro fruto mais que torga rasteira para pastos dos animalejos. Do Nascente, parte com a freguesia de Santo Emilião de Lanhoso pelo monte da Pedreira, que cuido ter tal nome por ser abundante de pedra muito bem fina, da qual se utiliza a vizinhança para edifícios e casas.
Do Sul, parte com a freguesia de Santa Maria de Souto, servindo de baliza o rio Ave, que dizem tem seu princípio distante daqui três para quatro léguas, na freguesia de Rossas e, logo abaixo, em Vieira, se junta outro regato, que principia no elevadíssimo e grande monte da Cabreira, e outro, que nasce em Vieira. Antes que aqui chegue, se lhe juntam mais dois regatos na freguesia de Vilela. Já neste sítio, é caudaloso, mas não capaz de embarcações. Corre do Nascente para o Poente, e não muito arrebatadamente. Cria algumas trutas, escalos, e enguias mas, com mais abundância, bogas e barbos. Neste distrito pescam todos livremente, no tempo que permitem as leis. E, nos reprovados, que são os da criação, pescam muitos, que, se não fosse isso e não houvesse coca, nem lhe lançassem cal e trovisco nas moradas, haveria muitos mais e grandes, para utilidade da república e bem comum. Tem neste distrito duas levadas, ou açudes; numa, dois moinhos e, na outra, quatro. Uma ponte de cantaria, com quatro arcos, apta para todo o uso a que chamam a ponte de Donim. Cultivam-se suas margens e nelas estão algumas árvores silvestres e também castanheiros e parreiras. São boas águas para refrescar e não se usa delas para a cultura, por se não poderem tirar. Morre em Vila do Conde, conservando o nome Ave, suposto daqui até lá se juntem outros. Dizem que daqui a Vila de Conde se contam oito léguas e, do seu nascimento, onze para doze.
É o que me parece ser verdade, e aos mais interrogatórios que não respondo, é que não tenho que lhe dizer.
Salvador de Donim, 11 de Abril de 1758 anos.
José de Araújo, abade do Salvador de Donim.
O padre Francisco Vieira, vigário de Santo Emilião de Lanhoso.
O abade de Santa Maria de Souto, Domingos da Torre.
“Donim”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 13, n.º 25, p. 145 a 147.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Fermentões,
Santa Eulália de
Extracto da freguesia de Santa Eulália de Fermentões, arrabaldes da vila de Guimarães, visita de Sua Alteza Sereníssima Primaz Bracarense. Mandado fazer pelo muito Senhor Desembargador Francisco Fernandes Coelho, provisor deste Arcebispado.
Francisco Xavier, vigário da igreja de Santa Eulália de Fermentões, Arcebispado Primaz, faço certo que esta igreja a apresenta o reverendíssimo Dom Prior da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira da vila de Guimarães, a quem se acham unidos os frutos que, em cada um ano, lhe rendem quatrocentos e sessenta mil réis. E manda pagar ao vigário, de porção, oito mil réis que, junto com pé de altar, fica lucrando, pouco mais ou menos, cinquenta mil réis.
Está situada em fim de um monte, de onde se avistam a vila de Guimarães, que fica próxima, e as freguesias circunvizinhas São Pedro de Azurém, São João de Pencelo, São João da Ponte, Santa Maria de Silvares, São Miguel de Creixomil.
Divide-se em duas partes, uma de cima, outra de baixo. As aldeias que tem é Trandes, Conceição, Ribeirinha, Calçada, Eiradeiras, Laje, Lemos, Selho. Os mais moradores vivem em casais separados uns dos outros, convém a ser: Assento, Penaços, Quinta da Covilhã, Esquerdo, Fervenças, Pinheiro, Rumolha, Quinta de Caneiros, Veiga, Paço, Minotes, Melreira, Vinha, Pereira, Bairro, Bacoreira, Toriz, Cans, Quintãs, Certã, Sesite, Sangres, Loureiro, Lameirão, Moinhos, Chamusca, Matadiços, Brinzel, Amaçor, e a Igreja em meio.
Tem, pessoas de sacramento, quatrocentas e dez, menores, quarenta e três.
Não tem naves. Seu orago é Santa Eulália. Tem cinco altares, a saber, altar-mor, Santo Cristo, Almas, Santo António e Nossa Senhora do Rosário, com irmandade.
Nos limites desta não há ermida de romagem. Há só duas capelas, uma na Quinta da Covilhã, da invocação de São Sebastião, que pertence a Dom Jerónimo de Noronha, outra, na aldeia de Selho, da invocação de São João Baptista, que é de João Caetano Pereira Ferreira, da vila de Guimarães.
Os frutos que os moradores colhem em mais abundância são milhão, milho miúdo, centeio e algum trigo, vinho em quantidade.
Os moradores estão sujeitos às justiças de Guimarães, de onde são vizinhos, e do correio da dita vila se servem, ficando nesta distantes da cidade do Arcebispado de Braga, três léguas, e da capital de Lisboa, sessenta.
Tem esta freguesia nove moradores privilegiados, com privilégio de Nossa Senhora da Oliveira, da vila de Guimarães.
No terramoto de mil setecentos e cinquenta e cinco não houve ruína alguma.
Pelo meio desta freguesia passa um pequeno rio, chamado sempre de Selho. Tem o seu nascimento da parte do Nascente, numa famosa fonte que sai debaixo de uma capela chamada a capela de São Torcato Velho, por nesse lugar aparecer o dito Santo, na freguesia de São Torcato, distante desta, pouco mais ou menos, uma légua, e em outra tanta distância se incorpora, correndo ao Poente, com o rio Ave. Cria algumas bogas e escalos, de que os naturais da terra se aproveitam, mas não podem usar de suas águas para a cultura dos campos. Tem levadas para guiar os moinhos, que nos limites desta freguesia têm rodas de moer milho de segunda, vinte cinco, e de trigo, doze, que todo ano dão sortimento de farinhas à vila de Guimarães e aos mais moradores circunvizinhos. O seu curso é quieto, por entre campos que se cultivam com vasto arvoredo de fruto, e, nos limites desta freguesia, tem três pontes de pau, primeira na Quinta de Covilhã, segunda do Casal de Fervenças, terceira na Quinta de Caneiros, e três de pedra, primeira no lugar de Trepacido, segunda no de Minotes, terceira nas Coradeiras, e esta é a de maior serventia, por ser a estrada pública de Guimarães para Braga.
Nesta não há serra, nem coisas mais dignas de memória de que faça menção, conforme contêm os interrogatórios de que fui entregue. Passa na verdade, em fé de que assino com o reverendo abade de São João de Pencelo, António José de Araújo, e o reverendo Francisco Dias de Miranda, vigário de São Pedro de Azurém, párocos mais vizinhos desta.
Santa Eulália de Fermentões, 10 de Maio de 1758 anos.
O vigário Francisco Xavier.
Francisco Dias de Miranda, pároco de S. Pedro de Azurém.
António José de Araújo, abade de S. João de Pencelo.
“Fermentões”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 16, n.º 188, p. 1143 a 1145.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Figueiredo,
S. Paio de
Freguesia de São Paio de Figueiredo.
1.º Esta freguesia é da Província do Minho, situada no termo da vila de Guimarães e Arcebispado Primaz de Braga.
2.º É vigairaria que apresenta o prior de São Vicente de Fora, da cidade de Lisboa.
3.º Tem cinquenta e três vizinhos, pessoas de sacramento, cento e cinquenta e cinco, casados, vinte e oito, viúvos e viúvas, catorze, solteiros e solteiras, doze, menores, vinte e três, ausentes, dezanove. É freguesia pequena.
4.º Está situada num vale entre Braga e Guimarães e entre dois montes, da parte do Sul o monte de São Miguel e, da parte do Norte, o monte de São Bartolomeu. Distante da cidade de Braga duas léguas e, da vila de Guimarães, légua e meia. E os casais, quase todos, pagam foro à Senhora Rainha, no celeiro do Reguengo de Guimarães. E desta freguesia somente se descobre e avista a vila de Guimarães, que fica para a parte do Nascente, e os montes de Pombeiro e Barrosas.
5.º 6.º É esta freguesia do termo de Guimarães e tem dezassete aldeias pequenas, a saber, Entre-as-Latas, Fonde Vila, Serrado, Anta, Bouça, Corujo, Outeiro, Moinho, Carvalho, Delgado, Maia, Além, Sepielos, Laje, Pedernelo, Rama, Assento.
7.º O orago desta freguesia é São Paio de Figueiredo. A igreja tem quatro altares. O altar-mor é do padroeiro, o senhor São Paio, o segundo, da parte direita, é de São Brás e, no seu dia, há grande romaria. O terceiro altar, que fica à parte esquerda, é de Nossa Senhora da Purificação, e o quarto, que está no meio da igreja, é de Cristo Crucificado. A igreja é pequena, comprida, estreita, de uma nave. Não tem irmandades.
8.º O pároco desta freguesia é vigário ad nutum, que apresenta o prior do Real Mosteiro de São Vicente de Fora de Lisboa. A renda que tem o vigário são onze mil réis, três libras de cera, dois alqueires de trigo e dois almudes de vinho, que lhe pagam os religiosos, e mais o pé de altar e nada mais. E tem um campo que não tem água, que dará, um ano por outro, quinze rasas de pão e uma pipa de vinho. A renda dos dízimos vai para os religiosos de São Vicente de Fora de Lisboa que, um ano por outro, serão duzentos mil réis.
13.º Tem esta freguesia duas ermidas ou capelas. Uma é de São Roque e é confraria de Almas com seu Breve Pontifício e indulgências em todas as segundas-feiras para os irmãos que nela entram, e tem bastantes, assim eclesiásticos, como seculares. Terá esta confraria do Senhor São Roque de rendimento, entre dinheiro e medidas de pão e de vinho, sessenta e tantos mil réis em cada um ano. A outra capela é da Senhora do Livramento e está numa Quinta de um cavalheiro da vila de Guimarães chamado Paulo de Melo e é sua esta capela. Não há mais.
15.º Os frutos que a terra produz em mais abundância vêm a ser milho chamado maís grosso, centeio, milho miúdo e vinho verde, trigo, muito pouco.
16.º Não há juiz ordinário nem espadano. Governa o juiz de fora de vara branca de Guimarães. Nesta freguesia não há homem de distinção assim de letras, armas ou virtude conhecido.
20.º Os moradores desta freguesia se correspondem pelos correios de Braga e Guimarães.
23.º Há águas usuais, sem virtude, todas nascem de pedras e serras.
26.º Pela bondade de Deus, não houve perigo no dia do terramoto.
E não há mais coisa alguma de memória nesta freguesia, a qual dista do rio Ave e Ponte de São João, meia légua, indo para a vila de Guimarães. E suposto não falo a todos os interrogatórios na ordem apontados é por não ter que dizer, nem que a eles responder. Passa na verdade, o que sendo necessário confirmo in verbo sacerdotis. São Paio de Figueiredo, 22 de Maio de 1758.
O vigário Manuel Freire Pedrosa.
O vigário José Rebelo de Matos e Araújo, pároco de S. Martinho de Leitões.
Francisco Rodrigues da Silva Mendes Perigo.
O abade, Diogo Manuel de Lima Melo.
“Figueiredo”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 15, n.º 74, p. 469 a 471.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Gandarela,
S. Salvador de
Freguesia de S. Salvador de Gandarela, visita da 3.ª parte de Sousa e Ferreira.
1.º Esta freguesia do Salvador de Gandarela está na Província de Entre-Douro-e-Minho, é do Arcebispado de Braga Primaz, a metade para o Poente é termo de Barcelos e a outra metade para o Nascente é termo de Guimarães, comarca eclesiástica de Braga, secular de Barcelos.
2.º Esta igreja do Salvador de Gandarela é de apresentação ordinária.
3.º Tem, ao presente, cinquenta e oito fogos, cento e quarenta e seis pessoas de sacramento, menores, dezanove.
4.º Está situada numa portelada e descobre pouco da mesma freguesia.
5.º Não tem termo, nem lugares juntos.
6.º Está esta igreja situada no meio da freguesia, sem ter vizinhos alguns ao redor. Tem os lugares seguintes: Passomeão, Mirão, Combro, Carvalhos, Gordigo, Casal do Monte, Boquinha, Perguiceira, Castanheiro, Chafariz, Outeiro, Quintã, Cubelos, Mundim, Casas Novas, Portelas.
7.º O orago desta igreja é S. Salvador de Gandarela. Tem três altares, o de S. Salvador, que está na capela-mor, o de Nossa Senhora do Rosário e o de S. Sebastião. Tem uma irmandade de Nossa Senhora do Rosário.
8.º É esta igreja abadia. É apresentação do ordinário. Renderá cento e cinquenta mil réis.
9.º Não tem beneficiados.
10.º Não tem convento, nem religiosos.
11.º Não tem hospital.
12.º Não tem casa de Misericórdia.
13.º Não tem capela alguma.
14.º Nada.
15.º Dá-se nesta freguesia pão de segunda, vinho verde, linho, feijão de toda a casta, frutas e azeite.
16.º Está metade sujeita à justiça de Barcelos e, a outra metade, à de Guimarães, por partir os terrenos pelo meio da freguesia.
17.º Não tem couto, nem é cabeça de concelho, nem comarca.
18.º Nada.
19.º Nada.
20.º Não tem correio. Serve-se do de Guimarães, por ficar distante uma légua.
21.º Está esta igreja arredada de Braga três léguas e, da de Lisboa, sessenta.
22.º Nada.
23.º Nada.
24.º Nada.
25.º Nada.
26.º Não padeceu ruína alguma no terramoto de 1755.
27.º Não tem esta freguesia montes e fica ao pé de um pequeno monte, que se estende para a parte do Norte um quarto de légua, chamado da Senhora de Monte.
Não tem serras, nem rios de que se faça menção.
Gandarela 22 de Maio de 1758 anos.
O encomendado José de Almeida Coutinho e Vasconcelos.
O abade José de Meneses Bernardes.
O vigário João Luís Portela.
“Gandarela”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 17, n.º 15, p. 61 a 63.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Gémeos,
Santa Maria de
Informação do que contém a paroquial igreja de Santa Maria de Gémeos, que me mandou fazer o muito Reverendo o Senhor Doutor Provisor deste Arcebispado Primaz, pelos interrogatórios inclusos.
Está esta paróquia na ribeira de Vizela, Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado Primaz, comarca e termo da vila de Guimarães. Não me consta que desta ribeira seja senhor senão o Senhor Dom José Primeiro, Rei Fidelíssimo de Portugal.
Tem esta paróquia cinquenta e quatro fogos, ou casas, em que moram seus fregueses, e, feita a conta de adultos e menores, compreende o número de cento e sessenta e seis pessoas que assistem nela.
Está situada num monte, porém todas, ou quase todas, as suas terras são cultivadas. E dele, ou deste sítio, se descobre para a parte do Nascente, ainda que mais para o Sul, o monte chamado de Santa Quitéria, onde a mesma santa tem um majestoso templo, e, para o Sul, se descobre o monte de São Martinho, onde estão situadas três paróquias que desta igreja se avistam e são São Jorge de Vizela, São Martinho de Penacova e Santa Comba de Regilde. Todas estas paróquias distam desta de Gémeos um quarto de légua, pouco mais ou menos.
Está situada a igreja quase no meio da freguesia e os casais que estão no seu distrito são os seguintes: Casal ou lugar da Cruz, e mais dois vizinhos, Badoucos, Greioadelo, são dois vizinhos, Costeiras, Quintã de Baixo, Quintã de Cima, e estes tem cada um o seu vizinho, Vale, Ribeiro de Calvos, um vizinho, Galhufe um vizinho, Paivilão, um vizinho, Novelo, Miranda, um vizinho, Serquido, Regueiras, Lugar do Passo, que tem cinco vizinhos, Valverde, um vizinho, Chãos, lugar do Souto de Versas, que tem em si oito vizinhos, Bouça Velha, Bouça Nova, Portelinha, Venda da Costa, Casal de Estêvão, Eirigo, Vilaverde, um vizinho, Cide Velho, um vizinho, Cide Novo, Lugarinho, Bairro, Monte do Bairro, um vizinho.
A Virgem Maria Nossa Senhora, com o título ou invocação da Senhora do Ó, é orago desta paroquial igreja, e esta tem uma só nave e três altares. O maior, em que está o Santíssimo Sacramento, e, da parte do Evangelho a padroeira, a Virgem Maria Senhora Nossa, e, da Epístola, o Senhor São José. Tem mais dois altares, um da Senhora do Rosário, da parte do Evangelho, e outro, do Mártir São Sebastião, da parte da Epístola. Não tem irmandades, nem confrarias, só a do Santo Nome de Jesus, muito pobre, e a confraria do Santíssimo Sacramento, também pobre, porque ainda há poucos anos que, com licença do ordinário, se colocou.
O pároco desta igreja ou benefício é abade e é apresentação de Roma ou de Braga, por concurso. Renderá, um ano por outro, com a sua anexa São Cristóvão de Abação, vizinha desta e apresentação dos abades deste benefício, quatrocentos mil réis, ainda que agora não rende tanto para o abade actual, porque paga de pensão duzentos e cinquenta mil réis ao abade de São Pedro de Britelo, João Borges Morais.
Não há nesta igreja beneficiados, nem conventos, nem hospital algum, nem casa de misericórdia, nem ermidas ou capelas em todo o seu distrito.
Os frutos que os lavradores costumam colher são todas as espécies de pão. Porém, em mais abundância, respeito das mais espécies, é milhão. Também vinho verde recolhem bastante, quando Deus o permite.
Estão os moradores desta freguesia sujeitos à câmara e ministros da justiça da vila de Guimarães.
Não me consta, nem tenho notícia, que desta freguesia saíssem homens insignes em virtudes, letras e armas.
Não há nesta freguesia feira alguma em todo o ano e costumam ir a elas, todos os sábados do ano, a Guimarães, para comprarem e venderem o que lhes é necessário.
Nem tem correio, só o de Guimarães, onde vão b otar as cartas para todas as partes do reino e tirá-las no domingo à noite, que é quando chega do Porto o correio, e costumam votarem-se as cartas no dito correio de Guimarães todas as quintas-feiras para, nas sextas-feiras, partir para cidade do Porto.
A distância desta freguesia à dita vila Guimarães será coisa de uma légua e quatro léguas à cidade de Braga, capital deste Arcebispado Primaz, sessenta, pouco mais ou menos, a Lisboa, cidade capital deste reino.
Não me consta que tenha esta freguesia alguns privilégios, antiguidades ou coisas notáveis e dignas de memória, nem lagoa ou fontes especiais e dignas de lembrança. Agora, fontes das que chamam comuns, tem bastantes e as que são necessárias para os moradores desta freguesia e seus gados poderem viver. Não é, nem há, porto de mar ou fortes, nem fortalezas, torres ou muralhas.
No terramoto do ano de 1755, seja Deus louvado, não padeceu esta freguesia ruína alguma.
E não vejo mais nesta matéria de que possa informar, por não haver nesta freguesia coisa alguma digna de memória.
E, como nesta freguesia não há serra, por isso não tenho que informar neste particular.
Coisa de meio quarto de légua de distância desta igreja, passa o rio chamado de Vizela que, por passar pelo meio desta ribeira, assim chamada e bem nomeada, é que entendo tem o nome de rio de Vizela. Este me dizem tem seu princípio ou nascimento na serra ou monte da Lagoa, porém principia muito diminuto e assim vem correndo, até à ponte chamada de Bouças, onde se lhe juntam dois rios, porém pequenos, e assim vem correndo por esta ribeira e, a Santo Tirso, se lhe junta o rio Ave e, incorporado com este, se vai meter em Vila de Conde e depois no mar. No tempo de Inverno, corre bastantemente cheio e, de Verão, muito diminuto, de sorte que muitas vezes se passa a pé. Não é navegável, nem capaz de embarcações, só de algum barquinho para se recriar algum curioso, nem neste meu distrito é de curso arrebatado. Corre do Nascente para o Poente.
Cria algumas trutas, porém contadas e muito poucas. Com mais alguma abundância, cria bogas e algumas enguias. Não há nele, que eu saiba, pescarias, só as que fazem no Verão alguns curiosos e estas são livres e de quem quer ir pescar.
Os campos das suas margens são cultivados, ainda que no tempo do Inverno padecem, às vezes, seu detrimento, por causa das enchentes, de sorte que tem sucedido entrar pelos campos e levar as sementeiras, deixando-as cheias de areias.
Não me consta tenham as suas águas virtude alguma particular e digna de memória. As árvores que tem ao redor, de uma e outra parte, são em maior número amieiros e salgueiros, e poucos carvalhos ou castanheiros. Porém, quase todas dão vinho verde, por razão das vides que em si tem.
Tem, neste meu distrito, as pontes de Pombeiro, Ponte Nova, Ponte das Caldas, Ponte de Negrelos e estas de cantaria e de pau. Tem a da Ribeira, a da Senra e a de Vila Fria e entendo que em toda a sua distância muitas mais pontes terá.
Consta-me que tem muitos moinhos e azenhas em toda a sua distância, porém, não sei, nem ouvi, que nele se achasse algum dia, nem ao presente, ouro ou prata.
Consta-me também que alguns lavradores regam os seus campos com as águas deste rio, se com pensão ou livres, não o sei.
Pouco mais ou menos, desde que nasce este rio, até se meter no mar, 14 ou 15 léguas de comprido ou distância, é que terá.
Isto é o que posso informar desta minha freguesia a respeito dos interrogatórios inclusos. Passa na verdade, o qual assino e vai assinado pelo reverendo Miguel Soares da Costa, vigário de São Lourenço de Calvos, e o reverendo Francisco Leite Soares, vigário de São Cristóvão de Abação, ambos vizinhos desta minha igreja.
Santa Maria de Gémeos, 18 de Maio de 1758.
O vigário Miguel Soares da Costa.
O vigário Francisco Leite Soares.
O abade José Filipe da Costa.
“Gémeos”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 17, n.º31, p. 159 a 163.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Gominhães,
S. Pedro Fins de
Em cumprimento de uma ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor deste Arcebispado Primaz, em que manda responder aos interrogatórios impressos, certifico eu, o Padre António Martins Beleza, abade da igreja de São Pedro Fins de Gominhães, termo da vila de Guimarães, Arcebispado Primaz, visita de Monte Longo, que esta minha igreja tem vinte e um fogos e setenta e cinco pessoas de sacramento maiores e cinco menores, e tem outros fregueses que, um ano, pertencem a esta igreja e, em outro, à igreja de São Torcato e se chamam meeiros e constam de vinte e quatro fogos e oitenta e duas pessoas de sacramento maiores e seis menores.
Está situada num vale rodeado de montes pela parte do Norte, Nascente e Poente, e dela somente se descobre a freguesia de Santa Maria de Atães, parte da freguesia de São Torcato e de São Lourenço de São Cosme e Rendufe, que ficam para a parte do Sul, em distância de um quarto de légua.
No lugar chamado da Igreja está situada a matriz e os mais lugares da freguesia são o Passo, Soutinho, Nogueira, Bouça da Gateira, Vale, Picoto de Baixo, Picoto de Cima, Picoto de Além, Valinho, Fontela.
Os lugares dos meeiros são o Arrabalde, Almeida, Quinta, Portela, Aldeia de Baixo, Aldeia de Cima, Garei de Baixo, Garei de cima, Casanova, Bouça, Cerca.
O orago desta igreja é São Pedro ad Vincula1. E tem ela três altares, o maior de São Pedro, e dois colaterais, um da Senhora do Rosário e o outro de São Sebastião. E tem uma só confraria, que é do Santo Nome de Jesus.
Na parte dos meeiros está sita uma capela grande da invocação de Nossa Senhora do Bom Despacho, a qual tem altar maior, em que se diz missa, e dois colaterais, que servem só de ornato, e no maior está colocada a imagem de Nossa Senhora, com o título do Bom Despacho. Tem esta capela coro e sacristia e uma torre com um sino grande e outro pequeno e uma irmandade da mesma Senhora, de muitos irmãos. A ela concorrem de romaria muitas pessoas, principalmente no dia da festa, que se celebra na segunda oitava da Páscoa de cada um ano.
É esta igreja abadia da apresentação ordinária da Mitra Primacial e rende, um ano por outro, duzentos e trinta mil réis.
Os frutos que se dão nesta freguesia mais principalmente são milhão, centeio, milho alvo, painço e trigo, feijões, vinho, castanhas, landres e frutas de toda a casta.
É esta freguesia sujeita às justiças da vila de Guimarães, da qual dista somente meia légua, de cujo correio se serve, e da cidade de Braga, duas léguas e meia, e da Corte de Lisboa, sessenta.
Há nesta freguesia três privilégios da Senhora da Oliveira.
No terramoto do primeiro de Novembro de mil e setecentos e cinquenta e cinco ficou livre de dano nos edifícios, ainda que foram combatidos sensivelmente por espaço de cinco ou seis minutos.
Tem esta freguesia um ribeiro, que a divide ao meio, ficando os fregueses inteiros para a parte do Poente e os meeiros para o Nascente. Se chama o ribeiro da Gateira, de cujas águas se utilizam os moradores para regarem os seus campos, e há nele doze moinhos de moer pão, tendo a sua origem no lugar de Vilar de Airão, se mete no princípio do rio de Selho, no sítio chamado da Grila, da freguesia de São Torcato, a pouca distância desta freguesia, na qual não há coisa alguma mais de que se possa dar notícia correspondente aos interrogatórios. O que passa na verdade em fé, de que me assino com o reverendo abade de Prazins e o reverendo vigário de São Lourenço, párocos vizinhos.
Hoje de Abril 8 de 1758 anos.
O abade António Martins Beleza. O abade Bento da Cunha Pinto.
O vigário António Mendes Teixeira.
“Gominhães”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 17, n.º 64, p. 343 e 344.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Gonça,
S. Miguel de
Obedecendo à Ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor deste Arcebispado Primaz, satisfaço aos interrogatórios que com ela me foram remetidos, na forma seguinte.
É esta igreja do orago e título de S. Miguel de Gonça. Tem cinco altares. O altar-mor e principal, com tribuna sacrário com o Santíssimo Sacramento, dois no arco da igreja, fazendo frente para a porta principal, o do lado direito com a imagem de Nossa Senhora do Rosário e o do lado esquerdo com a do Santo Cristo. Tem os outros dois altares colaterais, um na nave sinistra, com a imagem de S. Mateus, advogado das cambras, onde, no seu dia, concorre muito povo de várias partes, gratificando-se benefícios e milagres com suas esmolas. E outro, correspondendo com este na nave direita, com a imagem de S. Caetano em que está erecta uma irmandade com Breve Pontifício, com muitas indulgências, e privilegiado o altar todas as sextas-feiras do ano.
É esta igreja templo ordinário e moderno suficientemente ornado. Não tem torres e tão somente um torreão encostado à fronteira e nave esquerda, com um sino. Está situada num alto e próxima à casa da residência e a uma estrada pública e passagem contínua para a vila de Guimarães e outras mais partes.
É abadia de renúncia e da Mitra Primacial. Costumam andar arrendados os dízimos em duzentos e trinta mil réis, e, com o pé de altar e passal, rende tudo, pouco mais ou menos, trezentos mil réis.
Tem esta freguesia nove lugares, silicet, Vilarinho, Costa, Real, Paço, Fondevila, Agrelo, Fontelha, Silva e Portela e tem noventa e quatro fogos e trezentas e quarenta e cinco pessoas.
É do termo e comarca da vila de Guimarães, Arcebispado Primaz. É terra de el-rei. Não se descobre povoação alguma populosa. Dista da vila de Guimarães uma légua, da cidade de Braga três, da do Porto nove e da de Lisboa cinquenta e nove.
Tem uma capela esta freguesia, da invocação de Santo António, com obrigação de missa para os viandantes, aos domingos e dias santos, de que ao presente é administrador Paulo da Fonseca. Tem mais capelas ou ermidas, em que se não diz missa, uma da denominação de S. Domingos e outra de Nossa Senhora de Guadalupe, ambas em monte, e a outra de Santo António, no meio da freguesia, em pouca distância da igreja, e nenhuma é de romagem.
Os frutos desta terra, em maior abundância, são milho grosso, feijões, centeio, milho branco, algum painço e pouco trigo, vinho verde, azeite, o necessário, e castanhas e fruta.
São estes os interrogatórios a que podia responder, que dos mais não sei nada, por não pertencerem a esta terra, nem também coisa alguma notável e digna de memória que se possa transcrever. E por verdade assinam aqui comigo dois reverendos párocos circunvizinhos.
São Miguel de Gonça, 2 de Maio de 1758.
Do abade de Gondomar, Custódio do Vale e Araújo.
Do vigário de São Torcato, Manuel Ferreira Cardoso.
O abade Francisco da Fonseca e Araújo.
“Gonça”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 17, n.º 65, p. 345 a 346.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Gondar,
S. João Baptista de
Em observância a uma ordem que, por justíssima disposição de Sua Majestade Fidelíssima e acomodatíssima intimação do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor da cidade, Arcebispado de Braga Primaz, me foi apresentada com uns interrogatórios a respeito das coisas notáveis desta freguesia, o que posso dizer é o seguinte.
Notícia das coisas notáveis desta freguesia de São João Baptista de Gondar.
A freguesia de São João Baptista de Gondar está na Província de Entre-Douro-e-Minho. É do Arcebispado de Braga, Primaz das Espanhas, comarca da mesma cidade e termo da vila de Guimarães e de apresentação do Padroado Real.
Tem cem vizinhos. Tem duzentas e noventa pessoas, entrando neste número os menores.
Tem vinte e nove lugares, todos pequenos e de poucos moradores, convém a saber, o lugar da Igreja, Canas, Emboladoura, Ponte, Caíde, Boco, Silva, Olival, Soeiro, Castanheiro, Bouça, Brandião, Outeiro de Além, Outeiro de Aquém, Casais, Moinhos, Pousada, Tojal, Estrada, Boavista, Soutinho, Lamas, Gonceiro, Cabreira, Conca, Monte, Lájea, Campos, Cedofeita e Devesa.
Está situada esta freguesia em ribeira, com seus altos e baixos. A paróquia está no meio da freguesia, em sítio airoso e alegre, por ser desafogado e juntos somente há as casas da residência do pároco e mais dois caseiros da mesma igreja. O seu orago, como já disse, é São João Baptista, cuja imagem está colocada no altar maior, onde está também colocado o tabernáculo do Santíssimo Sacramento. Tem mais dois altares colaterais, um da parte do Evangelho, com a imagem de Nossa Senhora do Rosário, outro da parte da Epístola, com a imagem de São Sebastião. Tem duas irmandades, uma do Santíssimo Sacramento, outra de Nossa Senhora do Rosário. É igreja abadia e renderá duzentos e cinquenta mil réis, cujos frutos em maior abundância são vinho verde, pão de centeio, milho alvo, milhão e também painço, feijão e algum azeite, frutas, castanhas e bolotas de carvalhos.
Serve-se do correio da vila de Guimarães, de onde dista uma légua. E da cidade de Braga, capital deste Arcebispado, dista três léguas, e de Lisboa, capital deste Reino, dista cinquenta e sete léguas.
E não padeceu ruína no terramoto do ano de 1755, senão algumas aberturas nas paredes da igreja e de algumas casas, porém tão leves, que não necessitam de se reparar ao presente.
Esta freguesia está situada entre dois rios, porque da parte do Norte corre o rio Ave, de Nascente a Poente, e, da parte do Sul corre o rio Selho, também de Nascente a Poente. O rio Ave nasce na serra da Cabreira, terá de comprido treze léguas e entra no mar na barra de Vila do Conde, conservando sempre o mesmo nome desde o seu nascimento até ao seu ocaso e nesta freguesia corre quieto. Cria peixes miúdos, bastantes, de espécie bogas, enguias e, mui raras vezes, aparece alguma truta, os quais se pescam quase todo o ano livremente, por pessoas curiosas, à cana, com chumbeiras e alvitanas e mingachos, que todas estas três castas de redes são de se lançar e levantar logo no mesmo tempo.
Nas margens deste rio há alguns campos cultivados e árvores com vides e outras sem elas, quase todas silvestres. Tem este rio uma ponte chamada a ponte de Serves, entre esta freguesia e a de São Pedro de Pedome, que é do termo da vila de Barcelos, a qual ponte é de cantaria e segura e antiga. Tem também nos limites desta freguesia o dito rio uma levada, com cuja água mói uma azenha, da parte desta freguesia, e outra, da parte da supra freguesia de Pedome.
O outro rio, chamado o Selho, é pequeno e alguns anos seca de todo e corre alguma coisa quieto. Tem de comprido duas léguas pequenas. Nasce e começa entre as freguesias de Gonça e de São Torcato, para cima de Guimarães, e fenece no rio Ave, no fim dos limites desta freguesia e da de Serzedelo, de orago de Santa Cristina, do termo de Barcelos. No qual rio também se criam alguns peixes das espécies acima ditas, pela comunicação que tem com o dito rio Ave, e se pescam também livremente, do mesmo modo que no rio Ave. Tem o dito rio, nos limites desta freguesia, catorze moinhos de pão de mistura e um de azeite. Também tem uma ponte de cantaria de um só arco, entre esta freguesia e a de Santa Cristina de Serzedelo, acima dita. E, pouco acima desta ponte e do moinho de azeite, se tira um rego de água livre, para limar e regar alguns campos desta freguesia, situados nas suas margens e nas do Ave, em cujas margens também há algumas árvores silvestres, umas com vides e outras sem elas. A dita ponte se chama a ponte de Soeiro.
