João Franco

DeputaDO DE GUIMarães

Político, deputado, ministro, ditador

João Franco nasceu em Alcaide, concelho do Fundão, a 14 de fevereiro de 1855, em família de proprietários rurais abastados. Formou-se em Direito em Coimbra, em 1875, onde se destacou pelo brilho da inteligência e pela combatividade nas lutas académicas. Seguiu depois a carreira administrativa, vencendo sucessivos concursos: delegado do procurador régio em várias comarcas, quadro superior das Alfândegas e, por fim, auditor do Tribunal do Contencioso Fiscal e Aduaneiro – um percurso que lhe deu conhecimento directo do aparelho do Estado e das finanças públicas.

Em 1884 é eleito pela primeira vez deputado regenerador pelo círculo de Guimarães, que representará nas Cortes durante mais de duas décadas. Quando chega, nunca pusera os pés na cidade; quando abandona a vida política, é um dos nomes mais estimados pelos vimaranenses, que nele vêem o advogado firme das causas locais. Foi voz decisiva na longa querela com Braga, defendendo em Lisboa as pretensões de Guimarães em matérias como o ensino liceal, a justiça ou as obras públicas, e mereceu, ainda em vida, o raro privilégio de ver o seu nome dado a um largo da cidade e de ali erguerem um busto em sua honra.

No plano nacional, João Franco sobe rapidamente. Ministro da Fazenda em 1890, num governo de emergência após o ultimato inglês, e depois ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, afirma-se como reformador determinado. Rompe com Hintze Ribeiro, abandona o Partido Regenerador e funda o Partido Regenerador Liberal, cunhando em polémica com o rotativismo a expressão que ficou para designar a alternância arranjada entre regeneradores e progressistas. Em 1906 é chamado por D. Carlos para presidir ao Conselho de Ministros. Começa como chefe de um governo de maioria, termina em ditadura pessoal, com o Parlamento dissolvido, leis de imprensa restritivas e poder concentrado no Paço e no chefe do governo.

O regicídio de 1 de fevereiro de 1908 encerra brutalmente o “tempo de João Franco”. Acusado por uns de ter provocado a tragédia com a sua política autoritária, visto por outros como bode expiatório de uma monarquia já em ruptura, demite-se e retira-se da vida política. Passa os últimos anos em Lisboa, em discreta advocacia e em recolhimento familiar. Morre a 4 de abril de 1929. Em Guimarães, onde o seu nome ficou ligado ao largo da Misericórdia, a memória que perdurou foi a do deputado combativo que, vindo de fora, se tornou parte da história política da cidade.

joão franco castelo branco, nota biográfica
Percurso
  • 1855 (14 de fevereiro) – Nasce em Alcaide, concelho do Fundão.

  • 1875 – Licencia-se em Direito pela Universidade de Coimbra.

  • 1877–1885 – Delegado do procurador régio em Sátão, Baião, Alcobaça e Lisboa.

  • 1885–1886 – Chefe de serviço e depois administrador-geral interino das Alfândegas; auditor do Tribunal do Contencioso Fiscal Aduaneiro.

  • 1884 – Eleito deputado pelo círculo de Guimarães, pelo Partido Regenerador; mantém o mandato até ao fim dos círculos uninominais.

  • Década de 1880 – Intervém nas Cortes em defesa de Guimarães nos conflitos com Braga e com a Junta Geral, ganhando forte prestígio local.

  • 1890 – Ministro da Fazenda no governo de António de Serpa Pimentel.

  • 1891–1892 – Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria no governo de João Crisóstomo.

  • Inícios do séc. XX – Rompe com Hintze Ribeiro, abandona o Partido Regenerador e funda o Partido Regenerador Liberal; torna corrente o termo “rotativismo”.

  • 1906 (maio) – É nomeado presidente do Conselho de Ministros; acumula a pasta do Reino.

  • 1907–1908 – Governa em regime ditatorial, com o Parlamento dissolvido.

  • 1908 (1 de fevereiro) – Regicídio de D. Carlos e do príncipe Luís Filipe; pouco depois, João Franco demite-se e afasta-se da política.

  • 1929 (4 de abril) – Morre em Lisboa. Em Guimarães, o antigo Largo da Misericórdia mantém o seu nome e o busto que perpetua a memória do “deputado de Guimarães”.

João Franco nas Memórias de Araduca