Agostinho Barbosa

Vimaranense, canonista, lexicógrafo e bispo de Ugento.

Vimaranense, jesuíta, bispo, lexicógrafo, jurista

Agostinho Barbosa nasceu em Guimarães, a 17 de setembro de 1589, filho do jurisconsulto Manuel Barbosa e de Isabel Vaz da Costa. A tradição local colocou durante muito tempo o seu berço na quinta de Aldão, “junto a Guimarães”, mas a investigação sobre a propriedade da quinta e as casas da família na vila sugere que terá nascido na própria urbe, em ambiente de elites urbanas ligadas ao foro e ao comércio, com raízes de cristãos-novos na grande comunidade sefardita do Norte.

Formado “em ambos os Direitos” pela Universidade de Coimbra, onde estudou entre 1608 e 1618, distinguiu-se cedo como estudante brilhante. Aos 21 anos dá à estampa em Braga o Dictionarium Lusitanico-Latinum (1611), vocabulário monumental que Bento Pereira consideraria “o mais copioso de todos os nossos vocabulários” e que o coloca, logo de entrada, entre os grandes nomes da república das letras.

Depois da formação coimbrã, percorre as principais universidades da Europa e fixa-se em Roma, onde se doutora in utroque iure e vive anos de penúria estudiosa, compondo os seus livros noite dentro, a partir dos volumes que amigos e livreiros lhe emprestavam. A sua produção atinge dezenas de volumes de direito canónico e civil, reeditados sucessivamente em Lyon, Veneza, Estrasburgo ou Genebra, tornando-o o mais citado dos canonistas portugueses e uma autoridade de referência até ao Código de 1917.

Em Roma, protegido por cardeais influentes e cortejado por príncipes italianos, recusa convites de cortes estrangeiras e mantém-se ao serviço da Igreja e da ciência jurídica. No fim da vida, Filipe IV propõe-o para bispo de Ugento, no reino de Nápoles; a nomeação é confirmada por Inocêncio X em 1649. Morre nesse mesmo ano, a 19 de novembro, sendo sepultado na catedral de Ugento, sob um mausoléu com epitáfio composto pelo irmão, Simão Vaz Barbosa.

Entre o estudante pobre que copia tratados à luz da vela e o bispo erudito cuja obra circula da Europa à América espanhola, permanece a figura que o Abade de Sever pôde classificar como “um dos mais famosos varões que produziu Portugal para crédito e ornato da república literária” – e que Guimarães guarda hoje, discretamente, no nome de uma rua e na memória dos seus livros.

Agostinho barbosa, nota biográfica
Percurso
  • 1589 (17 de setembro) – Nasce em Guimarães, em família de juristas ligada à elite urbana e a linhagens cristãs-novas do Norte.

  • c. 1608 – Inicia estudos de Direito na Universidade de Coimbra.

  • 1611 – Publica em Braga o Dictionarium Lusitanico-Latinum, com cerca de 600 páginas e um vocabulário geográfico final; tinha então 21 anos.

  • 1615 (11 de maio) – Forma-se em Direito Canónico em Coimbra; no mesmo ano é ordenado sacerdote.

  • 1618 – Publica Doctorum qui varia loca Concilii Tridentini…, obra sobre o Concílio de Trento, posteriormente incluída no Index Librorum Prohibitorum.

  • 1621 (3 de julho) – Doutora-se in utroque iure na Universidade da Sapienza, em Roma; inicia a grande série de tratados de direito pontifício.

  • 1631–1633 – Publica em Lyon obras de síntese como Sacrosanctum Concilium Tridentinum (1631) e Juris Ecclesiastici Universi Libri III (1633), que consolidam a sua fama europeia.

  • 1640 – Na crise da Restauração, mantém-se ligado à monarquia hispânica, continuando, porém, a dedicar-se sobretudo à escrita e à actividade eclesiástica.

  • 1648 (fevereiro) – Filipe IV apresenta-o para bispo de Ugento, no reino de Nápoles.

  • 1649 (26 de fevereiro) – O papa Inocêncio X confirma a nomeação para o bispado de Ugento.

  • 1649 (19 de novembro) – Morre em Roma, sendo sepultado na catedral de Ugento.

Agostinho Barbosa nas Memórias de Araduca