Quanto aos mais interrogatórios, não tenho que dizer, por não haver dentro dos limites desta freguesia coisa alguma das que neles se contêm, o que tudo passa na verdade, em cuja fé me assino, com os dois reverendos párocos vizinhos, abaixo declarados e assinados. Hoje, em Gondar, aos 15 de Maio de 1758 anos.
O abade Luís Salgado.
João da Cunha e Freitas, vigário na paroquial igreja de São Jorge de Cima de Selho.
Bento Fernandes, vigário da freguesia de São Cristóvão de Cima de Selho.
“Gondar”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 17, n.º 68, p. 357 a 359.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Gondomar,
S. Martinho de
Freguesia de S. Martinho de Gondomar.
Fica na Província de Entre-Douro-e-Minho, pertence ao Arcebispado de Braga, é do termo da vila de Guimarães e é de el-rei Nosso Senhor.
Tem duzentas e oito pessoas.
Está situada num vale pegado a um monte que se chama de São Simão e não se descobrem povoações.
Tem quatro lugares, o lugar de Requião, lugar do Souto, lugar do Carvalho, Lugar do Cabo.
Está a paróquia no meio dos lugares. O seu orago é São Martinho. Tem quatro altares. Da parte esquerda, um das Almas e outro do Sacramento, e, da parte direita, o altar do Santo Nome e o altar-mor, onde está o padroeiro. Tem duas irmandades, uma das Almas e a outra do Sacramento, e não tem naves. O pároco é abade é da apresentação do Arcebispo de Braga. Tem duzentos mil réis de renda. E tem duas capelas, uma é da Senhora da Ajuda e a outra é do Apóstolo São Simão. A da Senhora está dentro da freguesia, a outra está fora. Pertence a sua administração ao próprio abade. Só acode gente no dia em que se festeja o Apóstolo São Simão, e não mais.
Os frutos que os lavradores recolhem em maior abundância são milhão e vinho.
E serve-se do correio de Guimarães e dista duas léguas, e dista da cidade capital de Braga, duas, da cidade capital do Reino, sessenta.
E não padeceu ruína no terramoto de 1755.
Chama-se a serra de São Simão. Terá uma légua de comprido e meia légua de largo. É abundante de caça, coelhos e perdizes.
Chama-se o rio de Ave, nasce na Cabreira, corre todo o ano, não é caudaloso e não é navegável. É de curso quieto em toda a sua distância. Corre de Nascente a Poente. Cria peixes, e os de maior abundância são barbos e bogas, e tem muito arvoredo de fruto silvestre. Conserva o mesmo nome, morre no mar. Tem açudes, pelo que não pode ser navegável, e tem azenhas e lagares de azeite e pisões. Tem de comprido, de onde nasce até onde entra, doze léguas. E não há coisa alguma de que eu possa dar reposta.
Gondomar 16 de Abril 1758 anos.
O abade Custódio do Vale e Araújo.
O abade de Santa Maria de Souto, Domingos da Torre.
“Gondomar”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 17, n.º 76, p. 410 e 411.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Guardizela,
Santa Maria de
Freguesia de Santa Maria de Guardizela, visita de Sousa e Ferreira.
1. Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga Primaz, termo de Barcelos, comarca de Braga, onde está situada esta dita freguesia de Santa Maria de Guardizela.
2. Esta igreja de Santa Maria de Guardizela é de apresentação do ordinário, com alternativa aos padres crúzios do mosteiro de Landim.
3. Tem, ao presente, cento e vinte fogos, trezentas e trinta pessoas de sacramento, setenta menores.
4, Está situada em ribeira, e não se descobre mais que a própria freguesia.
5. Não tem termo seu, nem lugares juntos.
6. Está esta paróquia no meio desta freguesia, sem ter vizinhos ao redor. Tem os lugares seguintes, a saber, lugar do Monte, Freixieiro, Guarda, Pinheiro, Souto, Vila Verde, Devesa, Além, Torres, Esplenderiz, Sacoto, Bouçó, Cotiães, Vales, Costeira, Pardelhas, Ribeira, Pereiras, Cima de Vila, Carvalhal, Penso, Pedrais.
7. O orago desta igreja de Guardizela é Nossa Senhora da Expectação, tem quatro altares: o altar-mor, e o do Santo Cristo, e o de Nossa Senhora do Rosário e o de S. Miguel Anjo. Há duas irmandades, a do Rosário e a de S. Miguel Anjo, protector das almas, e todos os altares têm imagens de vários santos.
8. É esta igreja abadia, apresentação do ordinário, com alternativa aos padres crúzios de Landim. Renderá quatrocentos e cinquenta mil réis.
9. Tem um beneficiado, com cem mil réis de renda em vida.
10. Não tem convento, nem religiosos.
11. Não tem hospital.
12. Não tem casa da misericórdia. Deus a tenha connosco.
13. Tem uma capela de São Bento, com seus legados em dia de São Gonçalo, em dia de São Bento e em dia de Santo António. Administrador, Bernardo de Fonseca. Há outra ermida de Santa Luzia e
14. vêm a elas as pessoas das freguesias vizinhas, em seus dias.
15. Dá-se nesta freguesia bom centeio, milho branco e painço, muito milhão, feijão de toda a casta, linho, muita fruta de várias castas, vinho verde, azeite, castanha e landre.
16. Está sujeita à justiça do termo de Barcelos.
17. Não é couto, nem cabeça de concelho.
18. Nada.
19. Nada.
20. Não tem correio. Serve-se do de Guimarães, por ficar distante uma légua.
21. Está esta igreja arredada de Braga três léguas, e de Lisboa sessenta.
22. nada.
23. Nada
24. Nada.
25. Nada.
26. Não padeceu ruína alguma no terramoto de 1755.
Não tem esta freguesia montes, nem serras consideráveis, nem rios de que se faça menção.
Guardizela, 22 de Maio de 1758.
Abade José de Meneses Bernardes.
O Encomendado de Gandarela, José de Almeida Coutinho e Vasconcelos.
O vigário João Luís Portela.
“Guardizela”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 18, n.º 120, p. 681 a 682.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Infantas,
Vila Nova das
Satisfazendo a uma ordem deambulatória que recebi do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor deste Arcebispado, com uns interrogatórios inclusos para dar a execução ao que delas ordena Sua Majestade Fidelíssima, o que posso dizer é o seguinte.
Chama-se a esta freguesia Vila Nova dos Infantes [sic]. É do termo da vila de Guimarães, comarca e Arcebispado de Braga Primaz das Espanhas. Têm domínio directo nela os religiosos do real mosteiro de Santo Tirso de Riba do Ave, Bispado do Porto. Utilizam-se dela por prazos os lavradores da mesma. É mediana, tem trezentas pessoas de maior e, menores, vinte. Avizinha, pela parte do Norte, com a freguesia de Santo Romão de Mesão Frio e, pela do Sul, com a de Santo Martinho de Fareja e, pela do Nascente, com a de Cepães e Santa Cristina de Arões e, pela do Poente, com a de Santa Maria de Matamá. É da Província de Entre-Douro-e-Minho.
Está situada esta freguesia numa ribeira, onde seu princípio tem a do Vizela. É aclive para as partes do Poente e Nascente. Daqui tem sua situação na raiz do monte de Santo Silvestre e, para o Norte, atinge as fraldas do monte de Santo Antonino. Descobrem-se dela algumas freguesias circunvizinhas e muitos montes circunvizinhos e outros muito distantes, até ao Marão, que dista daqui sete léguas, parum minusve(*), e também até à serra da Lameira, que dista daqui duas léguas. Compõe-se esta freguesia de vinte e dois lugares, scilicet, Burgueiros, Sebelo, São Paio, Feruz, Castanheira, Outeiro, Carreiro, Casal, Forte, Paço, Serviçaria, Retorta, Pupa, Fojo, Fervença, Barreiro, Corujeiras, Fonte, Outeirinho, Souto, Ribeiro, Assento, todos vizinhos uns com os outros.
Está a igreja quase no centro da freguesia situada, num altozinho de onde se descobre quase toda. O orago da mesma é a Senhora de Assunção. A igreja é mediana, feita de pedra grossa. Tem três altares, um principal e dois colaterais. Naquele está colocado o Santíssimo Sacramento e, da parte direita, está a Senhora de Assunção e, da esquerda, a Senhora Santa Ana e, no meio, o Menino Deus e pastor. No da parte do Evangelho, está a Senhora do Rosário e, no da Epístola, uma imagem do Senhor Crucificado, com o título do Senhor dos Aflitos e, juntamente, Santo Sebastião e Santo Caetano. Não tem naves. Há duas confrarias, uma do Rosário, outra do Santíssimo Sacramento per modum viatici.
O pároco é vigário ad nutum, removível, apresentado pelos religiosos de Santo Tirso, com consentimento do ordinário. Tem para sua côngrua o pé de altar e vinte mil réis, que lhe dá o mosteiro de Santo Tirso, e duas libras de cera, dois alqueires de trigo com dois almudes de vinho pro labore. E, para o mesmo mosteiro, rendem os dízimos trezentos e sessenta mil réis. Aqui não há beneficiados, alguns clérigos sim. Também não há ermidas, nem capelas, excepto uma particular na Quinta de Corujeiras, de quem é senhor Dom António de Noronha Mesquita e Melo, fidalgo da Casa Real. Nesta capela está o Senhor com a Cruz às costas. Aqui costuma ir a freguesia em procissão todos os anos, em vinte de Janeiro.
Os frutos desta terra são milhão, vinho, painço, azeite, trigo, centeio, milho alvo e feijão. Do que há abundância é de vinho verde e milhão.
Está sujeita às justiças da vila de Guimarães, de onde dista quase uma légua. É do Arcebispado de Braga, de onde dista quase quatro léguas, cidade capital deste Arcebispado.
Não consta florescessem aqui letras ou armas. Isto atendendo à antiguidade porque, de presente, algumas letras florescem. E, segundo diz a fama, foi esta freguesia de umas Senhoras Infantas que dizem foram irmãs do Senhor Dom Afonso Henriques, el-rei que foi em Portugal, cujos nomes riscou da memória o tempo e incúria dos antepassados em não conservarem seus títulos. E dizem que estas senhoras deixaram esta freguesia ao real convento de Santo Tirso. E, onde dizem que viveram, se chama hoje o lugar do Paço e Forte, onde ainda se admiram alcatruzes por onde uma água ia para um chafariz que ainda existe e, juntamente, labirintos de murta e viveiro de peixes, com boas casas que ainda mostram antiguidade. Em alguns papéis antigos que tratam deste lugar se lê: Quintã do Paço das Infantas. E destas infantas é que esta freguesia mereceu o nome: Santa Maria de Vila Nova das Infantas. E, atendendo a algumas conjecturas, faz-se verosímil pois, fundando-se uma casa para despensa das coisas da igreja, apareceram quatro carneiros de pedra fina e bem lavrada no cemitério desta igreja, este ano, e, como nos montes circunvizinhos não há pedra fina e só a há num que dista daqui duas léguas, e como não há memória de quem fossem, mostra-se que além de serem antiquíssimos os ditos carneiros, quem os mandou fazer era gente digna de memória, et judicio meo, as mesmas Senhoras Infantas.
Aqui não há feira alguma, há sim em dia de Ascensão concurso de gente, pois acodem aqui algumas freguesias circunvizinhas neste dia a fazerem nesta igreja seus clamores. Não se vende coisa alguma, excepto, algumas vezes, pão cozido.
Também não há aqui correio, porém servem-se do da vila de Guimarães, que dista daqui quase uma légua, como acima se disse. Dista esta freguesia da célebre e insigne cidade de Lisboa, capital deste Reino, sessenta léguas, parum minusve. Aqui também não há fontes, nem lagoas de especial qualidade. Há sim, na freguesia das Caldas, distante desta légua e meia, parum minus, uma fonte ou lagoa onde, em dia de São João, concorre gente de várias partes e, lavando-se nesta água, dizem que produz vários e prodigiosos efeitos, e dizem ser água cálida por natureza, como dizem os que experimentam a sua virtude.
Esta freguesia tem três privilégios de Nossa Senhora da Oliveira, um da Santíssima Trindade, outro de Santo António de Lisboa, outro dos Cativos e outro da Bula.
Como esta freguesia está, para a parte do Poente, nas raízes da serra de Santa Catarina, dela se utilizam os lavradores, colhendo matos de que tem alguma abundância. Acha-se este monte demarcado, onde cada lavrador tem sua sorte ou sortes. Corre do Sul para o Norte, e tem seu princípio nas Vendas da Serra, freguesia de São Lourenço de Calvos, e fenece ao cerco do convento da Costa. Tem, de comprido, uma légua quase e, de latitude, tem, em partes, um quarto de légua. Traz caça de coelho, lebre e perdiz, ainda que pouca. Nesta serra está situado o convento da Costa e no cume da dita serra está uma capela de Nossa Senhora da Penha. E, correndo para a parte do Sul, dista pouco desta outra capela de Santa Catarina. E, para a parte do Nascente, fica outra de Santo Tomé, na freguesia de Matamá, e, continuando o curso para a parte do Sul, está outra de Nossa Senhora da Lapinha. E, daqui procedendo para o Poente, está outra de Santo José, junto à estrada que vai das Vendas da Serra para Guimarães.
É a serra, em partes, cultivada e dela manam algumas águas. É de temperamento áspero e frio. Tem penedos não pequenos e de pedra grossa. É serra alta.
Nas fraldas deste monte, para a parte do Nascente, na freguesia de Fareja, tem ubicação um convento do Senhor do Bonfim, casa da Missão. É feito de pedra grossa e bem lavrada. Tem a igreja três altares bem ornados, com as imagens do Senhor do Bonfim, São Vicente de Paulo e outras. Tem a igreja uma torre com quatro sinos e seu relógio. E, logo para a parte do Norte, pouco distam as casas de Dom António de Noronha Mesquita e Melo, fidalgo da Casa Real. São casas bem situadas, aprazíveis e vistosas. Estão ubicadas nesta freguesia de Santa Maria de Vila Nova das Infantas. E, procedendo para a parte do Norte, oferecem-se ao encontro as casas de Constantino da Cunha, fidalgo bracarense, nas fraldas do dito monte. Outros lhe chamam da Lapinha, por mediar um breve vale, na freguesia de Matamá.
Para a parte do Nascente está o monte de São Silvestre, a quem atinge parte desta freguesia. É fértil de pedra grossa, tem mato de que se utilizam os lavradores, em cujo ápice está uma capela de São Silvestre. E, para a parte do Norte, na sumidade do mesmo monte, está outra capela de Santo Antonino. Tem princípio este monte na freguesia de São Romão de Mesão Frio e finaliza na freguesia de São Martinho de Fareja. Tem de longitude meia légua e de latitude um quarto de légua. Ornado de frondosas árvores, em partes de suas fraldas admite cultura e dele descem algumas águas. É de temperamento frio. Traz caça de perdiz, coelho e lebre, ainda que pouca.
Pelo meio desta freguesia desce um regato, por nome o rio da Cabra, leva pouca água, não tem caça, nem curso arrebatado. Tem seu princípio nesta freguesia, junto à extremidade da freguesia de São Romão de Mesão Frio, corre de Norte a Sul. Tem quatro rodas de moinhos, alguns destes de Verão não moem, por lhes faltar água. Ao redor deste estão campos cultivados e arvoredos silvestres e frutíferos de vinho. Daqui passa à freguesia de Fareja, onde leva mais águas e onde tem alguns moinhos, e fenece na freguesia de São Miguel de Serzedo, metendo-se no rio de Pombeiro. Uns e outros usam livremente das suas águas.
Não respondo a alguns interrogatórios, por não haver aqui matéria de que eles tratam, além do acima referido nesta fiel descrição, conferida com os reverendos párocos abaixo assinados.
Santa Maria de Vila Nova das Infantas, Maio vinte e dois de mil e setecentos e cinquenta e oito.
O vigário Manuel José Teixeira Barros.
Miguel Soares da Costa, vigário de S. Lourenço de Calvos.
Francisco Pinheiro, vigário nesta freguesia de S. Martinho de Fareja.
(*)Um pouco menos.
“Infantas, Vila Nova das”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 10, n.º 240, p. 1455 a 1459.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Infias,
Santa Maria de
Resposta dos interrogatórios que remete o Reitor de Santa Maria de Infias das coisas a eles pertencentes que se acham nesta sua freguesia.
Está situada a igreja de Santa Maria de Infias na província de Entre-Douro-e-Minho, no Arcebispado Primaz de Braga, meia légua distante da vila de Guimarães, e é termo da dita vila, comarca da cidade de Braga.
É esta igreja apresentação da reverenda madre abadessa e mais religiosas do convento dos Remédios, da mesma cidade de Braga.
Tem esta igreja cento e oito fogos, duzentas e noventa pessoas de sacramento e menores serão oitenta.
Está a igreja situada ao pé de um vale que lhe fica da parte do Nascente e do Sul, continua o dito vale para a freguesia de São Miguel das Caldas e, de Poente e Norte, vizinha com um pequeno monte a quem chamam Lijó, cujo não excede um quarto de légua, tanto no comprimento como na largura. E do alto deste monte se descobre parte da vila de Guimarães. Está esta igreja colocada no meio da freguesia
Tem esta freguesia cinquenta e seis lugares, cujos nomes principiam a declarar-se: o Pombal de cima, Pombal de Baixo, Souto de Atim, Atim de cima, Atim de Baixo, Veledos, Portelas, Passos de cima, Passos de Baixo, Pena, Laje de Cães, Cães, Quintãs de cima, Quintãs de Baixo, Cruz, Bacelo, Bouça, Outeiro, Soutinhos, Caniço, Lavandeiras, Penedo, Fojo, Carvalho, Preguiça, Pisão, Munhos, Bouças, Pombal das Bouças, Carvalhal, Casa Nova, Sequa, Pé de Monte, Redonde, Figueiras, Fonte do Paio, Lameiro, Outeirinho, Galhufe, Souto de Galhufe, Borreiros, Carreira de Cima, Carreira de Baixo, Souto da Carreira, Senra, Termo, Bairro, Barrelha de Cima, Barrelha de Baixo, Pias, Boavista, Devesa, Fonte do Souto, Assento, Igreja.
O orago desta igreja é Nossa Senhora da Expectação. Tem uma só nave, tem três altares. O altar-mor, em que esta colocado o Santíssimo Sacramento. E tem irmandade do mesmo Santíssimo. Tem mais, no dito, Nossa Senhora Padroeira e o Menino Deus e São Sebastião.
Tem dois altares colaterais.
No da parte da Epístola, está o altar de Nossa Senhora do Rosário e tem confraria da mesma Senhora, e é altar privilegiado perpétuo.
No da parte do Evangelho, está uma imagem de Cristo Crucificado, que é milagrosíssima, com a invocação do Senhor das Chagas, que faz muitos milagres, tanto nas esterilidades dos tempos, nos quais levam o Senhor à vila de Guimarães e o põem no convento de São José das religiosas do Carmo Calçadas ou em outra qualquer igreja da dita vila, e nunca se recolhe a esta igreja sem que primeiro cumpra com a petição e súplica que lhe fazem os fiéis. Além destes milagres, faz outros muito contínuos, de cujos se vêem os retratos pendurados ao redor do altar e arco do mesmo. A água que se toca em seus santíssimos pés é milagrosíssima para febres e sezões.
Tem sua irmandade, para a qual tem todos os paramentos necessários para as funções, funerais de seus irmãos, e tem indulto da Santa Sé Apostólica para que as missas que se disserem da irmandade em qualquer dos altares desta igreja são privilegiadas. E vem por tradição antiga de uns a outros que esta sagrada imagem se achara nas praias do mar e que um filho desta freguesia a achara e trouxera para ela. Tem no mesmo altar Nossa Senhora da Purificação.
Vem a ter esta igreja duas irmandades, como referido fica, uma do Santíssimo Sacramento e outra das Sagradas Chagas de Cristo Crucificado, e a confraria de Nossa Senhora do Rosário.
O pároco desta igreja tem título de reitor e tem cem mil réis de renda. E as religiosas trazem arrendada a renda deste benefício, em trezentos mil réis livres, para elas.
Tem uma capela de São João Baptista, com obrigação de cento e duas missas, na Quinta da Carreira, que é morgado, que deixaram seu instituidor João Veloso e sua mulher Catarina Gonçalves, que foram da freguesia de São João das Caldas, e hoje é de Cosme Leite Peixoto, seu descendente.
Os frutos que dá com abundância esta freguesia são milhão, milho branco e feijão e centeio, trigo, pouco, vinho verde dá bastante.
Desta freguesia à cidade de Braga, capital, são três léguas e meia e, à de Lisboa, capital do Reino, são sessenta léguas.
Não padeceu no ano de mil e setecentos e cinquenta e cinco esta freguesia no terramoto dano algum.
E não tenho mais que responder aos interrogatórios. E, por assim ser verdade, me assinei com os dois reverendos párocos meus vizinhos.
Santa Maria de Infias, 20 de Maio de 1758.
O reitor Dom João de Bento e Abreu.
O vigário de Nespereira, Domingos Antunes.
O vigário de S. Martinho do Conde, Domingos de Sá e Cunha.
“Infias”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 13, n.º 18, p. 161 a 164.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Leitões,
S. Martinho de
1. Acha-se esta freguesia situada na Província do Minho entre Braga e Guimarães e pertencente a três termos, a saber, Guimarães, Braga e Barcelos, e a maior parte dela é termo de Guimarães, comarca de Guimarães e Arcebispado Primaz de Braga. Dominam nela, no secular, corregedor de Guimarães, Casa de Bragança e, no termo de Braga, os Senhores Arcebispos da mesma. E se acha demarcada com marcos de armas da mesma sereníssima Casa de Bragança e os montes repartidos sem provisão e outros maninhos.
3. Tem em si, moradores, lavradores e pessoas de sacramento, duzentos e vinte e cinco.
4. Está situada em monte e vale apelidados de Outinho e Curviã e dos mesmos se descobrem serras do Bispado do Porto, Amarante e todo o Refojos de Riba Ave que, em partes, distarão dez léguas o que compreende à vista. O Monte Curviã tem seu princípio na freguesia de São Silvestre de Requião e finaliza pelo Reino de Galiza dentro.
6. A paróquia e templo da igreja se acha situada entre vizinhos. Tem lugares os seguintes: Reguengo, Samoça, Barreiro, Souteiro, Cabo, Souto, Rio, Cosconho, Monte, Eiroses, Portela, Insulas, Ribeiro, Torcalim, Telhado e Quintãs, que são dezasseis.
7. O padroeiro é o senhor São Martinho. Tem a dita igreja três altares, a saber, no maior está colocado o referido padroeiro, Santa Rita, São Gonçalo e Santo António e Menino Jesus. No colateral, à parte do Norte, se acha colocado o Santíssimo Sacramento. E, no da parte do Sul, se acha a imagem de vulto com o epíteto do Rosário e São Sebastião e Senhora, também com epíteto da Expectação. Há uma irmandade erecta de novo, debaixo da protecção do mesmo Santíssimo, que terá quarenta irmãos.
8. O pároco é vigário e é apresentado pelo Reverendo Doutor Prior de São Vicente de Fora da cidade de Lisboa, confirmado pelo senhor ordinário de Braga, e renderá para os padres, anualmente, duzentos mil réis, e, para o vigário, trinta.
15. Os frutos que a terra produz em mais abundância vêm a ser milho chamado maís, grosso, centeio, milho miúdo e vinho muito verde, trigo, muito pouco.
16. Não há juiz ordinário, nem pedâneo. Governam os juízes de fora, de vara branca, assim o de Guimarães, como o de Barcelos, que se acham demarcados como acima digo. Nestes limites não há notícia de homens de distinção assim de letras, armas ou virtude conhecida.
20. Os moradores desta freguesia se correspondem pelos correios assim de Braga, como pelo de Guimarães, que ambos distam desta légua e meia, com pouca diferença, e, da Corte de Lisboa, ao pé de sessenta.
22. Não há privilégios, só um que chamam das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira da vila de Guimarães.
23. Há águas usuais, sem virtude especial, mui alvas, por quase todas nascerem de pedras e serras.
26. Pela bondade da omnipotência Divina, não houve naufrágio algum naquele dia do terramoto.
E não há mais coisa alguma digna de memória nesta dita freguesia que tem seu princípio vindo da cidade de Braga. Que, da banda do Norte para o Nascente, principia no sítio da Serrana e acaba no Reguengo. e terá de comprido, de Nascente para o Norte, um grande quarto de légua, e, de largo, de Norte a Sul, o mesmo quarto de légua. É terra montuosa e fria.
4. Na serra da Curviã, no sítio da Fonte da Moura, à parte do Poente, nasce uma fonte que dá princípio ao rio Pele, e também do outro sítio, da banda do Nascente, chamado Penisalça, nasce outra fonte ordinária, que ambas juntas dão princípio ao dito rio Pele, que daqui vai girando ao chamado rio Ave e se mete no mesmo junto à ponte de Lagoncinha e passa pelo Mosteiro de Landim, de cónegos regulares, onde tem engenhos de azeite, vários moinhos e azenhas, junto ao dito Ave, que daqui dista três léguas, correndo de Norte a Sul.
9. Nestes ditos montes, por suas qualidades serem de temperamento frio, não tem ervas medicinais, têm em si caça de perdizes, coelhos e algumas lebres e umas avezinhas chamadas lavercas, que cantam muito bem nas gaiolas.
E suposto não falo a todos os interrogatórios na ordem apontada, é por não ter que dizer, nem que a eles responder. Passa na verdade e sendo necessário in verbo sacerdotis, São Martinho de Leitões e Maio 22 de 758 anos.
O vigário José Rebelo de Matos e Araújo.
O vigário Manuel Freire Pedrosa.
Francisco Rodrigues da Silva Mendes Perigo.
O abade Diogo Manuel de Lima Melo.
“Leitões”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 20, n.º 73, p. 553 a 556.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Lobeira,
São Cosme e Damião de
Título da freguesia de São Cosme e Damião de Lobeira, termo de Guimarães e visita de Monte Longo Arcebispado de Braga Primaz.
Em observância do mandato e ordem do interrogatório do muito Senhor Doutor Provisor da cidade primacial de Braga e como obediente súbdito satisfazendo e ela e seus interrogatórios ou aqueles que a terra permite.
Digo, esta freguesia está situada na Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga, termo e comarca da vila de Guimarães e terras de el-rei. Está entre alguns montes, mas não são coisa digna de memória, nem se descobrem povoações longínquas, nem latitudes.
É orago desta freguesia dos santos Cosme e Damião da Lobeira. É pequena esta igreja por ser a freguesia pouco populosa. É antiga, tem três altares somente. No altar maior estão os santos padroeiros, São Cosme e Damião. Tem mais dois altares fazendo costas ao arco, e tem só duas naves. Da nave sinistra está o altar de Nossa Senhora do Rosário, onde está também colocado o Santíssimo Sacramento. E, da nave direita, está o outro altar chamado das Chagas, com um Senhor Crucificado.
É o pároco desta igreja cura anual da data ou apresentação dos reverendos cónegos da Insigne e Real Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, da vila de Guimarães, e anexa ao Mosteiro de São Torcato. São senhores dos dízimos, que andam juntos.
Tem esta freguesia duas capelas, sem que nelas se diga missa. Uma de São Martinho, da qual é administrador Domingos Martins, outra de São Roque, que é da freguesia, que nem a elas se fazem romagens, e só sim ao santo padroeiro São Cosme como advogado das enfermidades vem algumas pessoas das partes circunvizinhas, mas com pouca frequência, sem ser em dias determinados.
Tem esta freguesia tantos lugares a saber vel scilicet tal, tal tem cento e trinta e sete pessoas; não há aqui beneficiados, nem benefícios. Declaro tem esta freguesia lugares seis, a saber, lugar do Assento, lugar de Covas, lugar da …. [ilegível]1, lugar dos Cachos, lugar de São Martinho, lugar do Souto, lugar das Lobeiras lugar das Fontes.
Os frutos desta terra em mais abundância são milho grosso e menos centeio e algum milho meado e feijão, vinho verde, e alguns anos bastante, e azeite, não em muita quantidade, alguma castanha.
Não tem correio e se servem do da vila de Guimarães, que fica distante meia légua desta freguesia.
E, para a cidade capital de Braga, dista três léguas e ,da cidade do Porto, nove e, da de Lisboa, cinquenta e nove léguas.
Declaro não haver nesta freguesia irmandade alguma.
E não há nesta freguesia rio. Só um limitado ribeiro, onde há anos se fez um engenho de azeite e dois moinhos de pão, que não são contínuos.
Não padeceu, por bondade de Deus, ruína esta terra no terramoto.
Não tem feira, nem serras, nem rios, nem mais coisa que compreenda os interrogatórios, nem coisa digna de memória.
E assim respondo aos interrogatórios quanto a razão da terra permite e não mais. por não ter que deles mais anunciar, nem declare, nem antiguidades de que se faça memória.
Foi-me entregue esta ordem aos quatro de Abril de mil e setecentos e cinquenta e oito e assim dou satisfação, em resposta às suas interrogações. dentro do tempo nela determinado de dois meses.
Hoje, em São Cosme e Damião da Lobeira aos quinze de Maio de mil e setecentos e cinquenta e oito anos. Vai esta assinada por dois párocos vizinhos, como ordena o Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor, a cujas ordens fico como mais humilde súbdito de Vossa Mercê.
O pároco José da Costa e Miranda.
Como pároco mais vizinho, o vigário de São Torcato, Manuel Ferreira Cardoso.
Como vizinho, o pároco Manuel de Oliveira, da freguesia de Santa Maria de Atães.
“Lobeira”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. Vol. 21, n.º 97, p. 977 a 980.
1 Os nomes dos lugares estão enunciados na margem do documento, sendo de muito difícil leitura.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Longos,
Santa Cristina de
Declaração do que se me pede do que contém esta freguesia de Santa Cristina de Longos, etc., respondendo aos interrogatórios seguintes.
1. Fica na Província do Minho, Arcebispado de Braga, comarca e termo da vila de Guimarães.
2. É do domínio e senhorio da Coroa Régia.
3.Tem, vizinhos, duzentos e vinte e, pessoas de sacramento, seiscentas e doze.
4. Está situada, quase metade da freguesia, numa fralda e garganta de uma serra chamada da Falperra e, a outra parte dela, num vale que fica contíguo. E, do alto da mesma serra, se avista a cidade de Braga e a vila de Guimarães e dista daquela uma légua e desta duas.
5. Não tem termo seu, mas sim é do de Guimarães. Não tem lugares senão alguns pequenos e aldeia nenhuma e, à maior parte das habitações, se deve chamar casais, por ser quase tudo prazos de nomeação e cada um morar dentro ou [no] limite do seu, e, por nome e número, são os seguintes: o prazo e casal do Redondo, os dois de Magros, lugar do Telhado, o da Devesa, os dois casais da Aldeia, os dois de Real, lugar da Laje, a Quinta da Falperra, lugar da Boavista, o do Outeiro de Oleiros, casal da Barroca, o de Esmoriz, os três do Sobrado, os quatro da Ordem, o da Levada, o lugar de Entre-as-águas, os três casais de Mouriçó, os dois de Gondarela, o de Vale Pessegueiro, o da Reguenga, o da Pequita, o da Fontainha, a Quinta de Francisco Filipe de Sousa, o de Casal, o do Bacelo, o do Lugarinho, o da Mó, os quatro das Pedras, o lugar da Quintã, os dois de Carvalhal, o de Galego, o da Costa, o de Toros, os dois do Fojo, o do Loureiro, o da Bouça da Barranca, o da Tojeira, o do Ribeirinho, os dois de Grijó, o do Souto do Vale, da Bouça de São Simão, a Quinta de São Martinho, o de Teloim, o de Fornos, o de Perlinhos, lugar dos Pedrais, os dois da Rateira, o lugar da Herdeira, dois de Borgadela, os dois da Barranca do Noval, o de Sarrazinho, os três do Outeiro, o lugar das Eiras e da Vaca, o do Picoto, os dois de Ruela, os três de Pena, a residência do pároco, os caseiros do Assento da igreja, que todos estes casais e lugares têm, em pessoas, seiscentas e vinte, e fogos, duzentos e doze.
6. A igreja paroquial está situada no meio dela.
7. O seu orago é a Virgem Mártir Santa Cristina. Tem o altar-mor, Santíssimo Sacramento e dois colaterais, um de Nossa Senhora do Rosário e, o outro, de Nosso Senhor Jesus Cristo Crucificado. Não tem naves. Tem quatro confrarias, uma do Santíssimo Sacramento, outra de Nossa Senhora do Rosário, outra do Santíssimo Nome de Deus, outra do Subsino.
8. O pároco é vigário da apresentação do Arcediago de Olivença, vulgo de Santa Cristina, cabeça de mais cinco freguesias do mesmo Arcediagado, e esta rende de presente, para ele, setecentos dez mil réis e, junta com as mais, cinco mil duzentas e cinquenta cruzados e, para o vigário, cem mil réis.
