Eu pudera dizer muito mais, sobre ser Guimarães a antiga Araduca; mas, por ora, basta o que está dito. (João Baptista de Castro)
FALARES
You didn’t come this far to stop You didn’t come this far to stop You didn’t come this far to stop You didn’t come this far to stop You didn’t come this far to stop
Elementos para um dicionário do falar vimaranense — de A a Z
O povo gosta de vir aqui porque a comida, para mim acho e muita gente diz que é boa, e também por eu falar.
D. Augusta, Adega dos Caquinhos
Em Guimarães há um restaurante onde não se vai só pelo prazer da mesa boa e farta. Vai-se também para ouvir falar a proprietária. Ali, as papas são boas, mas não entaramelam a língua da D. Augusta, que a tem bem solta e desbragada no uso de toda artilharia do vernáculo local.
Será que existe um modo vimaranense de usar a voz e a palavra?
Sobre esta matéria, citarei o que há anos escreveu um velho conhecido meu:
Tentei em vão decifrar o que seria o sotaque vimaranense. A verdade, é que não existe nenhum sotaque vimaranense. Por aqui, fala-se a nossa língua com a pureza da sua sonoridade original. Sotaques têm-nos os outros, portanto.
O mesmo já não direi da semiologia vimaranense. Aqui, as palavras adquirem uma garrida maviosidade vernácula e têm mutações semânticas inusitadas, raramente significando o que parecem significar. Por aqui, são costumeiras expressões como esta, corrente de mãe para filho, em que se diz algo de muito diferente daquilo que as palavras ditas significam:
Anda cá, filho da puta, que já mamas.
Ou esta, que ao comum dos mortais suscitará dúvidas acerca de qual possa ser o sujeito da frase ou a natureza da acção que lhe é imputada:
O caralho do meu homem já voltou a arrebitar cachimbo.
Ao contrário do que possa parecer, aquela expressão não se refere ao recobro de uma situação de disfunção eréctil temporária.
Pois é. A originalidade do falar dos vimaranenses não está na pronúncia, mas sim no uso que aqui se dá às palavras.
Este assunto já teve a atenção de estudiosos como José leite de Vasconcelos (JLV) e Alberto Vieira Braga (AVB). O primeiro é autor de um estudo “Linguagem Popular de Guimarães”, publicado no volume II dos seus Opúsculos, e o segundo a obra Escassa Respiga Lexicológica (Provincianismos Minhotos), onde recolhem um conjunto significativo de vocábulos e expressões, que aqui se reuniram como ponto de partida para a compilação de um dicionário do falar das gentes de Guimarães. Aqui ficam, de A a Z, à espera de contribuições para acrescentamento e aperfeiçoamento.


A banda sonora que está nesta página foi produzida por Kung-Fu Trunx (Miguel Ribeiro) sobre a entrevista à D. Augusta da Adega dos Caquinhos realizada por Samuel Silva para o projecto Histórias Atrás das Portas, editado pelo Cineclube de Guimarães em 2012.