Mário Cardoso
continuador de sarmento


Militar, arqueólogo
Mário Augusto de Vasconcelos Cardozo nasceu em Guimarães, a 1 de março de 1889. Irmão do pintor Abel Cardoso, cedo revelou igual inclinação para o desenho e para a observação paciente das coisas da terra. Republicano convicto, aos vinte e poucos anos escrevia já nos jornais locais, celebrando na Alvorada a “emancipação da consciência” como maior obra da nova República, numa prosa que anunciava o futuro historiador.
Seguiu a carreira militar, chegando a coronel de Infantaria. Mas foi na Sociedade Martins Sarmento que encontrou o seu campo de ação mais duradouro. Presidente da Direção durante quase quatro décadas, entre 1932 e 1942 e de novo de 1947 a 1974, fez da instituição uma verdadeira casa da arqueologia portuguesa, reforçando o museu, a biblioteca e a projeção científica da Revista de Guimarães, que dirigiu em diferentes períodos. A ele se deve o arranque sistemático das escavações na Citânia de Briteiros e em Sabroso, coordenando sucessivas campanhas e publicando catálogos e monografias que hoje são obras de referência.
Ao longo da vida, Mário Cardozo publicou centenas de textos sobre história local, epigrafia, etnografia e arqueologia, em Portugal e no estrangeiro. As suas páginas sobre a muralha de Guimarães, as “curiosidades” da cidade oitocentista ou o desenho da paisagem castreja fixaram, com rigor e afeto, um património que estava em risco de se perder. Ao mesmo tempo, como dirigente cívico, foi interlocutor atento da Câmara Municipal e de múltiplas instituições culturais, afirmando sempre a prioridade da defesa do património sobre as tentações circunstanciais do “progresso”.
Faleceu em Guimarães, a 14 de julho de 1982, sendo sepultado em Atouguia. Para lá dos cargos, ficou a imagem de um homem austero e disponível, que fez da Sociedade Martins Sarmento a sua casa e da Citânia de Briteiros o seu horizonte quotidiano. Nas escadas do museu, nos artigos da Revista de Guimarães ou nos catálogos agora reunidos em volume, continua a reconhecer-se a presença do continuador de Martins Sarmento.


mário cardoso, nota biográfica
Percurso
1889 (1 de março) – Nasce em Guimarães, Mário Augusto de Vasconcelos Cardozo.
c. 1907 – Surge caricaturado por José de Meyra, jovem republicano vimaranense.
1911 – Publica no jornal Alvorada o texto em que exalta a “emancipação da consciência” como grande obra da República.
Décadas de 1910–1920 – Prossegue carreira militar, servindo em diferentes unidades de Infantaria.
1926 – Dirige pela primeira vez a Revista de Guimarães.
1930–1961 – Coordena campanhas arqueológicas regulares na Citânia de Briteiros; última escavação em 1968.
1932–1942 – Primeiro longo mandato como presidente da Direção da Sociedade Martins Sarmento.
1947–1974 – Segundo grande ciclo na presidência da SMS, consolidando museu, biblioteca e investigação.
1965–1972 – Novo período à frente da Revista de Guimarães.
1957 – Publica, na Revista de Guimarães, o estudo sobre a muralha e a avenida Alberto Sampaio, hoje frequentemente citado.
1982 (14 de julho) – Morre em Guimarães; funeral para o cemitério da Atouguia, com ampla representação das instituições locais.