9. Não tem beneficiados, senão o Arcediago, que é simples e, por morte do qual, fica o benefício suprimido para a Santa Igreja Patriarcal, e o Arcediago que apresentar Sua Santidade ou o Arcebispo de Braga há-de ter, de côngrua, trezentos mil réis. Tem, de mais, um cura, para ajudar o vigário, que tem, de côngrua, doze mil réis e vinte cinco alqueires de pão, que lhe paga o benefício e o apresenta o vigário.
10. Não tem conventos.
11. 12. Não tem hospital, nem misericórdia.
13. Tem seis ermidas. Duas de Santa Maria Madalena, a nova e a velha, sitas no alto da serra da Falperra, ao pé da estrada que vai de Braga para Guimarães, e as administra uma confraria da mesma Santa. A de São Pedro e São Tiago, na mesma estrada e na fralda da mesma serra, que aparamenta o mesmo benefício. A de Santo António, situada no monte da Murteira, que a fabricam os vizinhos da mesma freguesia. A de Nossa Senhora da Conceição, da quinta da Falperra, e a de São Martinho, sita na Quinta do mesmo nome, e estas duas os possuidores das mesmas quintas as fabricam e guisam.
14. Às sobreditas ermidas de Santa Maria Madalena, quase todos os dias festivos, vai a elas romagem e, nos mesmos dias, têm capelão que lhe diz a missa, e o maior concurso é no dia da mesma Santa e de Santa Marta, e às mesmas vão, em várias ocasiões do ano, de várias freguesias cumprir votos com clamores em procissão e, nas mais da freguesia, se diz nelas, vários dias do ano, missa e a elas vêm também clamores de outras partes em procissão e, nos dias de seus oragos, se lhes faz sua festividade.
15. Os frutos que se colhem são limitadíssima quantidade de trigo, pouco maior de centeio, abundância de toda a qualidade de milho e feijão e de vinho verde e de toda a qualidade de fruta que se dá nesta Província.
16. Tem dois juízes do Subsino anuais, que não podem mais do que lhe determinam os ministros do concelho e comarca, no secular, e sujeitos em todas as condenações do rendeiro das penas do concelho, que de nenhuma ou pouca utilidade serve para a Coroa Régia, e só o rendeiro e seus sócios enriquecem à custa dos povos e pobres. E, no eclesiástico, o que lhe determinam seus ministros e, algumas ocasiões, o pároco.
18.19. Ainda poderá haver [homens insignes e feiras], que até ao presente não consta ter havido.
20. Serve-se do correio de Braga ou do de Guimarães, que aquele dista uma légua e este duas.
21. Dista da cidade de Braga uma légua e, da de Lisboa, sessenta.
2. Não há privilégios alguns, senão uns três moradores, que o são das Tábuas Vermelhas.
23.24.25. Não há que dizer.
26. Não houve ruína no terramoto de cinquenta e cinco de que haja de se fazer memória.
27. Não há mais de que se dê notícia que não esteja dito.
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1.2. Tem esta freguesia, da parte do Norte, uma serra chamada a da Falperra. Tem seu princípio para a parte do Nascente, ao pé do Castelo de Lanhoso e, de lá até aqui, tem várias denominações. Passando o distrito desta freguesia, vai correndo entre o Poente e Sul com outras várias nomeações e finda, de aqui duas léguas, onde chamam Joane, e principia distante deste sítio outras duas léguas.
3. Não tem a dita braço no distrito desta freguesia que tenha outro nome senão a serra da Falperra.
4. Não tem rio algum dentro do seu sítio, senão vários ribeiros que nascem de fontes da mesma serra, que só têm sua corrente para regar os campos e não de origem para dar nome a outros.
5. Já fica dito no primeiro quarto interrogatório.
6. Não há fontes de propriedades raras, se não fosse de excelente qualidade de água a fonte de Candaíde e a do Voca, porém os moradores são mais amigos, de ordinário, do vinho verde, assim azedo, do que da melhor água.
7. Não há tradição que na dita serra em tempo algum houvesse mineral de qualidade alguma de metais.
8. É povoada de várias árvores silvestres e matos e os moradores que nela são habitadores recolhem os mesmos frutos que produz o vale.
9. Não há nela mosteiro algum, somente as duas ermidas de Santa Maria Madalena, como dito fica.
10. É de temperamento a terra fria e o ar cálido, por cuja causa as árvores sobem a grande altura e, nas mais altas árvores, as frutas são as mais maduras e gostosas, e pelo contrario às do pé da terra.
11. Nela pasta toda a qualidade de animais domésticos, só de dia, que de noite não andam seguros, que os mudam várias vezes pessoas que não lhe pertencem, e seus donos os ficam perdendo e, por esta causa sempre os recolhem todas as noites, podendo. E, às vezes, sucede de dia, o que não deve causar dúvida, que é a serra da Falperra, que é antigo nela haver propriedade de semelhantes transgressores. Nela há perdizes, alguns coelhos e poucas lebres.
12.13. Destes interrogatórios não há nada que dizer.
Interrogatórios de rios.
Não há mais que dizer do que o penúltimo quarto artigo, e tenho dito o que entendo.
O vigário de Santa Cristina de Longos, Pedro Lopes Garcia e o mais que disserem os reverendos vigários de São Lourenço de Sande, e o do Salvador de Balazar, ambos vizinhos mais chegados, o primeiro chamado Miguel de Abreu Pereira e, o segundo, Francisco José Soares.
O vigário de São Lourenço, Miguel de Abreu Pereira.
O vigário do Salvador de Balazar, Francisco José Soares.
“Longos”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 21, n.º 114, p. 1085 a 1089.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Lordelo,
S. Tiago de
Recebi do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor uma ordem com uns papéis impressos que tinham vindo de Sua Majestade, que Deus guarde, para informar das coisas notáveis desta freguesia o que tenho para informar é o seguinte.
Está esta freguesia de São Tiago de Lordelo situada na Província de Entre-Douro-e-Minho, termo da vila de Barcelos, comarca e Arcebispado de Braga Primaz.
Não é de senhor particular.
Tem, fogos, cento e trinta e, pessoas, quatrocentas e noventa.
Está situada na beira de um rio chamado Vizela, num vale, e dela se descobrem as freguesias de São Martinho do Campo e de São Mamede e de Vilarinho e do Salvador do Campo, São Pedro de Roriz, São Tomé de Negrelos e Santo André de Sobrado, tudo em circuito desta freguesia, que qualquer delas distará um quarto de légua. Está sujeita à vila de Barcelos, por ser do seu termo.
Está a igreja no meio da freguesia, num lugar chamado da Igreja. Tem mais lugares, a saber, Lobazim, Tainde, Carreiro, Gainde, Monte, Seara, Enxudros, Lordelo, Pinheiro, Ribeiro, São João de Calvos, Portela, Mide, Rua das Casas Novas. O seu orago é São Tiago Maior. Tem a igreja quatro altares. Tem três confrarias, a saber, do Subsino, do Sacramento e de Nossa Senhora do Rosário. Os altares, um é de São Tiago, outro do Sacramento, outro de Nossa Senhora, outro das Almas. Não tem naves. O pároco é vigário que apresenta o Arcediago de Santa Cristina, o Excelentíssimo Senhor José Ferreira de Abreu, Monsenhor na Patriarcal. Rende ao pároco quarenta mil réis. Não tem beneficiados.
Tem uma ermida chamada São João de Calvos, situada no mesmo lugar de São João. Não concorre gente a romaria.
Os frutos que se recolhem nesta terra são milho grosso e miúdo e centeio, mas não em muita abundância, e, da mesma sorte, vinho verde.
Está sujeita, como já disse, às justiças de seu termo, que é Barcelos.
Não tem juiz ordinário, não é couto, nem cabeça de concelho.
Não tem feira, nem correio e se vale do da vila de Guimarães, que dista duas léguas. Dista de Braga três léguas e meia e de Lisboa sessenta e três.
Não padeceu dano algum no terramoto de mil e setecentos e cinquenta e cinco.
E, enquanto aos mais interrogatórios, não tenho nada que dizer, somente de um rio que passa por esta freguesia, chamado Vizela, que tem uma ponte de pedra, chamada Ponte de Negrelos.
Tem quatro azenhas no sítio desta freguesia.
Traz bastantes peixes miúdos, a saber, barbos, bogas e algumas trutas, escalos e ouregos. É todo devasso para quem nele quiser caçar em todo o ano e não tem proibição, só os três meses defesos, que são Abril, Maio e Junho, que é tempo da criação.
Não tem serra alguma, nem mais coisa digna de memória. É a informação que dou a Vossa Mercê.
São Tiago de Lordelo, 22 de Maio de 1758 anos.
O vigário João Luís Portela.
O pároco Manuel Fernandes.
O encomendado José de Almeida Coutinho e Vasconcelos.
“Lordelo”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 11, n.º119, p. 1123 a 1124.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Mascotelos,
S. Vicente de
Mascotelos é aldeia e paróquia do termo da vila Guimarães, na comarca do mesmo nome. O seu povo consta de 29 fogos, com 74 almas de sacramento, na matriz dedicada a São Vicente Mártir.
O pároco é cura apresentado pelo Cabido da Colegiada de Guimarães e tem de côngrua 30$000 réis.
“Mascotelos”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 42, n.º 171, p. 86.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Matamá,
Nossa Senhora da Expectação de
Matamá é aldeia e paróquia do termo da vila de Guimarães, na comarca do mesmo nome. O seu povo consta de 50 fogos, com 125 almas de comunhão na matriz, dedicada à Senhora da Expectação.
O pároco é vigário apresentado pelo tesoureiro da Colegiada de Guimarães e tem de côngrua 30$000 réis.
“Matamá”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 42, n.º 173, p. 86.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Mesão Frio,
S. Romão de
No Dicionário Geográfico, que se ficou pela letra D, estão registados sete lugares da freguesia de São Romão Mesão Frio, que pertencia à província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga, termo e comarca de Guimarães, visita eclesiástica de Monte Longo. São eles Aldão, Assento da Igreja, Bouça; Campo Grande, Casa Nova, casal do Outeiro e Cruz da Argola.
Luís Cardoso, Padre, Dicionário Geográfico ou Notícia Histórica de todas as cidades, vilas, lugares e aldeias, rios, ribeiras e serras dos reinos de Portugal e Algarve, vol. I, 1747, e II, 1751.
Já no Portugal Sacro-Profano, editado em 1767, a freguesia de Mesão Frio aparece assim descrita:
MESÃO FRIO, Freguesia do Arcebispado de Braga, tem por orago S. Romão, o pároco é abade de apresentação do Padroado real, rende trezentos mil réis. Dista de Lisboa sessenta léguas e de Braga três. Tem noventa e cinco fogos.
Paulo Dias de Niza, Portugal Sacro Profano, ou catálogo alfabético de todas as freguesias dos reinos de Portugal e Algarve, vol. II, 1768, p. 30 e 31.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Moreira de Cónegos,
S. Paio de
Moreira de Cónegos é aldeia e paróquia do termo da vila Guimarães, na comarca do mesmo nome. Consta o seu povo de 132 fogos, com 362 almas de comunhão, na matriz dedicada a São Paio.
O pároco é vigário apresentado pelo Chantre da Real Colegiada de Guimarães e tem de côngrua 50$000 réis.
“Moreira de Cónegos”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 42, n.º 208, p. 98.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Nespereira,
Santa Eulália de
Nespereira é aldeia e paróquia do termo do concelho Lousada na comarca de Barcelos. O seu povo consta de 114 fogos na matriz dedicada a S. Eulália.
O pároco é vigário apresentado pelo mosteiro da Real Colegiada de Guimarães e tem de côngrua 50$000 réis.
Referências documentais:
“Nespereira”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 42, n.º 231, p. 110.
NESPEREIRA, Freguesia no Arcebispado de Braga, tem por Orago Santa Eulália, o Pároco é Vigário da apresentação do Tesoureiro-mor da Colegiada de Guimarães, rende cinquenta mil réis. Dista de Lisboa sessenta léguas, e de Braga três, tem cento e quatorze fogos.
Paulo dias de Niza, Portugal Sacro Profano, ou catálogo alfabético de todas as freguesias dos reinos de Portugal e Algarve, vol. II, 1768, p. 64
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Oleiros,
S. Paio de
Oleiros é aldeia e paróquia do termo da vila Guimarães na comarca do mesmo nome. O seu povo consta de 75 fogos, com 213 almas na matriz dedicada a S. Vicente.
O pároco é abade apresentado pela Mitra de Braga. E tem, de côngrua, 300$000 réis.
“Oleiros”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 42, n.º 244, p. 116.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Oliveira,
Nossa Senhora da
Extracto da freguesia de Nossa Senhora da Oliveira da vila de Guimarães, na Insigne e Real Colegiada da mesma Senhora, feita por mim Manuel dos Reis da Costa Pego e com a assistência de Francisco José Vieira de Pina, ambos cónegos, curas da mesma Colegiada, em satisfação de uma ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor da Corte e cidade de Braga, Arcebispado onde pertence, e é na forma seguinte.
Está esta freguesia de Nossa Senhora da Oliveira da vila de Guimarães na Província de Entre-Douro-e-Minho e é a principal desta sobredita vila, e na igreja da Insigne e Real Colegiada da mesma Senhora, e compreende toda a circunferência de dentro dos muros da mesma vila, e alguma de fora deles, e pertence ao Arcebispado Primaz de Braga e à comarca e termo da mesma vila, por ser a cabeça de uma e outra coisa.
A sobredita vila, onde esta freguesia está, é de Sua Majestade Fidelíssima, el-rei Nosso Senhor Dom José primeiro. Tem esta sobredita freguesia seiscentos e oitenta e nove vizinhos e, pessoas de maior, mil e novecentas e quatro, e, menores, noventa e uma, como consta do rol dos confessados, excepto as que não andam no dito rol, por não terem idade suficiente que os obrigue a deles se tomar conta.
Está situada numa baixa e na falda do monte, Serra de Santa Catarina, e esta se vê de alguma rua da mesma freguesia ou campo, e quase os muros da vila a circulam, e não a toda, pois também parte destes o fazem à de São Paio, que fica na mesma vila, e não se descobre dela outra alguma serra ou povoação, nem coisa notável.
Está na cabeça do termo e comarca, pois o é a mesma vila onde está situada, e se compõe de ruas, campos e subúrbios da mesma vila, pois a todos compreende. E fazem, entre todos, o número dos vizinhos acima declarados e o termo se compõe de cento e uma freguesias, com as da mesma vila, que são estas: a sobredita, a de São Paio, São Sebastião e São Miguel do Castelo.
Na mesma vila de Guimarães está situada esta sobredita freguesia na forma referida. Seu orago é Nossa Senhora da Oliveira, da Insigne e Real Colegiada da vila de Guimarães. Tem a sobredita igreja, que é bela e antiga do tempo de muitos anos, sete altares dentro dela e, no claustro, outros sete, nos quais alguns são capelas, como a do Santíssimo Sacramento, com sua confraria, a do Senhor Jesus, que é da casa de Vila Pouca, com obrigação de missas, e a de Nossa Senhora da Conceição, da casa do Proposto, também com obrigação de missas e com administradores que moram nos subúrbios desta mesma vila, a de São Nicolau, com irmandade, todas estas na igreja. No claustro, a de São José, a de Nossa Senhora do Serviço, também com obrigação de missas. Os altares são o do Espírito Santo, o do Senhor da Agonia, com irmandade que acompanha os irmãos defuntos da mesma, o de Santa Ana, estes na igreja. No claustro, o de Nossa Senhora da Pombinha, o de São Roque, o de São Cosme e São Damião, a capela de São José acima dita, o altar do Senhor Descido da Cruz, a capela de Nossa Senhora do Serviço e o altar de Santo André. Tem a igreja três naves e párocos dois cónegos e juntamente curas, com obrigação de coro, e são da apresentação do Dom Prior da mesma Insigne Colegiada, e à administração dos sacramentos são obrigados e mais actos paroquiais, excepto aos enterros dos defuntos, que a estes vão os padres da coraria que há na mesma Colegiada e vão aos de toda a vila, e estes padres apresenta o mesmo Dom Prior. E terá de renda cada um dos cónegos curas, com certos e incertos e emolumentos paroquiais na forma que foram votados, cada um ano, duzentos e cinquenta mil réis, pouco mais ou menos, os quais dois cónegos da meia prebenda são da apresentação in solidum do Dom Prior da mesma Colegiada, o qual, quando sucede vagar algum dos ditos benefícios, o dá a quem lhe parece, e cola e dá jurisdição paroquial sem dependência do ordinário, por posse antiquíssima e sentenças alcançadas contra o ordinário deste Arcebispado, porque o dito Dom Prior tinha e ocupava uma prebenda com a obrigação de a paroquiar e, por súplica que fez ao Papa, alcançou o poder de dividi-la em dois meios prebendados com a dita obrigação de administrar os sacramentos e todas as mais declaradas. E a apresentação do dito Dom Prior desta mesma Colegiada pertence a Sua Majestade Fidelíssima, quando sucede vagar, e ao ordinário de Braga Primaz apresenta o dito Dom Prior o provimento que Sua Majestade é servido passar-lhe e este o manda examinar e cola no dito benefício, de onde lhe resulta a jurisdição que confere aos ditos cónegos curas, quando os apresenta e cola nos tais benefícios que, como já disse, antigamente eram uma só prebenda. E o dito Dom Priorado tem de renda em cada um ano, com certos e incertos, dez mil cruzados, cem mil réis mais ou menos, com obrigação de pagar e satisfazer as obras meeiras das igrejas, que apresenta simultaneamente com o reverendo Cabido, e, além disso, a fábrica das igrejas de São Martinho de Fareja e Santa Eulália de Fermentões, ambas do termo desta vila, por serem da sua apresentação in solidum. E, também, metade do partido dos músicos da capela desta Colegiada e, na mesma forma, a seis capinhas que apresenta in solidum para o serviço do clero desta Colegiada, além dos quais há três capelas das quais apresenta duas e se lhe paga por legado especial que se deixou ao dito Dom Prior, e a terceira apresenta o reverendo Cabido. E também é paga por legado que administra a fábrica da mesma Colegiada e também há no mesmo coro um sub-chantre que apresenta o chantre e lhe satisfaz como ajusta. Nesta mesma Colegiada há vinte e oito prebendas, as quais ocupam, a saber, o reverendo chantre, uma, o reverendo tesoureiro-mor, uma, o reverendo doutor mestre-escola, duas, o reverendo arcipreste, duas, o reverendo arcediago, uma, e mais quinze cónegos prebendados e oito meios-prebendados, que todos fazem vinte e seis prebendas, com a obrigação do coro e tudo o que mais pertence ao ministério dele. Ficam sobejando duas prebendas para a conta de vinte e oito, as quais uma é da fábrica desta igreja e outra do prebendeiro do reverendo Cabido, pelo seu trabalho. E rende cada uma delas, em cada um ano, com certos e incertos, quatrocentos mil réis, pouco mais ou menos, e o reverendo chantre, além da prebenda declarada, tem anexas ao seu benefício duas igrejas, que apresenta e de que tem os dízimos, a saber, São Miguel de Creixomil, subúrbio desta vila, e São Paio de Moreira dos Cónegos, termo da mesma vila, que ambas renderão, em cada um ano, novecentos e tantos mil réis, pouco mais ou menos. E o reverendo tesoureiro-mor tem outras duas igrejas anexas ao seu benefício, que ele também apresenta, a saber, Santa Maria de Matamá e Santa Eulália de Nespereira, ambas também no termo desta vila, e renderão, pouco mais ou menos, em cada um ano, seiscentos e tantos mil réis. E o reverendo mestre-escola tem mais uns foros, que pertencem à capela de São Tiago, situada na Praça, que renderão, pouco mais ou menos, cada um ano, cinquenta mil réis. Há mais, nesta Colegiada, seis coreiros para o serviço do clero, que apresenta o reverendo chantre, como presidente do mesmo reverendo Cabido e coro. E também há um sacristão que é da apresentação in solidum do reverendo tesoureiro-mor, a quem paga o ordenado que com ele ajusta, que tem mais, de rendimento, as ofertas dos defuntos e o rendimento dos sinos que lhe mandam tocar e o folar da Páscoa, isto por arrecadar e lançar a água benta nessa ocasião. Tem mais esta Colegiada um benefício simples, chamado arcediago de Santa Maria do Souto de Sobradelo, que renderá, em cada um ano, quinhentos mil réis, pouco mais ou menos, e é apresentação sua vacatura de Sua Majestade Fidelíssima e outra do reverendo Cabido, e as apresentações dos mais benefícios desta Colegiada, são a saber, o chantre do reverendo Cabido in solidum, e as mais prebendas são de apresentação simultânea o Dom Prior, com o reverendo Cabido, alternativamente com o Papa, oito meses deste e quatro do reverendo Cabido, com o seu Dom Prior. Tem o mesmo reverendo Cabido igrejas e beneficiados simples, a que chamam raçoeiros, que apresenta in solidum que constarão melhor dos apresentados, que tudo são no arcebispado e nos seus interrogatórios responderão. Os padres chamados da coraria, antes declarados, que são da apresentação do Dom Prior, são o número de trinta, nos quais doze são títulos assim chamados e entram na isenção da jurisdição desta Colegiada, os quais ocupam desde o coro, e ordens, e sacristia, e o que servir de prioste, que é o seu presidente, e estes vão aos ofícios e enterros de toda a vila, tem legados que satisfazem a fazenda que administram, de caseiros que lhes pagam rendas, que entre si repartem. E renderá a cada padre com missas e mais assistências, cada um ano, sessenta mil réis, pouco mais ou menos, com os incertos. É o que pude alcançar desta Colegiada. Tem mais a confraria de Nossa Senhora da Oliveira, onde sempre pessoa real é juiz, e os mais da mesa dos principais da terra e, como serventuários, pessoas ordinárias com honra. Esta tem missas pelos irmãos defuntos, e também a do Santíssimo Sacramento e as mais irmandades, conforme seus estatutos e termos.
No distrito desta freguesia estão dois conventos de religiosas, a saber, o de Santa Clara, de que é padroeiro o morgado de Torrados e são da jurisdição ordinária suas súbditas, e o de São José do Carmo mais moderno, sem padroeiro, e lhe deu princípio um mercador chamado Francisco Antunes Torres, concorrendo com sua fazenda, e as primeiras religiosas foram de um recolhimento que também está situado nesta freguesia, de recolhidas da Santíssima Trindade, as quais daí foram, e ainda existem na mesma forma. As religiosas do Carmo, acima ditas, também são da jurisdição ordinária e no meu tempo o foram dos religiosos calçados.
Nesta mesma freguesia está a igreja da Misericórdia com seu hospital. Este está no distrito do de São Paio, ele descreverá suas rendas e mais particularidades.
Tem no distrito da freguesia capelas, a saber, a de Nossa Senhora da Graça com irmandade que administra, a de Santa Cruz, com irmandade que administra, a do Salvador, que é do reverendo Cabido, onde têm os padres da coraria legados, a de Nossa Senhora do Pilar, mista a umas casas dos possuidores da comenda em Garfe, a da Senhora da Boa Morte, mista às casas que hoje são de José Luís de Távora, e têm legado os padres da coraria, a da Embaixada, mista às casas onde hoje mora o reverendo arcipreste, com legado de missas, a de Santo Estêvão, com administração de foros e pensões e obrigação de missas, e hoje é administrador, por graça de Sua Majestade Fidelíssima, Luís António da Costa Pego de Barbosa, a de São Tiago, da administração do reverendo mestre-escola desta Colegiada, a do Anjo, com irmandade, que administra, e a do Menino Deus, mista às casas do Lamelas, de Manuel Peixoto, com legados que satisfazem os padres da coraria, e também na de São Tiago satisfazem algum. Misto e pegado à capela do Anjo, há um albergue onde se recolhem os pobres passageiros três dias e lhes dão agasalho os administradores e sua irmandade, que são os sapateiros, dando-lhes, naquele, palha para descansarem. E, falecendo naqueles dias, como também sete mulheres, já de idade, que sempre estão no mesmo albergue recolhidas com suas casas, o reverendo Cabido os vai buscar em comunidade, com o cónego cura e os acompanha até à sepultura, por caridade, e se enterram no claustro desta igreja com o reverendo Cabido e irmandade.
A estas capelas ou ermidas não há concurso ou romagem, só sim alguns chamados clamores à de São Tiago e a esta igreja da Insigne Colegiada, vindo algumas freguesias, com os seus párocos, em vários dias do ano.
Os frutos na freguesia: há algumas terras que ficam nos subúrbios onde se colhem trigo, milho grosso e miúdo, vinho e legumes de hortaliças.
Tem Paço de Concelho junto a esta Insigne Colegiada ,onde se fazem as audiências do juiz de fora, juiz dos órfãos e almotacés, e tem Senado de vereadores e o mais de que se compõe. E tem a vila provedor, corregedor, juiz de fora e dos órfãos e superintendente dos tabacos. É a vila cabeça da comarca e termo, como já disse. E desta têm florescido pessoas notáveis em santidade, letras e armas, o que melhor constará do Estaço, que as escreveu. Nesta freguesia há uma feira chamada de São Gualter, franca, no Domingo primeiro de Agosto até à segunda-feira e juntar de bestas. Tem a vila correio que vem ao Domingo e sai à sexta-feira. Dista esta freguesia da cidade de Braga, cabeça do Arcebispado, três léguas e da de Lisboa sessenta léguas. Tem esta Insigne Colegiada aqueles bem conhecidos privilégios das Tábuas Vermelhas, que sempre os Senhores Reis Fidelíssimos mandaram se guardassem e cada vez mais se ampliam na mesma vila. Há muitas mais antiguidades e coisas notáveis, que não pude alcançar para poder com mais individuação dizer, de que o mesmo Estaço dará cópia.
Não me parece tenha que descrever dos mais interrogatórios, só sim que os muros de que faço menção que circulam a freguesia são antigos e seguros e de cantaria e, no distrito da mesma freguesia, ficam algumas torres e uns e outros não padeceram coisa alguma no terramoto do ano de setecentos e cinquenta e cinco. Tem nesta freguesia mais a fonte de águas que se encaminham da serra de Santa Catarina e lançam na Praça de Nossa Senhora, num grande tanque pegado a esta mesma igreja da Insigne e Real Colegiada. E esta é do padroado do Fidelíssimo Senhor Dom José Primeiro, Nosso Rei, e foi de seus antecessores. E sempre veneraram a mesma Senhora e seus privilégios, lhe concederam com mão liberal rendas e honras, donativos e favores.
E nesta forma satisfiz como pude à ordem de que faço menção no princípio deste. Mais me ocorre é dizer que na igreja desta freguesia da Insigne Colegiada existe ainda, metida na parede da nave direita, com umas grades de ferro, uma pia de pedra tosca, em que foi baptizado o Senhor Dom Afonso Henriques, primeiro Rei deste Reino de Portugal. E nesta forma, na companhia de meu companheiro acima declarado, fiz este extracto que ambos assinámos. Guimarães de Maio 20 de 1758.
Francisco José Vieira de Pina, cónego cura da Colegiada de Guimarães.
Manuel José Reis da Costa Pego, cónego e cura da Colegiada de Guimarães.
Oliveira do Castelo, Guimarães Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 18, n.º 134, p. 745 a 751.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Paraíso,
S. Miguel Arcanjo do
Paraíso é aldeia e paróquia do termo da vila de Guimarães, na comarca do mesmo nome. O seu povo consta de 32 fogos, 162 almas de sacramento, na matriz dedicada a S. Miguel Arcanjo.
O Pároco é cura apresentado pelo Cabido da Real Colegiada de Guimarães e tem de côngrua 40$000 réis.
“Paraíso”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 42, nº 290, p. 13.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Pencelo,
S. João Baptista de
Pencelo é aldeia e paróquia do termo da vila Guimarães na comarca do mesmo nome. O povo desta paróquia constava, no tempo do Académico Lima, de 48 fogos, com 150 almas de comunhão e pouco depois achou o Portugal Sacro 189 fogos, todos pertencentes à matriz dedicada a São João Baptista.
O pároco é abade da apresentação do Padroado Real. Tem de côngrua 250$000 réis.
“Pencelo”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 42, memória 308, p. 147.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Pentieiros,
Santa Eulália de
Pentieiros é aldeia e paróquia do termo da vila de Guimarães, na comarca do mesmo nome. O seu povo consta de 23 fogos, com 72 almas de sacramento na matriz dedicada a Santa Eulália.
O pároco é abade apresentado pela Mitra de Braga, e tem 100$000 réis de côngrua.
“Pentieiros”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 42, nº 311, p. 149.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Polvoreira,
S. Pedro de
Polvoreira é aldeia e paróquia do termo da vila Guimarães, na comarca do mesmo nome. O seu povo consta de 95 fogos, com 270 almas de sacramento, na matriz dedicada a São Pedro.
O pároco é abade apresentado in solidum pelas freiras de Santa Clara de Vila do Conde e tem de côngrua 450$000 réis.
“Polvoreira”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 42, memória 330, p. 157.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Ponte,
S. João de
Ponte é aldeia e paróquia do termo da vila Guimarães, na comarca do mesmo nome. O seu povo consta de 250 fogos, com 750 almas de comunhão, na matriz dedicada a São João Baptista.
O pároco é vigário colado apresentado pelo Cabido da Real Colegiada de Guimarães. Tem de côngrua 150$000 réis.
“Ponte”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 42, n.º 333, p. 159.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Prazins,
Santa Eufémia de
Prazins é aldeia e paróquia do termo da vila Guimarães, e comarca da mesma vila. O seu povo consta de 66 fogos na matriz dedicada a Santa Eufémia.
O pároco é é abade apresentado pela Mitra de Braga, e tem de côngrua 280$000 réis.
“Prazins, Santa Eufémia de”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 42, n.º 354, p. 171.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Prazins,
Santo Tirso de
Prazins é aldeia e paróquia do termo da vila Guimarães e comarca do mesmo nome. O seu povo consta de 92 fogos, com 250 almas de comunhão na matriz dedicada a Santo Tirso.
O pároco é abade, in solidum apresentado pela Mitra de Braga, e tem de côngrua 400$000 réis.
“Prazins, Santo Tirso de”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 42, n.º 353, p. 170.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Rendufe,
S. Romão de
Em observância do mandato e ordem com interrogatórios do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor de cidade Primacial de Braga, como obediente súbdito respondendo a eles na forma ordenada ou aquela a que a terra permite.
Digo, está esta igreja situada no termo e comarca de Guimarães, Província de Entre-Douro-e-Minho. E é invocação e orago de São Romão de Rendufe e é data dos reverendos cónegos da insigne Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira da vila de Guimarães como senhores dos dízimos, anexa ao mosteiro de São Torcato.
É a dita igreja antiga, não muito grande, modernamente obrada. Tem o altar maior a imagem de São Romão, padroeiro desta freguesia tem mais dois altares com as costas no arco da nave direita está a do Santíssimo Sacramento, da nave sinistra está o de Nossa Senhora do Rosário, com confraria e indulgências. Não tem torres só campanário do sino, posto na parede sobre a porta principal.
É o pároco desta igreja cura apresentado pelos reverendos cónegos.
Está esta freguesia situada entre alguns montes. Não se descobrem dela povoações algumas.
São os frutos dela, o mais, milho grosso, centeio e milho miúdo e pouco trigo, vinho pouco.
Dista esta freguesia da cidade de Braga três léguas, de Guimarães uma légua, da cidade do Porto nove léguas, de Lisboa sessenta léguas.
É esta freguesia do Arcebispado de Braga e terras de Sua Majestade. Serve-se do correio de Guimarães, que é uma légua de distância como dito fica.
Tem esta freguesia nove lugares, silicet, Sabugosa, Quintãs, Vilarinho, Loureiro, Igrejas, Sabrigo, Lama, Casas Novas, Sernados.
Tem oitenta moradores, tem duzentas e sessenta pessoas.
Não tem capelas, nem capelães, nem romagens, nem rios, nem feiras, nem outra coisa que compreendam os interrogatórios, razão porque não respondo a eles mas só sim aqueles a que a terra oferece razão e notícia.
Foi-me entregue esta ordem em quatro de Abril de mil e setecentos e cinquenta e oito e dei satisfação aos interrogatórios e declaração deles quanto se oferece dentro do tempo de dois meses por Vossa Mercê ordenados a cujas ordens fico.
São Romão de Rendufe, de Maio 12 de 1758 anos.
Vai assinada pelos dois párocos convizinhos, como se ordena.
O abade Luís de Oliveira.
O pároco José da Costa Miranda.
O pároco Joaquim Pinto.
“Rendufe”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 31, n.º 66, p. 373 a 374.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Ronfe,
S. Tiago de
Freguesia de Santiago de Ronfe.
É da Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga Primaz, comarca de Guimarães.
É couto, de que é senhor donatário, ao presente, o Conde de Castelo Melhor, ainda que a justiça escreva em nome de el-rei nosso senhor, que Deus guarde.
Tem cento e noventa e quatro fogos, pessoas de sacramento, ausentes e menores, setecentas e cinco.
Está situada a igreja numa planície. Dela se descobre a igreja de São Mamede de Vermil, São João de Airão, Santa Maria de Airão, Santa Marinha de Mogege, São João de Gondar, São Miguel do Paraíso, todas vizinhas dela.
