Albano Belino
o arqueólogo das cidades mortas.


De marçano a arqueólogo
Albano Ribeiro Belino nasceu em 1863, em Gouveia, na freguesia de S. Julião, entre teares e lanifícios, filho de um humilde tosador. Tudo parecia apontar para uma vida em volta da lã, não fora o salto que dá aos 12 anos, quando vem com o irmão Alfredo para Guimarães, para servir como marçano na tabacaria, papelaria e livraria de José Joaquim de Lemos, na Porta da Vila. Aí cruza-se com o cónego António Joaquim de Oliveira Cardoso, poeta e dramaturgo, que se encanta com o pequeno beirão e toma a seu cargo a sua formação literária.
Chega a Guimarães no tempo em que Francisco Martins Sarmento impõe um novo paradigma de prestígio: já não basta ter dinheiro, é preciso ter livros, ciência, causas. Belino assiste à criação da Sociedade Martins Sarmento, à grande exposição industrial de 1884, ao lançamento da Revista de Guimarães e à instalação do Museu Arqueológico – e não fica à margem. Organiza as comemorações do VII centenário da morte de D. Afonso Henriques, promove a Grande Comissão de Melhoramentos da Penha, instala o Museu da Ordem Terceira de S. Francisco, dirige a folha literária O Bijou, escreve nos jornais locais e é correspondente do Jornal da Manhã, do Porto.
Em 1891 casa em Braga com Delfina Rosa, sobrinha do cónego Cardoso, senhora de boa fortuna e muitos anos a mais. Passa a residir na cidade dos arcebispos, onde encontra abundância de vestígios e escassez de quem os estude. A influência de Martins Sarmento – de quem é procurador na compra de terrenos da Citânia – empurra-o para a arqueologia e para o sonho de replicar em Braga o modelo de Guimarães: investigar, publicar, reunir espólio e criar um museu.
Autodidacta, faz-se epigrafista. Em 1895 publica Inscrições e letreiros da cidade de Braga e algumas freguesias rurais e Inscrições romanas de Braga, a que se segue um fluxo de estudos sobre Bracara Augusta. Nem todas as críticas são benevolentes – Leite de Vasconcelos é duro –, mas Sarmento reconhece nele “o mais promissor arqueólogo da sua geração”. Em 1899 começa a instalar o seu pequeno museu no Paço do Arcebispo, embrião do futuro museu arqueológico de Braga. Em 1900 publica Archeologia christã, inventário pioneiro da arquitectura religiosa de Braga e de Guimarães, e entra no círculo do Arqueólogo Português e da Portugália.
Belino ergue também a voz contra a destruição da cidadela de Braga. Quando, em Novembro de 1905, vê o castelo cair sob as picaretas festivas da autarquia, sofre uma apoplexia. O último ano de vida é dividido entre a doença e a escrita de Cidades Mortas, relato das suas explorações arqueológicas. Morre em Guimarães, a 2 de dezembro de 1906, sem ver nascer o museu com o seu nome.
Desencantado com Braga, deixa à viúva a instrução para que a colecção siga para Guimarães. Em fevereiro de 1907, oito carros de bois levam para o Museu Arqueológico da Sociedade Martins Sarmento a “colecção Albano Belino”, hoje secção própria do Museu. Demoraria mais de um século até que Braga tivesse, enfim, o museu arqueológico que Belino sonhou.


Albano Belino, nota biográfica
Percurso
1863 – Nasce em Gouveia, freguesia de S. Julião.
c. 1875 – Vem para Guimarães com o irmão Alfredo; entra como marçano na casa de José Joaquim de Lemos, na Porta da Vila.
Década de 1880 – Integra a geração de jovens em torno de Martins Sarmento; colabora na imprensa vimaranense e no Jornal da Manhã (Porto).
1885 (dezembro) – Coorganiza, com Albano Pires, as comemorações do VII centenário da morte de D. Afonso Henriques em Guimarães.
1886 – Participa na criação da Grande Comissão de Melhoramentos da Penha e é seu primeiro presidente; lança a folha literária O Bijou.
1890 – Instala o Museu da Ordem Terceira de S. Francisco, em Guimarães.
1891 – Casa em Braga com Delfina Rosa; fixa-se na cidade.
1895–1896 – Publica Inscrições e letreiros da cidade de Braga e algumas freguesias rurais, Inscrições romanas de Braga e Novas inscrições romanas de Braga (inéditas), marcos dos “Estudos Bracarenses”.
1899 – Começa a instalar o seu museu arqueológico no Paço do Arcebispo, em Braga.
1900 – Publica Archeologia christã, inventário da arquitectura religiosa de Braga e de Guimarães.
1902 – Dirige escavações em Santa Luzia (Viana do Castelo); prossegue explorações em castros da região minhota.
1905 (15 de novembro) – Início da demolição da cidadela de Braga; Belino sofre uma apoplexia poucos dias depois.
1906 (2 de dezembro) – Morre em Guimarães, com 42 anos.
1907 (6 de fevereiro / 9 de março) – A colecção arqueológica é transportada para Guimarães e inaugurada a Secção Albano Belino do Museu Arqueológico da Sociedade Martins Sarmento.
1978 – Braga dá o nome de Albano Belino a uma rua; em 2018 reedita os Estudos Bracarenses.






