João de Meira
espírito luminoso


Escritor, jornalista, médico, historiador
João Monteiro de Meira nasceu em Guimarães, na rua de D. João I, a 31 de julho de 1881, primogénito do médico Joaquim José de Meira e de Adelaide Sofia da Silva Monteiro. Fez os estudos liceais no Colégio de S. Dâmaso, no mosteiro da Costa, e seguiu depois para o Porto e Lisboa, concluindo o curso na Escola Médico-Cirúrgica do Porto em 1906/1907, com a dissertação O concelho de Guimarães (estudo de demographia e nosographia), avaliada com 20 valores e saudada por figuras como Ramalho Ortigão, Teófilo Braga ou Henrique da Gama Barros.
Regressado à terra natal, exerceu clínica particular, trabalhou no Hospital de S. Domingos e lecionou no Liceu de Guimarães, antes de ser chamado de novo ao Porto, onde, em poucos anos, se tornou lente substituto de Cirurgia, assumiu a Medicina Legal e a direção da Morgue, e foi nomeado professor ordinário de Farmacologia e Ciências Naturais, já na Universidade do Porto. Em paralelo, construía uma obra sólida na história da medicina e na história local, colaborando nos Arquivos da História da Medicina Portuguesa com Maximiano Lemos e publicando na Revista de Guimarães alguns dos estudos mais finos sobre o passado vimaranense, de que a reedição d’O Concelho de Guimarães é hoje porta de entrada privilegiada.
Desde muito novo escrevia em jornais de Guimarães, do Porto e de Lisboa, quase sempre sob pseudónimo, com humor sarcástico e cultura literária invulgar. Fundou o jornal de arte e crítica A Parvónia, deixou textos brilhantes sobre Martins Sarmento, Camilo ou Antero, compôs três Pregões para as Festas de S. Nicolau (1903–1905) e é nele que surge, em 1904, o adjectivo “nicolino”, que abrirá caminho à expressão “Festas Nicolinas”. A sua mestria de imitador deu-lhe fama póstuma: o “Cesário Verde” de A loira, os textos assinados “Seara Alheia” ou “Donan Coyle”, o Sherlock Holmes no Porto ou o Gil Vicente: Jubileu de Amores são hoje reconhecidos como pastiches seus, e não obra alheia. Morreu em Gominhães, a 25 de setembro de 1913, com apenas 32 anos, deixando atrás de si a imagem do sábio precoce que quis fazer da história “a crónica do povo anónimo” e não apenas a enumeração dos reis.


joão de meira, nota biográfica
Percurso
1881 (31 de julho) – Nasce em Guimarães, na rua de D. João I, filho do médico Joaquim José de Meira e de Adelaide Sofia da Silva Monteiro.
1891–1896 – Frequenta o Colégio de S. Dâmaso, em Guimarães.
1896–1900 – Estudos preparatórios na Academia Politécnica do Porto e na Escola Politécnica de Lisboa.
1900–1906 – Curso na Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
1907 – Defende a dissertação O concelho de Guimarães (estudo de demographia e nosographia), com classificação de 20 valores.
1907–1908 – Ano de clínica em Guimarães: médico particular, clínico no Hospital de S. Domingos e professor no Liceu.
1908 – Lente substituto da secção cirúrgica da Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
1909 – Sucede a Maximiano Lemos na cadeira de Medicina Legal e na direção da Morgue do Porto.
1903–1905 – Escreve três Pregões Escolásticos para as Festas de S. Nicolau; no Pregão de 1904 surge, pela primeira vez, o termo “nicolino”.
1911 – Com a criação da Universidade do Porto, é nomeado professor ordinário de Farmacologia e Ciências Naturais.
1912 – A Sociedade Martins Sarmento convida-o a suceder ao Abade de Tagilde na continuação dos Vimaranis Monumenta Historica.
1913 (25 de setembro) – Morre em Gominhães, com 32 anos; é sepultado no adro da capela de Nossa Senhora do Bom Despacho.
João de Meira nas Memórias de Araduca