É cabeça deste termo e couto de Ronfe. Tem os lugares e aldeias seguintes: Ermida, dois vizinhos, Soutinho, quatro, Casais, três, Couto, três, Souto oito, Romãos, quatro, Quintela de Baixo um, Quintela de Cima, cinco, Poça, três, Vinha Velha, dois, Oleiros, oito, Cavada, dois, Ribadave, dois, Quintãs, um, Arieiro, um, Bessa, dois, Serquinha, quatro, Cachada, dois, Lourinha, cinco, Serdeira, quatro, Azenha, um, Barroca, cinco, Cabo de Vila, um, Devesa, três, Catas, três, Olival quatro, Pedroso, três, Terça de Baixo de Além, quatro, Fonte do Francisco, seis, Venda da Ladra, um, Bouça um, Chozende, três, Bica, dois, Dentro, um, Sobrado, um, Ermígio, um, Costeira, um, Outeiro, dois, Monte, onze, Cancela, um, Barze, cinco, São Miguel, um, Gremil, três, Mourisco, três, Cruz, quatro, Além, cinco, Covelo, quatro, Repiade, quatro, Requeixo, nove, Casa Nova, três, Gemunde, dois, Mesão Frio, sete, Ouca, cinco, Igreja, dez.
Compreende este couto a freguesia de São Mamede de Vermil, parte da de Mogege e dois lugares de São João de Brito, cujas informações dos reverendos párocos declararão vizinhos e pessoas que pertencem a este couto.
A paróquia está situada no meio da freguesia, cujo orago é Santiago Maior. Tem três altares. O maior, de Santiago, em que é colocado o Santíssimo Sacramento. O da parte direita, de Nossa Senhora do Rosário. em confraria. E o da parte esquerda, das Almas. Tem irmandade de muitos irmãos. Tem uma só nave.
É reitoria da Ordem de Cristo, da colação ordinária. Renderá cem mil réis, pouco mais ou menos. Não tem beneficiados.
Tem, dentro dos limites da freguesia, quatro capelas. Uma da Senhora da Abadia, pertencente a Manuel Cardoso da Silva, onde alguma gente vem de romagem, dia da Senhora. Outra, de São Miguel, pertencente a Bento Leitão de Almeida. Outra, da Senhora da Graça, pertencente à freguesia, onde acode algumas pessoas dia da Senhora das Neves. Outra, de Santo António, em cujo dia concorre bastante gente, dia de São Bento e de Santo Amaro da freguesia.
Os frutos em maior abundância são milhão e vinho verde, algum centeio e milho alvo e pouco trigo e feijão.
Tem juiz ordinário, dois vereadores e procurador, de que esta freguesia é a cabeça. Há na freguesia uma feira, chamada da Farrapa, que se faz aos domingos de tarde; está quase extinguida, por muita sisa.
Serve-se do correio de Guimarães, que chega ao domingo e parte à sexta-feira, e dista um légua, e à cidade de Braga, capital deste Arcebispado, duas léguas e meia, e, à de Lisboa, capital deste Reino, sessenta.
Tem esta freguesia quatro privilégios das Tábuas Vermelhas da Senhora da Oliveira da vila de Guimarães.
Não padeceu detrimento algum com o terramoto de 1755, mais que o susto.
Não há serra alguma. Medeia entre esta freguesia e de Joane um limitado monte, chamado de Albarda, que corre de Norte a Sul, carregando para o Poente. Principia na freguesia de São Mamede e finda na de Mogege. Terá, de comprido, meio quarto de légua e metade de largo. É cercado de bouças de mato e terra lavradia, celebrado porque nunca nele ou nas ditas bouças se procurou lebre que se não achasse. Eu já vi três juntas a comerem um burro morto.
Medeia esta freguesia e a de São Miguel do Paraíso o rio de Ave, hoje bem nomeado por passar ao redor da Senhora do Porto. Dizem que tem princípio na fonte de Ave, da freguesia de Salto, numa penha e assim corre, de Nascente a Poente, sempre em curso arrebatado, até se meter no mar, em Vila do Conde, com o mesmo nome. Não é navegável por ter muitas levadas para moerem azenhas.
Tenho observado que entra nele a fonte de Pedralva, na freguesia de São Cláudio, e o envenena de tal sorte que o vinho que se cria à beira dele é muito verde. E não se cria à beira dele fruta de espinho, nem caroço, no espaço de duas léguas, até entrar nele o rio de Pombeiro, em São Miguel das Aves, e, daí para baixo, o torna a serenar, que o vinho é melhor e se torna a criar a dita fruta, como em Santo Tirso e outras freguesias.
Cria bastantes peixes. Em maior abundância, neste tempo, são bogas, barbos, alguns escalos, poucas enguias e menos trutas. Se neste mês de Maio há enchentes grandes, sobem lampreias e sáveis. Já vi uma besta que levava uma pipa de vinho cheia de lampreias caçadas à fisga e se levaram a vender a Guimarães. Há poucos anos se caçaram, de uma chumbeirada, dezoito sáveis. Tenho observado que os barbos se vão ao mar fazer sáveis e tornam a morrer à água doce e o mesmo as lampreias e as enguias, a congros. E neste rio vi caçar dois de oito palmos cada um e as trutas se vão fazer …. [palavra ilegível] ao mar e tornam, principalmente ao rio Minho, salmões. As suas margens, em partes, se cultivam e dão pão e vinho em outras mato e penices.
Tem no distrito desta freguesia nove moinhos que só moem no Verão, cinco azenhas que moem todo ano. Uma delas está alagada. Com enchente, estas moem muito pão e concorre a elas muita gente de légua e duas e mais de distância, principalmente no Verão. E, havendo grandes enchentes, também pejam a se remediarem os moradores com moinhos que têm pelos campos, que alguns, passada a enchente, não tem água alguma.
Não acho coisa notável nesta freguesia de que possa mais dar informação e peço se junte esta em caderno com o que der o padre pároco de São Mamede, por ser deste couto, e o de Mogege e Brito, por ser parte delas também do dito couto. E assinou esta o reverendo António José Marques de Araújo e o reverendo Domingos Marques da Silva, um vigário de São Mamede e outro reitor de Brito. Hoje, de Maio 23 dias de 1758. Aos mais interrogatórios, não tenho que responder.
João do Couto Ribeiro.
Domingos Marques da Silva.
O vigário, António José Marques de Araújo.
“Ronfe”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 11, n.º 155, p. 949 a 952.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Ruílhe,
S. Paio de
Notícia e descrição da freguesia de São Paio de Ruílhe.
Está esta freguesia na província do Minho, Arcebispado de Braga Primaz das Espanhas. É comarca de Guimarães e do mesmo termo, ainda que fique no meio do termo de Barcelos, por ser esta freguesia e a de São Miguel da Cunha dadas antigamente pelos vereadores da vila de Barcelos, de cujo termo eram, ao termo de Guimarães, para estas duas freguesias exercitarem na dita vila aquela ignominiosa acção de irem à dita vila, sete vezes ao ano, varrerem o terreiro da Senhora da Oliveira e os açougues, com umas insígnias injuriosas, conduzidos três homens, que iam cada vez, cuja obrigação pertencia antigamente aos vereadores da vila de Barcelos, em castigo de fraquearem naquela insigne batalha de Ceuta, cuja fraqueza supriram os soldados de Guimarães, e por isso iam àquela vila os vereadores de Barcelos exercitar aquela injuriosa acção, e por não haver naquela vila quem quisesse servir a ocupação de vereador, deram estas duas freguesias para o termo de Guimarães, com obrigação de exercitarem a dita acção, o que fizeram pelo decurso de alguns trezentos anos. Opuseram-se as ditas freguesias com requerimentos a Sua Real Majestade, o senhor Dom João quinto, que Deus tem, que, informado da verdade, por seu real decreto, no ano de mil setecentos e quarenta e dois, foi servido mandar se fizesse perpétuo silêncio nos requerimentos e não houvesse mais requerimento algum como consta do mesmo decreto, que em meu poder se acha, e se não exercitasse mais semelhante acção.
Pertence esta freguesia a Sua Real Majestade.
Tem esta freguesia setenta e oito fogos ou vizinhos. Tem, pessoas de sacramento, e menores, duzentas e trinta e oito.
Está situada num vale plano e dela se descobre a cidade de Braga, que dista uma légua, ainda que não toda.
A igreja desta freguesia está no meio dela. Tem sete lugares: Além do Rio, Este, Vila, Cacascelos, Ruílhe, Pecelar e Igreja.
São paio é orago desta freguesia. Tem três altares, um mor e dois colaterais. No maior está São Paio, de vulto, e o Menino Jesus e o Sagrado Viático. Nos colaterais, à parte do Evangelho, está a Senhora do Rosário, à parte da Epístola, está Santa Luzia, imagem de muitos milagres. Tem a irmandade de São Sebastião, que fica no mesmo altar de Santa Luzia, tema da mesma Santa e a de Nossa Senhora do Rosário.
O pároco desta igreja é abade, apresentação do ilustríssimo e excelentíssimo senhor donde do redondo. Terá de renda trezentos mil réis. Não tem capela ou ermida alguma.
Produz esta freguesia muito milho grosso, por serem planas as terras, com algumas levadas do rio, vinho em abundância. Tem muitas devesas de lenha de carvalho, que os lavradores levam jucada à cidade de Braga, com que bem se remedeiam
Serve-se esta freguesia do correio da cidade de Braga, por ficar distante uma légua.
Dista da cidade de Braga uma légua, capital deste Arcebispado, e da cidade de Lisboa, cinquenta e seis léguas.
Nos mais interrogatórios não há que dizer.
A esta freguesia cercam dois montes pequenos e limitados, um à parte do Norte, outro do Sul, que produzem mato e devesas de carvalho, e muita caça de coelhos e algumas poucas perdizes. Não têm coisa digna de memória. Fica um entre esta freguesia e São Miguel de Cunha e do Sul entre esta e o Salvador de Tebosa.
Passa por esta freguesia um rio, que se chama o rio Este, por ter seu princípio acima da cidade de Braga, onde chamam carvalho de Este.
O seu nascimento é limitado, porém aumenta-se daí em diante, no tempo do Inverno é caudaloso, porém no Verão traz pouca água nesta freguesia, por os lavradores se aproveitarem até ao seu nascimento, e tem havido anos que de todo seca.
Entra neste rio outro que vem da veiga do Penso, e a ele se une na freguesia de Lomar. É de curso quieto, por correr plana a terra por onde passa.
É a sua corrente do Nascente ao Poente.
Cria peixes em abundância, como são barbos, trutas, bogas, escalos, com a circunstância de serem os mais gostosos que se criam na província. Em mais abundância são escalos.
Pesca-se nele em todo o tempo do ano, sem haver particularidades.
Ao redor dele tudo é cultivado de campos, com algumas levadas que nesta freguesia os regam e limam. Tem alguns arvoredos em partes, como são carvalhos e salgueiros,
Sempre se apelidou o rio de Este, por ter seu nascimento onde chamam o Carvalho de Este, acima da cidade de Braga uma légua, e não há notícia tivesse em tempo algum outro nome.
Vai este rio entrar no mar a Vila do Conde. Porém, primeiro se junta ao rio Ave, junto a Vila do Conde.
Não é navegável, por não ter cabedal para isso, e ter juntamente muitos aludes de moinhos e azenhas.
Tem nesta freguesia uma ponte de pau, por onde passam carros de uma para outra parte em todo o baixo da freguesia.
Tem nove engenhos negreiros, um lagar de azeite, este rio.
Todas as levadas que nele há são livres para seus donos, só uma desde o primeiro de Maio até Setembro não vai aos campos sem licença do dono de um moinho que fica da parte de baixo.
Tem este rio sete léguas desde o seu nascimento até entrar no mar, passa por o redor da cidade de Braga e vem continuando por aldeias.
São estas as notícias que posso dar desta freguesia e por verdade me assino. S. Paio de Ruílhe, 3 de Abril de 1758.
O abade António Machado da Silveira
O vigário de Tebosa, Manuel Ferraz da Mota.
O Abade de Cunha, Manuel António Coelho
“Ruílhe”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 32, nº 173, p. 1051 a 1056.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Sande,
S. Clemente de
Notícia ou declaração lacónica aos interrogatórios expressados no papel junto e escrita em observância do que se me determinou na ordem do senhor ordinário que com o mesmo papel vinha e, na forma dela, torno a remeter.
Esta freguesia de São Clemente de Sande está situada num vale ameno, cercado, pela parte do Norte, com um monte em algumas partes bastantemente alto, denominado o monte de São Bartolomeu, talvez porque num rochedo dele está uma capela do mesmo santo, de cuja primeira fundação não há memória, motivo por que se conjectura ser antiquíssima, e no território ou termo da sempre notável vila de Guimarães, primeiro berço dos fidelíssimos monarcas lusitanos. E estão sujeitos os moradores da mesma freguesia às justiças seculares da mesma vila, que constam dos doutores juiz de fora, corregedor e provisor. E dela dista légua e meia, e o mesmo da cidade de Braga, capital do Arcebispado, e sessenta léguas da de Lisboa, capital do Reino.
A igreja é dedicada ao invictíssimo mártir São Clemente, seu orago e padroeiro, cuja sagrada imagem está colocada no altar da capela-mor. Ao seu lado direito está a imagem de Deus Menino e a do Príncipe dos Apóstolos, São Pedro; ao lado esquerdo, está a imagem de Santo Amaro. A capela-mor é de pequena estrutura. A igreja tem uma só nave, estreita, sim, mas comprida. Tem dois altares colaterais com proporção na grandeza à estreiteza da mesma igreja. No do lado direito está a sagrada imagem de Maria Santíssima, com a invocação ou título das Candeias. É de roca e tem nas mãos o seu dulcíssimo filho. Está continuamente ornada com vestidos de seda, coroa de prata, e, no dia da sua festividade, a dois de Fevereiro, e nas festas mais principais do ano, lhe vestem vestido e manto de seda mais preciosa. No altar do lado esquerdo, está a imagem da gloriosíssima Santa Ana, com sua santíssima filha, e querido neto no colo, tudo de vulto, perfeitamente encarnados os rostos e estofadas as roupas. A imagem da santa está na postura de sentada e, ao seu lado direito, está a imagem de Maria Santíssima, tudo fabricado na mesma peça e posta sobre sua peanha. Ao lado esquerdo de Santa Ana, está colocada a imagem de São Sebastião, também de vulto. Em todos os três altares estão pintadas algumas imagens com bela perfeição, ainda que antigas as pinturas, e os mesmos altares dourados. Não há irmandades nem confrarias algumas nesta igreja, mais do que a confraria do Santo Nome de Deus, que se festeja no dia da Circuncisão. No altar-mor, ao lado esquerdo do santo padroeiro, está a imagem de Santo António.
O pároco desta igreja é vigário colado e, quando sucede vagar, pertence a sua apresentação ao reverendo reitor do Mosteiro de São Martinho de Sande, a quem é anexa. Tem de côngrua anual catorze mil réis em dinheiro, duas libras de cera, dois almudes de vinho, dois alqueires de trigo e trezentos réis para a lavagem da roupa, pago tudo pelos frutos da comenda. E terá de rendimento, por tudo, cento e vinte mil réis cada um ano.
No alto do monte chamado de São Bartolomeu, para a parte do Norte, está uma planície e, no fim dela, o lugar chamado de Outinho cujos moradores vivem gostosos com a protecção soberana de Maria Santíssima que, junto ao mesmo lugar, se venera numa capela de grandeza bastante para o sítio e com seu pórtico, com o título ou invocação de Senhora da Saúde, cuja sagrada imagem ornam os seus devotos com vestidos de seda, por ser de roca. E, no dia da sua festividade, que é na segunda oitava da Páscoa, lhe vestem o mais precioso. Nesse dia, concorre inumerável povo em romaria a venerar a mesma Senhora e também pelo decurso do ano, pois obra a senhora muitos milagres. Não há notícia do tempo em que se fundasse a dita capela e, por isso, se faz presumível que os primeiros habitadores daquele sítio tão solitário a fabricariam e nela colocariam a sagrada imagem. O fabriqueiro da comenda tem a obrigação da sua reedificação, sendo necessário conservá-la e paramentá-la. Os moradores daquele lugar têm grandes matas de lenhas de carvalho, castanheiros e outras árvores. Lavram muito pão e, já hoje, algum vinho. Criam muitos gados e distarão da igreja meia légua, pouco mais ou menos e do fim da freguesia, que finaliza no rio Ave, uma légua. É todo o monte povoado de árvores e matos e tem bastante caça de perdizes, coelhos e algumas lebres.
A capela de São Bartolomeu está fundada num rochedo do dito monte, para a parte do meio dia. A ela concorre muito povo de várias partes, no dia do mesmo santo. Também se ignora a sua fundação e pertence aos moradores da freguesia o consertá-la de tudo o necessário. A imagem do santo é de vulto e está colocada num altar de madeira pintado. A aspereza do sítio não permite o estar com a decência devida.
Subindo para o mesmo monte, também pela parte do meio dia e já no princípio do vale, está a capela de São Miguel, cuja capela é do morgado que na mesma quinta instituiu Gil Lourenço Gomide, mantieiro-mor do Senhor Rei Dom João primeiro, alcaide-mor de Miranda e irmão de Gonçalo Lourenço, escrivão da puridade, em quatro de Agosto do ano de mil quatrocentos e trinta, como se lê numa pedra metida na parede que faz entrada e portal para as casas da mesma quinta, ao lado esquerdo do portal, entrando de fora. E, noutra pedra metida na mesma parede, ao lado direito, entrando, se lêem os privilégios antigamente concedidos ao mesmo instituidor e seus sucessores, que hoje não logram, por deixarem perder o uso e posse de uma torre que tinham na vila de Guimarães. E, para lembrança deles, o administrador que foi do mesmo morgado, Francisco Pereira de Miranda, mandou pôr duas colunas na entrada do mesmo portal e, de uma para a outra, uma cadeia de ferro por cima da porta e, sobre a do lado direito, saindo para fora, uma coroa, sem dúvida de ferro sobredourado, sustentada numa vareta, também de ferro. Como este administrador faleceu sem sucessão, lhe sucedeu seu irmão Manuel Félix de Miranda, assistente na cidade de Braga. A capela está decentemente ornada.
Logo abaixo da sobredita quinta, no lugar chamado de Ruivós, se vê arruinada a capela de São Pedro, cuja sagrada imagem é a que se venera na igreja. Era capela pequena, mas é tradição constante que, algum dia, fora igreja matriz e abadia e não há muitos anos que a teima ou incúria dos fabriqueiros da comenda, a quem pertencia o fábrica-la, motivou o estrago em que hoje se vê, pois os moradores desta freguesia, e não os mais velhos, se lembram de se festejar o santo na mesma capela.
A terra desta freguesia é muito frutífera, pelas muitas águas com que se rega, e, por isso, é abundante de milhão, centeio, feijão e linho, mas pouco trigo, bastante azeite, muito vinho de uveiras, a que chamam de enforcado, muitas frutas de várias castas. E os lavradores criam muitos gados, grandes e miúdos.
Não há nesta freguesia coisa digna de memória mais do que o expressado, para dar reposta aos interrogatórios separadamente, nem nos montes que a circundam pelos mais dos lados, excepto para a parte da vila de Guimarães, nem no mesmo vale de que consta. Não tem rio algum mais do que um pequeno regato, que nela entra pouco acima do lugar chamado o Tapado. Este, no tempo do Inverno, se ensoberbece com as muitas águas que dos montes descem para ele. Tem seu princípio numa fonte na serra chamada Falperra e, unindo-se aquelas águas com outras na freguesia de São Salvador de Balazar, o vão aumentando. Cria bastantes trutas, escalos e bogas. Logo a pouca distância do seu princípio, se vê povoado de moinhos e nesta freguesia tem muita quantidade deles, depois que nela entra até desaguar no rio Ave. Das suas águas usam livremente os moradores desta freguesia para a cultura das terras e o mesmo fazem os das mais freguesias por onde passa. Quase todas as suas margens se cultivam e são povoadas de arvoredo silvestre, algum, e outro frutífero. Do seu nascimento até ao rio Ave, onde fenece, terá de comprido mais de uma légua, não atendendo aos âmbitos que faz, mas sim atendendo à distância da terra em direitura. Nesta freguesia, depois que nela entra, o denominam o rio de Febras e, querendo indagar a etimologia deste nome, não achei quem dela me desse notícia e só me disseram que se chamava assim pela frialdade das suas águas.
Dos últimos fins do lugar de Outinho até ao rio Ave, terá esta freguesia uma légua de comprimento. Os seus lugares são bastantemente dispersos e, ainda que não mereçam rigorosamente o nome de lugares, por terem poucos vizinhos ou moradores, e muitos deles não têm mais que um só morador, contudo vão expressados pela ordem seguinte e como estão descritos no rol da igreja: lugar do Assento, Pinheiro, Cachada, Mão, Marnel, Madroa, Paçô, Carvalho, Ventozela, Bacelo, Barroca, Bouça, Casa Nova, Bouça do Monte, Devesa, Cabreira, Barroco, São Miguel, Outeiros, Montezelo, Ruivós, Seixido, Lamas, Bieite, Pombal, Souto Novo, Moinhos, azenha de Bargas, Vila Fria, Tapado, Dussumarães, Azenha, Panco, Souto, Trás-do-Rio, Quintãs, Mogada, Outinho.
Todos os sobreditos lugares constam, ao presente, entre pessoas maiores e menores, de um e outro sexo, quase de quinhentas pessoas, computando também as que aos peitos de suas mães se vão criando. E, porque umas nascem e outras morrem, se não pode verificar cômputo certo na sua existência.
Os moradores desta freguesia, quanto a ocorrência dos seus negócios ou dependências o pede, se servem do correio da vila de Guimarães.
É tradição constante que esta igreja fora antigamente abadia, mas não consta o tempo em que se anexou à igreja do Mosteiro de São Martinho de Sande, para se saber se foi depois de reduzido à comenda da Ordem de Cristo ou quando era de monges Beneditinos, em cujo tempo, talvez, estaria mais bem ornada a sua pequena capela-mor e paramentada do preciso para o culto divino, do que hoje se acha, pois se acha em suma pobreza de ornatos e mais coisas necessárias, sem dúvida porque a sua miséria se não tem manifestado a quem percebe os frutos da mesma comenda pois, sendo os desta freguesia uma das grandes porções de que se compõe o todo do seu rendimento, crível é que o ilustríssimo comendador, se o soubesse, não deixaria de facultar zelosa e catolicamente ao seu fabriqueiro a liberdade de ornar e paramentar a capela-mor de uma igreja tão pingue no rendimento para a mesma comenda.
Esta, em suma, é a sincera resposta que se pode dar à maior parte dos interrogatórios, em razão de não haver no distrito desta freguesia, montes e vales, coisa memorável, na forma dos mesmos interrogatórios, para responder a cada um especificamente. Toda a expressão feita é verdade notória, e por ser assim o escrevi e assinei, juntamente com os dois reverendos párocos vizinhos desta freguesia. São Clemente de Sande, 8 de Maio de 1758.
O vigário, Duarte Correia de Lacerda.
O vigário de São Tomé de Caldelas, Domingos Fernandes.
O vigário de São Lourenço de Sande, Miguel de Abreu Pereira.
“Sande, São Clemente de”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 33, n.º 49, p. 337 a 343.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Sande,
S. Lourenço de
Declaração do que se contém nos interrogatórios juntos aos cinco de Abril de 1758 nesta freguesia de São Lourenço de Sande.
1. Está esta freguesia de São Lourenço de Sande sita na Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga, comarca e termo de Guimarães.
2. É terra de el-rei Nosso Senhor, sujeita às justiças da vila de Guimarães. Não tem donatário, só os dízimos e primícias são do Marquês de Valença.
3. Tem cento e vinte vizinhos ou fogos, trezentas e trinta pessoas de sacramento, fora os ausentes, que são quarenta, e fora os menores, que são setenta.
4. Está situada num ameno vale, plano e chão, e dela se descobrem, para a parte do Sul, duas léguas de campinas e freguesias, até à vila de Guimarães, e, pelo Nascente se não descobre nada, por se meter de permeio o monte de Sabroso. Pelo Norte se descobre a freguesia de Santa Cristina de Longos, com quem parte, e, pelo Poente, só descobre a do Salvador de Balazar, com quem parte.
5. Não tem termo seu, que é do da vila de Guimarães, como já se disse no primeiro interrogatório.
6. A paróquia está situada no meio de um lugar chamado o Burgo, cujo tem trinta e cinco vizinhos, e consta dos lugares seguintes a freguesia toda, convém a saber, Assento da Igreja, Eira da Telhada, Barroca, Eira Velha, a Barranha, a Telhada, o Rio, o Carvalho, as Moreiras, Burgo, Além do Rio, Fojo, a Carreira, Casal Ferreiro, as Barreiras, Outeiro do Muro, Agro Longo, a Boucinha, o Souto, Cucherre, Casal Novo, a Tomada, o Outeiro, Trabanca, o Rego, a Rechão, a Ouzanda, o Tapado, o Cabo, Currelos, Cariá, a Cancela, a Boavista, os Sobreiros e não tem mais lugares e em todos eles vivem as trezentas e trinta pessoas já declaradas e os menores.
7. É o seu orago o invictíssimo mártir São Lourenço. Tem três altares, scilicet, o altar maior, onde está São Lourenço, à mão direita do dito altar, no frontispício, um Senhor Crucificado. Imagens de vulto: São Silvestre, o Menino Deus, o Espírito Santo; em pintura, Nossa Senhora das Angústias ao pé da cruz e o Evangelista, mimosa, São Bento e Santa Gertrudes. Não tem sacrário. No colateral, da parte do Evangelho, estão no frontispício dele Nossa Senhora das Candeias e o glorioso São Sebastião. No da parte da Epístola, Santo António e São Caetano. E não há outros santos. Não tem nave alguma. É igreja moderna, de sessenta e dois palmos de comprido e trinta de largo até ao arco cruzeiro. A capela maior tem trinta palmos de comprido e vinte de largo, com sua sacristia da parte do Evangelho. Não tem irmandades mais que a de São Lourenço e essa com pouco rendimento.
8. É o pároco vigário perpétuo e colado da apresentação do reitor do Mosteiro de São Martinho de Sande, cujos frutos dela e esta anexa come o Excelentíssimo Marquês de Valença, Conde de Vimioso. Renderá para este, com dízimos e rendas sabidas, o melhor de quatrocentos mil réis e a matriz outro tanto. Tem somente o pároco, de ordenados pagos pelos frutos da comenda, dez mil réis e, com as ofertas dos fregueses e pé de altar, renderá cada um ano, para o vigário, oitenta mil réis, pouco mais ou menos.
9.º, 10.º, 11.º, 12.º. Não há que declarar, porque não há beneficiados, conventos, hospitais, nem casa de misericórdia.
13. Tem, dentro dos limites desta freguesia, no monte chamado de Sabroso, que fica para a parte do Nascente, uma capela com a invocação do Espírito Santo, com uma capela maior feita ao moderno. E, no altar maior, está no frontispício do retábulo, em vulto, a imagem do Espírito Santo e, da parte direita do altar, Santa Catarina virgem e mártir e, da parte esquerda, Nossa Senhora dos Prazeres. Tem sua sacristia para a parte do Norte, com seu Cabido. Dela se descobre distância de quatro, cinco ou seis léguas de terra. Tem, no corpo da capela, abaixo do arco cruzeiro, para a parte do Norte, um altar com a invocação do Arcanjo São Miguel. Esta capela é dos fregueses e administrada pelos párocos.
14. Celebra-se todos os anos, no próprio dia do Espírito Santo, o mesmo, com missa cantada, sermão e procissão ao cruzeiro. Nesse dia, acode grande concurso de povo ao dito monte de várias freguesias, de romagens. Nos mais dias do ano, pouco povo, excepto alguma pessoa de romagem, quando lhe pede a sua devoção.
15. Os mais abundantes frutos que os moradores colhem são milho maís, milho alvo ou, por outro nome, milho miúdo, centeio, trigo, muito pouco, e vinho de enforcado, muita abundância, muito feijão, castanhas, muita fruta de maçãs de várias castas, peras, não tantas, ameixas poucas, landres para os cevados, linhos, boas hortas de couves galegas, que é o melhor manjar desde Novembro até Abril. Os olhos delas com boi, vaca e presunto, excedem a todo o bom mantimento. É abundante de muita carne de porco, boa carne de vaca, muito gado vacum, muita galinha, frangos e ovos, caça pouca.
16. Não tem juiz ordinário, nem câmara. Está sujeita às justiças da vila de Guimarães, assim provedor como corregedor, câmara, juiz de fora, juiz dos órfãos, há justiça que chamam o rendeiro das penas, que essa é o maior flagelo do pobre povo, de o vencer com condenações v.g. se fica condenado, se o não tem condenado, não sabe o povo como há-de viver com tal justiça ― parece mais zelo de comer do que serviço de Sua Majestade
17. Nada.
18. Nada.
19. Nada.
20. Não tem correio. Serve-se do da cidade de Braga, que dista desta freguesia uma légua, pouco mais ou menos, e do da vila de Guimarães, que dista duas léguas, ficando a dita vila para a parte do Sul e a cidade de Braga para a parte do Norte.
21. Dista da cidade de Braga, capital do Arcebispado, uma légua pouco mais ou menos, e da de Lisboa, capital do Reino, conforme me dizem, sessenta léguas, pouco mais ou menos.
22. Não há privilégios mais que um de Nossa Senhora da Oliveira da vila de Guimarães, nem antiguidades dignas de memória.
23, 24, 25. Nada de que se dê notícia.
26. Não padeceu ruína alguma no terramoto de mil setecentos e cinquenta e cinco. Somente de memória uma quinta chamada Casal Ferreiro, que ainda hoje conserva um olival como um labirinto, posto por ordem de sorte que, de todas as partes, faz uma rua sem que coisa alguma impeça a sua direitura. Foi, algum dia povoada, de várias árvores nunca vistas. É esta terra povoada de árvores de castanheiros, carvalhos, salgueiros e nestas dá Deus muita abundância de vinho que para se podarem e vindimarem são necessárias escadas de quinze e devasseis degraus.
Não há serra digna de memória. Pela parte do Poente tem um monte que entesta na freguesia chamado Pena Cobertoura, no alto com grandes penedos. Cria muito tojo para os lavradores fertilizarem os seus campos com os estercos que com ele fazem. Tem nessas partes muitos carvalhos e alguns castanheiros. Este monte, na direitura do mesmo Poente, corre espaço de meia légua e vai acabar à freguesia de São Martinho de Leitões. E, para a parte do Sul, leva um braço que vai acabar à de São Clemente de Sande, distância de meia légua. Não dá outro fruto mais que o tojo e erva brava para pasto de gado. E, pela parte do mesmo Poente e cercando a Norte até ao Nascente, é cercado, e suas duas circunvizinhas, o Salvador de Balazar e Santa Cristina de Longos, de uma serra chamada a Falperra que começa no monte de Santa Marta, áspero e alto, onde existe uma ermida da mesma santa entre grandes penedos. Dizem que foi habitada de Mouros. E, daí a trezentos passos, pouco mais, está um templo magnífico feito à romana, com a invocação de Santa Maria Madalena, que fica na estrada que vai direita para Braga. Esta serra só cria tojo e pastos para gados e, em partes, tem carvalhos e sobreiros. E, pelo Nascente, está um monte chamado de Sabroso, de onde se tira muita pedra para obras de casas, por ser boa. Este monte, em direitura do mesmo Nascente, pouco mais de um quarto de légua, vai acabar à freguesia do Salvador de Briteiros. E, pelo Sul, está toda descoberta e parte por aí com a freguesia de Santo Tomé de Caldelas e com a de São Martinho de Sande. Este monte só produz sargaço e algum tojo, erva brava, pouca, e carvalhos e sobreiros em partes.
Não há rio nesta freguesia, somente um ribeiro chamado o rio de Febras, que corre do Norte para o Sul. No Inverno é grande e de Verão seca-se de todo. Somente cria alguma truta e nada mais. Não tem pontes, só algum moinho de moer pão. Vai-se meter ao rio do Ave
O padre Miguel de Abreu Pereira, vigário da paroquial igreja de São Lourenço de Sande termo de Guimarães deste Arcebispado de Braga Primaz. Certifico que tudo o supra, escrito na forma dos interrogatórios juntos, é tudo verdade. E por não achar mais notícias que dar, passo esta, que vai assinada pelo reverendo Francisco José Soares, vigário do Salvador de Balazar, e pelo reverendo Pedro Lopes Garcia, vigário de Santa Cristina de Longos, ambos párocos mais vizinhos desta freguesia. O que, sendo necessário, o afirmo in verbo sacerdotis. São Lourenço de Sande, 15 de Abril de 1758 anos.
O vigário do Salvador de Balazar, o padre Francisco José Soares.
O vigário Pedro Lopes Garcia.
O vigário desta Miguel de Abreu Pereira.
“Sande, São Lourenço de”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 33, n.º 46, p. 317 a 322.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Sande,
S. Martinho de
Li com toda atenção os itens do papel que me foi entregue no dia 26 de Abril deste presente ano e de todos eles achei o seguinte.
