Abel Cardoso
o Alexandre Herculano da história local de Guimarães.


Vimaranense, pintor, republicano e professor
Abel de Vasconcelos Cardoso nasceu em Guimarães, no n.º 63 da Rua de Santa Maria, freguesia da Oliveira, a 10 de fevereiro de 1877, filho do pintor-retratista António Augusto da Silva Cardoso e de Margarida da Silva e Vasconcelos. Do pai, que fora aluno da Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro e primeiro professor de Desenho da Escola Industrial de Guimarães, recebeu as primeiras lições de desenho e o gosto pelo ofício. Em 1894 concluiu os estudos de Pintura, Escultura e Arquitetura na Academia de Belas Artes do Porto, onde foi discípulo de Marques de Oliveira, João Correia, Marques Guimarães e António Sardinha.
Do Porto seguiu para Paris, em 1896, então com 19 anos. Passou pela Académie Julian, com Benjamin Constant e Jean-Paul Laurens, e foi depois admitido por concurso na École Nationale des Beaux-Arts, tornando-se discípulo de Jean-Léon Gérôme e colega de António Carneiro. Nesta travessia entre o Minho e a capital das artes formou-se um pintor de sólida escola, naturalista e paisagista, atento à construção rigorosa da figura e à vibração da luz.
Regressado a Portugal, instalou o seu atelier na velha Rua de Santa Maria e ligou-se estreitamente à Sociedade Martins Sarmento, para a qual decorou a fachada e o salão nobre, deixando nos frescos dos nichos um dos sinais mais visíveis da sua presença na cidade. A sua pintura – retratos, interiores de atelier, marinhas e sobretudo paisagens do Minho – espalhou-se por museus e coleções: Museu Alberto Sampaio, Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, Museu Nacional Soares dos Reis, Museu de José Malhoa, Museu de Lamego, entre outros.
Operoso, dividiu sempre o tempo entre a pintura e o ensino. Foi um dos primeiros alunos da Escola Industrial Francisco de Holanda e, já nas primeiras décadas do século XX, seu diretor; em 1931 é provido como professor efetivo na Escola Industrial de Afonso Domingues, em Lisboa, onde a sua “figura inconfundível” – alto, de longas barbas brancas – marcava gerações de alunos. Em 1926, a grande exposição na Sociedade Martins Sarmento, muito visitada e quase toda vendida, consagrou-o como “vimaranense ilustre” e confirmou o que críticos como Raul Brandão, Artur Portela ou Eduardo de Almeida haviam intuído: a obra de Abel Cardoso é, ao mesmo tempo, honra da pintura portuguesa e celebração poética do rincão minhoto.
Casado desde 1914 com Maria da Agonia Passos da Silva Viana, de quem teve quatro filhos, viveu entre Guimarães e Lisboa, mas nunca se desligou da sua terra. Faleceu em Guimarães a 16 de maio de 1964, sendo sepultado no cemitério da Atouguia. No olhar atento às árvores, às casas e às colinas do Minho, Abel Cardoso deixou uma das mais duradouras interpretações visuais da memória vimaranense.


Abade de Tagilde, nota biográfica
Percurso
1877 (10 de fevereiro) – Nasce em Guimarães, na Rua de Santa Maria, n.º 63, freguesia da Oliveira.
1893 – Morre o pai, António Augusto da Silva Cardoso; Abel já frequenta a Escola de Belas-Artes do Porto.
1894 – Conclui os estudos de Pintura, Escultura e Arquitetura na Academia de Belas Artes do Porto.
1896 – Parte para Paris; estuda na Académie Julian e, depois, na École Nationale des Beaux-Arts, como discípulo de Gérôme.
Início do séc. XX – Regressa a Guimarães, instala atelier na Rua de Santa Maria e colabora estreitamente com a Sociedade Martins Sarmento.
c. 1915 – Surge em fotografias de convívios republicanos na Penha, entre intelectuais e políticos vimaranenses.
c. década de 1910–1920 – Diretor da Escola Industrial Francisco de Holanda, em Guimarães, onde fora um dos primeiros alunos.
1914 (dezembro) – Casa com Maria da Agonia Passos da Silva Viana; o casal terá quatro filhos.
1924 – Exposição no Salão Bobone, em Lisboa, que motiva elogiosos textos críticos.
1926 – Grande exposição individual no Salão Nobre da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães; a mostra é um êxito de público e vendas.
1931 – É provido como professor efetivo na Escola Industrial de Afonso Domingues, em Lisboa.
1964 (16 de maio) – Morre em Guimarães; é sepultado no cemitério da Atouguia.






