Mumadona Dias

condessa portucalense

Condessa de Portucale, fundadora de Guimarães

Mumadona Dias (ou Muniadomna Díaz) nasceu por volta do ano 900, filha do conde Diogo Fernandes e de Onega (ou Onecca), membros da alta nobreza galaico-asturiana, aparentados com a casa real de Leão. Casada entre 915 e 920 com o conde Hermenegildo Gonçalves, conde de Tuy e do Porto, passa a governar com ele um vasto território entre o Minho e o Mondego, que antecipa largamente o futuro Condado Portucalense.

Viúva por volta de 950, Mumadona assume sozinha o governo das suas terras. A documentação mostra-a como a mulher mais rica e poderosa do Noroeste peninsular, senhora de quintas, vilas e castelos que vão de Braga à fronteira de Coimbra, e que administra com mão firme, repartindo bens com os filhos, firmando doações, protegendo igrejas e mosteiros. Na sua herdade de Vimaranes – a quinta que possuía no monte Latito e na veiga em torno da “oliveira miraculosa” – funda, por devoção, um mosteiro duplex (de frades e freiras), sob a invocação de São Mamede / Nossa Senhora, embrião do futuro burgo de Guimarães.

Entre 950 e 957 manda erguer, no alto vizinho, o castelo de São Mamede, para resguardar a comunidade monástica e as populações das incursões de normandos e mouros que assolavam a costa e o interior. Em 26 de janeiro de 959 redige o célebre testamento pelo qual dota generosamente o mosteiro de Guimarães com vilas, igrejas, gado, serviços e rendas, documento que regista, pela primeira vez, topónimos como Aveiro, Póvoa de Varzim, Vila do Conde ou Felgueiras. Num codicilo de 4 de dezembro de 968, já em idade avançada, confirma a doação e entrega formalmente o castelo ao mosteiro, “para que frades e freiras se possam nele acolher”.

Depois dessa data perde-se o seu rasto; a tradição fixa a morte em 968. Na memória de Guimarães, porém, Mumadona permanece como verdadeira fundadora: foi à sombra do mosteiro que instituiu e do castelo que mandou levantar que nasceu o burgo medieval de Vimaranes, sobre o qual, séculos mais tarde, se desenharia o “berço” da nacionalidade portuguesa.

Mumadona Dias, nota biográfica
Percurso
  • c. 900 – Nascimento de Mumadona Dias, filha do conde Diogo Fernandes e de Onega, na órbita da nobreza galego-asturiana ligada à monarquia leonesa.

  • 915–920 – Casa com o conde Hermenegildo Gonçalves, futuro conde de Portucale.

  • 926 – Mumadona e Hermenegildo recebem do rei a vila de Creximir, perto de Guimarães, numa das primeiras referências ao casal como grandes senhores do Entre-Douro-e-Minho.

  • c. 943–950 – Morte de Hermenegildo; Mumadona passa a governar sozinha o condado, repartindo bens com os filhos.

  • c. 950–951 – Fundação do mosteiro duplex de Vimaranes, na sua quinta junto à oliveira, origem da futura colegiada de Nossa Senhora da Oliveira e do burgo de Guimarães.

  • década de 950 – Manda construir o castelo de São Mamede, no monte Latito, para proteção do mosteiro e das populações contra incursões de normandos e mouros.

  • 959 (26 de janeiro) – Redige o testamento, doando ao mosteiro de Guimarães vastos domínios, igrejas, gado e rendas; o documento regista pela primeira vez topónimos como Aveiro, Póvoa de Varzim, Vila do Conde ou Felgueiras.

  • 968 (4 de dezembro) – No codicilo testamentário, doa formalmente o castelo ao mosteiro, para abrigo de frades e freiras em caso de ataque; é a última referência documental segura à condessa.

  • Depois de 968 – Morte de Mumadona Dias, lembrada pela historiografia e pela tradição local como fundadora de Guimarães e uma das mulheres mais poderosas do Noroeste peninsular no século X.

A Condessa Mumadona nas Memórias de Araduca