Está situada esta freguesia de São Martinho de Sande num delicioso terreno, no meio de seus moradores, na fértil Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga, termo e comarca da sempre leal, notável e régia vila de Guimarães, berço do primeiro Rei de Portugal, o venerável Senhor Dom Afonso Henriques, de que Sua Majestade Fidelíssima foi sempre absoluto Senhor e pelas justiças da mesma vila se governa.
Consta ser antigamente mosteiro de cónegos de Santo Agostinho que fundou na melhor opinião o ilustríssimo Senhor São Profuturo, Arcebispo Primaz de Braga, no ano de 392, e depois passou a ordem Beneditina e o extinguiu o ilustríssimo Senhor Dom Fernando da Guerra, Primaz da mesma Diocese, e hoje é rendosa comenda da Ordem de Cristo, de que é comendador o ilustríssimo Marquês de Valença, ao qual pertencem os dízimos dela e das suas anexas São Clemente de Sande e São Lourenço de Sande. E a igreja é da colação ordinária e se provê por concurso. Tem de rendimento o reitor dela cento e sessenta mil réis, conforme os anos, e a este pertence apresentar os vigários das ditas anexas, quando sucede vagarem.
É esta igreja uma das mais preciosas do termo da vila de Guimarães, por ser muito grande, de uma só nave, toda azulejada ao antigo e pelo tecto se admiram excelentes pinturas. Tem cinco altares, o principal de São Martinho, orago dela, onde se venera o Santíssimo Sacramento, que tem confraria de bastante rendimento. Os mais são de Nossa Senhora do Rosário, que também tem confraria, o grande patriarca São José, o Senhor Crucificado e, o último, a Ressurreição do mesmo Senhor. Na parede da sacristia desta igreja se acham, da parte de fora, umas pedras com letras que dizem, setribus abundantior, e as mais que continuam não se podem ler, pelo discurso de muitos anos quase as consumir.
Tem esta freguesia duas capelas, uma de Santa Maria, sita no lugar de Sever, que, afirmam os antigos, fora abadia, hoje se acha unida a esta igreja e o pároco lhe administra os sacramentos dos seus moradores; outra no lugar de Cima de Vila, com a invocação de São Gonçalo dos Mártires, a qual se acha demolida e só existe parte das paredes, por não ter fábrica nem padroeiro, e o santo se colocou nesta igreja, onde ao presente se venera.
Consta do rol dos confessados ter esta freguesia 187 fogos, pessoas de sacramento, 524, menores, 37.
Recolhem seus moradores abundância de milho, centeio, vinho e azeite, quando os anos são favoráveis, e usam estes livremente das águas que fertilizam as suas terras.
Os seus lugares são 37 e se nomeiam pelos nomes seguintes: Assento, Couvidos, Rocha de Baixo, Rocha de Cima, Vilarinho, Antigas no Vergão, Bacelo, Soutinho, Cima de Vila, Couto, Foio, Carreira, Pontes, Cachadinha, Pedregais, Cachada, Gaias, Escampado, Cutuluda, Montes, Boavista, Taburno, Tarrio de Baixo, Tarrio de cima, Casa Nova, Paraíso, Alvite, Ribeira, Ribeira de Além, Campos, Lama, Vergão, Paço, Sever, Quintãs, Souto, finalmente Quatro Irmãos.
Neste lugar dos Quatro Irmãos se vêem, para a parte do Norte, na estrada que discorre de Guimarães para Braga, quatro sepulturas de pedra fina, que se não sabe memória certa das pessoas que nelas existem, porque uns dizem serem de quatro irmãos que tiveram pendências e que neste lugar se mataram uns aos outros. A mim me parece ser manifesto engano, pela razão de se verem as mesmas sepulturas com decência para aqueles tempos, pois se admiram nas suas cabeceiras esculpidas cruzes da Ordem de Cristo e com especialidade, em três delas, delineadas espadas e, à vista disto, me persuado ser isto do tempo dos Templários e não dos quatro irmãos que o vulgo afirma se mataram naquele sítio.
Servem-se os seus moradores do correio de Guimarães que parte na sexta-feira de manhã e chega no domingo à noite.
Fica esta freguesia distante da Augusta Braga, Metrópole deste Arcebispado, légua e meia e da Corte de Lisboa, sessenta e uma e meia.
Não experimentou ruína alguma no formidável terramoto do ano de mil e setecentos e cinquenta e cinco, que Deus Senhor Nosso pela sua infinita piedade permita não nos castigar segunda vez com o flagelo da sua justiça.
Admira-se nesta freguesia o celebrado monte chamado o Coto de Outinho, com várias devesas de carvalhos, e produz matos para sustento dos gados e cultura das terras, onde também se acham coelhos e perdizes para recreio dos caçadores. Da sua planície se descobrem várias serras e, em distância de meia légua, a temida serra da Falperra, a serra de Santa Catarina, distante duas léguas, o monte ou serra da cidade Citânia, que foi habitação dos mouros, e outras muitas que os párocos do seu distrito darão plena notícia pela longitude em que se descobrem, por não o poder indagar com mais clareza.
Fertilizam esta freguesia dez fontes de gostosa água e algumas delas, no Estio, se secam. Vê-se uma ponte no meio da estrada que vai de Guimarães para Braga, por onde passa o cristalino rio chamado Febras, que nasce na serra da Falperra, discorre pelo meio da freguesia e vai morrer no rio intitulado Ave. Tem de comprido meia légua, corre do Norte ao Sul, produz em todo o ano excelentes trutas de especial gosto e, no âmbito dele, se acham onze moinhos, que cortam pão de segunda para sustento de seus moradores e algumas freguesias circunvizinhas.
Isto é o que pude descobrir e pessoalmente entreguei esta informação ao escrivão da câmara deste Arcebispado, com o mesmo mandado ambulatório e recibos de todos os párocos desta visita, e como, assim o executei na forma que me foi mandado, me assino com os párocos mais vizinhos desta igreja de São Martinho de Sande, aos sete de Maio de 1758.
O pároco Jerónimo Pereira da Silva e Oliveira.
O vigário de São Lourenço, Miguel de Abreu.
O vigário do Salvador de Balazar, Francisco José Soares.
“Sande, São Martinho de”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 33, n.º 48, p. 333 a 335.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Sande,
Vila Nova de
Freguesia de Vila Nova de Sande, termo de Guimarães.
Esta freguesia de Vila Nova de Sande, está situada uma légua ao Poente da vila de Guimarães, de cujo termo e comarca é, e Arcebispado de Braga, Província de Entre-Douro-e-Minho.
É freguesia de jurisdição ordinária e não conhece outro donatário.
Tem sessenta e dois vizinhos.
Está situada numa campina nascida de um vale, que formam dois montes pequenos, um da parte do Norte que chamam dos Penedos Muitos, o outro da parte do Sul, que chamam o Montouto, cujos montes são ramos que nascem de uma serra chamada do Outinho, que lhe fica ao Poente.
Não tem esta freguesia lugar junto, é dividida em casais que, ao mais, são dois outros vizinhos. Os principais são: os Ferrojais, o da Aldeia, Reais, Tojeira e Assento. O orago desta freguesia é Nossa Senhora, com o título da Abadia. Tem a igreja três altares, o altar maior, onde está colocada a dita Imagem, dois colaterais, um de S. Sebastião, à parte esquerda, e outro de Nossa Senhora da Purificação, à parte direita. Tem de renda, de frutos certos e incertos, setecentos mil réis.
Não tem ermida nenhuma esta freguesia.
Os frutos que nela se recolhem em mais abundância são milhão, centeio, milho branco e vinho verde, trigo, pouco.
Dista esta freguesia da cidade de Braga, sua capital de Arcebispado, duas léguas, e de Lisboa, sessenta.
Não tem coisa digna de memória que se possa dar, nem teve ruína alguma no Terremoto de 755.
Não há serra alguma nesta freguesia, mais que os dois montes pequenos já ditos que, em si, não têm coisa notável.
Não tem rio algum mais do que as águas que nela nascem para o regadio da cultura. Porém, ao Nascente dela, em pouca distância, corre o rio Ave, já por terras da freguesia de S. João de Ponte, em cujo sítio, fronteiro a esta freguesia, está situada uma ponte de esquadria com quatro arcos, chamada a ponte de S. João, de que na dita freguesia se fará mais larga menção. Parte esta freguesia, da parte do Norte, com a de S. Clemente de Sande, do Sul com a de S. João de Brito, do Nascente com a de S. João de Ponte, do Poente com a de S. Paio de Figueiredo.
O abade Manuel Caetano de Pina.
O reitor de São João de Ponte, João Ribeiro de Araújo.
O reitor de S. João de Brito, Domingos Marques Silva.
“Sande, Vila Nova de”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 40, n.º 244. p. 1475 a 1476.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
S. Paio
Em cumprimento de uma ordem deambulatória que vi e me foi apresentada do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor deste Arcebispado de Braga Primaz das Espanhas, Francisco Fernandes Coelho, para, em cumprimento dela, informar o que se pede, num extracto de letra redonda que em meu poder fica, o que posso informar e pertence a esta freguesia de São Paio da vila de Guimarães, é o seguinte.
Esta freguesia de São Paio da vila de Guimarães está situada na Província de Entre Douro e Minho, Arcebispado de Braga, Primaz das Espanhas, e está no termo desta mesma vila.
Item, é Sua Majestade, que Deus guarde, o senhor desta terra.
Item, tem esta freguesia fogos de casados, viúvos e solteiros, quinhentos e oitenta e sete e, pessoas de sacramento, mil e duzentas e cinco.
Item, está esta freguesia situada em terra plana, dela se descobre até à distância de uma légua, para a parte do Poente, e meia, para a do Nascente, onde se acha um monte alto chamado da Penha, ou serra de Santa Catarina, e, para as do Norte e Sul, se acham uns montes mais baixos, que impedem ver-se maior distância.
Item, está esta freguesia no distrito desta vila, a qual tem termo seu, que compreende cento e três freguesias.
Item, está esta freguesia no distrito desta vila imediata à da Real Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira. Consta das ruas seguintes: o Terreiro de São Paio, Rua da Ferraria, Rua da Tulha, Rua de Alcobaça, Eirado do Forno, Rua Nova, Rua do Anjo, Rua do Postigo, Rua da Rochela, Rua da Porta da Vila, Rua de São Domingos, Rua de Gatos, Rua do Toural, Rua da Fonte Nova, Rua de Santo António, Rua de Santa Luzia, Rua dos Bimbais, Terreiro de Santa Luzia, Rua do Picoto, Rua da Calçada. Lugares: o Gaiteiro, o Proposto, Benlhevai e Bargas.
Item, o orago desta freguesia é o ínclito senhor São Paio Mártir, o qual se acha colocado no altar-mor dela, que administra e fabrica a confraria do Santíssimo Sacramento. No corpo da igreja tem quatro altares, um com a invocação do Santíssimo Nome de Jesus, que fabrica uma irmandade do mesmo nome; outro com a invocação das Almas do Fogo do Purgatório, que também fabrica outra irmandade do mesmo Nome das Almas; outro, com a invocação da Senhora da Misericórdia, que fabrica a sua irmandade do mesmo nome; outro, com a invocação de Santo Homem Bom, que também fabrica a sua irmandade do mesmo nome. E é esta igreja sagrada.
Item, é o pároco desta freguesia cura anual ad nutum[1] que apresenta o Senhor Dom Prior simul[2] e o reverendo Cabido da Real Colegiada desta vila, na qual são meeiros. E rende esta freguesia regularmente cem mil réis em cada um ano.
Item, há no distrito desta freguesia um convento de religiosas da Ordem dos Pregadores, da invocação de São Domingos, que governa o padre prior provincial e padre prior menor do dito convento, com os seus religiosos em forma e vida regular. Tem uma grande igreja, muito antiga, e nela suas irmandades. E, destas, é uma da invocação de Nossa Senhora do Rosário, a qual é abundante suficientemente de cabedal. E, por estatuto da dita irmandade, tem cada irmão que é da mesma irmandade, quando falece, quatrocentas missas por sua alma, que lhe mandam dizer os irmãos da mesa.
Item, há no distrito desta freguesia um recolhimento de recolhidas, da invocação do Arcanjo São Miguel.
Item, há no distrito desta freguesia o hospital e igreja da Santa Casa da Misericórdia, que tudo administra a irmandade da mesma Misericórdia, a qual foi instituída no ano de mil e quinhentos e oitenta e cinco, aos dezoito de Setembro, e se reduziu a número certo de irmãos. E, antes deste tempo, desde que na cidade de Lisboa se instituiu a confraria da Santa Casa da Misericórdia, até ao dito ano, houve nesta vila doze irmãos, seis nobres e seis do povo, e um provedor, os quais administravam as obras de Misericórdia com toda a caridade e zelo cristão. Consta haverem sido provedores naquele tempo o senhor Dom Fulgêncio, Dom Prior da Real Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira desta vila, filho do senhor Duque Dom James de Bragança, e Dom António de Lima, alcaide-mor desta vila e senhor de Castro Daire, e Fernando Mesquita de Lima, e Francisco de Mesquita e outros muitos. E, depois que no dito ano se instituiu a irmandade, é tradição vulgar e mui sabida que primeiro se assentou esta na Real Colegiada dela, onde ainda se conserva o nome da capela da Misericórdia, e se passou para esta Santa Casa no ano de mil seiscentos e seis. E deu-se princípio à obra da igreja da dita Santa Casa no ano de mil e quinhentos e oitenta e oito. E o primeiro provedor, que começou a servir a três de Julho de mil e quinhentos e oitenta e cinco, foi António Pereira da Silva, fidalgo da casa de Sua Majestade e professo na Ordem de Cristo, sendo seu escrivão António Nogueira.
Acha-se, no tempo presente, a igreja da Santa Casa com grande aumento. Tem um frontispício todo de pedra fina primorosamente lavrada. Junto a ela, uma galeria da mesma forma, que serve de casa do despacho e antecasas da parte superior e, na parte do meio, de casas e antecasas de despensa, e, na inferior, de botica para o seu hospital e celeiro para as suas rendas.
Junto a esta galeria está edificado o hospital, com muita grandeza e comprimento, com camas suficientes para os irmãos da mesma Santa Casa e pessoas de distinção, com separação das mais, que servem para homens de comum esfera. E, no meio deste, se acha um altar que faz divisão às camas, que ao diante se seguem, para as mulheres. No dito altar se celebra missa todos os dias por satisfação a legado deixado à Santa Casa e, aos Domingos e dias Santos, se celebram duas missas.
Tem esta santa casa coro, onde todos os dias se reza e canta o ofício divino, com missa cantada, em cujo coro residem dezasseis capelães, todos legatários de vários instituidores a quem satisfaz a dita Santa Casa, como também a um legatário que em todos os dias, na dita igreja, celebra missa depois das onze horas, antes da qual se toca o sino que serve da mesa da dita irmandade, para que o povo se utilize e vá assistir à dita missa.
Administra aquela Santa Casa e hospital a dita irmandade, a qual regularmente tem, em cada um ano, de renda, dezasseis mil cruzados, pouco mais ou menos. E com muita caridade cumprem com a sua obrigação, tanto na satisfação dos muitos legados que têm, como na cura e recolhimento dos pobres sem rejeitar pessoa alguma que lhes supliquem o recolhimento e cura de suas enfermidades, ainda para pobres que em suas casas se acham doentes lhes dão ração quotidiana e mandam assistir-lhes com médico cirurgião e sangrador, como também aos presos de ambas as cadeias desta vila. E, além disto, com muita caridade dão esmolas semanárias aos que se acham alistados em rol a que chamam da piedade e vivem por suas casas pobremente ou envergonhados no distrito desta vila e seu termo, no que fazem grave dispêndio. Dão também esmolas aos passageiros de carta de guia e a todos os mais que fazem petição à mesa, que costumam fazer aos Domingos, e ao provedor, fora da mesa, pelos dias da semana.
Tem a dita igreja uma torre muito perfeita, com quatro sinos para as suas funções e funerais de seus irmãos e mais pessoas desta vila que mandam e ordenam se lhes toque.
E enterra aquela irmandade de graça aos seus irmãos, em tumba especial, e, em outra comum, a todos os defuntos desta vila, com a esmola conforme a tumba que pedem, cujas esmolas são para o aumento dos pobres e hospital e os irmãos só tiram disto o proveito da caridade. E, destes, são exceptuados os pobres, tanto do hospital como de fora, que a estes mandam enterrar de graça.
Item, há no distrito uma capela com a invocação da Senhora da Piedade, colocada na torre da Porta da Vila, que administra uma irmandade que tem, com a invocação da mesma Senhora.
Item, há no distrito desta freguesia outra capela na Rua de Santa Luzia com a invocação da mesma Santa, a qual administra o reverendo Cabido da Real Colegiada desta mesma vila. E, no dia da milagrosa Santa, costuma haver grande concurso de povo, que acode de romaria em seu louvor.
Item, há nesta vila Senado de Câmara, por ordem de Sua Majestade, juiz de fora, corregedor, provedor, superintendente dos tabacos, juiz dos cativos, juiz dos órfãos, almotacés, tudo por ordem do dito Real Senhor. E é no Senado de Câmara, cabeça do concelho e comarca, onde se dá posse aos referidos ministros.
Item, no Campo do Toural, distrito desta freguesia, em todos os sábados do ano, não sendo dia santo, há feira de vários comércios. E, na primeira sexta-feira da Quaresma de cada um ano, há também feira com maior abundância e frequência de povo. Porém, estas são cativas para os de fora do termo.
Item, no dia de sexta-feira de cada semana, parte desta vila o correio para a cidade do Porto, de onde se recolhe outra vez para ela no domingo.
Item, desta vila à cidade de Braga, capital deste Arcebispado Primaz, distam três léguas e à de Lisboa, capital deste Reino, distam sessenta léguas.
Item, há nesta vila muitos privilégios e antiguidades dignos de memória, que não refiro por pertencerem à informação da Real Colegiada, onde tiveram seu princípio e origem.
Item, compreendem os muros desta vila parte do distrito desta freguesia, no qual se acham quatro torres, em distância umas das outras, as quais vão circuitando os ditos muros desta vila, e tanto estes como as ditas torres estão edificados com toda a fortaleza, altura e grossura, o que tudo mostra muita antiguidade. E, nem estas nem, outro qualquer edifício no distrito desta freguesia, padeceram ruína alguma no terramoto de mil setecentos cinquenta e cinco.
Item, no fim da Rua de Santa Luzia, distrito desta freguesia, se acha uma ponte de bom comprimento, a qual mandou edificar o Senado desta vila há mais de oitenta anos, não tanto por necessidade da água que por baixo dela passa, por ser muito limitada, mas sim por franquear a entrada desta vila e pôr no livel[3] e plano a dita entrada e agora de próximo se acha arruinada.
Item, no distrito desta freguesia e fim da rua do Anjo, se acham os açougues desta vila, que com muita abundância se dá provimento a toda ela, seu termo e povoações circunvizinhas, pela qualidade procedida dos bons mantimentos e pastos dos gados. Cujo açougue tinha, de muitos anos, a regalia e privilégio de ser varrido e limpo, em certos dias do ano, por homens que antigamente por obrigação e justiça, pena e castigo, vinham da vila e termo de Barcelos para esse efeito. Depois de que, passados muitos anos, se pôs esta obrigação pela Câmara de Barcelos a duas freguesias chamadas de Cunha e Ruílhe, que para o dito efeito e obrigação deram e largaram ao termo desta. E constava o traje com que vinham os ditos ao acto referido, de um pé descalço e outro calçado, uma faixa vermelha cingida pela cinta, na qual traziam e sustentavam a espada à cinta, porém esta às avessas, id est[4], da parte direita e esta desembainhada e um barrete vermelho comprido, de baeta vermelha, na cabeça. E desta sorte, com uma grande vassoura nas mãos, depois de nos dias determinados em cada ano terem varrido a praça pública de Nossa Senhora da Oliveira desta vila, vinham então varrer e limpar os ditos açougues. Porém, compadecida a clemência de Sua Majestade, que a santa glória tem, houve por aliviados da ignominiosa acção ou obrigação aos referidos, há menos de dezoito anos a esta parte.
E como não tenho mais que, por razão do meu distrito, possa fazer memória e informar, pois o mais que há e pode haver pertence aos reverendos párocos circunvizinhos, e não há serra, nem rio, de que na forma do extracto possa informar e só do referido na forma dele é que posso dar notícia e clareza, o qual vai na verdade.
São Paio de Guimarães, 4 de Abril de 1758 anos.
O pároco Francisco Dantas Coelho.
O abade André Machado de Oliveira.
O pároco José Luís Ferreira.
“São Paio, Guimarães” Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 18, n.º 134c, p. 775 a 781.
[1] Ad nutum: locução latina que remete para decisão que pode ser tomada arbitrariamente por autoridade com competência para a tomar, sem necessidade de maiores formalidades administrativas.
[2] Simul (latim): junto
[3] Livel é sinónimo de nível.
[4] Id est (latim): isto é.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
S. Sebastião
Descrição da freguesia de S. Sebastião da vila de Guimarães, aos interrogatórios por ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor, Francisco Fernandes Coelho.
Ano de 1758.
1.º Esta vila de Guimarães fica situada na Província de Entre-Douro-e-Minho, num vale que, da parte do Nascente, lhe impede o vento uma alta serra, vistosa e amena. É do Arcebispado de Braga Primaz, cabeça de comarca e tem quatro freguesias, que se computam por distrito desta vila, a saber, a Real Colegiada da Nossa Senhora da Oliveira, São Miguel do Castelo, São Paio e esta de São Sebastião.
2.º É el-rei Nosso Senhor Fidelíssimo Dom José Primeiro, que Deus guarde, o senhor desta vila e seus predecessores o foram sempre.
3.º Tem esta freguesia quatrocentas e vinte e duas moradas de casas. Em casados, viúvos e solteiros, mil quinhentas sessenta e três pessoas de sacramento, sessenta e três pessoas menores, que ainda não comungam pela sua menoridade, e, além destas, outras tantas, pouco mais ou menos, menores de sete anos.
4.º Está esta freguesia situada em terra plana, exceptuando algumas ruas dela, porém são muito fáceis em subir e descer. Não se descobre povoação alguma que seja memorável. Só, sim, a casa e jardim de Vila Flor, que dista pouco, a qual é de Tadeu Luís António Lopes de Carvalho e Camões, fidalgo da Casa Real e senhor dos coutos de Abadim e Negrelos. É esta admirável na sua arquitectura e na grandeza e fábrica do jardim, que se compõe de dilatadas ruas, cobertas algumas de latas ou parreiras. Com engenhos fabricados, tem o primeiro jardim um vistoso chafariz, do qual se comunica a água para os mais, onde estão dois de virrafos1 de várias qualidades, além destes, mais, debaixo de duas vistosas escadas de pedra, se acham duas fontes emanando água por figuras de pedra. E, da parte de fora, nas primeiras escadas da entrada deste jardim, que estão com grandeza, vem a referida água ter seu fim pela boca de dois agigantados leões, que em pé sustentam nas mãos umas conchas, de onde pela boca apanham a água. São estes de pedra, feitos com primor, contêm o âmbito deste muitas escadas apilaradas de bilros de pedra e com suas pirâmides lavradas ao moderno. Tem muitas varandas de pedra com a mesma perfeição. Tem, da parte do Nascente, um forte a que chamam de Santo António onde estão umas torres pequenas a que chamam vigias de guerra, cuja fábrica toda está com o melhor primor da arte e tem vistosa recreação. Faz este a melhor vista para esta freguesia e vila, que é à parte do Norte, como se esteja avistando de um dos principais campos ou terreiros desta freguesia e, em pouca distância, fica sendo a sua vista muito deliciosa. Avista-se mais o régio convento de Santa Marinha da Costa, de monges de São Jerónimo, muito sumptuoso pela sua grandeza e perfeição e melhor no presente tempo, pela nova obra da fronteira da igreja, no meio de duas altas e novas torres, com primor lavradas de pedra fina, diante de cuja obra se anda edificando um magnífico pátio, composto de diversas ruas e trânsitos em grandeza e distância. Item se descobre uma alta serra que está na parte do Nascente, a que chamam de Santa Catarina ou do Guilherme, nome este que tomou do fundador moderno de uma capela que se acha no alto dele, debaixo de penedos, chamada a Senhora da Penha, o padre Guilherme, ermitão de nação estrangeira, o qual fez doação dela às religiosas de Nossa Senhora do Carmo desta vila e estas a deram a um religioso seu, leigo, chamado Frei Joaquim, que é o que a administra. Item, quase no princípio desta serra, num alto, se avista a antiga capela de S. Roque e em distância de poucos passos desta se acha uma capela do Senhor da Cana Verde ou Ecce Homo, imagem de muita devoção, e mais duas capelinhas em pouca distância, com imagens de Cristo com cruzes às costas. Sítio é este excelente, tanto por dele se avistar toda esta vila e redondeza, como ser mais favorável que o referido da Senhora da Penha. Pagam-se a esta capela várias medidas, foros que lhe deixou o seu fundador, o venerável padre Manuel Ferreira e outro companheiro que jaz enterrado na dita capela. Item, descendo deste sítio, se acha o lugar de Fonte Santa, no qual esteve São Gualter, companheiro de São Francisco, onde se acha principiando o alicerce de uma capela e deste estão manando três copiosas fontes de água bastantemente milagrosas e, por cima desta, num nicho, está a imagem do dito São Gualter, onde vai bastante povo visitar o Santo e água das fontes, para várias moléstias. A dita primeira capela da Senhora da Penha dista desta freguesia meia légua, sempre de subida, e a segunda, de São Roque, menos de um quarto, e a de São Gualter, menos de meio quarto.
5.º Tem esta vila termo seu que se compõem de cento e três freguesias, e esta tem os campos e ruas seguintes: o Campo ou Terreiro do Toural, que é o de melhor vista e praça desta vila, onde está um chafariz do povo, de vistosa grandeza, cercado de assentos para recreação do povo, junto a este um tanque, para alimento de água dos animais. O Campo do Pelourinho, é onde este se acha, de grandeza e boa vista para a referida casa e jardim do interrogatório quarto. O Campo da Feira, de igual grandeza e vista deliciosa e ameno. Rua Nova das Oliveiras, Rua das Molianas, Rua de Caldeiroa, Rua Nova de São Sebastião, Rua do Guardal, Rua de Couros, Rua de Além do Rio, Rua das Pretas, Rua da Ramada do Campo da Feira, Soalhães, Rua de São Dâmaso, Rua de São Francisco.
6.º Está esta paroquial igreja logo da parte de fora dos muros desta vila, defronte da alfândega dela e se compõe das ruas supra ditas.
7.º É o seu orago São Sebastião. Tem cinco altares. O maior onde está o dito Santo e, no sacrário, o Santíssimo Sacramento, que administra e fabrica a sua confraria e freguesia. Da parte do Evangelho está o dito São Sebastião e da Epístola São João Baptista. No corpo da igreja, da parte do Evangelho, junto ao arco cruzeiro, está o altar de São José fazendo peregrinação para o Egipto, pegando na mão ao Menino Deus, que está entre ele e sua Mãe Santíssima. Desta parte, no meio da igreja junto à porta travessa, está o altar da Senhora do Socorro, com a sua imagem. Da parte da Epístola, em correspondência dos referidos, estão os altares do Senhor Jesus Crucificado, com São João de uma parte e Nossa Senhora da outra, e outro do Amor Divino com a sua imagem dentro numa vidraça e São Filipe Néri, Santo Agostinho e Santo Ambrósio, cujos altares todos têm irmandades que os fabricam e veneram das mesmas invocações de seus Santos.
8.º É o pároco desta igreja cura anual ad nutum, apresentação do Reverendíssimo Senhor Dom Prior e simul do reverendo Cabido da Insigne e Real Colegiada desta vila, cujo curato rende, um ano por outro, cem mil réis, razão de não ter de côngrua mais de oito mil réis, dois alqueires de trigo, dois almudes de vinho e duas libras de cera e o mais é o que chamam pé de altar.
9.º A este não tenho que dizer, por não haver beneficiados.
10.º Tem o distrito desta freguesia os conventos seguintes.
O dos religiosos de São Francisco observantes, que é de padrão real, onde vivem em religião melhor de oitenta frades de missa e leigos. Governa este o seu provincial e prelados menores ou conventuais. É de extensa grandeza, com uma igreja muito ampla com dez altares e num destes se acha colocada a imagem do milagroso Santo António, que venera a sua irmandade do mesmo nome composta de muitas pessoas principais que fazem a sua festividade com veneração e culto de novena de treze dias, com missa solene e sermão de manhã e o senhor manifesto nas treze tardes.
Junto a esta igreja estão a capela e casas da venerável Ordem Terceira do patriarca São Francisco e, não obstante a pequenez de sua capela, por não terem âmbito para mais, se acha edificada de novo, por se demolir de todo a antiga, com perfeição e lavores de primor, tanto no interior dela, como no exterior e frontispício. Governa esta a mesma Ordem Terceira, composta da maior parte da nobreza e povo desta vila e seu termo, onde satisfazem muitos legados que lhe deixaram. E frequentam os actos de sua regra e estatutos com muita devoção, que edifica e compunge a todo o povo desta vila, e um nacional desta, chamado Diogo de Torres, deixou à mesa um legado de vinte e quatro mil cruzados, que esta administra.
Item, o convento de Santa Rosa, de religiosas da Ordem de São Domingos, ainda que não tem clausura, porém vivem como regulares e, conforme ao seu instituto, são estas da jurisdição do Arcebispo Primaz de Braga e têm uma boa igreja, de novo edificada, e toda a mais obra de casas interiores e dormitórios com grandeza, e sua torre de sinos e, além da cerca, que se acha com muro alto bem acautelado, tem um grande campo junto a este, que compraram, o qual desfrutam para seu sustento, não obstante a mais renda que têm de dinheiro, que trazem à razão de juros, e não tem padroeiro.
Item, o convento de religiosas muito reformadas da Madre de Deus das Capuchas, que se acha situado num dos fins desta freguesia e arrabalde desta vila, acima do Campo da Feira, que acima relatei, que não tem padroeiro. São religiosas professas, em clausura muito rigorosa, tiveram por fundadora uma irmã do ilustríssimo Senhor Dom Rodrigo de Moura Teles, de gloriosa memória, arcebispo deste Arcebispado de Braga. São estas da jurisdição do padre provincial da Ordem de São Francisco e por ele visitadas. Têm dois religiosos da mesma ordem por capelão e confessor. Têm a sua clausura muito bem fortalecida de muros e também um grande campo da parte de fora, junto a este, para seu sustento. Vivem estas sem rendas algumas e só de esmolas. Têm uma boa igreja, muito frequentada de povo, por devoção à Senhora Madre de Deus, que se acha colocada num altar lateral da parte da Epístola com o Menino Jesus no berço e São José, tudo a imitação da Madre de Deus da cidade de Lisboa, cujas imagens na dita cidade foram edificadas por ordem do beneficiado Luís António da Costa Rego de Barbosa, natural desta vila e assistente na secretaria de Sua Majestade, o qual as conduziu para esta vila fazendo, antes da colocação na dita igreja do dito convento, na Colegiada desta vila, uma novena de nove dias com toda a solenidade, com o sacramento patente em todo e cada um dia da novena, sendo oradores os melhores desta vila, no fim da qual foram levadas com procissão soleníssima ao dito convento e altar onde se acham, culto e veneração que muito mais fez adquirir a devoção do povo, além da perfeição das referidas imagens.
11.º Há, no distrito desta freguesia, um hospital para os clérigos, peregrinos e pobres desta vila como também os pobres da freguesia de Santa Comba de Regilde, distante légua e meia, pois, sendo o instituidor deste o abade da dita freguesia, Lucas Rebelo, foi sua vontade assim o instituir, e lhe deixou de renda anual duzentos e vinte mil réis e obrigação de, em cada ano, darem dois dotes a duas órfãs para casarem, a vinte mil réis cada uma, e que num ano escolheriam as desta vila e em outro as da dita freguesia, havendo-as. É administradora desta a irmandade do Cordão, de homens leigos, onde tem sua capela, da qual abaixo em seu lugar farei menção.
Item, o hospital de São Roque, que administram agora as religiosas de Santa Rosa, declaradas no interrogatório décimo, cujo hospital é tão somente para passageiros. E, se neste falece algum, têm estas obrigação do seu enterro, há poucos anos a esta parte. Eram administradores os mesmos caseiros que, pelos bens que tinham pensionistas, ao hospital pagavam. E, como as ditas religiosas precisavam das casas do dito hospital para as suas obras da igreja e mirante, alcançaram da Majestade provirão para serem administradoras, a contento dos caseiros, para o que lhes deixaram os bens sem a pensão que de antes tinham e ficaram de herdade, motivo porque estes largaram de mão a sua administração, por cuja razão não tem este renda, mas sim têm as ditas religiosas obrigação da sua fábrica, conservando-se neste a caridade do recolhimento dos pobres peregrinos e satisfação de alguns legados, como é o de em todos os Sábados do ano mandarem um homem a quatro cruzeiros que se acham no âmbito ou trânsito de quatro ruas vizinhas, encomendar com uma campainha as almas à noite.
12.º Não há no distrito desta freguesia casa da Misericórdia, mas sim no distrito da de São Paio, a quem pertence a resposta deste interrogatório.
13.º Estão neste distrito as capelas seguintes.
