Duas Caras


Um mito urbano com dois rostos.
Com o tempo, a ideia de que os de Guimarães têm duas caras adquiriu estatuto de mito urbano. Aqui revisitam-se a estátua “O Guimarães”, com o rosto simplificado na couraça, e as tentativas de explicar o epíteto com feitos heróicos em Ceuta ou castigos a Barcelos – sem documentos que o sustentem. Seguem-se histórias, mal-entendidos e reapropriações desse apelido incómodo.


O Guimarães das "Duas Caras"
entre o mito e a história
Quem observa o Guimarães, aquele guerreiro altivo que, de cima da antiga Casa da Câmara, espreita a Praça da Oliveira, repara num detalhe aparentemente singular: um rosto cinzelado sobre o ventre. Foi esta iconografia que alimentou, há não tanto tempo quanto se possa pensar, o apodo das duas caras, oscilando entre a acusação de duplicidade de carácter e a reivindicação de uma vigilância atenta. Mas o que esconde, afinal, este símbolo?
Nesta secção, reunimos uma série de publicações fundamentais que mergulham na verdadeira origem e significado deste ícone da identidade vimaranense. Longe de aceitar pacificamente as lendas mais recentes — muitas vezes “pintadas com cores mais simpáticas” para ocultar uma evidente carga pejorativa —, estes textos propõem uma desconstrução, tando do ápodo, como das explicações que o têm tentado justificar.
Ao percorrer as publicações agregadas sob a etiqueta ‘Duas caras’, o leitor é convidado a desconstruir a narrativa popular que associa a estátua a um suposto castigo imposto aos de Barcelos durante a conquista de Ceuta. O autor procura desmontar essa construção tardia, demonstrando a falta de sustentação documental e tradição historiográfica de tais teorias, muitas vezes adornadas com “elementos espúrios que não engrandecem”" a história local.
Mais do que uma curiosidade arquitetónica, o debate sobre as duas caras é um exercício de higiene histórica. É uma tentativa de limpar o pó aos mitos para revelar a pedra nua da história. Como se lê nestas páginas, Guimarães “tem um passado de que a sua gente se orgulha” e que não precisa de muletas lendárias para se afirmar.
Aqui se encontram, portanto, as reflexões, as demonstrações documentais e as propostas de interpretação sobre o guerreiro de armadura que, impassível, continua a desafiar quem passa com o seu duplo olhar.