A basílica de São Pedro, que administra a antiga irmandade de clérigos do hábito de São Pedro e também tem alguns irmãos seculares para o serviço dela. Está esta situada no Terreiro ou Campo do Toural, do qual no interrogatório quinto fiz menção, sítio este o melhor desta vila, cuja basílica se acha por agora feita em limitado âmbito, no enquanto se não faz a nova obra, que se acha já principiada por planta de notável grandeza e primorosa perfeição. É padroeiro desta o reverendo beneficiado já mencionado no interrogatório décimo, Luís António da Costa Rego de Barbosa, e à sua custa se vai edificando a capela-mor. E este tem dado de esmolas muitos e vários ornamentos preciosos, peças de prata e mais ornatos de igreja. É esta irmandade muito ilustre, não só pela qualidade de seus irmãos eclesiásticos, mas também pelo decoro, gravidade e solenidade com que fazem os seus actos e enterros de seus irmãos. Tem três altares. No maior, o Apóstolo São Pedro, no lateral, da parte do Evangelho, o Senhor da Agonia e, da Epístola, a Senhora da Assunção e Mãe dos homens.
Na rua de São Dâmaso se acha uma capela chamada de São Dâmaso, que é das melhores igrejas desta vila, toda esta de abóbada. Tem cinco altares, o maior em que está o seu titular, São Dâmaso Pontífice, e, nos mais, várias imagens de Santos. Junto a esta capela está o hospital de que no interrogatório undécimo fiz menção. E desta foi instituidor o mesmo do dito hospital, o abade Luís Rebelo. Administra esta uma irmandade secular chamada do Cordão. Tem esta, de renda, um padrão real de cento e sessenta mil réis, tem mais a renda de duas casas que estão por baixo do hospital, tem mais umas medidas sabidas que, um ano por outro, rendem cinquenta mil réis, tudo isto além do capital, casco de dinheiro que trazem a juros para os funerais de seus irmãos e, por cada um destes, mandam dizer duzentas missas. Tem esta capela legado de missa quotidiana. Esta irmandade administradora tem nesta capela e hospital o domínio, porém a sua colocação é no convento dos religiosos de São Francisco, em altar a que chamam do Cordão.
Tem mais a capela do Senhor dos Passos, situada no Campo da Feira, da parte de fora dos muros, no fim de um grande campo ou terreiro. Nesta se venera a muito milagrosa imagem do Senhor dos Passos, que fabrica a sua irmandade, que se compõe de muitos irmãos nobres e do povo desta vila. Em cuja capela, no tempo da Quaresma, se veneram os Santos Passos, com sermão em todas as sextas-feiras, havendo Passo diferente em cada uma destas, que fica patente de uma a outra sexta-feira, em cujos dias vai o povo desta vila em grande número fazer suas orações. Na Dominga da Paixão se dá desta princípio à procissão dos Santos Passos, por conta desta irmandade, a cuja procissão assiste esta irmandade, composta de muitos irmãos e as comunidades de São Domingos e São Francisco e o reverendo Cabido desta vila. Continua esta pelas principais ruas onde, em distância, se acham sete capelas de Passos do Senhor primorosamente, feitas e com as imagens e figuras conducentes a cada Passo, tudo obra que a dita irmandade mandou fazer. E se recolhe esta procissão ao convento de São Francisco, onde há dois sermões do Calvário. Também esta irmandade faz a procissão do enterro em Sexta-Feira Santa, de tarde, junto à noite, que é a melhor e mais devota procissão que se faz nesta vila, a qual acompanha a irmandade da Misericórdia e os ditos religiosos de São Francisco, de cuja igreja tem seu princípio, e se recolhe à dita capela da irmandade, levando esta vários coros de música cantando as heus2 e outras motetos do dia. Nela vai a imagem de Cristo morto, num esquife com toda a decência que levam seis sacerdotes, os melhores cantores desta vila que pelo seu canto movem os corações a dor e compungem os católicos. Vai este debaixo do pálio, que levam seis capitulares, atrás deste se seguem os soldados, centurião e Profetas São João, Madalena e Marcelo, tudo vestido com primor. E, por fim desta procissão, vai num andor a Senhora do Pé da Cruz. Tudo isto faz uma procissão muito extensa e admirável. É padroeiro desta Dona Luísa de Sá, mulher de Alexandre de Palhares, da vila de Monção, e nela tem obrigação de duas missas semanárias, cuja capela pertence ao morgado dos Sodrés.
14.º A esta vila acode bastante gente à romagem do milagroso Santo António do dito convento de São Francisco, não só no tempo de sua festividade, mas no mais tempo do ano.
15.º Os frutos do distrito desta freguesia são milhão, milho miúdo, centeio, vinho, frutas e hortaliças. Isto se entende em alguns arrabaldes dela, que no centro da freguesia são homens graves que vivem de suas rendas, homens de negócio e oficiais de vários ofícios.
16.º Esta vila tem Senado de Câmara, cabeça de comarca, nomeados por Sua Majestade nas pautas. Tem juiz de fora, corregedor, provedor, superintendente dos tabacos, mamposteiro dos cativos, todos de vara branca, juiz dos órfãos, almoxarife do reguengo da Rainha Nossa Senhora, almotacés e mais justiças menores respectivas a todos os ditos ministros, todos por ordem de Sua Majestade e neste se responde ao interrogatório décimo sétimo.
18.º É patrão ou padroeiro desta vila o senhor São Dâmaso, o primeiro Pontífice e claramente consta da lenda do mesmo Santo no Rito Bracarense ser de nação espanhol, sua pátria Guimarães, da Província Bracarense, seu pai chamado António. É tradição comum ser este natural nesta freguesia, na Rua de Caldeiroa, dela onde hoje se acha um oratório e uma fonte a que chamam de São Dâmaso. E nesta vila é venerado em todas as igrejas, coros e religiões, como seu verdadeiro padroeiro e com todas as dignidades que lhe são devidas conforme o rito da Igreja.
Natural desta freguesia é o padre mestre doutor Bento da Expectação, da Ordem de Santo Elói, e desta vila também são o padre mestre frei António Cardote, da Ordem dos Pregadores, e o padre mestre doutor Frei Bernardino, da mesma ordem.
19.º Nesta vila há feira em todos os Sábados do ano, não sendo dia santo, porque então se antecipa, e se faz esta no âmbito desta freguesia, no Terreiro do Toural e Campo da Feira. Item, se faz uma anual, na primeira sexta-feira de Quaresma, esta de muito concurso de povo, outra no primeiro domingo de Agosto, até ao outro dia, porém esta é só de bestas. Todas são cativas, excepto esta última.
20.º Tem correio próprio, que daqui parte à sexta-feira de cada semana, leva as cartas à cidade do Porto, e se recolhe no domingo, trazendo as cartas e encomendas pertencentes a esta vila, seu termo e parte da comarca.
21.º Dista desta vila a cidade de Lisboa sessenta léguas e dista a capital do Bispado, que é a cidade de Braga, três léguas.
22.º Tem esta vila muitos privilégios, como são os das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira, porém a relação destes e de outros mais pertence à freguesia da Real Colegiada desta vila.
23.º Não há no distrito desta freguesia lagoa ou fonte que se possa nomear por célebre. É, sim, abundante de fontes ordinárias, água de poços e ribeiros. Tem, sim, uma ponte no sítio ou do terreiro do Campo da Feira, em bastante grande comprimento e de uma grande largura. Porém, a água que por baixo dela passa pouca é, porém na grandeza da ponte se mostra o ânimo dos antigos desta vila na edificação dela e, como está dos lados encostada, as guardas dela tem seus assentos. Serve tudo isto para recreação e alívio de seus moradores. Alguns chamam a esta ponte do Senhor de Campo da Feira, por no cimo dela se achar a sua capela, que declarei no interrogatório décimo terceiro.
24.º Não tem porto de mar, nem embarcação, esta vila.
25.º É esta vila murada de fortes muros, com suas torres, em distância. Compreende esta freguesia alguma partes destes no sítio do Toural, onde se acham duas torres. Das mais escreverão os das freguesias a quem pertencem, por cujo motivo o não descrevo.
27.º No terramoto de 1755 não houve nesta vila e freguesia ruína alguma mais do que no convento de São Francisco algum balanço nas paredes. Porém, contudo, estão com a segurança necessária e não precisam de reedificação e só de uma pirâmide da fronteira da igreja caiu a bola de pedra dela.
Dos mais interrogatórios não posso dar razão, por no distrito desta freguesia se não compreender o que neles se pede. Isto é o que posso informar e passa na verdade. São Sebastião de Guimarães, vinte e três de Maio de mil setecentos cinquenta e oito anos.
De Vossa Mercê, menor súbdito,
O pároco José Luís Ferreira.
O cónego cura Francisco José Vieira de Pina.
O pároco Francisco Fernandes Cruz.
“São Sebastião, Guimarães” Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 18, n.º 134a, p. 753 a 762.
1 Sic. Palavra que não se encontra nos dicionários, provavelmente relacionada com repuxos.
2 Cânticos dedicados às personagens bíblicas popularmente conhecidas como as “Três Marias” as “heus”. (Maria Madalena, Maria Salomé e Maria de Cleofas).
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
S. Torcato
Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor.
Fiz exacta diligência para descobrir com toda a individuação o que se me determinava no papel impresso de Sua Majestade Fidelíssima e mandado a esta paroquial igreja por ordem expressa de Vossa Mercê, e o que pude obter foi o seguinte.
É este mosteiro de São Torcato muito antiquíssimo e fica na Província de Entre-Douro-e-Minho, do termo da vila de Guimarães, Arcebispado de Braga Primaz. É data do Reverendo Cabido da dita vila e é vigairaria confirmada. O seu orago é São Torcato, que existe em carne, intruso num túmulo de pedra gessado, com duas pirâmides, uma de cada parte, e, no meio, uma cruz e, na fronte deste, está o dístico seguinte:
Hoc tumulo illeziz conduntur
Carnibus ossa
Torquati Diui pignora chara Deo.
E, mais abaixo, estão também, em distinta pedra, escritas estas formais palavras:
Ano 1637 se guarneceu esta sepultura e aberta se achou o corpo em carne inteiro vestido em pontifical com báculo.
De São Torcato se diz fora um dos discípulos de São Tiago e que também fora Bispo em Acci, cidade de Galiza e hoje com o título de Guoadiz. Nesta mesma cidade afirma Estaço que jazia sepultado o corpo do Santo a tempo que um cruel mouro chamado Abderamen, destruidor do cristianismo, quis mandar queimar todos os corpos dos santos que naquela cidade se achavam. Mas foi tal a devoção de alguns Cristãos, que, indo às sepulturas, tiravam como podiam as relíquias dos santos e com elas fugiam contra estas partes do Norte e, conforme a pressa que levavam, assim as deixavam onde melhor lhes parecia e alguns as enterravam em lugares assinalados, onde as tiveram muito tempo escondidas. E diz o escritor que o corpo de São Torcato se achou junto a Guimarães, perto do mosteiro onde hoje está, ao pé do monte, junto de uma formosa fonte, por causa de umas luzes que de noite apareciam sobre o lugar onde o corpo do Santo estava e nele mesmo, se diz, lhe edificaram a ermida que ainda hoje existe, chamada São Torcato, o Velho. E dela o mudaram para o mosteiro que se lhe fez da sua vocação, que, dizem, lhe mandou fazer el-rei Radomiro, tio da Condessa Mumadona, que depois foi senhora do dito mosteiro, e dela passou ao Senhor Rei Dom Afonso Henriques o qual fez mercê dele aos padres de Santo Agostinho, com grandessíssimos privilégios e lhe determinou que daí em diante se chamasse o mosteiro de Santa Maria, pelo muito que era devoto da Senhora, mas os moradores desta freguesia, como tinham tanto impressos os favores que recebiam do Santo, sempre continuaram com lhe chamar mosteiro de São Torcato. E destes padres passou para o poder de um devoto e pio varão, chamado João de Barros, cónego da Sé de Braga, o qual, segundo dizem, por autoridade Apostólica do Papa Xisto quarto, se introduziu neste mosteiro e lhe agregou mais o mosteiro de São Gens de Montelongo e mosteiro de Telões e, do dito cónego, passou para o poder do reverendo Cabido da vila de Guimarães, por renúncia que lhe fez e pensão que tirou de quarenta mil réis. E diz o autor que o Senhor Dom Lourenço, Arcebispo que foi de Braga, anexara ao dito mosteiro duas igrejas vizinhas, chamadas S. Cosme da Lobeira e São Romão de Rendufe.
As rendas que deste mosteiro recebe o Reverendo Cabido serão bons quatro mil cruzados. O que recebe o pároco para sua côngrua sustentação, um ano por outro, serão duzentos mil réis, pouco mais ou menos.
A igreja está situada não em parte muito alta, nem muito baixa, e está em meio da freguesia. A casa da residência está chegada à igreja. Tem vista espaçosa, pois de umas janelas se vê parte da serra de Santa Catarina, que dista quase uma légua, e de outras se vê muito mais. E o que se vê são terras cultivadas, montes e vales.
Tem esta igreja um lugar vizinho, chamado do Assento, que inclui o número de quarenta pessoas. Tem o lugar de Vilar, lugar do Couto, lugar da Cachada, lugar das Quintãs, lugar de Campos, lugar do Outeiro, lugar de Montenegro, lugar de Cima de Selho, lugar da Corredoura, lugar de Cortinhas, lugar dos Moinhos, lugar de Segade, lugar do Sobredo, lugar da Cruz, os quais, segundo consta do rol dos confessados, contêm o número de mil e trinta e cinco pessoas.
Tem a igreja cinco altares. Um maior em que está o Sacramento Augusto e dois laterais, um com o título de Nossa Senhora do Rosário e outro das Santas Chagas, outro de Santa Catarina e outro do orago que é São Torcato. E estes estão numa capela mística1 com o mesmo mosteiro. Não tem naves. Tem irmandades, duas, uma das Almas, outra de Nossa Senhora do Rosário. Não tem beneficiados, nem conventos, nem hospital. Tem ermidas, uma de São Torcato, outra de São João de Segade, outra de Nossa Senhora do Bom Despacho, meeira com a freguesia de São Pedro Fins de Gominhães, com sua irmandade da mesma Senhora do Bom Despacho. Tem outra ermida no lugar de Vilar, com o título de São José, que pertence a António Ribeiro, homem de negócio da vila de Guimarães. As outras acima mencionadas são desta igreja e tem obrigação de as fabricar o reverendo Cabido da vila de Guimarães, pois é o direito senhor. Enquanto às romagens, só no dia da festa que se faz no dia de São João, vinte e cinco2 de Junho, acode alguma gente, mas não se ofertam com coisa alguma. Também na festa que se faz à Nossa Senhora do Bom Despacho, na sua capela e na segunda oitava de Páscoa, se junta gente e se ofertam com alguma coisa, que de pouco rendimento é.
Os frutos que nesta terra se colhem são milhão, centeio e milho miúdo, feijão e vinho. Também se semeiam alguns trigos, mas estes mais são para os lavradores pagarem as rendas, do que para se utilizarem deles.
A capela de São Torcato, lugar da sua aparição, está quase derruída e nela há muitos anos se não diz missa, nem se faz festa ao mesmo Santo, e só sim se faz nesta igreja de São Torcato, no primeiro de Maio. E, nesse dia e no lugar da Devesa do Maio, desta mesma freguesia, se faz uma feira franca de gado, que durará três ou quatro horas, pouco mais ou menos.
Por debaixo do pavimento da dita capela de São Torcato sai uma foz de água, da qual se forma uma formosa fonte que, tanto de Verão, como de Inverno, sempre deita. E dizem que esta água tem a virtude sanativa de algumas enfermidades, como são maleitas e febres, isto dizem alguns fregueses que o têm experimentado.
Tem esta freguesia couto, juiz ordinário, procurador e porteiro. O que põe esta justiça é o Reverendo Cabido da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, da vila de Guimarães. Não sei que esta justiça faça corpo de câmara, por não ter vereadores. Não consta que seja cabeça de comarca. É honra, pelas muitas graças que lhe têm feito as Majestades, e privilégios que lhe têm concedido a este couto, um dos quais é isentar todos os lavradores e filhos de soldados e muitos mais, que se podem ver nas cartas que tem no seu arquivo o mesmo Reverendo Cabido. O conservador deste couto é o corregedor da comarca da vila de Guimarães.
Não tenho notícia que desta freguesia saíssem homens que florescessem insignes por virtudes, letras ou armas.
Não tem correio. Levam-se as cartas a Guimarães, distante desta freguesia três quartos de légua, na quinta-feira e na segunda mandam-se tirar.
Dista esta freguesia da cidade capital do Arcebispado, três léguas e, da capital de Lisboa, sessenta.
Tem esta freguesia dois lagares de azeite e cinco moinhos, que só de Inverno moem, por nesse tempo levar o regato mais águas.
O senhor donatário do couto é o Reverendo Cabido da vila de Guimarães.
Estas são as informações que pude alcançar para dar com toda a individuação à pessoa de Vossa Mercê, que mandará o que for servido.
S. Torcato, vinte e nove de Abril do ano de mil e setecentos e cinquenta e oito.
De Vossa Mercê o mais humilíssimo e atento súbdito,
O vigário Manuel Ferreira Cardoso.
O abade de Gominhães, freguesia vizinha e imediata à de S. Torcato, o padre António Martins Beleza.
O abade de Gonça, Francisco da Fonseca Araújo, pároco vizinho de S. Torcato.
“S. Torcato”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 36, n.º 66, p. 581 a 585.
1 Anexa.
2 Sic.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Selho,
S. Cristóvão de Cima de
O nome desta freguesia e orago dela é São Cristóvão de Cima de Selho, termo da vila de Guimarães e Arcebispado de Braga, e comarca da mesma vila, e fica distante da cidade de Braga três léguas, e da cidade de Lisboa, sessenta.
Tem esta freguesia trinta e dois vizinhos que são: Assento, Leirinha, Lameiro, Adro, Casa Nova, Penegacho. Senra, Parrameiro, Novegilde, Moinhos de Novegilde, Pisões, Moinhos do Poço e Senra, Vargeacova, Muda, Moinhos de Portela, Outeiro Levado, Pontido, Cardido, Lavandeira, Remazal, Outeiro, Monte, Bacelo, Souto, Formigosa, Lamasrande, Pena, Quinchoso, Campo, Ribeiro de Baixo, Ribeiro de Cima, Portelinha, Campinho. Tem esta freguesia duzentas e treze pessoas .
E tem a igreja três altares. No altar-mor está São Cristóvão e, nos dois do corpo da igreja, no da parte do Evangelho, está colocada a imagem de Nossa Senhora do Rosário, que tem irmandade da mesma Senhora já há anos, e, no da parte da Epístola, está São Sebastião e São Gonçalo. E tem a imagem de Nossa Senhora do Rosário alguma cera, de milagres que faz a mesma Senhora.
Está situada entre um monte e, para o Poente, descobre as freguesias vizinhas de São Jorge de Cima de Selho e São João de Gondar.
É esta freguesia apresentação do excelentíssimo Bispo de Constantina e vigairaria ad nutum. Renderá, para o vigário, sessenta mil réis e, para o padroeiro, duzentos, pouco mais ou menos.
Tem duas capelas, uma de Santo António, situada no lugar de Cardido, e outra de São Domingos, no Ribeiro de Baixo, e pertencem ser fabricados, a de Santo António, pelo Doutor António de Sousa Silveira, juiz dos crimes da cidade do Porto, e a de São Domingos, por Domingos António Pereira de Carvalho, do Ribeiro de Cima.
E tem fogos, nos vizinhos que digo, setenta.
Colhe-se nesta freguesia milhão, milho alvo, centeio e painço e vinho verde e algum azeite, landres, castanhas e algumas frutas de outras qualidades.
Serve-se esta freguesia do correio de Guimarães, que fica distante três quartos de légua.
Tem alguns privilégios de Nossa Senhora da Oliveira, da Colegiada da vila de Guimarães.
Tem, pegado à freguesia, o monte de Nossa Senhora, chamada do Monte, pertencente à freguesia de Santa Cristina de Serzedelo. Terá, de comprimento, um quarto de légua e, de largura, outro tanto. E nela se criam algumas perdizes, lebres e coelhos, de tudo pouco. Principia na freguesia de Santa Cristina de Serzedelo e finda na de São Martinho de Candoso, e não dá senão matos para cultivar os campos. O temperamento desta terra é alguma coisa frio.
O rio que tem a freguesia.
Chama-se o rio de Selho, que principia na freguesia de Gonça e na de São Torcato e se vai recolher no rio Ave. Terá, de comprido, duas léguas. Divide esta freguesia com a de São Jorge de Cima de Selho. Alguns anos seca, como foi nos anos da seca. Corre de Nascente a Poente, alguma coisa ligeiro. Nele se criam alguns peixes, como são barbos, escalos, bogas e panchorcas e enguias e se caçam com chumbeiras, mingachos, alvitanas, nassas e à cana, na maior parte do ano. Tem este rio duas partes, em que chamam os Sumes, por passar por debaixo do chão sem se ver, que uns terão de comprido quarenta varas e, noutra parte, cento e cinquenta varas. Chama-se o sítio onde entra no rio Ave a Várzea. Tem duas pontes, uma de pedra chamada, a ponte da Mansa, e outra de pau, no sítio dos Pisões, nome antigo, por os então haver. Tem bastantes moinhos, que por todos são treze, que alguns deles, havendo águas moem de Verão.
O vigário da freguesia de São Cristóvão de Cima de Selho, Bento Fernandes.
Vai esta conta assinada pelos párocos, o da freguesia de São Martinho de Candoso e o de São Jorge de Cima de Selho, vizinhos desta, que comigo assinaram. Hoje, vinte de Maio de mil e setecentos e cinquenta e oito anos.
O vigário de São Martinho de Candoso, António da Costa Rodrigues.
O vigário de São Jorge de Cima de Selho, João da Cunha e Freitas.
“Selho, S. Cristóvão”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 11, n.º 327, p. 2239 a 2240.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Selho,
S. Jorge de Cima de
Dando comprimento a uma ordem deambulatória mandada por ordem de Sua Excelência o senhor D. Frei Aleixo de Miranda Henriques, Bispo eleito de Miranda e Governador da Corte e Arcebispado de Braga Primaz e assinada pelo Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor da mesma cidade, com um interrogatório impresso, enviado por ordem de Sua Majestade Fidelíssima, que Deus guarde, para que se desse conta das coisas notáveis desta terra.
Esta freguesia se intitula São Jorge de Cima de Selho, é vigairaria e é da apresentação in solidum da mesa Capitular da Santa Sé Catedral da cidade de Braga. É colada e de renúncia, e a mesma mesa é que arrenda os dízimos desta freguesia, por ser o mesmo Cabido padroeiro desta igreja, e anda ao presente arrendada em cento e oitenta mil réis.
Vizinha esta freguesia, da parte do Nascente, com a freguesia de São Martinho de Candoso e, entre o Norte e Nascente, com a de Santa Maria de Silvares e, da parte do Norte, com a de São Miguel do Paraíso e, da parte do Poente, com a de São João Baptista de Gondar e, da parte do Sul, com a de S. Cristóvão de Cima do Selho. Todas são vigairarias excepto, S. João Baptista de Gondar, que é abadia e do Padroado.
Tem esta freguesia vinte e nove lugares cujos nomes são os seguintes: Portela, Barreiros, Quintãs, Devesa Longa, Pena Amarela, Pevidemis, Ribeiro do Bairro, Vendas, Ponte da Mansa, Agueiros, Vinhas, Moinhos dos Sumes, Devesinha, Crasto, Bouças, Burgo de Cima, Burgo de Baixo, Ponta do Campo, Cabreira, Casa Nova, Leiras, Cruz, Bairros, Arrabalde, Belmenso, Gomes, Peixoto, Soalheira, Quinta. E são os moradores neles trezentos e oitenta, em cujo número entram também os menores.
A igreja paroquial desta freguesia é de uma só nave e capela maior. Tem três altares, o altar-mor e dois colaterais, os quais ainda não têm retábulos, nem santos, por se fazer agora a dita igreja de novo a fundamentis, isto por ser a velha muito pequena e não haver nela o povo que hoje há nesta freguesia e, juntamente, porque estava ameaçando ruína. Há nela a irmandade de Nossa Senhora do Rosário e tem o Santíssimo Sacramento, por modo de viático, e estão os moradores desta freguesia obrigados ao culto e conservação dele.
As imagens que havia na dita igreja se hão-de pôr na nova. São uma imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo Crucificado, duas de Nossa Senhora do Rosário, uma maior, outra mais pequena, e uma de Nossa Senhora da Conceição, S. Jorge padroeiro, um Menino Jesus e uma de Santa Anastácia e outra de São Bento e todas são incorporadas. Há mais outras de tintas, por modo de painéis, que são São Pedro e São Paulo, no altar-mor, e, num dos retábulos dos colaterais, Santo António e São Francisco. Também há São Sebastião Mártir incorporado.
Está esta igreja quase no meio da freguesia, sendo que, para as partes do Nascente, Sul e Poente fica mais povo do que para a parte do Norte. Está situada num terreiro não muito largo, por estar entre a residência em que vive o pároco dela e as casas de uma quinta, que chamam do Assento, de que é direito senhor o Cabido de Braga e hoje a possui o reverendo Bento Bernardes de Meneses Barreto, por compra que dela fez. Tem casas grandes, todas boa pedraria, e se avistam de partes remotas, por ficarem altas, e, pelo dito dos antigos, narra-se que foram fabricadas por um homem das ilhas, que nelas viveu e foi senhor da dita quinta.
Nos limites desta freguesia há uma capela de São João Baptista, a qual está numa quinta que chamam Portela, que possui o morgado Francisco de Meneses Bernardes Cardoso, o qual a fabrica, como particular sua, que é. E está pública e serviu de paróquia, enquanto se fez a nova igreja.
Os frutos que os moradores desta terra colhem são centeio, milho-alvo, milhão, painço e feijão e algum pouco trigo. É esta freguesia plana, poucas águas e nenhuma de virtude, nem nome particular. Tem muito povo, mas pouco abundantes de bens, porquanto a maior parte são oficiais que vivem por seus ofícios. E, suposto hajam algumas fazendas, as mais delas estão em mãos de caseiros que as fabricam.
Esta freguesia é do termo da vila de Guimarães, que fica distante três quartos de légua e do correio da dita vila se servem os moradores desta terra.
Dista esta terra da cidade de Braga, Arcebispado capital e Primaz, três léguas e da cidade de Lisboa, capital do Reino, sessenta e quatro.
Pelos confins desta freguesia corre um rio, a que chamam o Selho, o qual tem o seu princípio na freguesia de São Torcato, a qual fica distante desta légua e meia. É pequeno, corre do Nascente a Poente, sendo que faz muitas voltas e, no tempo do Estio, ainda mais diminuto é, que tem havido anos em que, no dito tempo, em alguns sítios dele se não viu gota de água. E, nas partes que limita com esta freguesia, tem moinhos e levadas para eles. Numa delas houve algum dia pisão, porém hoje não se usa dele, e, no tempo de Verão, não podem os ditos moinhos moer, por falta de água, só se o ano é muito chuvoso.
O sobredito rio serve de limite entre esta freguesia para a parte do Sul com a de São Cristóvão de Cima de Selho e tem um sítio entre uma e outra freguesia, a que chamam os Sumes, cujo nome recebe porquanto se some a água por baixo de pedras, em termos que não se vê nada dela e só se ouve soar, distância de vinte passos, parum minus est*. E este mesmo sítio serve de passagem para uma e outra parte, de pé e de cavalo, em todo o tempo, excepto se há alguma inundação muito grande.
Os peixes que nele se criam são bogas, escalos e algumas trutas e enguias. Os curiosos que os casam é com anzol, chumbeiras e alvitanas e, no tempo da seca, os rapazes com troviscados que matam grandes e pequenos.
Para a parte do Norte, fica um monte não muito grande, porém no meio muito bem subido e agudo, com muita abundância de penedos, fica entre os confins desta freguesia e a de São Miguel do Paraíso, intitula-se o monte da Santa, porquanto dizem os antigos que nele se achou uma imagem de Santa Anastácia, cuja imagem ainda hoje se conserva nesta igreja. E também dizem se achou, no mesmo sítio, um sino que serviu nesta igreja e que tinha vozes muito suaves, porém já nenhum dos que hoje são vivos se lembra dele. Criam-se neste dito monte alguns coelhos e se encontram algumas vezes perdizes. Alguns curiosos fazem suas caçadas com cães e espingardas, em qualquer tempo do ano.
Os lavradores desta terra usam de criação de gados, como são bois, vacas e ovelhas, sendo que, destes, muito poucos, por serem os pastos limitados.
O temperamento desta terra: no tempo do Inverno são os ares bastantemente frios e se vêem muitas geadas pelas terras, porém muito bem próspera no viver dos homens.
Esta terra é plana, porém como numa covada, porquanto da parte do Sul fica um monte alto, e nele se avista uma capela que é da Senhora do Monte, que pertence à freguesia de Santa Cristina de Serzedelo, e, para a parte do Nascente, com ter alguns altos se avistam parte de algumas torres da vila de Guimarães e alguma parte de alguns conventos, como é o de S. Francisco, e também se vê o convento de São Jerónimo, da Costa.
Estas são as coisas notáveis de que posso fazer menção desta limitada freguesia, o que tudo vai na verdade, e em fé dela me assino, com os reverendos párocos abaixo assinados. Hoje, 20 de Maio de 1758 anos em S. Jorge de Cima de Selho.
O vigário João da Cunha e Freitas.
O vigário de S. Cristóvão de Cima de Selho, Bento Fernandes. O vigário de S. Miguel do Paraíso, Pedro Ribeiro Bernardes.
*Parum minus est: um pouco menos.
“Selho, S. Jorge de”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 11, n.º 329, p. 2245 a 2248.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Selho,
S. Lourenço de
Em cumprimento de uma ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor deste Arcebispado de Braga Primaz, em que manda responder a uns interrogatórios, certifico eu, o padre António Mendes Teixeira, vigário desta paroquial igreja de S. Lourenço de Cima de Selho, termo da vila de Guimarães, Arcebispado de Braga Primaz, visita de Montelongo, que esta minha igreja tem quarenta e quatro fogos, pessoas de sacramento cento e cinquenta e seis, sete menores.
Está situada num sítio não muito alto, porém bastantemente descoberto. Dela se descobre quase toda a freguesia de S. Pedro Fins de Gominhães, a freguesia de S. Torcato, a freguesia de S. Cosme da Lobeira, a freguesia de Santa Maria de Atães, parte da freguesia de S. Romão de Mesão Frio, a freguesia de S. Mamede de Aldão, a freguesia de S. João de Pencelo, quase circunvizinhas.
Esta igreja está situada num monte não mui alto, alguma coisa distante dos lugares. O lugar mais próximo à igreja chama-se a Portela, tem dois moradores, e, os mais, o lugar de Bouros, dois moradores, o lugar das Taipas, dois moradores, o lugar das Aléns, o mesmo, o lugar do Ermo, três moradores, o lugar do Ribeiro dois moradores, o lugar de Louredo três moradores, um no lugar da Laranjeira, no lugar de Barregão, um, no Bairro, três, na Ribeira, quatro, na Bouça, sete, na Boucinha, um, na Venda, um, no lugar da Ponte, oito, no Vale, um, na Portelinha, um.
O orago desta freguesia é São Lourenço de Cima de Selho.
Tem esta igreja quatro altares. O altar maior é de S. Lourenço, nele está colocado o Santíssimo Sacramento. Os colaterais, o da Senhora do Rosário e da Senhora da Luz e o do Senhor dos Passos.
Há nesta igreja três confrarias, a do Santíssimo Sacramento, a da Senhora do Rosário e a do Santo Nome de Deus.
É esta igreja vigairaria ad nutum, apresenta-a o Excelentíssimo Senhor Bispo de Constantina.
Andam arrendados os frutos desta igreja em cento e cinquenta mil réis. Rende para o pároco um carro de pão meado e doze mil réis em dinheiro. Os frutos que se dão melhor são milhão e centeio e milho alvo e painço, feijão, castanha, landre e fruta, pouca.
É esta freguesia sujeita às justiças da vila de Guimarães, da qual dista um quarto de légua, de cujo correio se serve, e da, cidade de Braga, duas léguas e meia e, da Corte de Lisboa, sessenta léguas.
Há nesta freguesia oito privilégios de Nossa Senhora da Oliveira.
No terramoto do primeiro de Novembro de mil e setecentos e cinquenta e cinco ficou livre de dano grave.
Tem esta freguesia um rio pequeno, que passa sem os moradores se utilizarem dele, somente de alguns moinhos, que são nove. Tem a sua origem nestas freguesias circunvizinhas, que já nomeei. Tem, na entrada desta freguesia, uma ponte, por onde se servem os moradores desta e muitas mais, a qual está ameaçando ruína, pois já numa enchente que houve, há coisa de dezoito anos, se lhe foram as guardas que tinha de pedra. Dá peixes, porém miúdos, por causa de continuamente caçarem nele os moradores da sobredita vila de Guimarães.
Não sei que haja alguma coisa mais digna de memória, conforme me obrigam os interrogatórios. O que tudo passa na verdade.
Hoje, S. Lourenço de Cima de Selho, 21 de Abril de 1758 anos.
Em fé do que me assino com o reverendo abade de S. Pedro Fins de Gominhães e o reverendo vigário de S. Pedro de Azurém, párocos vizinhos. Declaro que só confronto com parte da freguesia de São Pedro de Azurém, a qual fica para a parte do Sul.
O vigário António Mendes Teixeira.
O abade António Martins Beleza.
Francisco Dias de Miranda, pároco de S. Pedro de Azurém.
“S. Lourenço de Selho”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 11, n.º 328, p. 2241 a 2243.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Serzedelo,
Santa Cristina de
Em satisfação da ordem de Sua Majestade Fidelíssima, que Deus guarde, remetida a Sua Excelência Reverendíssima Governador de Braga Primaz, para os reverendos párocos da visita da terceira parte de Sousa e Ferreira informarem dos interrogatórios conteúdos nela.
Notícia da freguesia de Santa Cristina de Serzedelo.
Esta freguesia de Santa Cristina de Serzedelo é da Província de Entre~Douro-e-Minho, da comarca e Arcebispado de Braga Primaz, do termo da vila de Barcelos. É comenda da Ordem de Cristo que de presente possui o Excelentíssimo Marquês de Louriçal. Tem cento e trinta e nove vizinhos ou fogos e quatrocentas e trinta pessoas, em que entram os menores. Está situada em ribeira e vale do monte chamado de Nossa Senhora, que lhe fica ao Nascente e dele se descobre a vila de Guimarães, que dista uma légua.
A paróquia está situada no meio da freguesia, tem dezanove lugares ou aldeias que são: Mosteiro, Carreiras, Passos, o Crasto, Passo de cima, São Pedro do Monte, Portela, Chamozinhos, o Passo, São Miguel, Crasto, Vinha de Portela, Cova, Várzea, Nisca, Calvos, Serdeiro, Sanfins e Eirinhães.
O seu orago é Santa Cristina. Tem três altares. O maior é de Santa Cristina, em que está colocado o Santíssimo Sacramento. O colateral, da parte do Evangelho, é de Nossa Senhora do Rosário. E o da parte da Epístola é do Menino Deus. Tem duas irmandades, uma chamada confraria do Santíssimo Sacramento e outra chamada irmandade de Santo António.
O pároco é reitor e tem um cura. É esta igreja apresentação da câmara eclesiástica de Braga, com alternativa de Roma. Tem renda para o Excelentíssimo Marquês, setecentos e cinquenta mil réis e, para o reitor, cento e cinquenta mil réis e, para o cura, vinte mil réis.
Tem esta freguesia quatro ermidas ou capelas, que são a do Bom Jesus do Calvário, perto da igreja, com quatro rasas de pão cada ano de fábrica. A de São Bartolomeu de Nisca, que fica no fim da freguesia, à parte do Poente, não tem fábrica, vai a ela de romaria alguma gente no dia do mesmo santo e pertence ao pároco desta igreja. A de São Pedro do Monte, que fica junto do fim desta freguesia, à parte do Nascente, tem uma irmandade de Nossa Senhora do Rosário, que venera e fabrica esta capela e a festeja em dia de São Pedro, vinte e nove de Junho de cada um ano. Pertence ao pároco. E a de Nossa Senhora do Monte, situada no mais alto do monte que desta freguesia fica à parte do Nascente e no fim dele, à qual capela vai de romagem muita gente em dia da Ascensão do Senhor e, em dia de São João Baptista, vai a ela uma procissão da freguesia de Santa Maria de Infias, distância de meia légua, populosa e bem ornada. Este monte é alto e dele se vê o mar, que dista cinco léguas. Esta capela não tem fábrica e pertence ao pároco desta igreja.
Os frutos que em maior abundância se recolhem nesta freguesia são milho grosso, centeio, milho alvo, algum painço e feijão e vinho verde.
Esta freguesia está sujeita ao governo das justiças da vila de Barcelos. E nela nasceu Simão Coelho Peixoto, de presente governador da praça de Vila Nova de Cerveira do Minho.
Serve-se esta freguesia do correio da vila de Guimarães, que dista uma légua.
Esta freguesia dista três léguas de Braga, capital deste Arcebispado, e de Lisboa, capital do Reino, cinquenta e oito léguas.
O rio Ave corre por junto desta freguesia, pela parte do Norte, e corre de Nascente ao Poente. Nasce na serra da Cabreira, que dista desta freguesia oito léguas. Corre em todo ano e nele entra o rio chamado Selho junto ao lugar da Várzea, o qual corre de Nascente a Poente, junto desta freguesia, mas também da parte do Norte, o qual nasce entre os montes de São Torcato e Gonça, distante desta freguesia duas léguas, e, entrando no rio Ave, perde o nome e no Verão seca alguns anos.
O rio Ave cria peixes chamados barbos, bogas, escalos e enguias e alguma truta e deste sobe o mesmo género de peixes pelo dito rio Selho. Pesca-se em ambos os rios livremente, com chumbeiras, mingachos, redes de varrer, nassas e com anzóis, quando o tempo o permite. Também alguns caçam com troviscadas, cal e coca que, onde chega, mata tudo, sendo os pequenos os primeiros que morrem e por mui pequenos se não aproveitam. Parte das margens deste rio se cultivam. Tem árvores com videiras, que dão vinho, e várias árvores sem fruto.
O rio Ave conserva sempre o mesmo nome e morre no mar, junto de Vila do Conde, distante desta freguesia cinco léguas, e tem uma açudes no sítio chamado Rego, com uma azenha e moinho no Verão.
O rio Selho tem dois açudes. Um deles serve para encaminhar a água a três moinhos chamados do Passo e, o outro, a água de dois moinhos chamados do Gronho e nele, entre esta freguesia e a de São João de Gondar, está uma ponte de cantaria, chamada a ponte de Soeiro.
E do conteúdo nos mais interrogatórios não há coisa alguma de que possa informar. Passa na verdade, em fé do que abaixo me assino, com os dois reverendos párocos mais vizinhos. Santa Cristina de Serzedelo e de Maio 23 de 1758 anos.
O reitor Francisco Xavier da Cunha Osório.
O abade Rodrigo Leite Pacheco.
O vigário de S. Cristóvão de Cima de Selho, Bento Fernandes.
“Serzedelo”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 10, n.º 279, p. 1901 a 1905.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Serzedo,
S. Miguel de
No princípio da ribeira de Vizela, junto à ponte de Pombeiro, cinco léguas a Nascente afastado da cidade de Braga, légua e meia da vila de Guimarães, e sessenta da cidade de Lisboa, se acha esta freguesia, com o título de São Miguel de Serzedo.
É abadia apresentada pela Mitra. Renderá, um ano por outro, quatrocentos mil réis. Está pensionada em quarenta.
Tem noventa e três fogos, pessoas trezentas e duas. Passa o rio Vizela pelo meio dela. Da parte do Nascente, tem doze moradores. É couto de Pombeiro. No tal sítio se acha uma capela com a invocação de Nossa Senhora do Amparo, com altar privilegiado todos os dias, de que hoje é administradora Dona Benta. Da parte do Poente, tem os mais moradores (é termo de Guimarães), no meio dos quais fica a sobredita freguesia.
Tem a igreja três altares, um em que está o Santíssimo Sacramento e São Miguel, nos colaterais um com a invocação da Senhora do Rosário, e é privilegiado para os irmãos que querem entrar na dita irmandade, e o outro de São Sebastião. Tem mais duas capelas desta dita parte, uma que é da freguesia, com a invocação de Santo André, e outra, com a invocação da Senhora da Conceição, cujo administrador é Jerónimo Duarte.
Fica toda esta parte nas abas da serra de Santa Catarina.
O que mais abundante é de milho, vinho, frutas boas, caça miúda.
Não tem coisa mais de que se deva dar parte conforme o interrogatório. S. Miguel de Serzedo, 2 de Maio de 1758.
O abade Manuel da Costa de Oliveira Lobo.
O padre Miguel Soares da Costa, vigário de S. Lourenço de Calvos.
“Serzedo”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 10, n.º 281, p. 1923-1924.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Silvares,
Santa Maria de
Em cumprimento da ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor da cidade de Braga Primaz, em que me manda a mim, o padre Domingos da Silva, vigário de Santa Maria de Silvares, respondo à dita ordem pelos interrogatórios dela, e é o seguinte.
Está esta freguesia de Santa Maria de Silvares na província de Entre-Douro-e-Minho, do Arcebispado de Braga, distante da dita cidade três léguas, e é do termo da vila de Guimarães, e dista da dita vila quase meia légua. É da apresentação do Reverendo Cabido da Insigne e Real Colegiada da dita vila. O orago desta Igreja é Nossa Senhora da Esperança, a dezoito de Dezembro. Está situada num vale e dela se descobre, para a parte do Norte, até à distância de duas léguas, e, para a parte do Sul, até à distância de meia légua, e, para a parte do Poente, tem um outeiro, em parte, que encobre a vista, e, para a parte do Nascente, até à distância de uma légua, e tudo o que se descobre são terras de montes e algumas ribeiras.
A igreja, no altar-mor, tem o Santíssimo Sacramento e a Senhora Padroeira, de uma parte, e Santo António, da outra. Tem dois altares colaterais, no da parte do Evangelho está a imagem do Santo Cristo, com o título da Boa Morte, e Santa Luzia, e, na parte da Epístola, a Senhora com o título do Rosário, e esta tem confraria e irmandade, está mais São Sebastião e o Menino Deus. A igreja não tem naves, tem uma porta travessa para a parte do Norte, e cabido à porta principal, e é vigairaria colada. Renderá para o padroeiro para cima de quatrocentos mil réis, e para o vigário renderá pouco mais de cinquenta mil rés. A igreja está quase no fim da freguesia, para a parte do meio dia.
Tem a freguesia três capelas, uma de Santa Susana, que fabricam os fregueses, outra de São José, que é obrigado a fabricar o capitão António José Álvares de Castro, no lugar de Sendelo, e a de Santa Susana está no lugar de Senães e a esta vão alguns romeiros, no quarto domingo da Quaresma. Há outra, de Santa Ana, no lugar de Ardão, e esta tem um legado de missa todos os domingos e dias santos, e é obrigado a fabricá-la e a pagar o dito legado o licenciado Gregório Pereira de Castro, assistente na vila de Guimarães.
Tem esta freguesia os lugares seguintes: Senães, Penafria, Penascada, Casela, Passo, Carvalho, Costa, Baralha, Sendelo, Fontelo, Torre, Boucinha, Gândara, Requião, Ardão, Escadinha, Cruzeiro, Ribadave, Laje, Granja, Viande, Teixugueira, Lorbão, Gulpilhães, Soalhães, Boavista, Moirinha, Murça, Curbeira, Agrela, Bouça, Torre de Mourilhe, Mourilhe, Estrada, Destra, Ferreirinhos, Formigosa, Cruz, Leiras, Assento. E nestes quarenta lugares há cento e dezasseis fogos e trezentas e quarenta e cinco pessoas maiores de sacramento e quarenta e nove menores, que todas são trezentos e noventa e quatro.
Nesta freguesia se colhem frutos de centeio, de milho branco miúdo, de milhão e algum trigo, e vinho verde, e algum azeite, feijões de toda a casta, landre e castanha, e, dos frutos, a maior abundância que se colhe é milhão.
Serve-se esta freguesia do correio de Guimarães, que parte na sexta-feira de manhã para a cidade do Porto, e torna no domingo seguinte à noite, e são oito léguas de distância, e para a cidade de Lisboa são sessenta.
Tem esta freguesia alguns privilégios de Nossa Senhora da Oliveira da vila de Guimarães, chamados das Tábuas vermelhas.
Vizinha esta freguesia com São Martinho de Candoso, com S. Miguel de Creixomil, com Santa Eulália de Fermentões, e entre esta medeia um pequeno monte em que se acham coelhos e algumas lebres, e vizinha mais com São João de Ponte, e com São João de Brito e reparte o rio Ave que mansamente corre e tem duas levadas. Numa se acham rodas de moinho, e se chamam os oito moinhos, e na outra se acham duas azenhas, uma da parte de Brito, outra da parte desta freguesia, onde também anda um barco para a passagem da gente no Inverno, que no Verão passam pela dita levada dos oito moinhos. Neste rio se cria variedade de peixes, como são barbos, bogas, escalos e trutas poucas, e às vezes chegam a este sítio alguns sáveis. Recolhe-se este rio no mar em vila do Conde, à distância de sete léguas.
Parte também esta freguesia com São Miguel do Paraíso e com São Jorge de Cima de Selho e medeia entre elas um pequeno monte chamado de Correlos, onde se criam coelhos e algumas perdizes e se acham algumas lebres, e é o dito monte cabeça da montaria que se costuma fazer às raposas.
E não há mais que se possa dizer aos interrogatórios e este o mandei fazer e assinar, juntamente com os dois párocos vizinhos, o Reverendo António da Costa Rodrigues, Vigário de S. Martinho de Candoso, e o Reverendo João da Cunha de Freitas, vigário de São Jorge de Cima de Selho, aos vinte e um de Maio de mil setecentos e cinquenta e oito anos.
O vigário Domingos da Silvar.
Vigário de São Jorge de Cima de Selho, João da Cunha de Freitas
António Costa Rodrigues, Vigário de São Martinho de Candoso
Declaro que o rio acima chamado Ave tem a sua nascente na serra chamada Cabreira, que dista desta freguesia sete léguas, e corre sempre por entre montes, e em partes por entre campos, e nesta freguesia vai por entre campos, e tem nas margens árvores de amieiros e uveiras, que dão vinho, e entra de Inverno um rego de água, que fará moer um moinho. Fiz esta declaração, era necessária.
O vigário Domingos da Silva.
“Silvares”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 35, nº 164, p. 1225 a 1228.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Tabuadelo,
S. Cipriano de
Relação da freguesia de S. Cipriano de Tabuadelo, anexa da abadia de S. Faustino de Riba de Vizela.
Esta freguesia fica na Província de Entre-Douro-e-Minho. Pertence ao Arcebispado Primaz de Braga, termo da vila de Guimarães. É, como tal, da Coroa.
Tem trinta e três vizinhos, pessoas cento e oito, exceptuando alguns inocentes.
A sua paróquia é anexa da abadia de S. Faustino de Riba de Vizela. Está situada no meio da freguesia, no declive do monte Escada.
Tem os casais seguintes: Assento, Casal Nuno, Babrecos, Loureira, Chãos, Esburzalhadas, Devesa, Quintãs, Ladrido, Bouça de Grilo, Pombal, Montinho, Picoto, Outeiro, Souto das Figueiras, Souto da Carreira, Lamas, Ramada.
O seu orago é S. Cipriano. Tem três altares: o do orago, o de Nossa Senhora do Rosário, o de S. Sebastião. O seu pároco é cura ad nutum, que apresenta o abade de S. Faustino, que dirá do rendimento de ambas as igrejas. É da apresentação da mesma abadia.
Os frutos que os seus moradores colhem em mais abundância são vinho, centeio, milhão, feijão.
É sujeita às justiças de Guimarães.
O seu correio é o da mesma vila, de que dista meia légua, da cidade de Braga três e meia, da capital do Reino sessenta léguas.
Não padeceu ruína no Terremoto de 1755.
No seu pequeno montado tem alguma caça de coelhos, perdizes e alguma raposa.
Isto o que acho de que se procura saber e me assinei com os dois párocos vizinhos. S. Cipriano de Tabuadelo, 20 de Maio de 1758.
O padre João de Crasto, pároco.
José Moreira da Silva, abade de S. Pedro de Polvoreira.
D. João de Bento e Abreu, reitor de Santa Maria de Infias.
“Tabuadelo”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 36, n.º 4. p. 15 e 16.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Tagilde,
O Salvador de
Relação da freguesia do Salvador de Tagilde.
Em cumprimento da ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor deste Arcebispado Primaz, que se dá conta dos interrogatórios a ela e nesta competentes.
Fica esta na Província Entre o Douro e o Minho, pertence ao Arcebispado Primaz de Braga e chamada a Ribeira de Vizela, do termo da vila de Guimarães e, como tal, da Coroa. Tem cento e vinte vizinhos e trezentas e setenta pessoas de sacramento, excepto alguns inocentes.
A sua paróquia está situada num alto, de onde se vê quase toda a freguesia e igreja, que tem três altares e bem dourados ao moderno, cujo orago ou padroeiro é o Salvador de Tagilde e consta dos lugares ou aldeias seguintes: Assento, Vergada, Quintães, Cruz, Souto da Cruz, Paredes, Cabreiro, Souto, Boavista, Torre, Sub Torre, Monte, Padroso, Padrosinho, Soutinho, Porta Carreira, Eira Velha, Bacelo, Passinhos, Azenha da Porta, Côso, Santiago, Lama, Azenha de Cabreiro, Póvoa, Beira do Rio, Vila Corneira, Bairro, Laje, Arriconha, Passo, Boco, S. Romão, Peninhas, Sino, Subouças, Figueiredo, Tapadas, Caselho, Devesa, Avilheira, lugar do Monte.
Nesta freguesia se acha colocado o sacrário, com sua confraria e mais a confraria de Nossa Senhora, com seu altar à parte, o altar de S. António, não tem confraria. É esta benefício da colação ordinária e renderá, um ano por outro, seiscentos e oitenta mil réis. O seu pároco é abade. Tem as ermidas seguintes: a capela de S. Gonçalo, sita no lugar da Arriconha, onde foi nascido este santo, a capela do Espírito Santo, sita na Torre, a capela de Santo António, sita na quinta da Devesa e a capela de Nossa Senhora do Pilar, sita na quinta de Subouças, todas desta freguesia.
Tem correio de Guimarães e é distante da cidade de Braga quatro léguas e, da de Lisboa, pouco mais ou menos, sessenta.
Não padeceu ruína alguma no terramoto de 1755.
Somente tem no dia de S. Gonçalo a capela do dito santo seus devotos de romagem.
Tem pequenos montados em que andam limitadas caças de perdizes e coelhos. Compreende, de Nascente a Poente, o rio de Vizela que só nas enchentes corre caudaloso, mas não tem navegação alguma, nem entram nele outros rios, nem regatos e tem alguns travessos para três azenhas que tem. Tem duas pontes, uma de pau, chamada a ponte da Ribeira, e outra, chamada a Ponte Nova e é de pedra. Tem este rio algumas pescarias de peixes, como são barbos, trutas, escalos, as quais são livres. As suas margens se cultivam, que dão bastantes frutos de vinho e pão e azeite. Tem suas águas suficientes. A origem deste rio é na freguesia de São Miguel do Monte.
Isto é todo o que tenho que relatar pertencente aos interrogatórios e, se neles for diminuto, é por não ter a eles que se possa responder. E por verdade me assinei com os dois párocos abaixo assinados na forma que se me determina. E para constar fiz esta.
Hoje em Tagilde, de Maio, 12 de 1758.
João Francisco de Oliveira, abade desta igreja.
O abade José Monteiro Vaz.
Amaro José de Paços Leite, abade de S. Faustino.
“Tagilde”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 36, n.º 10 p. 41 a 42
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Urgezes,
Santo Estêvão de
Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor. O padre Custódio António de Sousa, pároco de Santo Estêvão de Urgezes, satisfazendo a uma ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor do Arcebispado de Braga Primaz, que me foi entregue com o papel incluso para haver de informar de tudo o que se contém em seis interrogatórios ao qual satisfazendo e respondendo a eles e juntamente informando-me, acho o seguinte.
A minha freguesia é o seu orago Santo Estêvão de Urgezes. É do Arcebispado de Braga, termo e comarca de Guimarães. É apresentação do Reverendo Cabido da Real Colegiada da mesma vila.
Tem esta freguesia, vizinhos, cento e catorze, pessoas de sacramento, trezentas e dez, menores quarenta.
Está a paróquia situada num vale, defronte da serra de Santa Catarina que o reverendo pároco do seu distrito dará razão de suas propriedades, se as tiver. Descobre-se desta paróquia a igreja de São Pedro de Polvoreira, que dista desta um quarto de légua. Descobre-se mais desta a igreja de Santa Eulália de Pentieiros, que dista desta meia légua. Descobre-se mais a igreja de São Cipriano de Tabuadelo, que dista desta meia légua. Descobre-se mais o monte de São Bento, que dista desta três quartos de légua. Descobre-se mais a capela de Nossa Senhora do Monte, que dista desta três quartos de légua.
Não tem termo, está a paróquia no meio da freguesia. Tem, lugares, trinta e nove e entra em partes de duas ruas da vila. São os seus nomes: Assento da Igreja, Estrada, Aldeias, os Remédios, Trofas, Covas, Fondevila, Salgado, Sabacho, Vila Nova, Barroca, Rua das Molianas, Torre, Rua Caldeiroa, Sardoal, Vila Flor, Minhoto, Casa Velha, Monte, Souto, Franco, Casa Nova, Fonte, Santa Lapa, São Roque, Boavista, Passo, Cachada, Souto Novo, Rola, Parede, Entre-as-Vinhas, Pombal, Preza, Penenrique, Outeiro, Laje, Maina, Cal, Herdade, Carreira, Vila Chã. E muitos destes lugares não têm senão uma casa.
Tem esta paróquia três altares: o altar-mor é do orago, o da parte do Evangelho é de Nossa Senhora do Rosário, o da parte da Epístola é de São Sebastião. Não tem naves. Tem só uma irmandade, de Nossa Senhora do Rosário.
O pároco desta igreja é vigário perpétuo. Os dízimos e sabidos são do padroeiro, que é o reverendo Cabido de Guimarães, o que tudo anda arrendado em quatrocentos mil réis. O pároco só tem o pé de altar que, com o salário de onze mil réis e seu pequeno passal, um ano por outro, lhe rende sessenta mil réis.
Não tem beneficiados, nem conventos de um e outro sexo, nem hospital, nem misericórdia.
Tem duas ermidas, uma chamada de Nossa Senhora dos Remédios, de que é administrador João da Cunha Souto Maior, vínculo de seu morgado, morador na sua Quinta de São Cosme e Damião de Lobeira, termo desta vila. Está dentro do lugar; por acaso vêm alguns romeiros pelo ano, sem ser em dia certo; tem fábrica. Há outra ermida, chamada do Bom Jesus de São Roque, é seu administrador o reverendo abade de São Gens de Calvos, Tomás de Mesquita e Silva, a quem pertence. Tem fábrica, fica dentro do lugar, não tem romagem.
Os frutos desta terra são milho grosso, miúdo, feijão, trigo, centeio. E o que se colhe com maior abundância é milhão e vinho e azeite e castanhas e frutas em menos abundância.
Não tem juiz ordinário, nem câmara. Está sujeita ao governo das justiças do termo e comarca. Não é couto nem cabeça de concelho, nem há memória de que florescessem homens por virtudes, letras ou armas.
Não tem feira, nem correio, sirvo-me do da vila de Guimarães que chega no domingo à noite e parte na sexta-feira de madrugada para a cidade do Porto que dista desta nove léguas, e dela se reparte para as mais partes.
Daqui a Braga, capital do Arcebispado, são três léguas e a Lisboa, capital do Reino, são sessenta léguas.
Estão nesta freguesia encabeçados doze privilégios de Nossa Senhora da Oliveira, seus donos têm o domicílio fora desta freguesia. Há mais o do Tabaco, Trindade, Cativos e de Santo António de Lisboa e da Bula
Não há mais de que dar parte. Não tem esta freguesia fonte nem lagoa célebre nem perto dela há porto de mar, nem é murada, não houve no terramoto do ano de mil e setecentos e cinquenta e cinco ruína alguma nesta freguesia. Não tenho mais de que dar conta dos interrogatórios contidos no papel a esta junto. Enquanto aos interrogatórios que tratam de serras e rios, não dou razão, porque os não há nesta freguesia.
Isto é o que posso informar a Vossa Mercê, ao que assistiram os dois reverendos párocos vizinhos, que são o reverendo Francisco Fernandes Cruz, vigário de São Miguel de Creixomil e o reverendo Jerónimo Ribeiro, vigário de São Vicente de Mascotelos, que comigo assinaram. Santo Estêvão de Urgezes, 15 quinze de Abril de mil e setecentos e cinquenta e oito anos 1758. De Vossa Mercê súbdito.
O vigário Custódio António de Sousa.
O vigário Francisco Fernandes Cruz.
O vigário Jerónimo Ribeiro Salgado.
“Urgezes”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 41, n.º 361, p. 2189 a 2192.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Vermil,
S. Mamede de
Freguesia de São Mamede de Vermil.
Está esta freguesia situada na Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga Primaz, comarca e termo da vila de Guimarães, distante desta uma légua, daquela duas e da cidade de Lisboa sessenta. Num vale que, descendo pela parte do Norte em direitura ao Sul, termina em planície, se acha situada a povoação e freguesia de São Mamede de Vermil. Esta é couto, que compreende toda a freguesia de São Tiago de Ronfe, com que próximo confina, e compreende mais partes de outras vizinhas. Antigamente se denominou couto de Vermil e hoje se apelida de Ronfe, talvez porque a freguesia de Ronfe é mais de duas vezes maior que esta de São Mamede de Vermil. Se transmutou, pelo discurso do tempo, para ela o nome e a origem do couto.
Deste é senhor donatário o excelentíssimo Conde de Castelo Melhor e Reposteiro-mor. Actualmente, este é administrador, e o foram há muitos séculos os seus antecessores de um morgado anexo a este couto, de que desfruta certas rendas, pelo título de doações que do dito morgado fizeram as majestades aos referidos senhores.
Em memória da instituição deste couto e morgado, existe ainda hoje, distante da igreja paroquial desta freguesia poucos passos, uma torre, com seu muro já em partes demolido, na qual dizem habitara uma senhora Dona Branca Loba, que tinha umas rendas a que chamam teigas, por os antigos darem às nossas rasas este nome, que é a mesma renda que hoje pertence ao dito excelentíssimo Conde de Castelo Melhor.
Tem esta freguesia vizinhos, cinquenta e nove, casados, vinte e cinco, viúvos e viúvas, dezanove, solteiros e solteiras, cento e quinze, pessoas de sacramento, cento e noventa e uma, menores, vinte e um, ausentes, vinte e nove. Lugares, dezassete, a saber, Assento, Vessada, Couços, Barreiros, Covilhã, Pombal. Labruje, Portela, Carreira Nova, Monte, Gavim, Lamas, Jogo, Vinha Velha, Côrrego, Aldeia, Picoto, cima de Vila, Quintãs.
A igreja paroquial está situada no mais alto lugar, que divide em duas partes a freguesia. Deste lugar se descobre, se bem que confusamente, a vila de Guimarães e, mais claramente, os paços antigos da Senhora Rainha e convento da Costa, em que habitam religiosos de São Jerónimo. Para a parte do Sul, se divisam várias terras em distância de cinco léguas e, de ter boa vista, é que se chama Vermil.
Serra.
Pela parte anterior da igreja, em direitura ao Sul, defende a esta povoação do vento Norte o monte chamado de São Miguel, porque, num de seus outeiros, sustenta uma pequena ermida com respeito à dita paróquia, em que a devoção particular dos fiéis venera a imagem sagrada do Arcanjo São Miguel. Está pobremente venerada, porque vive de esmolas.
Terá de comprido este monte, de Norte a Sul, um quarto de légua, de largo, pelos lados que respeitam ao Nascente e Poente, o mesmo, em círculo fechado, uma légua. Tem vários penedos e, nas partes mais superiores dele, são mais avultados. O produto deste monte é mato, muito útil para o adubo das terras, particularmente cortado no mês de Maio, em que reverdece. Nele se cria caça de coelhos e lebres. São, porém, com estas pouco afortunados os galgos e as carreiras pouco vistosas, em razão de não ser plano o dito monte. Também cria suas perdizes, mas quase sempre se fatigam debalde ainda os bons caçadores, porque não são das melhores as revoadas.
Nas raízes deste monte nascem algumas fontes limitadas, das quais uma chamada de Amorim, é de água excelente, pelo limitado peso dela.
Do alto deste monte se descobrem muitas terras para todas as partes, especialmente para a do Sul, cujo nome não sei e por ficarem remotas. E também se descobre a capela ou igreja da milagrosa imagem de Nossa Senhora do Porto, que fica para a parte do Nascente.
O patrono e orago da freguesia é São Mamede Mártir, verdadeiramente egrégio em dar a vida pela nossa santa fé de idade de doze anos, como consta da história de sua vida e procedimentos. A sagrada imagem deste menino mártir se acha juntamente colocada no altar-mor. Há mais dois colaterais, em que se adoram as santíssimas imagens de Nossa Senhora, uma com o título do Rosário, outra com o da Imaculada Conceição.
Esta igreja de S. Mamede de Vermil é vigairaria anexa à reitoria de São João de Brito, à qual apresenta o mesmo reitor, e é da mesma comenda da Ordem de Cristo. Rende para o vigário cinquenta mil réis.
Além da ermida de São Miguel, já expressada, há uma capela de São Roque muito bem ornada, tem fábrica e está sita poucos passos distante da matriz.
Os frutos deste país são, em mais abundância, milhão, centeio e milho alvo e algum feijão e vinho verde, quando Deus o dá.
É couto que tem juiz ordinário e câmara, tudo posto por Sua Majestade, que Deus guarde, a cujas justiças e às de Guimarães estão sujeitos estes povos.
Não tem correio, serve-se com o da dita vila, de onde parte às sextas-feiras e chega aos domingos.
Tem um privilégio de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães.
Aos mais interrogatórios, não tenho que dizer. E assinaram esta comigo o reverendo reitor de Ronfe, João do Couto Ribeiro e o reverendo reitor de Brito, Domingos Marques Silva. De Maio, 23 de 1758 anos.
O vigário António José Marques de Araújo.
João do Couto Ribeiro.
O reitor Domingos Marques Silva.
“Vermil”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 39, n.º 140, p. 805 a 810.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Vizela,
S. Faustino de Riba
Relação da freguesia de S. Faustino de Riba de Vizela, em cumprimento da ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor deste Arcebispado primaz de Braga.
Esta freguesia fica na Província Interamnense ou de Entre-Douro-e-Minho, pertence ao Arcebispado Primaz de Braga, termo da vila de Guimarães e sua comarca e, como tal, da Coroa. Tem quarenta e seis vizinhos, cento e setenta pessoas, exceptuando algumas crianças.
A sua paróquia está situada no meio dela, na fralda do limitado monte de S. Simão, porque se dilata iminente à célebre Ribeira de Vizela, com a qual no plano se comunica. Tem as aldeias seguintes:
Bouças, S. Pedro, Safra, Leira, Revolta, Boavista, Cima de Vila de Cima, Cima de Vila de Baixo, Loureiro, Casal da Cal, Lamatilde, Souto, Subpaço, Vergada, Casa Nova, Torre, Herdade, Penelas, Celeiró de Cima, Celeiró de Baixo, Barrio, Sentiães, Pedreira, Reguengo, Reguengo de Cima, Reguengo de Baixo, ambos estes privilegiados das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da vila de Guimarães, Campo de Sampaio, Entre-as-Vinhas, os três casais de Balboreiro, Assento da Igreja, Residência dos Abades.
É esta digna de alguma memória por ser, pela sua natureza e fábrica, a mais aprazível entre todas a do Arcebispado, concorrendo para a sua formosura e alegre de sua situação as casas dela, sendo acomodadas a uma capaz vivenda de campo. Fazem frente a um espaçoso tabuleiro em quadro que, nos seus cantos, se orna com pirâmides, e, pelo centro dele, repartindo-se em ruas de murta, tem vários pedestais de pedra, em que se sustentam vasos de excelentes cravos. Tem dilatados passeios e ruas guarnecidas de alegretes, os seus muros cobertos de árvores de espinho, e as ruas de latas do mesmo, umas de parreiras, outras sustentadas em esteios de pedra, revestidos do mesmo espírito. Tudo rodeado de alegretes de esquisitas flores, que tudo se rega com água que por canos de pedra corre de um montado da mesma residência. Fazendo-se mui celebrado este sítio pelas muitas raqueis que nele florescem, havendo anos que tem produzido mil e quinhentas flores desta espécie.
O seu orago é S. Faustino. Tem a igreja uma só nave, com três altares: o do orago, em que está colocado o Santíssimo Sacramento por viático, o da Senhora das Candeias, o do Nome de Deus e S. Sebastião. Tem a irmandade da Senhora das Candeias, da jurisdição ordinária, com bula de indulgências nas cinco festas da Senhora. E todos os altares da igreja privilegiados in perpetuum para as missas que a confraria manda dizer pelos irmãos falecidos. A festa principal é a dois de Fevereiro. Tem a confraria do Santo Nome de Deus.
Tem só a ermida de Santo António nos seus limites. Pertence aos possuidores do casal de Subpaço.
O seu pároco é abade de apresentação ordinária. Rende quinhentos mil réis.
Os frutos que os seus moradores colhem com mais abundância são vinho, milhão, centeio, feijão.
É sujeito às justiças de Guimarães. O seu correio, da mesma vila. Dista da capital do Arcebispado quatro léguas. Da capital do Reino cinquenta e nove léguas,
Não padeceu ruína no terramoto de 1755.
No seu pequeno montado tem alguma caça de coelhos, perdizes e raposas.
É tudo o que acho que relatar, do que se procura saber. Porque, sendo a Ribeira de Vizela ao modo de anfiteatro, e correndo pelo meio dela o rio Vizela, que lhe dá o nome nesta parte (como relataram os que povoam suas margens), não se acha em toda ela serra alguma, vendo-se até às coroas dos montes cultivadas as terras, com grande interesse dos seus habitantes. E por verdade me assinei, com os reverendos párocos vizinhos. S. Faustino de Riba de Vizela, 6 de Maio de 1758.
Amaro José de Paços Leite, abade
Domingos Lopes, abade de Pentieiros
Francisco Leite Soares, vigário de São Cristóvão de Abação
“Vizela, São Faustino de Riba”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 31, nº 89, p. 525 a 528.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Vizela,
S. João das Caldas de
Descrição topográfica ou notícia individual da freguesia de S. João das Caldas de Vizela, no Arcebispado Primaz, que por ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Francisco Fernandes Coelho, seu meritíssimo provisor, escreveu João Veloso da Praça, Licenciado em Cânones pela Universidade de Coimbra e titular da mesma igreja neste presente ano de 1758.
Na deliciosa e aprazível ribeira de Vizela (uma das mais célebres da província interamnense), está situada a freguesia de S. João das Caldas. Confina ao Norte com a de S. Miguel do mesmo nome; ao Levante, com a mesma e a de Santo Adrião de Vizela; ao Sul, se termina com a de Santa Eulália de Barrosas e S. Tiago de Lustosa, pelo outeiro das Portelas e monte dos Impedidos; e, ao Poente, com as de S. Miguel de Vilarinho e S. Paio de Moreira dos Cónegos, pelo monte de S. Pedro e outeiro de S. Domingos.
A primaz cidade de Braga, a cujo Arcebispado pertence, lhe fica ao Noroeste, em distância de quatro léguas. Tem para o Nordeste a vila de Guimarães e para o Sueste a de Amarante. Esta lhe dista também quatro léguas e aquela légua e meia. A corte de Lisboa lhe fica ao Su-sudoeste em distância de cinquenta e oito léguas e meia, fazendo caminho pela cidade do Porto. Esta lhe dista seis e meia e o seu bispado uma e meia para o Sudoeste. Finalmente, a Vila do Conde lhe fica distante seis para sete léguas ao Ocidente, nas praias do mar oceano.
É esta freguesia denominada das Caldas, por conta de umas águas cálidas sulfúreas, que lhe ficam imediatas, conhecidas vulgarmente nesta Província pelo nome de Caldas de Guimarães. Estas águas, de mais ou menos efervescência conforme a ígnea actividade que lhes comunicam os ardentes minerais, por onde passam nas entranhas da terra, rebentam em várias partes de um paul, distante da residência desta igreja pouco mais de um tiro de espingarda, em cujo paul, com que confina esta freguesia para o setentrião, tem seu princípio a de S. Miguel das Caldas.
Servem as referidas águas de curativo a várias enfermidades, especialmente a estupores e reumatismos, para cujo remédio concorre bastante gente desta Província a tomar os seus banhos, além de muita que em pipas se transporta a partes remotas, como são Guimarães, Braga, Porto e outras mais, cujo transporte facilita o vigor com que conserva a sua nímia quentura. Seria mais numerosa a frequência de povo em vir tomar os banhos a este sítio, se nele houvesse recolhimentos públicos ou particulares, como há em outras caldas deste reino, com notória utilidade dele, pois se costumam recolher os enfermos por casas dos lavradores desta vizinhança, em que, pela maior parte, falta a comodidade de que aqueles necessitam. As mesmas águas quentes, depois de misturadas com as de dois pequenos regatos junto dos mencionados banhos, fazem o seu breve curso para o Sul, comunicando-se com o Vizela, por entre o passal ou assento desta igreja, das quais esta se utiliza para os seus prados, de que lhes resulta abundância de ervas, ainda no tempo do frio.
O rio Vizela, com a sua rápida e serenosa corrente, divide a esta freguesia em duas partes, ficando a mais considerável da banda do Sul, com a qual se comunica a que fica ao Norte por uma ponte de cantaria, chamada a ponte das Caldas, participando o apelido desta freguesia. Tem a ponte dois grandes arcos, por onde o rio faz o seu ordinário curso, e outro pequeno, de que só se serve na ocasião das maiores inundações. As guardas ou parapeitos dela se acham quase em toda a parte desmantelados e desfeitos e a sua calçada necessita de conserto, por conta da ruína que a continua passagem dos carros lhe ocasiona.
Aquele rio, que deve o seu nascimento aos montes vizinhos a Fafe, depois de receber em si vários ribeiros, por uma e outra margem, com os quais enriquece a sua corrente, se encaminha ao ocaso. E, sujeitando-se aos arcos da ponte de Pombeiro e da chamada a Ponte Nova, na freguesia do Salvador de Tagilde, ambas de cantaria, passeando soberbo com os cabedais alheios, entra nesta igreja banhando em roda grande parte do passal desta igreja e fabricando-lhe de suas águas cristalinos muros, finaliza a célebre ribeira de Vizela, a quem deu o seu nome a troco do prejuízo que em alguns Invernos lhe causa com as inundações, arrebatados efeitos da sua soberba. Aqui se humilha à ponte das Caldas, em que se terminam as terras pertencentes a esta igreja, e, correndo sempre ao Poente, depois de se humilhar também à ponte de Negrelos, que daqui dista meia léguas e à de S. Tomé, outro tanto mais abaixo, confunde as suas águas com as do rio Ave, que lhe fica ao Norte, na freguesia de S. Miguel de Entre Ambas as Aves, no qual perde o nome, não muito distante do rendoso convento de S. Tirso, de monges beneditinos.
As margens do rio são agradáveis à vista, assim como geralmente toda a freguesia, por conta da multiplicidade de várias espécies de árvores de que se acham revestidas, cuja verdura e fresca amenidade serve de não pequena delícia e recreação aos que gostam de retiro do campo. Nelas se acha constituída uma numerosa quantidade de azenhas e moinhos, de que só esta freguesia conta vinte e nove ou trinta rodas. Mas algumas delas só costumam moer no Estio, por ficarem mais dentro do rio e, por isso, anualmente se consertam para melhor cómodo e expedição da publicidade. Além das referidas rodas, há dois pisões que servem para pisoar certa qualidade de panos grosseiros, de que alguma da pobreza desta freguesia e seus contornos se utiliza para seus vestidos.
Cria o rio várias qualidades de saboroso peixe miúdo, como são trutas, escalos, bogas e barbos, e destes em maior quantidade e alguns de admirável e monstruosa grandeza para a sua espécie, pois se têm aqui pescado muitos de três palmos de comprido e um de largo.
A natureza formou a esta freguesia num ameno vale, perpétua habitação da Primavera. O qual, principiando junto do rio e interpolado com algumas eminências, se encaminha ao Sul, de onde declina para o Su-sudoeste. Alguns já referidos montes, povoados de inumeráveis frondosos carvalhos, de que fabricam engraçados vestidos de esmeralda com que se adornam, lhe servem de coroa com suas eminências. Neles se criam lebres, coelhos, perdizes, rolas e outras caças para enleio indiferente da nobreza e honesta recreação da ociosidade.
Os seus ares são benignos e salutíferos, à excepção de algumas sezões que nos mais intensos ardores da canícula se originam, suposto que semelhante enfermidade é menos comum nesta freguesia do que em outras muitas do reino, onde é mais geral. Aqueles se acham inundados de toda a variedade de avezinhas, especialmente de rouxinóis, volantes habitadoras da etérea diafaneidade, as quais, se recreiam os olhos com o matizado das penas, também suavizam os ouvidos com o harmonioso do canto.
Não habitam aqui animais ferozes, nem ainda daqueles que só têm por natureza a voracidade, e somente aparecem poucas, mas ardilosas, raposas que, suposto muitas vezes assaltem as aves domésticas, também nelas em algumas estações do ano condignamente se exercita o irascível.
Há nesta freguesia copiosas perenes fontes de cristalinas saborosas águas, de que se utilizam os seus moradores assim para fecundidade dos campos, como para refrigério dos corpos, no tempo do calor. Se bem que pela maior parte as apetecem mais para o primeiro do que para o segundo ministério, por conta do continuado uso que dão ao vinho, que aqui tem um grande consumo. Entre as fontes há algumas de água tépida, uma das quais nasce dentro dos muros do passal e outra mais férvida rebenta quase no meio do rio, junto do mesmo passal, cuja quentura claramente reconhecem os que costumam divertir-se no exercício da pescaria.
A residência desta freguesia (a qual fica nos confins dela, para a parte do Norte) está edificada em sítio descoberto e levantado sobre a margem setentrional do Vizela. A sua vista é deliciosa, não só por gozar das florzinhas dos campos, verdura dos prados e frondoso dos bosques do seu dilatado passal e de muita parte da freguesia, mas também por desfrutar da vista e passagem da ponte, do claro e trémulo bulício das águas do rio e da contínua volubilidade de suas azenhas.
Logra também esta residência das amenidades de três vales ou ribeiras, em cujo centro triangular está situada esta freguesia, e vêm a ser: a das Caldas, que corre para o Norte e tem seu princípio no já mencionado passal das águas quentes, em que (como já disse) começa a freguesia de S. Miguel do mesmo nome, a de Vizela, que continua para Nascente e a de Barrosas, que se estende para o Sul e termina com uma soberba e agigantada montanha, no mais alto da qual se divisa um lugar do mesmo apelido de que, talvez, a ribeira toma o nome. Neste lugar, que fica distante uma légua desta freguesia, está o célebre santuário do Bom Jesus de Barrosas, frequentado da maior parte dos habitadores desta província, para tributarem ao mesmo Senhor suas humildes deprecações, em todo o tempo do ano e especialmente na festa do Espírito Santo e no Domingo da Santíssima Trindade, em que é mais numeroso o seu concurso.
O passal ou assento desta igreja que, como já referi, fica bem nos confins da freguesia para a parte do Norte, é extenso e se divide em muitos e dilatados campos. Contém em si amenidade igual à da freguesia. É circuitado em roda e, da parte do Sul (como tenho expendido), lhe serve de muro o rio Vizela, em grande distância. Tem frondosos carvalhos, que lhe fabricam densos bosques, em que se cria variedade de caças. Tem, juntamente, os melhores prados destas vizinhanças, por se utilizar para eles das águas quentes das Caldas, refrigeradas com as dos dois já mencionados regatos. Defronte, na margem oposta, está grande quantidade das rodas das azenhas desta freguesia. E, finalmente, confina com outras para o Poente, foreiras a esta igreja por finalizarem na ponte das Caldas as terras a ela pertencentes, como consta de seu tombo.
A igreja desta freguesia, que é de uma só nave, está imediata à residência. A ponte das Caldas se descobre não só do seu adro, mas também do interior dela. Há tradição entre os moradores de ter estado antigamente no sítio do Calvário, no centro da freguesia. O seu orago ou padroeiro, é o maior dos santos, o glorioso S. João Baptista, cuja sagrada imagem se venera no altar maior da parte da Epístola, venerando-se também, no mesmo altar, da parte do Evangelho, a imagem do Menino Deus, e no sacrário se acha, ainda que oculto, exposto à veneração dos fiéis, o Augustíssimo Sacramento.
Tem esta freguesia, além do altar maior, três mais, dois colaterais, imediatos ao arco da capela-mor, e um mais no corpo da igreja. O altar colateral da parte do Evangelho se intitula de S. Sebastião, no qual, além da imagem do mesmo invencível mártir, se veneram as de Nossa Senhora do Bom Despacho e Santa Rita. O altar colateral da parte da Epístola é intitulado da Senhora do Rosário, cuja soberana imagem nele é venerada. À roda dela se acham, pintados no retábulo, seis pequenos quadros, três da parte esquerda, em que se representam os mistérios do nascimento de Jesus Cristo, a sua apresentação no templo e o mesmo Jesus disputando entre os doutores. Nos outros três, da parte direita, se representa o Passo de Cristo Senhor Nosso orando no horto, o da prisão à coluna e o da coroação e espinhos, os quais quadros, ainda que antigos, pelo primor da sua pintura se equivocam com os fabricados pelos artífices romanos.
Fábrica da mesma ideia parece ser também a de outros quadros, num dos quais se representa o glorioso S. Domingos, recebendo o rosário da Santíssima Virgem Mãe de Deus. No outro se vê representado o exemplar da mais austera penitência, o seráfico patriarca, com um santo crucifixo nas mãos. Este fica metido na parede, junto do altar de S. Sebastião, e aquele defronte deste, junto do da Senhora do Rosário.
Imediato a este, mais no corpo da igreja, está o quarto altar dela, o qual se denomina das Almas, por conta de um quadro das Almas do Purgatório que se acha pintado no seu retábulo, obra (ao que parece) do referido primor.
Neste altar se dá culto à soberana imagem de Cristo Crucificado e às de sua Santíssima Mãe e S. João Evangelista, ambas junto da cruz do mesmo Senhor, e venera-se juntamente nele a do miraculoso português Santo António de Lisboa.
Há nesta igreja duas confrarias. Uma é a do Santíssimo Sacramento, a qual, suposto tenha de casco três para quatro mil cruzados em dinheiro, além das suas peças de prata, contudo os que a têm administrado na vacatura desta igreja, que foi prolongada, a constituíram em termos de perder uma boa parte dos mencionados cabedais, por causa do seu pouco zelo, culpável descuido e repreensível abuso.
A outra confrarias é da Virgem Senhora do Rosário, muito menos opulenta que a primeira, mas igualmente governada.
Há também duas chamadas confrarias, a que melhor compete o nome de devoções, por não terem estatutos por que se governarem. Intitula-se uma destas do Menino Deus, a outra de S. Sebastião, cujos cabedais são muito ténues.
É esta igreja abadia do real padroado de Sua Majestade Fidelíssima, que Deus guarde, cujos frutos, certos e incertos, poderão render, um ano por outro, pouco mais de trezentos mil réis, de que paga duas quintas partes para a Santa Igreja Patriarcal de Lisboa. Entre os seus abades conta muitos de notória nobreza, uns que a adquiriram pelas letras nas Universidades, outros a herdaram de seus ascendentes. A maior prerrogativa de que com razão pode gloriar-se esta igreja, é o haver tido por abade ao Senhor D. Teodósio de Bragança, irmão do senhor Duque deste título, o qual era abade dela pelos anos de 1563, no reinado do senhor rei D. Sebastião, sendo arcebispo em Braga o venerável D. Frei Bartolomeu dos Mártires, da sagrada Ordem dos Pregadores, cuja imagem todo o arcebispado ansiosamente deseja ver colocada nos altares. Consta a sobredita memória do tombo desta igreja, que se acha no arquivo da Sé Primaz, mandado fazer no referido ano pelo mesmo Senhor D. Teodósio, cuja certidão, extraída do mesmo tombo, se conserva entre os antigos documentos desta igreja.
Conta esta freguesia, neste presente ano de 1758, trezentas e vinte e nove pessoas de sacramento, além de muitas que o não são, as quais se acham repartidas em cento e um fogos.
Os frutos que produz consistem em vinho verde, trigo, centeio, milhão ou milho grosso, milho branco ou milho miúdo, painço, linho, feijão e mais legumes, hortaliças e frutas, mas do vinho é que ordinariamente costuma produzir em maior abundância. Os seus habitantes são geralmente inclinados à cultura do linho, e as mulheres a o fiarem, de que fabricam todos os anos uma prodigiosa quantidade de teias de pano de diversas qualidades, que daqui se extraem para diversas partes do reino. Porém, o lucro que delas lhes resulta, não será tão considerável como eles se persuadem, por conta da nímia despesa que insensivelmente com elas fazem, até o seu total complemento.
Faz o seu trânsito por esta freguesia a estrada pública que vem de Guimarães e seus contornos, a qual, entrando nela pela parte do Norte, por entre terras pertencentes ao passal desta igreja, se encaminha à ponte das Caldas, onde se divide em duas. Uma continua para o Sul, e entrando na freguesia de santa Eulália de Barrosas e passando depois pelo Bom Jesus deste nome, dirige para a Lixa, Amarante, Travanca, Canaveses, Arrifana de Sousa e outras mais terras. A outra corre para o Sudoeste e, atravessando a maior parte desta freguesia e deixando-a entre os montes dos Impedidos e de S. Pedro, além de dirigir também para a mencionada vila de Arrifana e outras povoações distantes, encaminha principalmente para a cidade do Porto.
O sobredito monte dos Impedidos, de onde corre a maior porção de águas nativas que fertilizam esta freguesia, é tradição constante ter servido de comum sepultura, no tempo de uma peste que antigamente aqui houve, aos que pereceram infeccionados do contágio. Na descida dele está situada a antiga e rendosa Quinta de Gominhães, a quem são foreiras as mais das fazendas desta freguesia e outras muitas terras fora dela, e a quem pagam avultadas pensões em dinheiro, jeiras, pão, vinho, leitões, galinhas e outros géneros.
É esta quinta chefe da ilustre família dos Cirnes, uma das principais desta província e bem conhecida não só nela e em todo o reino, mas ainda no da Galiza, onde também se acha aparentada com a casa do Marquês de Mós, uma das de mais distinta nobreza do mesmo reino. Foi instituída em morgado por Francisco Soares de Aragão, fidalgo espanhol, o qual, vindo para este Reino com a Sereníssima Rainha Santa Isabel, filha de Pedro 3.º, Rei de Aragão, e mulher do Senhor Rei D. Dinis, exercitou o honroso emprego de aio da mesma Rainha Santa, da qual também era parente. A sua capela, em que os administradores têm obrigação de mandar dizer quatro missas cada semana, é da invocação de Nossa Senhora de Jerusalém.
Esta quinta e morgado de Gominhães foi antigamente cabeça de honra, com privilégio de coutar uma légua de monte e rio na sua circunferência, mas esta honra se extinguiu, sendo seu nono administrador Pero ou Pedro Vaz Cirne. Seus administradores antigamente faziam aqui a sua ordinária residência, mas hoje, pela maior parte, assistem na cidade do Porto. Têm saído desta casa varões ilustres que assinalaram o seu zelo e o seu esforço nas campanhas, onde alguns acabaram em serviço da Coroa, deixando com suas heróicas acções imortal glória à posteridade. É hoje undécimo administrador deste antigo e nobre morgado Francisco Diogo de Sousa Cirne de Madureira e Azevedo, fidalgo da Casa de Sua Majestade Fidelíssima, que Deus guarde, o qual sabiamente procura conservar o esplendor, com que se enobreceram seus ilustres e gloriosos progenitores.
Não tem esta freguesia correio particular, porém costuma servir-se do de Guimarães, que regularmente chega a esta vila ao domingo e parte na sexta-feira.
Finalmente, é esta freguesia no espiritual governada pelas justiças eclesiásticas da comarca de Braga, por ser do seu arcebispado Primaz, e, no temporal, pelas seculares da vila de Guimarães.
Esta é a informação individual desta freguesia de S. João das Caldas que a minha inculta e mal aparada pena pôde escrever, em que procurei conformar-me com os interrogatórios que me foram remetidos. Assim o certifico, assinando-se comigo juntamente dois dos reverendos párocos vizinhos, que são o abade de S. Miguel das Caldas e o vigário de Santa Eulália de Barrosas.
S. João das Caldas, 2 de Junho de 1758.
João Veloso da Praça, abade.
António Álvares, abade.
O vigário Manuel Machado da Silva.
“Caldas de Vizela, São João das”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 8, n.º 8, p. 213 a 223.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Vizela,
S. Miguel das Caldas de
Informação corográfica da freguesia de S. Miguel das Caldas.
A freguesia de São Miguel das Caldas de Guimarães do Arcebispado Primaz de Braga, dista daquela cidade quatro léguas, da de Lisboa cinquenta, da vila de Guimarães, para o Sul, légua e meia. Está situada numa ribeira chamada das Caldas, quer corre do Sul para o Norte e que faz conexão à ribeira do rio Vizela, que corre do Nascente para o Poente, e está esta ribeira das Caldas entre dois montes e um raso, para da parte do Poente chamado o monte de São Domingos, tomando o nome de uma ermida do dito santo, que antigamente houve no dito monte, no lugar do Calvário, e dela hoje somente se conserva a memória, e outro, da parte do Nascente, chamado o monte de São Bento, tomando o nome de uma ermida do glorioso patriarca que está edificada no cume do dito monte, à qual concorrem de romaria diversas pessoas, nas festas do dito santo e nas da Pascoa e Espírito Santo, e pertence aquela capela à igreja desta freguesia e à do Salvador de Tagilde e serve de divisa e marco entre as duas freguesias e, o monte em que está edificada, tem seu princípio, pela parte do Sul, no rio Vizela e corre para o Norte, com o nome da serra de Santa Catarina, que fica defronte da vila de Guimarães, para o Nascente.
É esta freguesia, e sua ribeira, aprazível à vista e abundante de frutos, vinho verde, milhão, milho, centeio, trigo e painço e frutas. Suas fazendas são quase todas foreiras ao reguengo da vila de Guimarães, que pertence à Sereníssima Senhora Rainha. Tem a dita freguesia cento e sessenta e cinco fogos e quinhentas pessoas de sacramento e os seus lugares são tantos como as fazendas, e delas tomam o nome, e todas pertencem a esta freguesia, e somente as fazendas do lugar de Lagoas que, pela parte do Nascente, partem com o rio Vizela, são meeiras com esta freguesia nos dízimos e com a igreja de Santo Adrião de Vizela, e seus moradores são de alternativa de uma e outra freguesia.
A igreja desta freguesia está edificada no meio dela. O seu padroeiro é o Anjo São Miguel. É igreja abadia e de apresentação e jurisdição ordinária de Braga, ainda que antigamente foi do padroado real e se desagregou da coroa por doação que do padroado desta igreja, no ano de mil e trezentos e um, fizeram a um Pedro Salgado, tesoureiro-mor da coroa, o Senhor Rei Dom Dinis, com a Sereníssima Senhora Rainha Santa Isabel e o Sereníssimo Senhor Infante Dom Afonso. Tudo consta de instrumentos que se conservam nesta igreja, tirados da Torre do Tombo, e sentenças que houve contra a coroa. E dos mesmos instrumentos consta que esta freguesia, sendo hoje uma, antigamente eram duas, ambas abadias e da coroa real, a saber, esta de São Miguel e a outra de São Simão, de cujo assento se paga a esta, em cada um ano, quatro alqueires de trigo, um carneiro e oitenta réis em dinheiro. A qual igreja se São Simão estava edificada num alto que fica entre esta igreja e o rio Vizela, chamado ainda hoje o monte de São Simão. Tinha esta freguesia de São Simão por fregueses os moradores do lugar de Montesinhos, do lugar de Lagoas e do lugar de Silvares. E porque os rendimentos das ditas duas freguesias eram muito ténues, o Senhor Rei Dom Dinis uniu a freguesia de São Simão a esta de São Miguel das Caldas, com declaração que os moradores e dízimos do lugar de Montesinhos ficaram in solidum pertencendo à igreja desta freguesia, e os moradores e dízimos do lugar de Silvares ficaram pertencendo à igreja de Santo Adrião de Vizela, que é, e sempre foi, da jurisdição ordinária, os dízimos do lugar de Lagoas ficaram sendo meeiros com esta freguesia e com a de Santo Adrião do rio de Vizela e seus moradores da alternativa de uma e outra freguesia. E poderão render os frutos certos e incertos desta igreja, um ano por outro, quatrocentos mil réis.
Tem esta igreja uma irmandade da Senhora das Candeias e outra do Santíssimo Sacramento e cinco altares. No altar-mor se venera a sagrada imagem do seu padroeiro, o Anjo São Miguel, e o Augustíssimo Sacramento. No altar colateral, da parte do Sul, se venera a sagrada imagem da Senhora do Rosário. E, no que está no corpo da igreja, da mesma parte, se venera a Senhora da Vidraça e, no mesmo altar, se veneram as sagradas imagens do nascimento e Santos Reis, metidas em dois repositórios. E no altar colateral da parte do Norte, se veneram as sagradas imagens do Menino Deus e da Senhora das Candeias ou Purificação. E, no altar que está da mesma parte, no corpo da igreja, se veneram as sagradas imagens do Senhor da Boa Morte, a da Senhora da Piedade, a do Evangelista S. João e a de São Sebastião.
É esta freguesia chamada das Caldas, tomando o nome de um banho de água quente sulfúrea e medicinal que nasce na mesma para a parte do Sul, numa alameda chamada Alameda da Água Quente, e nasce esta em diversas partes. E a principal e mais cálida de que se usa para os banhos, nasce num tanque feito de cantaria assentada em betume, o qual tem sete palmos de alto, trinta e dois de largo e quarenta e cinco de comprido, do Sul para o Norte. É lajeado de seixos assentados em betume argamassado e, no meio, tem uma pedra quadrada furada no meio, pelo qual buraco, estando limpo o tanque, nasce, junta em grande quantidade, a água quente, sulfúrea e medicinal, a qual, estando o tanque entupido, nasce em diversas partes pela circunferência e à roda do tanque que, pela parte interior, em toda a roda tem banqueta, que serve de assento. Não havia memória do referido tanque e casualmente foi descoberto no ano de mil e setecentos e nove. E, mandado limpar pelo senado da vila de Guimarães, se achou formado na forma dita, e na mesma Alameda e fora do dito tanque, em diversas partes, nasce água quente da mesma qualidade da que nasce no tanque e somente duas fontes, menos quentes e só tépidas. E também na freguesia vizinha a esta, chamada a freguesia de São João das Caldas, nasce em diversas partes água quente, somente tépida, excepto uma fonte que nasce no meio do rio Vizela, que corre por aquela freguesia, que é muito quente.
São as caldas desta freguesia mui medicinais e a elas concorrem muitas pessoas e, sendo a doença estupor ou reumatismo, cobram muitos doentes perfeita saúde. E tomam estes os banhos em casa dos lavradores e em tinas, conduzindo a elas água, em pipas, do referido tanque a água para os banhos. E também em pipas e para o mesmo efeito dos banhos, é levada água a diversas e remotas partes, como à cidade do Porto, distante sete léguas, à de Braga, vila de Guimarães e de Amarante, distante quatro léguas. E, pelos efeitos que causam os banhos das referidas águas, não mereciam tão pouco asseio com que se acham. Porém, tem desculpa no sítio baixo em que nascem, pois o referido tanque está situado onde os dois regatos da Portela e Espadanos juntam suas águas e, quando estas crescem, inundam o dito tanque, por estar mais baixo que os ditos regatos, e o enchem de lodo e areia. Consta de geografias antigas que as caldas desta freguesia eram pelos seus efeitos das melhores de Portugal.
Não tenho mais de que possa informar, ao predito o certifico e assino com o reverendo Abade de São João das Caldas e o reverendo vigário de São Martinho de Conde, párocos vizinhos.
São Miguel das Caldas e Maio 17 de 1758 anos.
O abade António Álvares.
Domingos de Sá e Cunha.
João Veloso da Praça, abade de S. João das Caldas.
“Caldas de Vizela, São Miguel das”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 8, n.º 39, p. 225 a 228.
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Vizela,
S. Paio de
Vizela
Vizela é outra aldeia e paróquia do termo e comarca de Guimarães. O seu povo consta de 107 fogos, com 330 almas de sacramento na matriz dedicada a S. Paio.
“Vizela, São Paio de” Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 43, n.º 514, p. 568
[A seguir: Santo Adrião de Vizela]
Guimarães nas Memórias Paroquiais de 1758
Vizela
Santo Adrião de Riba
José Monteiro Vaz, abade das paroquiais igrejas de Santo Adrião de Vizela e sua anexa São Jorge de Vizela, em cumprimento de uma ordem ambulatória do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor do Arcebispado de Braga, na qual mandava respondesse aos quesitos do mapa incluso a qual satisfazendo, digo na forma seguinte.
É esta freguesia de Santo Adrião de Vizela, Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga e termo da vila de Guimarães.
Ao segundo, é terra de el-rei meu senhor.
Ao terceiro, tem cento e trinta e um fogos ou vizinhos.
Ao quarto, está situada num plano dos mais vistosos da ribeira de Vizela, vizinhando com o rio Vizela. Dela se descobre só a freguesia de Tagilde. Poderá ter ao redor três quartos de légua.
Ao quinto, não tem termo seu. Compreende dezoito lugares, a saber, Lamelas, Lagoas, Silvares, Passo Meão, Passos, Alfeixim, Quintãs, Palhais, Britelo, Carvalhinhos, Monte do Crasto, Casal, Casalinho, Tigens, Outeirinho, Bouço, Cruz.
Ao sexto, está esta paróquia dentro e no meio da freguesia e os lugares acima.
Ao sétimo, o orago é Santo Adrião de Vizela. Tem quatro altares, um do Sacramento e padroeiro, outro do Rosário, outro de Santo António, outro das Almas, e três portas. Tem uma irmandade de Santo André e confraria do Sacramento e Rosário.
Oitavo, esta igreja é abadia, de apresentação da Mitra de Braga, tem de renda anual, com a sua anexa, quatrocentos mil réis.
Ao nono, décimo e undécimo, nada, e duodécimo, nada.
O décimo terceiro, tem cinco capelas ou ermidas, a primeira São Gonçalo, a Senhora da Tocha, onde também tem irmandade, Santa Cruz do Casal, Nossa Senhora de Lamelas e São Cláudio de Lagoas, todas de dentro e nos limites da freguesia.
Ao décimo quarto, não sei que acudam romagem às ditas capelas, excepto à de Nossa Senhora da Tocha, a que no tempo da Quaresma concorrem alguns clamores de fora, nos dias das sextas-feiras.
Ao décimo quinto, os frutos da terra que se colhem com mais abundância são milhão grosso.
Ao décimo sexto, está sujeita às justiças da vila de Guimarães.
Ao décimo sétimo, nada.
Ao décimo oitavo, nada.
Ao décimo nono, o mesmo.
Ao vigésimo, serve-se do correio da vila de Guimarães, em que vem nas segundas e parte nas quintas e é de distância uma légua.
Ao vigésimo primeiro, dista da cidade de Braga, cabeça do arcebispado, quatro léguas e de Lisboa, cabeça do reino, sessenta léguas.
Ao vigésimo segundo, tem privilégio de Nossa Senhora da Oliveira, que está incorporado no Casal de Lagoas.
Ao vigésimo terceiro, nada e o mesmo ao vigésimo quarto.
Ao vigésimo quinto, nada.
Ao vigésimo sexto, suposto tremeu a terra com admiração de todos com o terramoto, não houve ruína alguma, pela bondade de Deus.
Segue-se a serra de Santo Adrião de Vizela.
Ao primeiro, confina esta freguesia, pela parte do Sul, com a serra chamada Choqueiro que terá um quarto de légua de largo e outro de comprido. Tem ao redor de si cinco freguesias, esta e Santa Eulália, Santo Estêvão, Idães e Revinhade. Está dito ao primeiro e segundo e terceiro e quarto e quinto e sexto e o mesmo o sétimo.
Ao oitavo, não tem esta serra, que conste, ervas medicinais nenhumas. Dá muito tojo.
Ao nono, nada.
Ao décimo, é de bom temperamento.
Ao undécimo, há nela criações de gado, ovelhas, cabras, bestas, coelhos, lebres e perdizes.
Ao duodécimo e ao décimo terceiro, nada.
Rio desta terra.
Refresca toda esta ribeira o rio chamado Vizela, cujo nascimento ignoro. Só me dizem que tem princípio numa fonte chamada Vizela, de onde o rio tomou seu nome, nasce nesta fonte num rego de regar e, depois, se vai multiplicando por rio e ribeiros, que ignoro por distante. E fica respondido ao primeiro e segundo e terceiro.
Ao quarto, só pode andar barcos.
Ao quinto, é numas partes arrebatado e outras quieto.
Ao sexto, corre de Nascente a Poente.
Ao sétimo, cria peixes de todas as castas e é mais abundante de bogas, mas neste território não costumam andar peixes que se criem no mar.
Ao oitavo e nono, nada.
Ao décimo, cultivam-se os campos ao redor e tem árvores que dão vinho e outras que o não dão.
Ao undécimo, nada.
Ao duodécimo, sempre conservou o mesmo nome e só o perde quando se sepulta no rio Ave, que é junto à ponte de Serves.
Ao décimo terceiro, está dito.
Ao décimo quarto, tem muitas levadas, pelas quais não é navegável.
Ao décimo quinto, tem bastantes pontes. Neste meu sítio tem de cantaria a Ponte Nova, e a Pinguela, que é de pau.
Ao décimo sexto, tem muitos moinhos e azenhas.
Ao décimo sétimo, nada.
Ao décimo oitavo, neste sítio não se pode tirar dele águas para regar, só serve para o mister das azenhas e moinhos.
Ao décimo nono, terá o rio, desde onde nasce até aonde se junta com o Ave, cinco léguas e meia, pouco mais ou menos.
Ao vigésimo nada.
E nada mais sei do sobredito que, por verdade, conferi com os reverendos párocos de Santa Eulália de Barrosas e o de Santa Comba de Regilde, abaixo assinados.
Santo Adrião de Vizela e de Abril quinze de mil e setecentos e cinquenta e oito anos.
O abade José Monteiro Vaz.
O abade Rodrigo de Sousa Lobo.
O vigário Manuel Machado da Silva.
“Vizela, Santo Adrião de Riba”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 41, n.º 351. p. 2123 a 2126.




